sábado, 14 de agosto de 2010

FALE COM OS DEUSES E COM AS DEUSAS

Fale com os
Deuses e Deusas
Todos os planetas, signos, deuses e deusas estão dentro de você e
representam seu "Eu" eterno e arquetípico. Ao travar contato com um
planeta ou divindade mitológica em especial, você está, na verdade,
fazendo contato com uma parte de seu "Eu" eterno.
Talvez você tenha identificado um planeta em seu mapa que
sempre tenha representado um de seus pontos fortes; você pode querer
incrementar e nutrir o arquétipo dentro de si para tornar-se ainda mais
forte e mais inteiro. Ou, pelo contrário, talvez esteja tendo problemas
com um planeta em particular. Talvez tenha dificuldades com o "mundo
material" e precise fazer amizade com Saturno. Pode ser que a sua vida
amorosa esteja uma bagunça e os problemas residam em complicações
psicológicas, que sugerem seu Marte e seu Vênus. Ou talvez você tenha
tido um sonho no qual um arquétipo planetário, em particular, emergiu
repentinamente com grande força e queira saber mais sobre o que isso
significa. Ou talvez um dos mitos e histórias deste livro ou de algum
outro tenha lhe dado esse sentimento peculiar — comum ao mito e ao
conto de fadas, embora raro em outras formas de literatura — que
apenas pode ser descrito como "misterioso" ou "fantástico". Esse
sentimento indica que o mundo arquetípico foi ativado dentro de você
pelo mito e, em tal caso, sempre vale a pena explorar o assunto mais a
fundo.
Astrologia e Mitologia o levará a uma jornada interior única.
Quando, finalmente, você estiver na presença do arquétipo (por meio
das técnicas aqui descritas de trabalho com os sonhos, amplificação
simbólica ou imaginação ativa), o deus ou a deusa terá algo a lhe dizer.
Se você chegar diante da divindade com algum problema em particular,
poderá pedir sabedoria ou conselho diretamente sobre o assunto. Se
for indiretamente levado àquele arquétipo por um sonho ou por uma intuição,
poderá simplesmente se abrir para o que quer que seja que os deuses queiram
lhe contar. Não importa o que aconteça, será feito um contato vivo e vital com
o mundo das divindades dentro de você e nas dimensões interiores de seu mapa
astrológico. Ao ouvir algo de valor ecoando na placidez de sua imaginação,
você saberá que os deuses falaram.
"Astrologia e Mitologia é um maravilhoso instrumento para explorar
mitos pessoais e integrar os arquétipos dos deuses nos mapas astrais."
DELL HOROSCOPE
"Astrologia e Mitologia é um fascinante estudo psicológico dos
arquétipos míticos representados no mapa astrológico. É um livro de astrologia
inteligente e fácil de compreender e utilizar, que dá ao leitor um mapa bem
elaborado para o inconsciente."
THE SANTA FE SUN
"É um trabalho muito completo, que traz virtualmente tudo o que você
pode querer saber sobre mitologia grega associada a símbolos astrológicos."
CONSIDERATION
Agradecimentos
Queremos expressar nossa gratidão aos astrólogos que abriram caminhos
no mundo da astrologia mítica, principalmente Liz Greene, por seus trabalhos
inspirados e inspiradores. Lamentamos a ausência de Tony Joseph, Richard
Idemon e Howard Sasportas, por suas criteriosas perspectivas sobre os mitos
aplicados às técnicas astrológicas. Obrigada aos astrólogos Zipporah Dobyns
por iluminar o mundo dos asteróides e a Demetra George por sua contínua
pesquisa.
Muito obrigada a Michael, que sempre me apoiou e ajudou em minha
vida e em meu trabalho; a Maryfrank por seu apoio, amizade e auxílio; Diane,
por sua amizade e extraordinário trabalho de desenho neste volume; à nossa
editora na Llewellyn — Susan Van Sant, com quem tive a alegria de trabalhar;
e, finalmente, a alunos e amigos que foram os grandes incentivadores deste
trabalho.
Ariel Guttman
Gostaria de expressar meu agradecimento a Michael Bernstein por me
apresentar à arte da astrologia; à drª Dorothea Kenny, professora de Literatura
Comparada na Universidade Estadual da Califórnia, em Fullerton, que foi a
primeira a mostrar-me que a mitologia constitui um caminho espiritual
consciente; a Carl Jung e Joseph Campbell, minhas principais fontes de
inspiração; à minha mãe, por apresentar-me ao mundo dos livros em geral; a
Susan Van Sant, por sua edição clara, concisa e proveitosa; e a Marguerite, por
seu contínuo apoio.
Kenneth Johnson

Índice
Capa - Orelha - Contracapa
Prefácio ........................................................................................................ 11
Introdução ............................... A Astrologia e a Linguagem do Mito.......... 17
PARTE UM: Os Planetas
Capítulo Um ............................ Os PLANETAS ............................................. 27
Capítulo Dois ........................... O SOL ......................................................... 36
Capítulo Três ........................... MERCÚRIO .................................................. 51
Capítulo Quatro ........................ VÊNUS ........................................................ 63
Capítulo Cinco ........................ GAIA (TERRA) ............................................. 75
Capítulo Seis ........................... LUA ............................................................. 85
Capítulo Sete ........................... NODOS ........................................................ 97
Capítulo Oito ........................... MARTE ...................................................... 106
Capítulo Nove ...................... ...CERES ....................................................... 117
Capítulo Dez ........................... PALAS ....................................................... 127
Capítulo Onze ......................... JUNO ......................................................... 137
Capítulo Doze .......................... VESTA ....................................................... 147
Capítulo Treze ......................... JÚPITER ..................................................... 157
Capítulo Catorze ..................... SATURNO .................................................. 167
Capítulo Quinze ....................... QUÍRON ..................................................... 179
Capítulo Dezesseis .................. URANO ...................................................... 191
Capítulo Dezessete .................. NETUNO .................................................... 203
Capítulo Dezoito ..................... PLUTÃO ..................................................... 215
PARTE DOIS: Os Signos
Capítulo Dezenove .................. O ZODÍACO ............................................... 227
Capítulo Vinte ......................... Os ELEMENTOS ......................................... 237
Fogo ......................................................... 240
Terra ........................................................ 245
Ar............................................................. 250
Água ........................................................ 255
Capítulo Vinte e Um ................ MODALIDADES ......................................... 261
Cardinal ................................................... 265
Fixo ......................................................... 270
Mutável .................................................... 274
Capítulo Vinte e Dois ............... ÁRIES ........................................................ 279
Capítulo Vinte e Três ............... TOURO ...................................................... 293
Capítulo Vinte e Quatro ........... GÊMEOS .................................................... 307
Capítulo Vinte e Cinco ............. CÂNCER .................................................... 321
Capítulo Vinte e Seis ............... LEÃO......................................................... 335
Capítulo Vinte e Sete ............... VIRGEM .................................................... 349
Capítulo Vinte e Oito ............... LIBRA ....................................................... 361
Capítulo Vinte e Nove ............. ESCORPIÃO ............................................... 377
Capítulo Trinta ......................... SAGITÁRIO ................................................ 391
Capítulo Trinta e Um ............... CAPRICÓRNIO ........................................... 403
Capítulo Trinta e Dois .............. AQUÁRIO .................................................. 417
Capítulo Trinta e Três .............. PEIXES ...................................................... 431
Apêndice ................................... Divindades e Heróis Greco-Romanos
e Locais Sagrados ................................... 445
Índice Remissivo ........................................................................................ 447
Prefácio
Como utilizar este livro
Para fazer uso dos mitos e arquétipos por trás da prática da
astrologia, é preciso começar do próprio mapa astrológico ou de sua
resposta interior aos mitos.
Começar pelo mapa astrológico talvez seja a abordagem mais
direta. Se você tem conhecimento de astrologia suficiente para ler você
mesmo o mapa, será capaz, obviamente, de identificar os planetas ou
signos que representam o papel mais importante em seu "mito pessoal".
Se não, você precisará de um astrólogo experiente para identificar os
fatores planetários ou zodiacais com maior ressonância em seu mapa.
Com bastante freqüência, os planetas ou signos dominantes em seu
mapa astrológico indicarão os mitos e arquétipos aos quais você
responde com mais força. Comece estudando os capítulos que falam
deles, seus próprios mitos pessoais.
Também é possível escolher uma abordagem mais intuitiva,
menos estruturada. Você pode começar pelo próprio livro e
simplesmente anotar quais deuses, deusas ou mitos têm maior impacto
sobre seu coração e sua mente. Não precisa se preocupar se por acaso
um planeta ou um signo, em especial, tiver forte ressonância em sua
alma, mas não for tão forte em seu mapa astrológico! Afinal de contas,
você pode estar gravitando em direção a um mito comparativamente
ausente em seu mapa astrológico, mas do qual agora precisa (embora
possamos nos inclinar à identificação com símbolos e mitos específicos,
também nos
empenhamos, mesmo inconscientemente, em experimentar todos os
arquétipos zodiacais e planetários, pois o objetivo final é a
completude).
Digamos que, por exemplo, você se veja atraído pelo arquétipo de
Vênus. Talvez saiba que Vênus é importante para você, já que sempre
deu grande valor aos relacionamentos em sua vida; se esses
relacionamentos não foram bem, saberá que precisa realizar algum
trabalho grande com a deusa do amor em seu interior. Talvez você
tenha Vênus exaltada em Peixes ou em queda em Virgem. Você pode
ter sido atingido em cheio pela pujança do famoso Nascimento de
Vênus de Boticcelli e trazido a imagem consigo por anos. Ou talvez
apenas tenha tido um ankh (idêntico ao símbolo astrológico de Vênus)
suspenso sobre a cama desde a década de 1960.
De um modo ou de outro, você decidiu que a deusa do amor é um
arquétipo com o qual quer — ou precisa — trabalhar. Está pronto para
iniciar o curioso e intricado processo que a psicologia junguiana chama
de elaboração simbólica. Estude os capítulos sobre Vênus e seus signos,
Touro e Libra. Se você é homem, poderá perguntar a si mesmo qual tipo
de mulher o atrai. Seria o aspecto terreno, sensual da deusa (Touro) ou a
sua perfeição distante, resplandecente (Libra)? Se você é mulher, qual
aspecto de Vênus você incorpora em seus próprios relacionamentos?
Pensa no sexo em primeiro lugar, seguido talvez por dinheiro e filhos?
Então você está inclinada para o lado terreno da deusa. Ou prefere ficar
completamente vestida, ser envolvida com vinhos e jantares caros e
mantê-lo à distância até estar pronta? Se assim for, você está gravitando
mais para o aspecto libriano da deusa (não se preocupe com a posição
de Vênus em seu mapa astrológico, pois há muitos fatores que afetam
suas respostas, e essa, afinal de contas, é uma viagem intuitiva).
Enquanto explora os diferentes aspectos da deusa do amor nestas
páginas, você poderá descobrir que Vênus é exaltada em Peixes.
Suponha que você passe a estudar Peixes e em seguida, Netuno, seu
regente. Descobre então que os relacionamentos fantasiosos e não
realistas estão relacionados ao fator netuniano no mapa e que estrelas
de cinema freqüentemente possuem um Netuno forte. Portanto, se você
é um homem cujas esperanças românticas sempre se chocaram com
duras realidades e que entra em transe ao ver as novas Vênus na tela do
cinema, saberá que Netuno está representando um papel em sua vida
amorosa, talvez tão importante quanto o da própria Vênus. Ao explorar
Netuno, você poderá descobrir que sempre foi uma espécie de sonhador
dionisíaco, mais interessado em seu violão e em formas exóticas de
sabedoria espiritual do que em manter-se em um trabalho ou fazer
sucesso. Assim, Vênus levou você a Netuno e este lhe mostrou
discussões a respeito do significado do direcionamento de sua própria
vida. Então você começa a trabalhar com Netuno e, no tempo certo, ele
poderá
levá-lo para qualquer outro lugar. O processo da elaboração simbólica
não tem início ou fim em particular; anda em círculos. É um caminho
indireto. Da mesma maneira que a alquimia, que mistura e "cozinha"
diversos círculos e mitos até que nasça uma nova imagem por meio de
um processo de transmutação.
A segunda técnica é o trabalho com sonhos que, em alguns
modos, é parecido com a elaboração simbólica. Como se sabe, nossos
sonhos são cheios de histórias, personagens e temas também
encontrados no folclore, nos contos de fada e na mitologia — em outras
palavras, nossos sonhos incorporam nossos mitos pessoais. A psique
inconsciente nos fala através de nossos sonhos; o mito é a linguagem do
inconsciente. Dessa forma, podemos utilizar nossos sonhos para olhar
mais de perto nossos mitos pessoais e os fatores planetários ou
zodiacais envolvidos.
Por exemplo: um cliente de um dos autores teve um sonho no qual
ele viajava por uma grande cidade. Durante o sonho, ele e seus
companheiros de viagem tinham muitas aventuras em muitos locais
diferentes dessa cidade. Finalmente, encontraram-se em uma loja de
animais. Aquele que sonhava olhou para um canto da loja e percebeu
uma cena muito incomum: um homem de cabelos escuros, com uma
cobra enrolada no corpo, olhava para ele e apontava o dedo. O
sonhador notou então um cachorrinho escapando de uma das gaiolas.
Feliz porque o cão escapara do cativeiro, decidiu não contar a nenhum
dos empregados da loja sobre o animal fugitivo.
O motivo da viagem pode remeter às longas jornadas
empreendidas por muitas das figuras heróicas mencionadas neste livro:
a demanda de Jasão pelo Velo de Ouro, a jornada de Ulisses por mares
desconhecidos ou a busca de Percival pelo Graal. Podemos suspeitar
que o sonhador está realmente envolvido em alguma espécie de busca,
como indicariam as muitas aventuras vividas pelo caminho. Como
cidadão da América contemporânea, e não da Idade Média, ele vagueia
por uma grande cidade, e não por uma floresta escura.
E quanto à loja de animais? Obviamente, o sonhador está no
"reino animal" — um nível de consciência um tanto mais primário ou
"primitivo" do que sua consciência desperta. Mas, a característica mais
notável do sonho é obviamente o homem moreno entrelaçado com a
cobra. Três figuras masculinas associadas a serpentes surgem nas
páginas deste livro: Hermes, Asclépio e Plutão. Hermes, obviamente,
traz o caduceu, a vara com serpentes entrelaçadas que se tornou o
emblema da profissão médica. Asclépio, outro curandeiro, traz uma
vara similar; tem seu lugar no céu como a constelação Ofíaco e é
associado a Escorpião e a Quíron, seu legendário professor. Como o
senhor do mundo subterrâneo, Plutão ou Hades rege a casa da sabedoria
da serpente; suas
contrapartes femininas, Perséfone e Ereshkigal, têm serpentes nos
cabelos. O capítulo sobre Mercúrio também nos informa que Hermes
era, entre outras coisas, o guia que ajudava as almas em sua jornada
pelo mundo subterrâneo, o reino de Plutão.
Temos assim uma coleção de símbolos, todos falando a mesma
língua: um sonhador atingiu um estágio, em sua busca, no qual fez
contato com um reino de consciência bem mais primário do que o seu
próprio, ou seja, com o "reino animal". Mas, ele deve ir ainda mais
fundo. A figura morena entrelaçada com a serpente é obviamente um
guia que vem levá-lo às profundezas de seu espírito, onde se esconde a
serpente da sabedoria; portanto esse processo, não importa o quão
assustador pareça, é também um processo de cura, como claramente
mostra o simbolismo.
Podemos agora passar a examinar de que modo o sonho e o mapa
astrológico se combinam. Especificamente, queremos olhar Mercúrio,
Quíron e o Plutão do homem que teve o sonho. Queremos ver se ele
tem algum planeta em Escorpião ou na Oitava Casa e se há alguma
conjunção envolvendo esses planetas em seu mapa. Plutão surge para
dar respostas: na época do sonho, Plutão, em transição, estava em
oposição ao Sol do sonhador. Uma vez que o Sol representa o eu mais
profundo do sonhador — o cerne de seu próprio mito pessoal —,
podemos ver que é necessário nada menos do que uma descida
transformadora total no mundo subterrâneo particular do sonhador. A
figura morena que acenava é, muito provavelmente, o próprio deus do
mundo subterrâneo, chamando o ego consciente do sonhador (outro
aspecto do Sol) para descer em busca da sabedoria da serpente.
Felizmente, o sonhador tem um ajudante animal, como os heróis e
heroínas dos contos de fada — o cachorrinho fugitivo é obviamente
uma porção de sua alma vital que permanecerá livre e viva durante sua
passagem pelo mundo subterrâneo.
O terceiro método de contatar os arquétipos planetários e
zodiacais é o mais direto. Os analistas junguianos o chamam de
imaginação ativa, mas aqueles que têm alguma familiaridade com
Wicca, Cabala prática e outras formas de magia reconhecerão essa
técnica como similar à invocação. Talvez seja por isso que muitos
terapeutas junguianos previnem seus clientes contra a experimentação
desse exercício sem a orientação de um terapeuta. Afinal de contas, não
é brincadeira invocar os antigos deuses e deusas. Mas a técnica da
imaginação ativa é tipicamente utilizada como uma jornada interior
livre e sem direcionamento, na qual o terapeuta representa o papel de
guia; nisso difere da invocação, firmemente dirigida pelo indivíduo que
realiza a operação. Se a pessoa permite que sua consciência viaje aos
reinos arquetípicos sem uma intenção clara, pode realmente encontrar
imagens perigosas ou
realidades interiores desagradáveis. Mas, a técnica que descrevemos
aqui não é, de forma alguma, desgovernada. Escolha o planeta ou deus
que você pretende cativar em si mesmo. Saiba para onde vai e onde
está entrando.
O exercício consiste simplesmente em escolher um planeta ou
uma divindade mitológica em particular com o qual deseja fazer
contato. Claro, todos os planetas e signos, deuses e deusas estão dentro
de você e representam parte de seu "Eu" eterno, arquetípico. Portanto,
você na verdade está entrando em contato com uma parte de seu "Eu"
eterno. Como escolher esse planeta e/ou divindade? Talvez você tenha
identificado um planeta em seu mapa que sempre representou uma de
suas forças; você pode querer desenvolver e nutrir aquele arquétipo
dentro de si para se tornar ainda mais forte e mais completo. Ou, pelo
contrário, talvez você tenha problemas com um planeta em particular.
Você pode ter dificuldades com o mundo material e precisa fazer
amizade com Saturno. Talvez sua vida amorosa seja conturbada e o
problema resida em confrontos psicológicos com seu Marte ou com sua
Vênus. Ou talvez você tenha tido um sonho no qual um arquétipo
planetário em particular haja repentinamente surgido com grande força
e quer saber mais sobre o significado disso. Ou talvez um dos mitos ou
histórias deste livro ou de algum outro o tenham deixado com aquela
sensação peculiar — comum ao mito e ao conto de fadas, embora rara
em outras formas de literatura — que pode apenas ser descrita como
misteriosa ou fantástica. Essa sensação indica que o mundo arquetípico
foi ativado dentro de você pelo mito e, nesse caso, sempre vale a pena
explorar o assunto.
Encontre um lugar calmo e quieto para se sentar. Comece sua
meditação com a intenção específica de entrar em contato com um
arquétipo em particular — seu próprio Marte, ou Lua, ou Quíron, ou
qualquer outro. Você pode já saber a forma que deseja que o arquétipo
adote. Por exemplo: uma mulher que busca entrar em contato com seu
Marte ou seu Sol interior já saberá provavelmente como se parece seu
homem ideal ou interior, seu animus, pois ela o encontrou em suas
fantasias e sonhos muitas vezes. Pode assim construir uma imagem da
força arquetípica interior baseada em seu próprio conhecimento pessoal
daquilo que está dentro dela. Ou talvez em um sonho Mercúrio tenha
aparecido a você como um vendedor ou como um ladrãozinho, e você
pode querer chamá-lo na mesma forma. Aqueles que apreciam o
passado mitológico ou um certo contexto em outras formas de magia
podem querer invocar os deuses e deusas em suas formas costumeiras:
Atená com seu elmo e a coruja no ombro, Júpiter com sua barba e seu
trovão ou a Lua como Ísis.
Provavelmente, sua imaginação vai levá-lo a uma paisagem em
particular. É possível que você precise vagar por essa paisagem mítica
por algum tempo antes que a divindade invocada apareça. Mas, uma
vez na presença do arquétipo, basta começar seu diálogo interior. O
deus terá algo a lhe contar — algo valioso que ecoa na placidez de sua
imaginação. Eis como os deuses nos falam, como bem sabiam os
astrólogos e magos neoplatônicos da era helenística, como Jâmblico e
Porfírio. Se você traz um problema particular à divindade, pode pedir
discernimento ou conselho diretamente para aquele assunto. Ou, se tiver
sido levado indiretamente àquele arquétipo por um sonho ou intuição,
pode simplesmente abrir-se àquilo que os deuses querem lhe contar.
Essa talvez seja a técnica mais poderosa para fazer contato com os
planetas interiores. Não deve ser praticada de modo frívolo. E, como
nos advertem os junguianos, nunca deve ser praticada de modo não
dirigido ou desestruturado. Saiba sempre quem ou o que você pretende
encontrar no reino arquetípico. Mostre respeito e honra aos deuses
interiores. Quando eles quiserem partir, permita que o façam. Trate-os
como se fossem reais, e não invenções de sua imaginação. Você
ganhará contato vivo e vital com o mundo das divindades dentro de
você e com as dimensões interiores de seu mapa astrológico.
ARIEL GUTTMAN
KENNETH JOHNSON
Introdução
A Astrologia e a Linguagem do Mito
Durante séculos, as pessoas consultaram astrólogos com questões
como: qual é meu destino, como terei sucesso no amor e nos negócios,
como ganhar dinheiro, como está a minha saúde? O astucioso astrólogo,
conhecedor da "linguagem das estrelas", calculava o horóscopo da
pessoa, um diagrama composto de símbolos e linhas referentes às
localizações planetárias no céu na hora do nascimento (astrologia natal)
ou no momento em que a pergunta era feita (astrologia horária),
passando então a tratar dessas questões. O fato de que um pedaço de
papel com alguns rabiscos matemáticos e glifos de formas estranhas
possam dar respostas racionais e exatas àquelas questões sempre
desconcertou as mentes cultas. Mesmo assim, a astrologia continua a
existir e a prosperar. Hoje, quando a Idade da Razão começa a se
aposentar (ou talvez a se integrar na Era da Intuição), a astrologia pode
ser compreendida bem melhor pelas mesmas mentes que a desafiaram
por tanto tempo — justamente por ser a integração da razão
(matemática, freqüências orbitais, ciclos) e da intuição (referências
simbólicas a mitos e divindades há muito esquecidos).
Persiste a discussão do "porquê" da astrologia, mesmo entre seus
defensores. Algumas pessoas insistem que estamos, realmente, sob a
influência de alguma espécie de magnetismo ou campo energético
emanado dos planetas, uma energia que ainda tem de ser identificada e
mensurada pela ciência. Os pesquisadores franceses Michel e Françoise
Gauquelin passaram anos combinando dados que indicavam que a
1. Gauquelin, Michel, The Cosmic Clocks, Nova York, Avon Books, 1969; e Michel
Gauquelin, Cosmic Influences on Human Behavior, Nova York, AS1 Publishers, 1978.
Astrólogo fazendo um horóscopo, do livro Utriusque Cosmi Historia,
de Robert Fludd. Oppenheim, 1617
posição dos planetas realmente influencia nossas vidas1. Os
Gauquelins concentraram sua atenção em identificar e confirmar as
localizações planetárias em carreiras profissionais bem-sucedidas —
fator mais mensurável do que alguns dos aspectos mais intangíveis
que formam os alicerces da astrologia. Milhares de datas de
nascimento, lançadas no computador, levaram à conclusão de que a
ascensão e a culminação dos planetas (ou, ao menos, dos "sete
planetas antigos") representam um papel importante na identificação
dos traços de caráter que levam alguém a seguir um caminho em
particular. O astrônomo britânico Percy Seymour, após estudar os
dados dos Gauquelins, desenvolveu uma nova teoria de magnetismo
celeste para explicar a influência dos planetas sobre a natureza
humana2.
2. Sobel, Dava, Dr. Zodiac, in Omni. dezembro de 1989.
Outros astrólogos acharam desnecessário buscar uma explicação
racional para sua arte na ciência da astrofísica. Citando o trabalho do
psicólogo Carl Jung,* eles assinalam que as realidades simbólicas são
tão importantes para a natureza humana quanto as realidades físicas (e
provavelmente mais importantes). A psicóloga e astróloga junguiana
Liz Greene aponta que ao trabalhar com o mapa astrológico de um
cliente, ela nunca pergunta por que ou como a astrologia funciona — o
importante é que funcione3.
Jung argumentou que os deuses e deusas da antiga mitologia
simbolizavam os fatores motivacionais profundos da psicologia
humana, elementos compartilhados por toda a humanidade. Ele
postulou um nível de consciência a que chamou inconsciente coletivo,
compartilhado por toda a raça humana4. O conceito é familiar a
estudantes das tradições espirituais do mundo, com diversos nomes: luz
astrológica, mente grupai, alaya-vijnana e assim por diante. O
inconsciente coletivo cria as poderosas imagens simbólicas que residem
no cerne de nossos mais profundos processos psicológicos, aos quais
Jung chamou arquétipos.
Uma vez que os planetas recebem os nomes de deuses e deusas da
mitologia e que os signos do zodíaco também têm associações míticas,
podemos presumir que esses fatores astrológicos são arquétipos e que
sua influência sobre nós baseia-se tanto na realidade simbólica quanto
nas forças astrofísicas. Jung acreditava que as realidades simbólicas ou
arquetípicas interagiam com os acontecimentos de nossas vidas
cotidianas por meio de um processo chamado sincronicidade.
Descreveu-a como "um princípio de conexão acausal", ou seja, um
processo que une dois fatores (um símbolo cósmico e um
acontecimento mundano) sem nenhuma causa aparente ou física para
essa ligação. A união entre realidade e símbolo ocorre em um nível
interno, psicológico, e o inconsciente é o agente ativo que dá forma à
união. Jung usou o princípio da sincronicidade como uma razão física
para outros instrumentos divinatórios como o Tarô e o I Ching5.
Baseando-se na tese de Jung, o astrólogo Dane Rudhyar deduziu
que o momento do nascimento de um indivíduo talvez seja o momento
mais sincronístico de todos, pois marca nossa entrada em um cosmo
maior, tanto física quanto simbolicamente. Como um diagrama ou
imagem daquele momento, o horóscopo natal ou mapa astrológico é
também a imagem de nossa relação simbólica com o cosmo que nos
* N.E.: Sugerimos a leitura de Arquétipos Junguianos, de Anne Brennan e Janice
Brewi, Madras Editora.
3. Behind the Horoscope, Tony Edwards, BBC, 1980.
4. Jung, Carl G. et al., Man and his Symbols Nova York, Dell, 1971.
5. Jung, Carl G., "On Synchronicity", in The Portable Jung, ed. Joseph Campbell,
Harmondsworth e Nova York, Penguin, 1980.
rodeia; ele nos localiza, enquanto indivíduos, no esquema arquetípico
das coisas6. O próprio mapa astrológico dá crédito a essa noção, pois é
inquestionavelmente um tipo de mandala.
A palavra mandala é sânscrita; na Índia e no Tibete descreve um
desenho ou diagrama simbólico usado como ferramenta na meditação.
Uma mandala é um símbolo de completude, de unidade psíquicoespiritual;
meditar sobre uma mandala ajuda na busca por essa
completude ou unidade. Em geral, a mandala é circular, pois a
completude ou unidade é concebida como um círculo, sem início ou
fim. Com freqüência, o círculo é dividido em quatro partes — pois,
como veremos, a completude é também concebida como uma entidade
ou processo quádruplo. A verdadeira unidade, no sentido psicológico ou
místico, combina o círculo e o quadrado7.
O diagrama do horóscopo usado atualmente em astrologia tem a
forma de um círculo (uma escolha, aliás, puramente arbitrária ou
simbólica, pois na Índia usa-se um quadrado). Esse círculo é dividido
em quatro quadrantes, baseado nos quatro ângulos cardeais do mapa
astrológico: Ascendente (nascer do Sol), Meio Céu (meio-dia),
Descendente (pôr-do-sol) e Nadir (meia-noite). Alguns astrólogos —
principalmente os que foram influenciados por Rudhyar — relacionam
esses quatro ângulos com os quatro elementos ou com as quatro funções
psíquicas de Jung (ver Os Quatro Elementos)8. Fica claro então que o
horóscopo tem todos os componentes de uma mandala clássica. É um
círculo dividido em quatro porções simbólicas, representando um todo
completo. Mas o que é esse todo completo representado nessa mandala
astrológica?
Em certo sentido, o horóscopo representa o Universo como um
todo. Afinal de contas, um diagrama do céu acima de nós — um
cosmograma. Mas, como sabemos, o céu está sempre em movimento.
Um horóscopo é um diagrama do céu em um momento particular.
Tipicamente, esse momento no tempo representa o mais mágico e
sincronístico de todos: o momento do nascimento. O nascimento de
quê? Isso realmente não importa. Poderia ser o nascimento de uma
idéia, o batismo de um barco, o nascimento de uma ninhada de
cãezinhos ou de uma empresa — mas com mais freqüência, um
horóscopo representa o nascimento de um ser humano. Você é a
mandala.
No Tibete, uma mandala freqüentemente inclui retratos de
diversas divindades, demônios, budas e bodhisattvas em diferentes
6. Rudhyar, Dane, The Astrology of Personality, Garden City, NY, Doubleday, 1970.
7. Jung, Carl G., "On Mandala Symbolism", in The Archetypes and the Collective
Unconscious (Collected Works, Vol. 9, I), Princeton, Princeton-Bollingen, 1968.
8. Meyer. Michael. A Handbook for lhe Humanistie Astrologer, Garden City, NY,
Anchor Doubleday. 1974,
pontos em torno do círculo. Da mesma maneira, um horóscopo inclui
os planetas e signos zodiacais e, como já observamos, os planetas e
signos têm profundas conotações mitológicas, assim como os demônios
e bodhisattvas do budismo tibetano.
Os planetas, porém, nunca estão precisamente na mesma relação
entre si em todos os momentos. O céu está sempre se movendo. Dessa
forma, cada horóscopo é tão individual quanto um floco de neve. Não
pode ser repetido, mesmo após a passagem de milhares de anos. Assim
como a pessoa que ele representa, cujo DNA é modificado com uma
fórmula individualmente específica, ele é inteiramente único.
Dessa forma, podemos dizer que o horóscopo liga você,
indivíduo, ao cosmo, uma moldura maior da realidade. Cada um de nós
é moldado a partir do mesmo material arquetípico, pois os mesmos
planetas e signos estão presentes em cada mapa astrológico. Mas nunca
estão dispostos exatamente da mesma maneira. Somos universais, pois
todos compartilhamos dos mesmos arquétipos. Mas também somos
únicos.
Portanto, fica óbvio que a constante moção orbital dos planetas,
assim como a revolução da Terra, que responde pela ascensão e pelo
ocaso dos signos, é o que torna cada mapa tão individualizado. E,
realmente, o arranjo dos signos e dos planetas forma a base de toda
interpretação astrológica. De onde, então, tiramos o significado desses
planetas e signos?
Embora haja muitos livros de astrologia que tratam do significado
dos signos, planetas, casas e aspectos que constroem um mapa
astrológico, há pouquíssima referência às origens desses significados.
Todos já ouvimos astrólogos dizer coisas como: "Você tem cinco
planetas em Peixes, portanto vai se dar muito bem em assuntos de
desenvolvimento espiritual, arte ou música, mas os negócios mundanos
são um pouco estranhos para você." "Sua Lua em Touro é de bom
agouro para a aquisição de dinheiro e propriedade, mas não permite a
ação rápida e decidida." "Seu Sol na Quarta Casa demanda a segurança
de um lar e os assuntos de família são mais importantes para você do
que qualquer outro." "Tanto ar em seu mapa mostra que você está
constantemente torcendo idéias em sua cabeça, mas elas não podem ser
postas em ação sem o apoio do elemento Terra ou a motivação
energética do fogo." De onde vêm essas afirmações e por que são,
normalmente, tão surpreendentemente exatas?
Os planetas, como observamos, receberam os nomes dos deuses e
deusas de Roma, emprestados da mitologia grega, e cada signo é
associado a um ou mais desses deuses e deusas. Embora a astrologia
tenha nascido na Babilônia e sido influenciada pelo Egito, chegou a nós
principalmente por meio dos pensadores e escritores gregos. Quando
consideramos os significados psicológicos ou arquetípicos por trás de
planetas e signos, estamos considerando a visão de mundo do mito
grego.
Os gregos tinham uma complexa mitologia que incluía a história
da Criação e o nascimento ou aparecimento das divindades que regem o
negócios humanos. Cada deus e deusa tinha uma função específica e era
honrado em celebrações, oferendas, feriados, orações e rituais. Esses
rituais pagãos mais tarde passaram a refletir a sofisticação da filosofia
grega e a incorporar um paganismo metafísico e não mais puramente
ritual. Com a queda da Grécia Clássica e a emergência do Império
Romano, os romanos emprestaram muitas das divindades dos gregos.
Os nomes e trajes foram alterados para refletir o estilo romano, mas os
significados pouco mudaram. O Hermes grego se tornou o romano
Mercúrio, Hera tornou-se Juno e assim por diante.
Os planetas, cujos caminhos singulares no céu orbitam em torno
de uma divindade central, o Sol, têm os nomes latinos dos deuses e
deusas de Roma. No céu, assim como no monte Olimpo, continuam a
residir acima da percepção humana. Dessa forma, estabelece-se a
transferência dos deuses para os planetas. Mas como as características
desses deuses se desenvolveram nos significados associados com
planetas em particular? É isso que queremos explorar nesta obra. Ao
investigar esse processo, tentaremos revelar a visão arquetípica da
antiga mitologia, entremeando-a com as interpretações usadas na
moderna astrologia.
Os astrólogos normalmente se contentam em ligar os planetas e
signos às divindades gregas de modo muito geral. Mercúrio trata da
Xilogravura medieval mostrando astrólogos árabes. Da obra In Somnium
Scipionis, de Macrobius. Veneza, 1513
comunicação porque Hermes/Mercúrio era o mensageiro dos deuses;
Plutão trata do processo da morte e do renascimento porque Hades/
Plutão era o deus do mundo subterrâneo. Acreditamos que esse é
apenas o início e, que a chave para uma compreensão apropriada de
todos os símbolos astrológicos — planetas e signos — reside em uma
compreensão mais aprofundada dos arquétipos míticos nos quais os
símbolos se baseiam. Experimentar de forma rica os mitos que estão no
coração da astrologia traz uma perspectiva mais profunda e mais
espiritual da própria arte.
Após muitas eras durante as quais a astrologia foi usada, mal
utilizada, deixada de lado, revista e finalmente trazida para uma
aplicação sensível e útil, começamos agora a ver um renascimento das
antigas mitologias do mundo como um fator a ser considerado na
compreensão da psique humana. Ambos os autores consideram essa
abordagem da astrologia especialmente útil hoje, em um mundo em que
as tecnologias avançadas e a industrialização não dão às pessoas as
respostas que procuram. A astrologia realmente tornou-se uma
psicologia do mito. "A mitologia é uma validação da experiência, dando
a ela sua dimensão espiritual ou psicológica", de acordo com Joseph
Campbell9. Quando propriamente examinada e compreendida, a
astrologia oferece a mesma dimensão espiritual e psicológica do mito.
9. "Thinking Allowed", dr. Jeffry Mishlove, The Institute of Noetic Sciences, PBS, 1990.

Capa de uma publicação cigana da Hungria (Livro Egypto-Persa dos Planetas). Império
Austro-Húngaro, 1890
Uma visão pré-copérnica do sistema solar com a Terra ao centro
Ao senado todos os planetas compareceram,
Tara nele tecer suas maiores perfeições.
— Shakespeare, "Péricles", I, I
Quando começam a se
interessar por astrologia,
normalmente as pessoas vêem
os signos do zodíaco como os
fatores mais importantes do
arcano astrológico. Astrólogos
profissionais, porém, sabem que
são os planetas, mais do que os
signos, que formam o cerne de
todo o sistema.
A relação entre os
planetas, os signos e as doze
casas pode ser expressa através
de uma metáfora. Examinemos
uma produção teatral. Essa
produção, em particular, é a sua
vida e você é o dramaturgo —
ou, mais precisamente, a
centelha divina dentro de você é
o dramaturgo. A peça, é claro,
terá diversas cenas diferentes.
Essas cenas ou cenários — o
mobiliário, objetos cênicos e
assim por diante — são
representados em nossa
metáfora
pelas doze casas do horóscopo. Conforme os atores entram, dizem suas
falas e saem, usam diferentes trajes; e os signos zodiacais ocupados
pelos planetas representam esses trajes. Mas, e os próprios atores? Os
atores são os planetas e as falas por meio das quais se relacionam são os
aspectos planetários.
Quando os egípcios e os babilônicos começaram a observar o céu,
notaram que a maior parte das estrelas ocupava posições fixas. Cinco
delas, porém, pareciam viajar através do céu, assim como a Lua. Essas
"estrelas viandantes" eram, é claro, os planetas e, de fato, a palavra
planeta vem de um termo grego que significa viandante. O próprio
zodíaco provavelmente se desenvolveu como um modo de medir o
movimento dos planetas.
Os gregos primitivos designaram guardiões — um Titã e uma
Titanesa — para cada um dos sete antigos planetas. Téia e Hiperiônio
governavam o Sol, enquanto Febe e Atlas presidiam a Lua. Dione e
Crius guardavam Marte; Métis e Ceos eram ligados a Mercúrio; Têmis
e Eurimedonte a Júpiter; Tétis e Oceano a Vênus e, finalmente, Réa e
Cronos a Saturno. Alguns desses antigos guardiões influenciavam de
alguma forma a natureza dos planetas, assim como nós somos
influenciados de alguma maneira pela natureza de nossos ancestrais.
Os babilônicos, que levaram a astrologia mais a sério do que
qualquer outro povo antigo, deram aos planetas os nomes de seus
diversos deuses. O rei dos deuses, Marduk, era o planeta a que hoje
chamamos Júpiter; Vênus tinha originalmente o nome Ishtar, a deusa do
amor da antiga Babilônia. Em seu tempo, os gregos imitaram os
babilônicos: Marduk tornou-se Zeus, o rei dos deuses gregos; Ishtar
tornou-se a
Talismãs planetários franceses para os sete dias da semana. Retirado de Secretes
marveilleux de la magie, de Le Petit Albert. Colônia, 1722
Representação emblemática dos sete deuses planetários. De Philosophia
Reformata, de Johann Daniel Milius. Frankfurt, 1622
sorridente Afrodite. Os romanos traduziram os nomes dos planetas
para o latim — e são esses nomes que usamos hoje.
Os dias da semana ganharam os nomes dos planetas. Os mais
óbvios para os anglófonos são Saturday (sábado, dia de Saturno),
Sunday (domingo, "Dia do Sol") e Monday (segunda-feira, "O dia da
Lua"). Tuesday (terça-feira), cujo nome vem de Tiw, o deus
germânico da guerra, corresponde a Marte. Wednesday (quarta-feira)
recebeu o nome de Odin ou Woden, o correspondente norueguês de
Mercúrio. Thursday (quinta-feira), ou Dia de Thor, tem o nome de
Júpiter, enquanto Friday (sexta-feira), Dia de Freyja, é o dia de
Vênus.
Embora os gregos do período arcaico (800-500 a.C.)
imaginassem os deuses como entidades reais que viviam no alto de
uma montanha real, os sofisticados intelectuais dos períodos
helenístico (c.300 a.C. — 1 d.C.) e romano (1 d.C. — 400 d.C.) viam
os deuses e planetas principalmente como entidades psicológicas.
Platão chamava aos deuses de arquétipos, dando à palavra o mesmo
sentido que Carl Jung. Os deuses, de acordo com Platão, eram idéias
primordiais que existiam em um plano ou dimensão qualquer,
removidas de nossa consciência ordinária, e que podemos perceber
como estando "acima" dessa
consciência ordinária. Essas idéias primordiais eram comuns a todos os
seres humanos e refletiam-se em cada um de nós como imagens em um
espelho — tanto acima como abaixo. O céu era o macrocosmo; a
humanidade, o microcosmo.
Segundo esse ponto de vista, podemos também suspeitar que os
planetas constituem uma jornada na consciência. Os astrólogos gregos e
romanos o compreenderam. Ainda trabalhamos com a ilusão de que os
astrólogos antigos (e modernos) achavam que a astrologia funcionava
por causa de raios misteriosos que emanavam dos verdadeiros planetas
físicos, influenciando-nos aqui na Terra. Mas, uma leitura cuidadosa de
Platão — e especialmente de seus seguidores, os neoplatônicos —
revela que os antigos na verdade viam os planetas como arquétipos,
símbolos de processos psicológicos internos.
Marsilio Ficino, o estudioso renascentista que traduziu os escritos
herméticos, desenvolveu uma doutrina sobre os planetas interiores
segundo a qual os planetas astrológicos eram, na verdade, entidades
psico-espirituais internas e que, através da meditação, talismãs ou
outras práticas mágicas simpáticas, seria possível melhorar ou
harmonizar a influência desses planetas interiores de forma a produzir
efeitos benéficos na vida10.
Para os filósofos gnósticos do início da era cristã, a jornada pelos
planetas era um processo de meditação similar à jornada do xamã a
outro mundo. Os gnósticos tinham uma visão assumidamente negativa
da astrologia: para eles, os planetas simbolizavam o duro regime do
destino humano. Era possível superar a influência dos planetas e
libertar-se do destino "erguendo-se acima" dos símbolos arquetípicos
que constroem nossa psicologia individual e completando a união com
um "Eu" mais elevado — um "Eu" infinito e, portanto, livre de toda
obrigação planetária (ou seja, psicológica).
Mas os gnósticos sabiam que não era possível libertar-se de uma
aflição planetária ou de um complexo psicológico até que ele estivesse
dominado no nível interior, Psico-espiritual. Conseqüentemente,
acreditavam que a pessoa deveria viajar por cada planeta
sucessivamente — uma jornada que, para eles, simbolizava a ascensão
à consciência mais elevada. Por meio de meditação, cânticos e rituais de
magia talismânica, eles buscavam dominar — ou, nas palavras de
Ficino, harmonizar — a influência de cada planeta e, assim fazendo,
elevar-se a um estado mais alto de consciência.
A jornada é a mesma hoje em dia. Algum dos atores, porém,
mudaram — ou, mais precisamente, alguns novos personagens
10. Ficino, Marsilio. The Book of Life, trad. por Charles Boer, Irving, TX, Spring
Publications, 1980.
Os Sete Planetas, do Organum Uranicum de Sebastian Münster, impresso
por Heinrich Petri. Basiléia, 1536
Os sete planetas como protetores dos agricultores, gravado por V.
Feil no Wiener Praktik de Thannstetter. Viena, 1524
ingressaram no drama astrológico. A descoberta de novos planetas, assim
como o mapeamento dos principais asteróides, estendeu nosso espectro
de consciência astrológica para além dos sete planetas conhecidos dos
antigos. Essa extensão de consciência é uma questão de escolha e muito
típica da cultura ocidental. Na Índia, os astrólogos continuam a limitar
seus mapas a uma consideração dos sete antigos planetas e mais os Nodos
Lunares. Têm pouco ou nenhum interesse por Urano, Netuno ou Plutão e
certamente nenhum interesse em Quíron e nos asteróides. Nós,
ocidentais, por outro lado, encaramos a descoberta de novos corpos
celestiais com ávida curiosidade. De maneira similar, os astrólogos
ocidentais usam o zodíaco tropical, enquanto os astrólogos hindus
favorecem o sistema sideral mais antigo. Muito se escreveu nos últimos
anos sobre as fraquezas de nossa civilização exageradamente assertiva,
científica e analítica. Mas, nossa vontade de expandir a nossa
consciência coletiva aceitando tudo o que é novo pode muito bem ser
uma das forças dessa civilização.
Um dos princípios da filosofia astrológica é que a descoberta de
um novo planeta assinala o desenvolvimento de um novo estágio na
evolução consciente da humanidade. Jung acreditava que o inconsciente
coletivo constelaria novos símbolos e arquétipos sempre que a
humanidade precisasse deles. Esses novos arquétipos — que com
freqüência são reafirmações dramáticas dos antigos — emergem em
nosso inconsciente coletivo em pontos delicados da história, em épocas
nas quais os paradigmas da realidade sofrem uma mudança radical.
Impressionado pelo simbolismo arquetípico que observou nos relatos
sobre OVNIs, Jung sugeriu que os OVNIs eram a manifestação de um
novo arquétipo. Jacques Vallee e Whitley Streiber chegaram a
conclusões similares sobre a chamada "experiência visitante".
Segundo a perspectiva astrológica, poderíamos dizer que a
descoberta e o batismo de um novo planeta é uma dramática incidência
de sincronicidade que possui implicações para todos os habitantes do
planeta Terra. Deve-se observar que os novos planetas (ou asteróides
ou cometas) são batizados por quem os descobre e que esses indivíduos
têm pouca simpatia pela astrologia (normalmente a desprezam). Mesmo
assim, os nomes mitológicos que dão aos planetas têm, na maioria dos
casos, uma relação misteriosa com o verdadeiro funcionamento desses
planetas no mapa astrológico. A descoberta de um planeta, a pessoa
"escolhida" para "descobri-lo", seu batismo e seu impacto místico sobre
o consciente humano combinam-se numa teia de sincronicidade que dá
origem a um novo arquétipo coletivo.
Isso tudo tem um profundo significado para a nossa época. Desde
a Antiguidade até 1781, havia apenas os sete planetas (ou seja, os cinco
planetas visíveis mais o Sol e a Lua). Urano foi descoberto em 1781,
Netuno em 1846 e Plutão em 1930. Os principais asteróides foram
mapeados no início do século XIX e quadros de seu movimento foram
publicados na década de 1970. O cometa Quíron foi descoberto em
1977. Deve-se portanto ficar claro que novas descobertas estão sendo
feitas cada vez mais rapidamente.
Esse crescendo de descobertas simboliza uma aceleração
igualmente dramática na consciência. Novos arquétipos irrompem da
psique coletiva em velocidade realmente notável. A mente humana está
atravessando seus limites anteriores, expandindo-se em uma velocidade
que, para muitos, parece demasiado rápida. Estamos no limiar de um
novo consciente coletivo — não é uma situação surpreendente, visto
que também estamos no limiar de uma nova era astrológica.
A jornada através dos planetas é na verdade uma jornada em
direção a estados mais elevados de consciência. Viajamos pela mesma
estrada celestial dos gnósticos; mas, para nós, é uma estrada mais longa,
e mais larga. Como mencionamos anteriormente, os astrólogos hindus
não estão interessados em usar os planetas "modernos", muito menos os
asteróides. Sua atitude incorpora um conceito muito oriental — a idéia
de que a essência da consciência humana é eterna e imutável. E isso é
bastante verdadeiro. Ao adotar alegremente as novas descobertas
celestiais em nosso repertório astrológico, incorporamos uma atitude
intrinsecamente ocidental — a idéia de que a consciência humana está
em contínuo estado de evolução. Isso também é verdade. Nesse espírito
de exploração e evolução, incluímos Gaia (Terra), os quatro principais
asteróides e Quíron neste livro, pois sentimos que esses corpos que
orbitam no espaço são arquétipos significativos para os tempos
modernos.
Como observamos, os planetas constituem o cerne do quadro
astrológico. Esse fator permaneceu constante no decorrer dos séculos.
Porém as idéias sobre os planetas passaram por consideráveis alterações
— talvez evoluções — através das eras. Certamente foram coloridas por
realidades históricas e políticas e refletiram de alguma forma o modo
como a própria astrologia é vista. Por exemplo, as antigas pacas de
argila da Babilônia sugerem que, "se uma criança nasce quando Vênus
ascende e Júpiter se põe, sua esposa será mais forte do que ele."11. Aqui
não se faz qualquer referência ao signo do zodíaco ocupado pelos
planetas — ou mesmo ao signo solar! Em vez disso, há uma referência
à angularidade (ascensão e ocaso dos planetas), que os Gauquelins
confirmaram e reconfirmaram como um ponto importante da descrição
astrológica. Porém, é provável que poucos astrólogos contemporâneos
concordem com essa interpretação, já que o modo como interpretamos
Vênus e Júpiter mudou ao longo dos séculos.
O interesse de nossos predecessores na ascensão e no ocaso dos
planetas relacionava-se normalmente a preocupações como a colheita
daquele ano ou o perigo de invasão do reino por um exército inimigo.
Os eclipses lunares e solares também apareciam com destaque nesse
esquema. Há registros sobre os planetas que estavam diretos ou
retrógrados na época em que ocorreram desastres naturais ou invasões.
Em alguns casos, as mesmas teorias e técnicas podem ser aplicadas
atualmente. Os astrólogos modernos ainda observam o ciclo dos
eclipses muito cuidadosamente e, como possuem instrumentos de
medição cada vez mais sofisticados, são capazes de apontar os locais
precisos desses
11. Gauquelin, Michel, The Cosmic Clocks, ibid., p. 25.
eclipses em toda a Terra. Mas, há uma diferença primordial ao se
atribuir um significado a Saturno, Júpiter ou Marte se se analisam
padrões políticos e climáticos em comparação à análise da vida de um
recém-nascido. E essa é uma das mais importantes considerações ao se
trabalhar dentro do sistema astrológico. Nas especialidades astrológicas
conhecidas como astrologia mundana, em que se discutem realidades
políticas e geográficas; ou em astrologia horária, em que se dá uma
resposta específica para uma questão específica; ou em astrologia
econômica, em que os ciclos da bolsa são analisados em comparação
com ciclos planetários, há regras de interpretação rígidas e firmes. E
talvez mesmo para nossos ancestrais, que viviam em um mundo "fixo"
no qual pareciam ter pouco ou nenhum controle sobre o destino pessoal,
Saturno ascendente no mapa astrológico atirava uma sombra escura
sobre a vida de uma pessoa. Mas, hoje é diferente. Em uma sociedade
em que começamos a perceber que a evolução humana está embebida
de uma substância divina e que padrões negativos do passado podem ser
transformados em situações de crescimento dinâmico e a realidade
torna-se aquilo que é criado a cada momento por nossos padrões de
pensamento e sistemas de crenças, Saturno no ascendente não é mais
apenas uma sombra escura; é também a dinâmica interna que leva o
indivíduo a alcançar a maior realização da sua vida — a consciência.
... O Sol se ergueu em sua majestade;
O mundo tão gloriosamente contemplando
Que os cedros e vaies parecem ouro lustrado
Vênus o saúda com seu doce bom-dia:
"Ó tu, claro deus, padroeiro de toda luz,
De quem cada Campada e brilhante estreia empresta
Essa bela influência que as faz brilhar... *
— Shakespeare, "Vênus e Adônis "
O Sol ocupa uma posição
única na astrologia. Não é igual
aos outros planetas. Fica de fora,
acima dos outros, devido ao fato
de que todos os planetas giram
em torno dele. É o centro do
grupo; sua luz e seu calor
permitem que a vida exista,
cresça e se desenvolva — ao
menos na Terra.
A primeira religião
verdadeiramente monoteísta na
história humana foi um culto
solar, instituído pelo faraó egípcio
Akenaton. O hino composto por
esse precoce pensador religioso
ainda sobrevive e indica que para
Akenaton, assim como para os
primeiros habitantes do planeta
Terra, o Sol era a fonte de toda a
vida:
Ó Rá,
Na alvorada abres todos os horizontes,
Cada mundo de vida que fizeste
É conquistado pelo teu amor.
Como a luz do dia segue a ti,
Ela anda em paz...
Tudo o que foi criado
Foi criado em teu coração:
A Terra, as pessoas sobre ela,
Os alados, os de quatro patas,
Os que nadam, todos...
Eu sou teu filho.
Na maior de todas as alvoradas,
Eleva-me!12
A posição do Sol na roda do
horóscopo, junto com seu signo e aspectos,
tem sido para muitos astrólogos o ponto de
referência principal. Talvez por isso a
astrologia solar tenha se tornado tão
popular. Mas, apesar de sua importância, o
Sol não é o único fator no horóscopo; o
destaque dado à astrologia solar nos
jornais e revistas conspirou, na verdade,
para impedir que o público tivesse
consciência dos aspectos mais profundos
da astrologia como um sistema integrado,
holístico de pensamento. Embora a
discussão sobre a importância do Sol em
relação aos outros planetas vá se estender
por muitas décadas, a maioria dos
astrólogos provavelmente concorda que
ele é ainda o primeiro item estudado na
leitura de um mapa e, combinado com a
Lua e o ascendente, constitui a maior parte
dos dados essenciais a se basear na leitura
astrológica.
A maior parte das culturas teve
deuses solares. Na Grécia, a primeira
______________________________________________________________________
12. Traduzido do egípcio para o inglês por Kenneth Johnson.
Hélios com os cavalos do sol
O Colosso de Rodes, a personificação gigante do deus-sol Hélios, gravado por
Jean Cousin e impresso por Jean de Tournes e Guillaume Gazeau para a
Cosmographia de Levant, de André Thevet. Lyon, 1554
divindade solar foi o Titã Hélios, que conduzia o carro do Sol pelo céu a
cada dia e que foi o tema da famosa estátua chamada Colosso de Rodes
(a ensolarada ilha de Rodes era consagrada a Hélios). Mas, o deus do
Sol mais familiar à cultura ocidental é Apolo. Sua mãe, a Titanesa Leto,
fora fecundada por Zeus, o rei dos deuses. A esposa de Zeus, Hera,
furiosa com a aventura de seu marido com Leto, decretou uma
proclamação celestial que proibia qualquer santuário em homenagem à
grávida Leto. Após vagar por toda a região em busca de um lugar para
dar à luz, Leto finalmente chegou à ilha de Ortígia e ali deu à luz
Ártemis, irmã gêmea de Apolo e deusa da Lua, que assim que saíra do
útero de sua mãe, esta imediatamente a conduziu, ainda em trabalho de
parto, à ilha vizinha de Delos onde, no nono dia, ajudou no nascimento
de seu irmão Apolo. Nenhum mortal tinha permissão de nascer ou
morrer nessa ilha. É interessante notar que Delos é considerada o centro
da cadeia de ilhas chamadas Cíclades, assim como o Sol é considerado
o centro do sistema dos planetas. E dois leões, emblemas do signo de
Leão, regido pelo Sol, guardam o santuário de Apolo naquele local.
Apolo era o filho dourado do panteão grego, dotado em música,
matemática, medicina e profecia. Mas, no início, vagava pela Grécia em
busca de um lugar sagrado para fundar seu santuário. Por fim, chegou
ao ponto que hoje chamamos Delfos, porém o encontrou guardado por
uma serpente gigante, a Píton. Apolo lutou contra a serpente, matou-a e
ergueu seu santuário. Ali ficava a sacerdotisa conhecida como Pitonisa;
a quem pessoas em todas as estações da vida vinham de todo o mundo
antigo para formular questões ao oráculo de Delfos. A pitonisa mascava
folhas de louro sagradas, respirava a fumaça que saía de uma fissura na
Terra e profetizava. Qualquer mensagem trazida era considerada lei
imutável. Ninguém podia questionar ou discutir. Dessa forma, Apolo,
mesmo sem ditar diretamente as mensagens, tornou-se associado às leis
proclamadas em Delfos. Duas mensagens inscritas nos portões do
templo em Delfos eram "Conhece a ti mesmo" e "Nada em excesso". O
primeiro axioma tem clara ressonância com o conceito astrológico do
Sol, uma vez que esse corpo luminoso é normalmente visto como
representante do "Verdadeiro Eu" de um indivíduo. Na maioria das
vezes, a introdução à astrologia e aos aspectos mais profundos se dá por
meio da informação representada pela posição do Sol no horóscopo.
Porém, e quanto a "Nada em excesso"? Também esse axioma descreve
uma função solar, mas que demanda um exame muito mais profundo do
mito.
Lendas que descrevem um deus em combate contra uma serpente
mítica ou um dragão como Píton estão muito espalhadas. Alguns
estudiosos feministas vêem como emblemáticos esses mitos da história
sagrada. O deus, segundo eles, representa a divindade das tribos
Detalhe de O êxtase da Pítia de Delfos, uma gravura do século XIX
patriarcais invasoras, enquanto
a serpente representa a Cirande
Mãe, que fora dominada e
posta de lado pelas novas
religiões, que são mais
guerreiras13. Mas o mesmo
mito pode ser encontrado,
quase exatamente na mesma
forma, entre os semitas, assim
como entre os indoeuropeus —
por todo o mundo antigo. Na
Índia, o deus Indra derrota o
dragão Vritra; o norueguês
Thor enfrenta a serpente
Midgard; ainda na Grécia,
Zeus luta contra o dragão
primordial Tifão; o épico da
criação babilônica relata a
batalha de Marduk contra a
serpente marinha Tiamat; e o
Antigo Testamento preserva fragmentos de um antigo mito no qual Javé
batalha com outra serpente marinha, o Leviatã. Obviamente, esse mito
da luta contra o dragão é comum a todos os povos indoeuropeus, assim
como entre os judeus e os babilônicos, que pertencem à mesma órbita
cultural. É verdade que, no Oriente próximo, a serpente primordial é
descrita como feminina e podemos desconfiar que nessa região o mito
realmente se tornou uma metáfora para a conquista do matriarcado.
Mas, sua universalidade sugere que há um significado mais profundo,
psicoespiritual, por trás dele.
Erich Neumann, em seu conhecido livro The Origins and History
of Consciousness, faz uma interpretação junguiana desses mitos sobre a
morte do dragão14. A serpente primordial, ou dragão, representa o
inconsciente coletivo, como pode ser visto claramente pelo fato de ela
viver sob o oceano (ou, na história de Apolo, embaixo da Terra), um
símbolo universal do inconsciente. Assim como a serpente da alquimia,
Ouroboros, o dragão possui o poder, o poder vital da própria vida. Mas
esse poder ainda não tem direção nem propósito, está sem um foco. O
dragão pode ocasionalmente ser representado como feminino porque a
13. Stone, Merlin, When God Was A Woman, San Diego, CA, Harvest Books, 1976.
14. Neumann, Erich, The Origins and History of Consciousness, Princeton, NJ,
Princeton-Bollingen, 1973.
Hélios, o deus-sol
Gravura do século XIX mostrando Apolo Belvedere
com serpente, arco e flechas
consciência feminina recebe impressões e percepções de modo
intuitivo, psíquico, e não por meio de julgamentos conscientes (estamos
aqui falando em termos muito gerais, sem referências aos modos de
percepção escolhidos por homens e mulheres em particular). Então o
deus matador do dragão traz a ordem ao caos e leva o poder vital da
mente coletiva para a luz do dia, dando-lhe foco e direção.
O Sol sempre simbolizou essa vontade dirigida ou senso de
propósito — um Sol forte no horóscopo corresponde a um forte senso
de propósito. Mas, o Sol, como doador de toda a vida, é também a vasta
e incipiente força vital que reside por trás da consciência centrada. É
por isso que todos os deuses do Sol simbolizam um equilíbrio entre a
força vital inconsciente e a vontade, ou finalidade, que a dirige. Ao
estudar os atributos das diversas divindade solares, podemos aprender
como os antigos percebiam o equilíbrio espiritual. Apolo pode não ter
sido um deus-sol originalmente (essa divindade tem uma história longa
e conturbada)15, mas tornou-se vital no período clássico,
merecidamente, considerando-se as artes e os dons que simbolizava.
Era o deus da ciência, da matemática e do manejo do arco, que são
funções da consciência centrada, mas era também o deus dos oráculos e
profecias, que são funções daquela consciência mais profunda e mais
mística que reside por trás da consciência direcionada. Como deus da
música e da medicina, Apolo mostra sua verdadeira natureza de
reconciliador de opostos — o musicista traz ordem ao caos sagrado do
som puro, assim como o curandeiro traz ordem à própria força vital.
"Nada em excesso" — essa filosofia do equilíbrio que encontra
expressão nos portões do oráculo de Delfos — pode significar
igualmente "tudo em equilíbrio".
Shamash, o deus-sol babilônico, é freqüentemente simbolizado
erguendo-se entre duas montanhas16. Essas montanhas simbolizam os
limites do mundo — ou, como diríamos hoje, as polaridades da
consciência. O Sol reconcilia os opostos e representa o ponto central ou
o equilíbrio entre o yin e o yang da vida.
No sistema astrológico ptolomaico praticado nas épocas romana e
medieval, o Sol era visto como o rei dos planetas e o imperador
Aureliano erigiu templos a Sol Invictus, o "Sol Invencível"17.
Tradicionalmente, diz-se que o Sol rege o Leão e o leão é o rei dos
animais. Esse conceito do Sol sobreviveu na alquimia, que até o século
XVII tinha uma visão de mundo mitológica. Os alquimistas ilustravam
seus tratados com
15. Graves, Robert, The Greek Myths, Baltimore, Penguin Books, 1964, Vol. 1, pp. 80-
2 (Os Mitos Gregos, publicado no Brasil em 2004 pela Ed. Madras, com tradução de
Julia Vidili).
16. Gray, John, Near Eastern Mythology, Londres, Hamlyn, 1969, p. 20.
17. Cumont, Franz, Astrology and Religion Among the Greeks and Romans, Nova
York, Dover, 1960, pp. 55, 74.
desenhos fabulosos e mágicos nos quais a força solar era
freqüentemente representada como um rei coroado e vestido de
púrpura. O Sol alquímico
freqüentemente era uma
metáfora para o enxofre, uma
substância ígnea, inflamável.
Em termos psicológicos,
"Sol", "Enxofre" ou "Leão
solar" simbolizava a força
vital primordial, a mesma
força que se manifesta em
nossas vidas cotidianas como
o ego18.
O Sol, portanto, pode
ser comparado ao poderoso
arquétipo masculino, que
Robert Bly chama "rei
interior"19. Esse rei interior,
que todos nós, homens e
mulheres, possuímos, é
certamente um arquétipo
muito complexo e não pode ser relegado apenas ao Sol — Júpiter, por
exemplo, é também um importante componente do rei interior. Mas, em
seu nível mais fundamental, o rei interior é outro símbolo do senso de
propósito individual que toma nossas decisões por nós, que estabelece a
estrada pela qual viajamos. Não é o "Eu", o símbolo da completa
totalidade. Embora tenhamos descoberto que o potencial para a
completude era de algum modo incorporado pelos deuses Apolo e
Shamash, o Sol ou rei interior é para a maioria de nós aquilo que foi
para os alquimistas — a força vital ou princípio direcionador
masculino. De acordo com os alquimistas, o "Eu" aparece apenas
quando o rei se une com a rainha em um casamento místico ou sagrado
- a mysterium coniunctionis do Sol e da Luna, o Sol e a Lua. A
emergência do "Eu" depende de uma união das qualidades masculinas e
femininas20.
Durante o período medieval e, mais tarde no século XVIII, o rei
era um símbolo visível da força vital solar. Luís XIV da França pensava
de forma mitológica ao se proclamar "O Rei-Sol". Seria de se estranhar,
então, que os reis fossem vistos como seres sagrados?
18. Jung, Carl G., Mysterium Coniunctionis (Collected Works, vol. 14), Princeton, NJ,
Princeton-Bollingen, 1974.
19. Bly, Robert, Iron John, Reading, MA, Addison-Wesley Publishing Co., 1990, pp.
110-3.
20. Jung, Carl G., Mysterium Coniunctionis, ibid.
Representação emblemática do sol como
deus, da Arte Symbolica de Boschio.
Augsburgo, 1702
Detalhe de uma página decorada por Tobias Stimmer da Biblische Figuren,
impressa por Thomas Gwarin. Mostra Eva, que provavelmente era uma deusa
do sol em sua forma original. Basiléia, 1576
Acreditava-se que os faraós egípcios e os reis merovíngios da França
eram filhos dos deuses, ou de Deus, e os reis hebreus como Saul e
Davi eram "ungidos".
Obviamente, um único indivíduo não é, na verdade, um ser
"sagrado" — exceto no sentido de que nós somos todos seres
sagrados. Em nosso mundo democrático, já ultrapassamos o conceito
de absoluta monarquia que com freqüência mantém a maior parte da
humanidade oprimida ou escravizada pelos desejos e éditos de uma
única pessoa. Mas, se ganhamos em termos de liberdade, perdemos
em termos de clareza — astrologicamente, devemos notar que
Urano, planeta da liberdade, que dá sentido às revoluções
democráticas de todos os lugares, rege o signo oposto a Leão
(Aquário), e que a clareza solar está em eterna oposição com o caos
da liberdade democrática. Robert Bly aponta que poucos líderes
americanos, ao menos durante o último meio século, incorporaram
um verdadeiro arquétipo solar ou real que possa ser relacionado a um
nível nacional. Em vez disso, incorporaram uma forma pervertida do
arquétipo do guerreiro — Marte atacando em um campo de batalha21.
Ficamos assim privados, enquanto nação, de clareza ou de um
propósito direcionado.
21. Bly, Robert, Iron John, ibid., pp. 146-79.
Faetonte, filho do Sol
Mas, mesmo essa perda aparente pode ter seus benefícios.
Somos agora levados a buscar o rei dentro de nós mesmos, e não
por meio de arquétipos patrióticos nacionais. Somos forçados a
perseguir nossa própria autoconsciência.
Embora o rei interior seja normalmente visto como um
arquétipo masculino — ao menos na Europa e no Oriente Próximo,
de onde nossa cultura veio —, usamos o termo gênero
deliberadamente. Houve muitas deusas do Sol na história do
mundo, notadamente no Japão e entre os cherokee. Mesmo em
nossa própria esfera cultural, descobrimos que a força solar foi por
vezes representada como feminina. Os hititas reverenciavam uma
deusa solar chamada Hebat; seu nome em grego era Hebe, a deusa
da juventude que servia néctar e ambrosia aos deuses do Olimpo
(Hércules, o herói solar arquetípico cujos doze trabalhos são
reminiscências dos signos do zodíaco, casou-se com Hebe ao ser
divinizado). Hebat ou Hebe também pode ser relacionada
lingüisticamente à hebréia Eva — a "primeira mulher" pode ter
sido, originalmente, uma deusa do Sol. O nome de Eva
provavelmente significa "a mãe de todos os viventes". Os
arquétipos, afinal de contas, são mutáveis e fluidos — os
babilônicos viam a Lua como um deus, e não uma deusa.
22. Campbell, Joseph, The Hero with a Thousand Faces, Princeton, NJ, Princeton-
Bollingen, 1973.
Como símbolo da vontade ou finalidade humana, o Sol é também
um herói mítico; e a jornada do herói, como demonstrou Joseph
Campbell, nada mais é que a jornada da consciência humana em
direção ao "Eu".22 Mencionamos Hércules: para os gregos e romanos,
esse personagem vigoroso e poderoso era o herói quintessencial. Mas,
Hércules era tão caótico quanto corajoso — ficava bêbado, entrava em
brigas, tinha ataques de raiva e de fanfarronice e assim por diante. Da
mesma forma da própria vida, ele é uma força da natureza, não
constrangida por tradições sociais ou valores éticos.
A selvagem arrogância de Hércules aponta para o lado mais
desagradável do Sol. Considere-se o mito de Faetonte. Esse "filho do
Sol" ilegítimo viajou para o extremo leste do horizonte para confrontar
seu pai, o deus-sol Hélios. Tinha apenas um pedido: queria dirigir o
carro do Sol. Seu pai tentou dissuadi-lo, mas Faetonte insistiu.
Relutante, ele permitiu que o rapaz subisse ao carro solar. Mas, dirigir
os cavalos do Sol estava além da habilidade do jovem Faetonte; o carro
disparou descontrolado pelo céu, queimando a Terra ao se aproximar
dela. Por fim Júpiter, enraivecido, mandou um relâmpago fulminar
Faetonte. O significado do mito é claro: excesso de força de vontade e
de determinação nos leva à arrogância, o que pode ter conseqüências
destrutivas.
Outro mito nos conta o quão destrutivas podem ser essas
conseqüências. Nessa história babilônica, Nergal, o deus do Sol do
meio-dia, irrompe no mundo subterrâneo e subjuga a deusa que ali
governa. Declara-se senhor dos mortos e diz que governará ao lado da
deusa sombria23.
Nergal representa o Sol escaldante do meio-dia que seca e faz
murchar a plantação. Representa também o planeta Marte. É outro
símbolo da força solar negativa, que é a ira, a violência, a insolência e a
raiva. Os astrólogos notaram que essa história liga Marte, ao Sol e a
Plutão. O Sol é exaltado em um signo regido por Marte (Áries) e Marte
divide a regência de outro signo (Escorpião) com Plutão.
Ainda outro mito solar trata de Ìcaro, o jovem filho do mestre
artesão Dédalo (ver Touro). Pai e filho haviam sido aprisionados pelo
rei Minos de Creta no labirinto que o próprio Dédalo havia construído.
Para escapar, Dédalo preparou dois pares de asas com cera, amarrou-os
em si e no rapaz e preveniu Ícaro de que, se voasse muito perto do Sol,
as asas derreteriam. Sem dar atenção ao pai, Ícaro voou em direção ao
Sol, embriagado pela experiência. Como resultado, caiu no mar. Com
mais autocontrole, seu pai chegou em segurança à Sicília.
Essas histórias nos advertem das conseqüências do Sol em
demasia; há ainda outro aspecto negativo do Sol, que é quando a
determinação
23. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid, p. 23.
O Vôo de Dédalo e a Queda de Ícaro, gravado por Albrecht Dürer para a Spiegel der
wahren Rhetorik. Fraiburgo, 1493
solar não é forte o bastante. Tradicionalmente, o Sol está em "queda"
em Libra, que é o "ponto de ocaso" simbólico na mandala astrológica.
Aqui, a vontade e a determinação do indivíduo são submersas pelo
desejo de se comprometer ou harmonizar com outros. Embora o Sol em
Libra seja tipicamente considerado um Sol "fraco", seu simbolismo
aponta para algo em que o poderoso ego solar não é muito bom:
relacionamentos. Apolo pode ter sido o mais belo e bem-feito dos
deuses, mas era um fracasso em seus relacionamentos. Nunca se casou.
Apaixonara-se pela ninfa Dafne, mas ela o rejeitou, fugiu e foi
subseqüentemente transformada em uma árvore pela ira de Apolo — o
loureiro, a árvore sagrada de Apolo, cujas folhas eram mascadas pela
sacerdotisa de Delfos. Por que Dafne relutava tanto em ser a parceira do
mais glorioso dos deuses? O fato é: pessoas solares são quase
inteiramente absorvidas em si mesmas. O senso de determinação, o
objetivo a ser cumprido significa tudo para eles. Não têm tempo para
relacionar-se com os outros, pois estão muito ocupados conquistando o
mundo. Hércules foi outro herói solar que fracassara miseravelmente
em suas relações, até que morreu e foi levado ao Olimpo (como vimos,
ele se casou com Hebe, outro símbolo solar). Pessoas excessivamente
solares são arrogantes e egocêntricas — afinal de contas, o Sol rege
Leão e é exaltado em Áries, dois signos conhecidos por sua presunção.
De acordo com a verdadeira mecânica de nosso sistema solar, é
importante reconhecer que os planetas realmente giram em torno do
Sol. A maioria dos ocidentais pratica a forma de astrologia conhecida
como geocêntrica (centrada na Terra), na qual, para fins práticos, o Sol
é visto como um corpo no espaço que orbita longe de nós, assim como a
Lua e os outros planetas. Recentemente, tem-se dado maior atenção à
astrologia heliocêntrica, na qual o Sol é posto no centro e o ponto
Terra/ Lua é colocado no horóscopo a 180 graus do Sol. Na astrologia
geocêntrica, o Sol pode não ser literalmente a força central, mas é visto
como tal para fins práticos; é importante notar o ocaso dos outros
planetas conforme transmitem ou recebem energia do Sol. Uma
cuidadosa observação dos aspectos solares é também importante para a
análise da vontade individual. Por exemplo, muitas pessoas nascidas nas
décadas de 1940 e 1950 com o Sol em Áries possuem o planeta Netuno
(que ocupava Libra durante aqueles anos) em exata oposição a seus sóis
e em conjunção com suas posições de Terra (ver Gaia). Embora
normalmente pensemos no Sol de Áries como a expressão primordial
do fogo, inteiramente desimpedido, devemos também pensar nas
profundezas aquosas e turbulentas de Netuno afetando continuamente
esse indivíduo. Claro que sempre haverá uma profunda necessidade de
expressar esse fogo primordial, mas as forças inconscientes
simbolizadas por Netuno devem primeiro ser manejadas antes que o
indivíduo possa perceber seu destino solar (ver Netuno). O sistema de
aspectos, ou ligações geométricas de um planeta a outro, constitui uma
grande parte do campo de trabalho astrológico; os planetas que se ligam
diretamente ao Sol terão um profundo impacto na capacidade do
indivíduo de atingir seu objetivo consciente na vida. E, assim como a
vitalidade e a força vital simbolizam a boa saúde, não devemos esquecer
que Apolo era também o deus da cura. A harmonia entre o mundo
exterior e a determinação solar de uma pessoa talvez sejam a melhor
garantia disponível de boa saúde.
Mercúrio e os artesãos, por Hans Sebald Behaim. Xilogravura do século XVI
Sê Mercúrio, prende asas a teus pés,
E volta de lá depressa como o pensamento.
— Shakespeare, Rei João, IV, II
Mercúrio, o menor dos
planetas, é também o mais
próximo do Sol. Símbolo da
mente racional, Mercúrio está
intimamente ligado ao nosso
senso de direção espiritual (o
Sol). A mente deve servir ao
nosso senso de finalidade. Uma
vez que Mercúrio nunca está a
mais de 28 graus de longitude
do Sol, a única relação possível
que ele pode estabelecer com
esse astro luminoso é a
conjunção — ou seja, a união.
O intelecto de uma pessoa pode
ser, de alguma maneira,
separado do objetivo principal
dela se Mercúrio estiver na sua
distância máxima do Sol; mas,
no caso de uma conjunção
próxima, isso pode querer dizer
que a mente e a vontade estão
unidas.
Essa relação entre mente
e vontade é representada
miticamente pela relação entre
Mercúrio e Júpiter, assim como
entre Mercúrio e o Sol. Júpiter, símbolo de finalidade social ou relação com um
todo maior, serve para concentrar a consciência da pessoa — um papel mítico
que divide com o Sol. Assim, há uma máxima astrológica que diz que
Mercúrio é o servo de Júpiter — ou seja, o intelecto deve ser dirigido para uma
finalidade mais elevada.
Júpiter, é claro, era Zeus, o rei dos deuses; e na Babilônia esse planeta
era chamado Marduk. O deus Marduk tornou-se rei do céu ao matar o monstro
marinho Tiamat, estabelecendo assim a ordem no Universo24. Marduk, o rei
celestial, era o pai do deus Nebo (ou Nabu), identificado com o planeta
Mercúrio. Nebo era o escriba dos deuses, escreveu as leis e os éditos de
Marduk e os comunicou à humanidade. Durante o festival de Ano-Novo
babilônico — a mais importante cerimônia do calendário babilônico, que
recriava a batalha primordial de Marduk contra o caos —, a imagem do deus
Nebo era cerimonialmente removida de seu santuário em Borsippa e levada ao
templo de Marduk na Babilônia25. Nebo era simbolicamente unido a seu pai. A
mente era cerimonialmente ligada ao senso de finalidade dirigida, representado
pelo rei dos deuses. Mercúrio servia a Júpiter.
O Nebo babilônico era um deus solene e dignificado. Os babilônicos
aparentemente tinham grande respeito pelo intelecto racional e seu
papel na consciência humana. O
"escriba dos deuses" egípcio é
igualmente uma figura
formidável — Toth, o deus com
cabeça de íbis, senhor da escrita
e da magia. E por que não? É
papel do xamã ou mago
compreender as leis da natureza
conhecendo os nomes secretos
das coisas. Portanto, sua função
era similar à do escriba, que
também conhecia o nome de
todas as coisas. Na posterior
época clássica (c.300 a.C. — 300
d.C), Hermes, o grego Mercúrio,
foi simbolicamente unido ao
egípcio Toth, de forma que os
egípcios gregófonos dos
primeiros séculos da era cristã
adoravam o deus
24. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid, pp. 29-33.
25. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid., pp. 26-9.
Toth, de um afresco num túmulo em Tebas
Hermes-Toth — que, como
Hermes, era o deus da mente
e, como Toth, era o deus da
magia. Mas não devemos
levar essa ligação entre
Mercúrio e Toth muito
longe, pois Toth nunca fora
associado ao planeta
Mercúrio. Era considerado o
deus da Lua.
A ligação entre
Hermes e Toth, ou Mercúrio
e a Lua, não deixa de ter,
porém, sua significância
mística. Mercúrio representa
o intelecto racional e a Lua
representa a memória
instintiva. Na Índia, a Lua é
o deus Chandra e Mercúrio,
cujo nome é Budha (e não
Buda), é o filho do deus
Lua. Os hindus acreditam
que sempre que esses dois,
pai e filho, são unidos, há
uma união entre a mente
(Mercúrio) e a memória
(Lua) — e a memória, no
pensamento hindu, é meramente um outro aspecto da mente. Dessa
forma, quando os dois planetas estão em conjunção, diz-se que resulta
um esplêndido intelecto, pois o nascituro tem uma habilidade inata para
lembrar (Lua) tudo o que aprende (Mercúrio)26. Quando a Lua está em
conjunção com Mercúrio, Hermes e Toth estão realmente unidos e o
astrólogo deve perceber um intelecto brilhante no cliente. Como
veremos, Mercúrio recebeu a regência sobre o signo de Câncer no
antigo sistema de postos do governo olímpico, um signo que os
astrólogos atuais ligam à Lua.
Embora Nebo e Toth representem o aspecto dignificado e
intencional do intelecto, há um lado desonesto e brincalhão — e, por
vezes, positivamente perigoso — na mente também. Os gregos
reconheciam
26. Behari, Bepin, Myths and Symbols of Vedic Astrology, ed. David Frawley, Salt
Lake City, Passage Press, 1990, pp. 58-64; e James Braha, Ancient Hindu Astrology
for the Modern Western Astrologer, Miami, Hermetician Press, 1986, p. 241.
Toth ilustrado por Diane Smirnov
essa dualidade da mente, pois seu deus Hermes é o deus dos ladrões,
assim como das comunicações.
Hermes era filho de Zeus e sua mãe era a ninfa Maia. De acordo
com o estudioso grego Karl Kerenyi, Maia já foi uma deusa, ligada às
plêiades27 (há outra ligação fascinante aqui, pois no zodíaco sideral da
Índia, as plêiades estão a três graus de Touro e este é o grau de
exaltação da Lua — que, como vimos, está intimamente ligada a
Mercúrio)28. De qualquer modo, Hermes foi ladrão quase desde o
momento de seu nascimento, em uma caverna no alto do monte Cilene,
na Arcádia. Logo que o menino precoce veio à luz, a primeira coisa que
viu foi uma tartaruga. Da casca dessa criatura ele criou a lira, um
instrumento musical. Em seguida, roubou o rebanho de Apolo e,
quando foi apanhado, foi convocado ao Olimpo para ser julgado por
Zeus. Intimamente, Zeus e Apolo estavam ambos impressionados com a
feroz esperteza daquela criança. Hermes devolveu o gado roubado ao
deus-sol e lhe deu também a lira. A lira mais tarde tornou-se símbolo de
Apolo, como o deus da música. Apolo fez de Hermes o condutor das
almas deste mundo para o próximo — uma função divina e que já havia
sido realizada pelo deus-sol.
Essa história, que vem dos Hinos Homéricos, revela bastante
sobre Mercúrio. Ele era um ladrão que mais tarde foi chamado deus dos
ladrões. Por que o deus da mente e de toda a atividade literária seria um
deus dos ladrões? Porque o intelecto humano, por si só, é amoral. Sua
função, o pensamento racional, não está necessariamente ligada a
nenhum código de ética. O mesmo processo mental que leva um
indivíduo a escrever um livro sobre consertos domésticos pode ser
usado por um indivíduo diferente para quebrar fechaduras ou burlar um
alarme contra ladrões — ou desviar milhões de dólares de um público
inocente com a venda de títulos de dívidas (Mercúrio também era o
padroeiro dos mercadores). Novamente, a relação entre Mercúrio e
Júpiter ou o Sol é de vital importância: a mente apenas se torna uma
força poderosa para o bem quando dirigida por um senso mais elevado
de consciência. Não é de admirar que os antigos chamassem Mercúrio
de um planeta "neutro". Sempre foi uma tradição astrológica que um
Mercúrio forte, mas aflito, estivesse presente no mapa astrológico de
um ladrão profissional. Outro tema nesse hino homérico é a juventude
de Mercúrio. Todas as ações de Hermes, inventivas (a lira) ou
criminosas (roubo do gado), eram realizadas por um jovem e, nos
trabalhos astrológicos medievais, Mercúrio simbolizava "pessoas
jovens", especialmente na
27. Kerenyi, Karl, The Gods of the Greeks, Londres e Nova York, Thames e Hudson,
1951.
28. Behari, Bepin, Myths and Symbols of Vedic Astrology, ibid., pp. 177-9.
astrologia horária. Pessoas
com um Mercúrio forte ou
com ênfase em Gêmeos ou na
Terceira Casa (embora não
necessariamente em Virgem
ou na Sexta Casa) com
freqüência parecem ser "Peter
Pans". Têm o suave e
brilhante charme de
Mercúrio, mas não são
completamente "crescidas".
Essa qualidade de juventude
pode marcar uma pessoa
altamente criativa ou um
indivíduo ainda não
desenvolvido — ou as duas
coisas. Os analistas
junguianos chamam a esse
tipo de personalidade puer
aeternus, o "menino
eterno"29. Com todos os
encantos das crianças, essas pessoas passam pela vida sem qualquer
objetivo perceptível, especializando-se em casos amorosos no estilo
Don Juan e em falar infinitamente das maravilhosas coisas criativas que
farão algum dia. A correspondente feminina a esse tipo de
personalidade é a puella aeterna, que vive para o amor, preza sua
própria beleza física acima de todas as coisas e troca de homem em
tempo recorde30. Tem em geral uma personalidade estimulante, com o
usual charme de Mercúrio, e pode realmente inspirar o homem que ama
— e que certamente abandonará. Mas, há um vazio nela, algo
insubstancial em sua incapacidade de se comprometer. Deve-se notar,
porém, que esses puers e puellassic podem, às vezes, parar de falar
sobre as grandes realizações e de seu futuro e realmente começam a
trabalhar para fazer algo acontecer. Quando o fazem, tornam-se os
grandes artistas e escritores deste mundo — e realmente, a maioria dos
indivíduos artísticos têm uma boa porção de puer ou puella dentro de si.
Afinal de contas, foi o menino Hermes quem inventou a lira.
Há outros fatores que entram na criação do puer ou da puella.
Além dos fatores mercuriais que citamos, os astrólogos devem buscar
29. Whitmont, Edward, The Symbolic Quest, Nova York, Harper and Row, 1969, p.
182.
30. Whitmont, Edward, The Symbolic Quest, ibid., pp. 179.
Mercúrio com seu bastão curativo,
o caduceu e seu capacete com asas,
prestes a levantar vôo.
Mercúrio como mensageiro dos deuses, ilustrado por Gustave Doré
uma relação entre esse planeta e o Sol, a Lua ou Saturno, pois a
síndrome de Peter Pan sempre implica alguma dificuldade com os pais.
Liz Greene acredita que devemos também buscar um Urano forte, o que
faz muito sentido. Urano é o arquétipo do inventor, do boêmio, do
espírito rebelde — e é também, de acordo com a astrologia esotérica, a
"oitava acima" de Mercúrio. Há realmente uma forte ligação entre esses
dois planetas e, qualquer aspecto ou relação entre ambos é
extremamente importante em um mapa astrológico, especialmente, no
que diz respeito à atitude do indivíduo em relação aos padrões
tradicionais de pensamento. O tipo Mercúrio-Urano fica empolgado
com o estado da arte tecnológica e busca forjar novos caminhos de
pensamento, após haver despedaçado todas as barreiras do crescimento
mental.
Outro tema do Hino Homérico a Hermes é a inter-relação entre
Apolo e Hermes, ou seja, entre o Sol e Mercúrio. Novamente,
descobrimos que o intelecto deve estar ligado a um senso de direção ou
vontade. Uma das regras da astrologia horária, estabelecida há muito
tempo, é que, quando Mercúrio está a um grau do Sol, diz-se que está
"combusto" — queimado pela intensa radiação solar. Porém, em um
mapa astrológico individual, essa situação, com freqüência, produz
precisamente o efeito inverso — a vontade consciente (Sol) e a mente
racional (Mercúrio) ficam unidas de modo extremamente intenso e
altamente concentrado. Se o Sol e o Mercúrio estão nesse tipo de
configuração, é preciso examinar o signo e a localização da Casa para
determinar qual é o foco exato e, a seguir, examinar os padrões
aparentes dos outros planetas para determinar se o indivíduo tem apoio
para atingir seu objetivo.
Mercúrio possuía o caduceu, ou bastão curativo, e somos
lembrados de seu papel no processo de cura, as "artes" médicas —
embora atualmente "arte" tenha sido substituída por "ciência".
Certamente, a ciência médica moderna nos traz informações incríveis
sobre o corpo
humano c suas funções, mas a sua total confiança na tecnologia
invasiva e nos remédios externos aplicados enquanto o paciente está
dopado, medicado e totalmente excluído dos procedimentos, serve para
remover o indivíduo de seu próprio processo de cura. Isso contraria a
maneira de como o processo realmente funciona, cortando-se ainda
mais a ligação e produzindo-se uma dualidade maior entre paciente e
médico. Lembra a relação de que falamos anteriormente entre o Sol e
Mercúrio em um mapa astrológico. Se Mercúrio (a mente) existe em
completo isolamento do Sol (vontade consciente) e também da Terra
(corpo físico), a completude do indivíduo começa a se romper. Quando
essa fragmentação ocorre e não somos mais capacitados e irradiados por
nosso fogo interior ou qualidades vivificantes, o nosso sistema
imunológico fica enfraquecido e somos incapazes de resistir aos
exércitos invasores. Essa desintegração da mente, da vontade e do corpo
é o que produz a doença assim como a conhecemos. Da mesma
maneira, a união desses três aspectos de consciência une e cura a
doença. Já se enfatizou a relação entre corpo e mente durante o processo
de cura. Um campo emergente nas artes da cura hoje conhecido como
psiconeuroimunologia trata exatamente disso; baseia-se na premissa de
que o sistema de pensamentos do organismo contém em si a mesma
capacidade para resistir ou combater à doença que para aceitá-la. A
mente é algo poderoso e, quando se volta contra a vontade ou o corpo,
como resultado de abusos passados ou atuais infligidos sobre o
indivíduo, fragmenta ainda mais as defesas internas do indivíduo e
induz a propagação da infecção ou doença.
Os egípcios viam Mercúrio como Toth — transportador de almas.
Os gregos e romanos o viam como Hermes e Mercúrio — o mensageiro
dos deuses. Certamente, o movimento e a viagem compuseram grande
parte do arquétipo de Mercúrio e
compõem hoje na astrologia. O fato
de Mercúrio ser o planeta mais
próximo do Sol e por isso completar
sua revolução com maior rapidez
(88 dias) contribui para o atributo
"hoje aqui, amanhã acolá" associado
a esse planeta. Os antigos raramente
viam Mercúrio no céu e, quando o
conseguiam, era por um período
curto e precioso, fato que também
fortaleceu a percepção dessa
divindade como oculta ou não
confiável. Uma vez que Mercúrio
nunca pode estar a mais de 28 graus
do Sol, só pode ser visto por curtos
períodos,
Ornamento de impressor mostrando
Mercúrio e sua associação com as
viagens
quando está mais longe dele,
logo antes ou logo depois do
ocaso.
Embora consideremos
Mercúrio, objetos
relacionados a Mercúrio e
pensamentos em geral
"mercuriais" ou velozes, nem
sempre é assim. Quando
Mercúrio viaja em sua maior
velocidade, move-se mais de
3 graus por dia (três vezes
mais rápido do que o Sol),
mas, quando na velocidade
mais baixa, quase não se
move. Esse fenômeno,
conhecido como estação,
ocorre logo antes e logo
depois que um planeta se
torna retrógrado — ou seja,
antes que pareça mover-se
para trás em sua órbita,
devido à nossa percepção,
geocêntrica, de sua baixa
velocidade. Os astrólogos sempre observaram a velocidade de Mercúrio
para determinar a rapidez ou agilidade da mente ou dos padrões de
pensamento de uma pessoa. Mercúrio lento, estacionário ou retrógrado
descreve indivíduos que levam tempo para responder ou chegar a
soluções, analisando as coisas cuidadosamente antes de se
comprometer. Aqueles com um Mercúrio veloz são rápidos para
responder e possuem mentes que se movem em velocidades
impressionantes, muito além das outras pessoas, capazes de completar
suas frases mesmo antes que você saiba o que vai dizer. Esse processo
também se relaciona com a distância entre Mercúrio, o Sol e a Terra.
Quando a polaridade Sol/Terra (ver Gaia) está unida com Mercúrio por
signo, casa ou grau próximos, há uma relação melhor entre mente e
corpo, produzindo uma mente mais "pé no chão", mais cuidadosamente
guiada para produzir suas respostas. Quando Mercúrio está distante da
vontade e do corpo (Sol/Terra), opera em um plano totalmente diferente
(ou seja, pessoas que têm "mentes próprias") e, embora a mente possa
ser brilhante, pode demandar mais trabalho integrar aquela mente com o
resto do sistema. E, mesmo se todos os planetas, exceto o Sol e a Lua,
ficarem retrógrados por um certo tempo, a retrogradação de Mercúrio,
três vezes por ano, três semanas a cada vez, ganhou a reputação de um
período em que tudo enlouquece. Se Mercúrio é realmente o
mensageiro,
Hermes, ou Mercúrio
o viajante, a ligação deste mundo com o próximo, o movimentador da
informação e do comércio, seu movimento estacionário ou retrógrado
afetará aparentemente todas essas operações — especialmente hoje, em
um mundo em que computadores, viagens pelo ar, aparelhos de fax,
telefones, registradoras, serviços telegráficos e assemelhados realmente
parecem manter o mundo funcionando suavemente. Embora Mercúrio
não seja realmente o responsável pela interrupção das operações,
difundiu-se a idéia de que essas interrupções ocorrem com maior
freqüência quando Mercúrio está retrógrado.
No corpo, Mercúrio rege o sistema nervoso e os pulmões. O
aparelho respiratório é parte integral do processo de Mercúrio, porque,
se o prana ou respiração é a ligação com a força vital, então a relação
de Mercúrio com o Sol é uma chave para a expressão da vontade e do
objetivo de uma pessoa. Por exemplo, uma pessoa, com Sol em Peixes
e Mercúrio em Áries, pode ter uma mente que explora novas áreas, abre
novas estradas e entra em apuros por noções arriscadas antes que o Sol
em Peixes sequer perceba o que está acontecendo, ou enquanto ainda
está muito temeroso para agir de acordo com essas novas idéias. Esse
tipo de indivíduo pode dizer sim ao aventureiro e explorador dentro de
si (Mercúrio em Áries) enquanto seu senso de finalidade pisciano ainda
está se acostumando ao fato de que tem de tomar alguma atitude!
Encontramos uma solução para esse dilema nos aspectos avançados do
Sol. Em algum ponto na vida da pessoa, o Sol progredirá para uma
conjunção com Mercúrio ou Mercúrio com o Sol e, nessas períodos, um
campo mais unificado de consciência pode surgir.
Já observamos que Mercúrio opera em relação com seus
arredores, estimulado por signo e casa ou por aspectos de outros
planetas. Não estamos dizendo que Mercúrio não aja sozinho — mas
raramente, se é que algum planeta opera de forma puramente
independente. Talvez, se um planeta estivesse completamente
inaspectado, ele operasse em sua própria casa e signo quase como um
arquétipo "puro", mas ainda seria condicionado de alguma forma pelos
que o rodeiam, assim como uma criança pode agir e pensar por si
própria, mas também aprende rapidamente que, quanto mais age de
acordo com o comportamento "aceitável" ou "normal", menos as outras
crianças caçoarão cruelmente dela. Um bom exemplo disso é o
personagem Data em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração. Data não
é humano; é um andróide. Assim como um Mercúrio quase puro, Data
pode realizar milhares de cálculos por segundo e raramente erra, se é
que erra. Porém, não tem sentimentos humanos (Lua) e se empenha
para desenvolver alguma emoção e se parecer mais com seus irmãos e
irmãs humanos. Data não precisa de emoções; trabalha perfeitamente
bem sem elas — mas é influenciado por seu ambiente de tal modo que
pensa que precisa delas para se dar bem com seus companheiros.
Mercúrio também luta para pensar e se
comportar de acordo com os outros
planetas, seus irmãos e irmãs. O que
leva Mercúrio à ação é aquilo em
que está "enfiado". Quanto mais
estamos conscientes e no controle
desse processo, mais podemos
atingir conscientemente nosso
destino desejado sem muitos desvios
ou falhas mecânicas.
Mas há um aspecto mais sutil,
metafísico de Mercúrio que, com
muita freqüência, é ignorado. Note
que Apolo fez de Hermes o
condutor de almas entre este mundo
e o próximo. O deus Hermes podia
se mover livremente entre o mundo
subterrâneo, a Terra e o monte
Olimpo. Nenhuma outra divindade
podia entrar e sair do mundo
subterrâneo como Hermes — uma
vez que entrasse no reino de Hades, teria de ficar, ao menos que
obtivesse uma dispensa especial do próprio Hades. Da mesma maneira
acontece com a mente humana e sua capacidade de "viajar" a qualquer
parte, construindo seus próprios limites.
No período medieval, Mercúrio também era conhecido como
Mercurius, o deus dos alquimistas (ver Virgem). Mercurius é o
"andrógino alquímico"31; uma tradição astrológica reza que o planeta
Mercúrio é andrógino, nem homem nem mulher, mas ambos. No mito
grego, a união de Hermes e Afrodite produziu o ser conhecido como
hermafrodita, que era ao mesmo tempo homem e mulher. Na ioga
tântrica, um campo unificado de consciência é atingido despertando-se
a energia kundalini, que, passando pela coluna central associada à
espinha dorsal, dissolve os dois canais de polaridade masculina e
feminina que estão entrelaçados nessa coluna. Essa imagem de canais
psíquicos enrolados em torno de uma coluna central é reminiscente do
caduceu, a vara com serpentes entrelaçadas de Hermes, que se tornou
um ícone das profissões de cura. A dissolução das polaridades
masculina e feminina lembra que, na alquimia, a morte do rei e da
rainha míticos no momento da união sexual produzia o andrógino
alquímico, o campo unificado de consciência que surge quando as
polaridades deixam de existir32.
31. Jung, Carl G., Alchemical Studies ("Collected Works, vol. 13), Princeton, NJ,
Princeton-Bollingen, 191-250.
32. Jung, Carl G., The Psychology of the Transference, Princeton, NJ, Princeton-
Bollingen, 1969.
Emblema gnóstico mostrando Hermes
guiando uma alma
O intelecto refinado, a mente transformada de conhecedora em
consciência, leva de um reino para o próximo. A mente em si está além
das polaridades — não é masculina nem feminina, nem boa nem má,
nem yin nem yang. O aspecto puramente racional ou analítico da mente
pode ter um caráter muito masculino, é verdade, pois os hemisférios
esquerdo e direito do cérebro supostamente têm uma qualidade
masculina (esquerdo) e feminina (direito). Mas, o espectro da mente
como um todo é uma criatura à parte: é o instrumento que nos leva à
transmutação alquímica e à verdadeira unidade.
Em alguns baralhos de Tarô, a carta do mago é representada como
Hermes ou Toth. Ele está acima dos símbolos dos quatro elementos que
representam as quatro funções da psique humana — intuição,
sentimento, pensamento e sensação. Mercúrio, o alquimista, tem a
capacidade de unir esses elementos em um só todo.
Uma gravura do século XIX da Vênus de Milo, segundo o original
no Museu do Louvre. Paris, França
... Quando seu amor ele avistar,
Que ela brilhe, tão gloriosa
Quanto Vênus no céu.
— Shakespeare, "Sonho de uma Noite de Verão",
III, II
No início, o mundo era
governado por Urano, o Pai
Céu, e Gaia, a Mãe Terra, o
casal primordial. Urano
tornara-se um tirano e foi
destronado por seu filho
Saturno (Cronos), que o
castrou com uma foice. A
semente criativa do deus Céu
primordial espalhou-se pelo
céu e pela Terra. Parte dela
caiu no oceano e deu origem a
Vênus, que os gregos
conheciam como Afrodite, a
deusa do amor. Ela surgiu já
crescida da espuma do mar,
levada pelas ondas sobre uma
concha. Quando pisou na
margem da ilha de Chipre,
grama e flores brotaram a seus
pés e as estações, filhas de
Têmis, vestiram sua nudez.
O poeta Hesíodo conta
histórias sobre o nascimento de
Afrodite na Teogonia33, e o
pintor
33. Hesíodo, Theogony and Works and Days, trad. M. L. West, Oxford e Nova
York, Oxford University Press, 1988, pp. 8-9.
renascentista Botticelli criou o Nascimento de Vênus, uma das obras de
arte mais famosas do mundo ocidental. Vênus sempre foi uma das
deusas mais populares, adorada por todo o antigo Mediterrâneo. Mesmo
na Europa medieval, quando o cristianismo oficialmente banira os
antigos deuses e deusas, ela vivia na poesia dos trovadores e estudiosos
viandantes.
Recebeu diversos nomes e títulos. O próprio nome Afrodite
significa "nascida da espuma do mar". Era também conhecida como
Afrodite Anadyomene, "nascida da espuma e surgida do mar"34. Seu
pássaro era a pomba, conhecida por sua natureza lasciva; sua árvore era
o mirto; seu local sagrado era a ilha de Chipre. Era chamada "a
dourada"; os poetas clássicos a imaginavam banhada em uma luz
dourada ao aparecer diante de seus amantes. Era também "a sorridente
Afrodite", que trazia todos os deleites, todas as alegrias sensuais.
Diz-se que o planeta Vênus é exaltado em Peixes, e Peixes é o
símbolo do grande oceano. Na Grécia clássica, muitos dos nomes dessa
deusa eram associados ao mar. Ela nasceu da espuma do mar e surgiu
das ondas. A vieira era um de seus símbolos; era por vezes chamada
Afrodite Pelagia, "a que veio do oceano". Deuses e deusas do mar com
freqüência têm várias formas, como o velho Proteu na Odisséia; em
Esparta, a deusa do amor era chamada Afrodite Morpho, "Aquela com
várias formas"35.
A deusa de forma mutável de Esparta
era com freqüência representada atada em
correntes. Esse talento para a metamorfose
combinado com a imagem das correntes
sugere que era uma forma da Grande Deusa
primordial. Robert Graves tenta reconstruir
o mito que os pelasgos (povos do mar),
habitantes neolíticos ou pré-helênicos da
Grécia, devem ter contado sobre ela.
De acordo com Graves, a deusa era
adorada sob o nome Eurínome, que
significa "a grande viandante" (ou seja, a
Lua). Nascida do caos primordial, ela
dançou sobre as águas do oceano, assim
como mais tarde Vênus surgiria dançando
nas ondas. Eurínome transformou o vento
norte em uma serpente, chamada Ofião. A
serpente enrodilhou-se em torno dela — daí
a
34. Kerenyi, Karl, The Gods of the Greeks, ibid, pp. 68-9.
35. Kerenyi, Karl, The Gods of the Greeks, ibid, p. 80.
Ofião enrolando-se no ovo nascido
de Eurínome
Um desenho de Paquier do século XIX, a partir de uma fotografia da Vênus de
Borghese
imagem da deusa acorrentada. Fecundou-a, e ela deu à luz um ovo
cósmico. Ofião enrolou-se sete vezes em volta do ovo até que ele se
partisse em dois e chocasse toda a criação36.
Essa reconstrução do mito da criação primordial não é pura
especulação; a arqueóloga Marija Gimbutas encontra provas de um mito
similar entre as culturas neolíticas da Europa balcânica37. Os símbolos
que constroem essa antiga história sobrevivem, de alguma forma, em
períodos comparativamente recentes. Na figura da "dama alma" ou
anima mundi (ver Os Signos Fixos) em que dança rodeada por uma
grinalda na carta de Tarô O Mundo, podemos reconhecer Eurínome
dançando sobre as ondas, envolvida por Ofião. E o símbolo alquímico
do Ouroboros, a serpente que morde sua própria cauda, lembra Ofião
enrodilhado no ovo cósmico — especialmente porque os alquimistas
também viam o ovo como símbolo da unidade original. No Antigo
Testamento, a serpente primordial pode ser tanto a tentadora como, no
pensamento cabalístico, a redentora. Ofião enrodilhou-se sete vezes em
torno do ovo cósmico e o número sete é tão importante no Livro das
Revelações quanto nas antigas mitologias pagãs.
Psicologicamente, podemos dizer que o desejo por amor, sexo e
relacionamentos foi uma das primeiras funções humanas — ou talvez a
primeira — a emergir do oceano do inconsciente simbolizado por
_______________________________________________________________
36. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid, vol. 1 , pp. 27-30.
37. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, Berkeley e Los Angeles,
Universidade da Califórnia, 1982, pp. 101-7.
Peixes. Vênus, a deusa do amor, dança sobre as águas da mente coletiva
ou da alma do mundo. Ela emerge daquele oceano ainda envolvida em
uma luz dourada, sorrindo com o conhecimento dos outros reinos; é
mediadora ou guia para as camadas mais profundas do inconsciente.
Com esse brilho sobrenatural aparece a seu amante Anquises. Ao se
aproximar de sua humilde cabana de pastor, foi seguida por lobos,
leões, ursos, leopardos e abelhas zumbidoras. Parou diante dele, toda
dourada, vestida de vermelho e ungida com óleo. Mas se, para
Anquises, ela incorporava todo o poder do inconsciente profundo,
incorporava também sua traiçoeira face aquática — mentiu para ele,
dizendo que era apenas uma donzela mortal38.
Como deusa do amor e da beleza, Vênus tornou-se logicamente um
planeta de relacionamento; assim como o é a regente tradicional de
Libra, o signo do casamento. Mas, Vênus não
é tanto o planeta do relacionamento como é a
deusa do amor. É importante diferenciar esses
dois conceitos, pois o casamento nem sempre
tem a ver com amor. Como veremos, o
casamento está sob o domínio de Juno (Hera).
Ao examinar a mitologia de Vênus,
descobrimos que ela realmente foi casada, mas
é muito questionável até onde reconheceu ou
honrou esse casamento. Sabemos que ela
rejeitou seu marido coxo, Vulcano (Hefesto),
o deus da forja, em favor de Marte, o deus da
guerra, com quem teve um longo caso
amoroso e filhos. Parece que o marido de
Vênus, Vulcano, era também parcialmente
responsável pela infidelidade de Vênus.
Vulcano, o habilidoso artesão e artífice, era
casado com seu trabalho e não possuía muita
capacidade para intimidade ou relação — algo
de que uma Vênus precisava39. Por outro lado,
Vênus era adorada por seu amante Marte,
embora tenham experimentado muita
turbulência em seu relacionamento. Uma das
histórias mais conhecidas envolvendo Marte e
Vênus diz respeito à resposta de Vulcano
quando soube que sua esposa estava envolvida
com o deus da guerra. Era a sina de Vulcano
ser traído
38. Kerenyi, Karl, The Gods of the Greeks, ibid., pp. 77-9.
39. Bolen Jean Shinoda, Gods in Everyman, San Francisco, Harper and Row, 1989,
pp. 219-50.
Um desenho do século
XIX reproduzindo a
Vênus de Cnidos
A Alma do Mundo combina o simbolismo da deusa acorrentada e da deusa
sobre as águas, do livro Utriusque Cosmi Historia, de Robert Fludd.
Oppenheim, 1617
por sua bela esposa, mas dessa vez ele ficou com raiva. Forjou correntes
de ouro, que habilidosamente escondeu nas vigas de seu palácio no
Olimpo. Disse então a Vênus que ia tirar férias em sua ilha sagrada de
Lemnos.
Como Vulcano previra, Vênus convidou Marte a encontrá-la em
seu palácio. Mas, Vulcano estava escondido ali perto; e quando Vênus e
Marte começaram a se abraçar, uma rede mágica caiu, prendendo-os à
cama. Irado, Vulcano chamou todas as divindades do monte Olimpo
para testemunhar a vergonha de sua esposa. As deusas — que, de forma
bastante natural, apoiaram o ponto de vista da mulher — recusaram-se a
tomar qualquer parte no caso, mas os deuses vieram dar uma olhada.
Mercúrio disse a Apolo que trocaria de lugar com Marte de boa vontade
— qualquer coisa para ter a deusa do amor na cama (Mercúrio teve sua
chance mais tarde; o resultado foi Hermafrodita, uma criatura com
órgãos masculinos e femininos). Finalmente, por insistência de Netuno,
Marte e Vênus foram libertados das correntes do amor40.
Muitos astrólogos ainda usam esses dois planetas, Vênus e Marte,
para avaliar as necessidades de relacionamento de um indivíduo na
análise do mapa. Porém, deve-se notar que o caso amoroso entre Marte
e Vênus nada tem a ver com estabilidade ou compromisso — é na
verdade uma relação extraconjugal. A relação entre os dois planetas
mostra a atração sexual ou romântica, certamente. Pode indicar, de fato,
uma paixão selvagem ou desgovernada; na Índia, diz-se que pessoas
com conjunção de Marte e Vênus no mapa astrológico são apaixonadas
e sensuais até o exagero. Mas, Marte e Vênus apenas não indicam o tipo
de compatibilidade necessária a longo prazo para um casamento. Os
fatores tradicionais que estabelecem esse tipo de união de longo prazo
são o Sol e a Lua e a interação entre as linhas do horizonte dos
parceiros. Como veremos, o asteróide Juno é também muito útil na
avaliação das necessidades de relacionamento. Vênus interessa-se
apenas pelo romance, pela glória e a paixão do momento. Mas,
certamente, se Vênus e Marte interagem entre dois mapas, a vida
amorosa desse casal será bem apimentada, não importa o resultado.
Vênus rege Touro e Libra, na Grécia clássica; também regia Touro
no antigo sistema olímpico. Como deusa desses signos, exsuda
sensualidade pura, representando o aspecto da deusa cuja única
finalidade é usufruir da abundante mundanidade do mundo físico
representada pela natureza e o corpo. Assim, a deusa era por vezes
conhecida como Afrodite Pandemos, padroeira do "amor comum".
Prostitutas a adoravam como uma delas sob o nome de Afrodite Porne
ou Afrodite Hetaira; chegou mesmo a ser conhecida como Afrodite
Kallipygos, "a das belas nádegas"41.
40. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid, Vol. 1, pp. 67-8.
41. Kerenyi, Karl, The Gods of the Greeks, ibid, pp. 68, 80.
Em Libra, porém, relaciona-se mais
com a iniciação de opostos existente nos
relacionamentos. Vênus é uma deusa
doce e amável atraída por
relacionamentos com homens rudes —
guerreiros e caçadores como Ares, deus
da guerra, e Adônis, caçador de feras
selvagens. Encontram-se com freqüência
polaridades desse tipo em Libra, o
significador astrológico do
relacionamento. Em Libra, esses opostos
se encontram e se harmonizam.
Elementos opostos estão freqüentemente
sendo trabalhados nos relacionamentos,
sendo primeiro e mais importante lidar
com as contrapartes masculina e
feminina. É comum que sejamos atraídos
exatamente pelas qualidades que não
possuímos, e escolhemos incorporar
essas qualidades ausentes emergindo
nelas por meio de um parceiro que as
incorpora. Infelizmente, muitos
indivíduos esquecem-se por que
escolheram aquele parceiro e
rapidamente tentam transformá-lo em
uma cópia exata deles próprios.
Temperamentos, situação econômica ou crenças religiosas
completamente diferentes estão sempre sendo trabalhados nessas
relações. O papel de Vênus é harmonizar esses opostos. A capacidade
de "domar" esses elementos selvagens (um Marte ou um Adônis) por
meio do ato de fazer amor (Vênus) é outro aspecto desse
relacionamento polarizado. E, finalmente, a introdução das discussões e
turbulências no amor é característica de muitos relacionamentos e serve
como comentário sobre a própria natureza do amor.
Regente astrológica de Touro e Libra, Vênus incorpora dois
outros princípios no horóscopo — o automerecimento em Touro
(apenas "eu" possuo) e o valor que os outros dão a esse merecimento
em Libra (será que eu agrado a você, o que você pensa de mim?).
Vênus é bela e amável, sem dúvida a mais bela das deusas, mas
isso não é o bastante. Ela precisa que os outros reconheçam isso
constantemente. Quando outras mulheres bonitas estavam por perto,
sentia-se facilmente ameaçada por sua aparência e presença e, nesses
momentos, revelava o seu lado ciumento, raivoso. Psiqué foi condenada
à morte por Afrodite, cuja dignidade pessoal foi insultada quando os
mortais começaram a falar de uma mulher cuja beleza rivalizava com a
da
Afrodite, a partir do original no
Capitólio em Roma
Personificação de Vênus, gravura de Lucas Cranach, o Velho. Wittenberg, 1506
própria deusa do amor. Essa é com freqüência a triste história de uma
mulher — ou de um homem, no que diz respeito ao assunto — com
uma Vênus muito forte no mapa. Por anos, essa pessoa pode ser a
criança de ouro, a beleza que basta olhar para se apaixonar por ela. E
quando o venusiano começa a envelhecer e ver que a beleza é efêmera,
começa a "perdê-la". É similar à história de Branca de Neve com seu
clássico refrão "Espelho, espelho meu, existe alguém no mundo mais
bela do que eu?" (já se sugeriu que o glifo de Vênus lembra o espelho
de mão). Um dia, o espelho começou a responder à rainha que
envelhecia: "Sim, Branca de Neve". Ultrajada, a rainha condenou
Branca de Neve à morte, pois não poderia tolerar no reino outra mulher
mais bela do que ela. Branca de Neve foi salva da morte iminente pelo
jovem príncipe, o filho simbólico da rainha, assim como Psiqué foi
resgatada pelo filho de Afrodite, Eros. Ambos os filhos se casaram com
as donzelas que resgataram e somos levados a acreditar que viveram
felizes para sempre. Essas duas histórias — uma um mito grego, a outra
um conto de fadas — são muito parecidas. É uma história vivida através
das eras e que continua a ameaçar os que envelhecem e perdem aquilo
que sempre julgaram ser seu merecimento — sua juventude e beleza (a
indústria multimilionária da beleza é testemunha). A história também
reflete o abandono da mãe pelo filho, como sua mais amada e adorada
relação feminina, e a transferência dessa adoração para sua jovem
noiva.
Em geral, portanto, Vênus é o fator no horóscopo que trata do
automerecimento e como ele impede ou interage nos relacionamentos.
Vênus tinha o poder de fazer qualquer um, deus ou mortal, apaixonar-se
por ela instantaneamente. Podemos assim analisar o que faz as pessoas
se apaixonarem, observando suas posições de Vênus e também o tipo
de validação de que precisam, vinda das outras pessoas, para realizar
seu próprio amor interior. Conhecendo a vida amorosa de Vênus no
Olimpo, podemos ver que ela não era a mais fiel ou obediente das
amantes. Deleitava-se em muitas aventuras sexuais e, como deusa do
amor, gostava do ato de apaixonar-se mais do que da tarefa de
contribuir para a manutenção de uma relação depois que a fagulha
inicial se apagava. Essa impaciência é com freqüência o caso de uma
Vênus em Áries, Gêmeos, Sagitário ou Aquário. Afrodite acha o início,
quando o amor está fresco e vivo, muito divertido, mas não o amor
como dever e certamente não a ética que exige da pessoa "amar, honrar
e obedecer até que a morte nos separe" — esse é o domínio de Juno. E é
por isso que, ao usar Vênus como o único ou o principal ponto de
comparação na análise do relacionamento ou casamento, o resultado
pode ser desapontamento ou separação. Isso porque, no início, quando a
relação está fresca e nova, experimentamos o melhor de Vênus. Mas,
conforme o tempo passa, Vênus precisa ter certeza de que o objeto de
seu desejo ainda é estimulante e excitante.
Com freqüência, diz-se que Vênus representa a imagem que uma
mulher faz de si mesma (o espelho de mão), enquanto para um homem
Vênus, um arquétipo feminino, é algo tipicamente projetado na mulher
que ele encontra. Embora nem sempre seja verdade, isso reflete a forma
como a maioria dos indivíduos funciona, particularmente em romances
adolescentes que ocorrem antes de a pessoa ter atingido o nível de
maturidade e a autoconsciência que a torna mais equilibrada.
É possível encontrar uma pessoa com Vênus em Leão ou Vênus
na Primeira Casa olhando-se no espelho com bastante freqüência e
perguntando: "Ainda sou a mais bela?" — e fazendo todos os esforços
para assegurar que o espelho ainda responda afirmativamente. Vênus
em Virgem ou Vênus em conjunção com Saturno também pode
examinar o espelho com freqüência — mas essas são as mulheres que
vemos nos sanitários públicos, Olhando-se no espelho e repetindo para
si mesmas o quanto estão gordas e feias, embora para um observador
elas nada tenham de gordas ou feias. Esse tipo de auto crítica e/ou
busca pela perfeição afeta o tipo de relação que a pessoa atrai — ou
seja, o parceiro reforçará continuamente a auto-imagem negativa de
Saturno/ Vênus ou Vênus em Virgem. Se examinarmos a relação
Vulcano/Vênus, notamos que Vulcano fora rejeitado na infância, não
uma, mas duas vezes, por ambos os pais, e assim começou a sentir e
acreditar em suas próprias imperfeições. Quando surgiu a deusa do
amor e da beleza, algo em sua estrutura interior não poderia permitir
que ela entrasse em sua vida. Dentro dele havia o vexame infligido a ele
pela situação de sua família e que carregou por toda a vida. Conseguiu
transformar essa vergonha dispensando enormes quantidades de energia
em seu trabalho e criando belos objetos, dignos da deusa do amor e da
beleza — e refletindo a beleza que havia dentro dele42. Com freqüência,
esse é o caso quando Vênus no mapa trava fortes contatos natais com
Plutão, Saturno ou Netuno. A beleza e o amor estão lá, mas enterrados
sob camadas e camadas de vergonha, culpa, insegurança, dúvida e
temor. Surge apenas vagarosamente, pouco a pouco, pela vida da
pessoa, quando ela tomou a decisão consciente de resgatá-la. Um
conceito bastante difundido atualmente é que não podemos receber
amor de outrem até que realmente amemos a nós mesmos; existe
alguma verdade nessa afirmação e o exame astrológico do planeta
Vênus no mapa da pessoa é o melhor espelho dessa verdade.
Outra história importante que diz respeito à deusa do amor é a de
Vênus e Adônis. Quando a esposa do rei Cíniras de Chipre jactou-se de
que sua filha Smirna era mais bonita que Vênus, a deusa vingou-se.
Lançou um feitiço sobre Smirna, que se apaixonou por seu pai, atraiu-o
a seu leito
42. Bolen, Jean Shinoda, Gods in Everyman, ibid, pp. 219-50.
durante uma bebedeira e engravidou dele.
Quando Cíniras descobriu o que
acontecera, perseguiu Smirna com uma
espada. Vênus transformou a moça na
árvore mirra; a espada partiu a árvore e
dela surgiu o pequeno Adônis.
Adônis fora criado por Perséfone, a
rainha dos mortos, que logo se apaixonou
por ele. Isso provocou uma discussão
entre Perséfone e Vênus, que também
desejava o jovem. O caso foi julgado pelas
Musas, que decretaram que Adônis
passaria um terço do ano com Vênus, um
terço com Perséfone e um terço sozinho,
caçando nas montanhas.
Contudo, Vênus era uma deusa
gananciosa e usou as artes do amor para
fazer com que Adônis desrespeitasse o
acordo sagrado e passasse todo o tempo
com ela. Perséfone enfureceu-se. Contou a
Marte, amante de Vênus, que Adônis era
um sério rival. Marte transformou-se em
um javali; desafiou o jovem caçador nas
escarpas do monte Lébano e golpeou-o até
a morte diante dos olhos de Vênus. De seu sangue surgiram as
anêmonas. Vênus ainda não queria ceder Adônis à rainha da morte.
Apelou a Júpiter, que concedeu a Adônis períodos iguais acima e
abaixo da Terra.
Essa história é similar à da própria Perséfone (ver Ceres).
Também lembra o mito babilônico da Descida de Ishtar, que era
originalmente um conto sumério e, portanto, uma das mais antigas
histórias do mundo. Falaremos mais dessa história adiante (ver Plutão),
mas ela se resume da seguinte maneira:
A deusa Ishtar, Rainha do Amor, desce ao submundo para buscar
a alma de seu amante morto, Tammuz. No caminho, é ritualmente
despojada de toda a sua glória pelos guardiões do inferno. Quando
chega por fim diante da Rainha dos Mortos, está dependurada em um
gancho de açougueiro, como se houvesse sido assassinada. Resgatada
afinal pela vontade dos deuses, é devolvida à glória, dessa vez como a
Rainha dos Céus.
O mito tem muito a ver com o ciclo do planeta Vênus. Quando
esse planeta ainda está marchando diante do Sol (ou seja, quando está
em um grau anterior da longitude zodiacal), ele aparece no céu como a
Estrela da Manhã. Conforme se aproxima da conjunção superior com o
Afrodite — Vênus
Sol, fica invisível por algum tempo — a deusa desce ao mundo
subterrâneo. Finalmente, o planeta reaparece como a Estrela da Noite, a
rainha do céu, ocupando um grau posterior ao do Sol na longitude
zodiacal.
O mito de Vênus e Adônis, ou da Descida de Ishtar, é importante
porque aponta para um processo psicológico de relacionamento. A
deusa do amor, quando ainda indomada, é primai, sexual e instintiva.
Como vimos, está mais preocupada com o amor do que com o
relacionamento. Segundo a teoria de Dane Rudhyar, os indivíduos
nascidos com Vênus como Estrela da Manhã tendem a ser mais
impulsivos em seus relacionamentos; apaixonam-se rapidamente e sem
refletir. Mas, após a deusa ter passado o tempo necessário no mundo
subterrâneo, torna-se a Rainha do Céu, e não mais apenas a deusa do
amor. Há mais maturidade em seu dom de amor, maior preocupação
com relacionamento em oposição ao puro romance. Aqueles nascidos
com Vênus como a Estrela da Noite nem sempre terão relacionamentos
mais bem-sucedidos, mas são mais reflexivos, mais cautelosos e sua
atitude para com relacionamentos aproxima Vênus de Juno. Também
estão conscientes do amor como um processo profundamente
transformador.
A história da Descida de Ishtar, como veremos, aplica-se a todos
os aspectos da consciência humana — não apenas ao amor. Mas, em
termos de relacionamento, esse antigo drama implica que devemos
sofrer por um período de doloroso crescimento antes que nosso instinto
de amor primitivo possa ser transformado em um modo mais tranqüilo
de nos relacionarmos. Afinal de contas, Vênus é exaltada em Peixes.
Canto a bem-formada Terra, mãe de todos e a mais
velha, que nutre todas as coisas inventes na terra.
Sua beleza alimenta todas as criaturas que andam
sobre a terra e todas as que se movem nas
profundezas ou voam no ar.
— Hino Homérico, "À Terra, Mãe de Todos "
As histórias da criação
mais antigas da mitologia grega
contam como Gaia fora criada a
partir do nada. Gaia é a Terra, a
Mãe Terra. Gaia era fértil e deu
à luz as montanhas, o mar e o
céu. O deus-céu Ouranos
(Urano) tornou-se seu marido e
juntos foram os pais dos Titãs,
uma raça pré-olímpica que
governava a Grécia nos
primeiros tempos. Esses Titãs
eram muito mais primitivos que
seus descendentes, mas entre
eles havia um chamado Cronos
(Saturno), que sucederia a seu
pai. Como já dissemos, Ouranos
se tornara um tirano.
Aterrorizava os Ciclopes,
monstruosa cria de sua união
com Gaia. A Mãe Terra não
suportava ver seus filhos
maltratados daquela maneira e
implorou a Cronos que lhe
ajudasse a dar um fim à tirania
de Ouranos. Cronos, armado
com uma foice, cortou
O culto a Ísis, uma das personificações da Grande Mãe, espalhou-se pela Ásia
Ocidental e Europa até, finalmente, ser absorvido pelo cristianismo. Muitos dos
atributos da Virgem Maria vêm de Ísis, mostrada aqui numa página do Oedipus
Aegyptiacus de Athanasius Kircher, Roma, 1652
Cronos devorando seus filhos
fora os genitais de Ouranos e os atirou ao mar, removendo assim
qualquer poder gerador de Ouranos. Fora aclamado por seus irmãos e
irmãos e tornou-se o novo governante. Cronos governava com
desenvoltura e dizem que permaneceu no posto por mil anos, casado
com sua irmã Réia. Certo dia, profetizou-se que Cronos seria derrubado
por um de seus próprios rebentos, assim como ele próprio destronara
seu pai. Temeroso, e para evitar que isso ocorresse, começou a engolir
cada filho que Réia lhe dava. Réia, como Gaia, indignou-se por lhe
tirarem os filhos e também arquitetou um plano para pôr um fim a essa
desgraça. Quando Zeus (Júpiter) nascera, foi rapidamente escondido em
uma caverna no monte Ida e substituído por uma pedra. Ao receber o
recém-nascido envolvido em panos, Cronos rapidamente o engoliu, sem
perceber que era uma pedra e não um bebê. Zeus fora criado em paz e
em prosperidade e acabou por derrubar Cronos. A mesma profecia de
que um filho o derrubaria foi feita a Zeus.
Essa linhagem de pais destronados por seus filhos é um modelo
básico de civilização da forma como existiu na Terra por milhares de
anos. Uma dinastia ou nação governa — talvez por séculos — até que a
maré mude e os novos governantes invadam e uma nova ordem passe a
dominar. Normalmente isso acontece através da guerra — quem tem
mais armas, maiores exércitos, mais tesouros, ou seja, o maior poder. E
a luta continua.
Porém, e se Gaia, a Terra, se erguesse novamente e dissesse a seus
filhos, como dissera aos Ciclopes: "Estou cansada de ver o modo como
vocês estão sendo tratados, meus filhos. Vocês poderiam me ajudar a
fazer algo quanto a isso?" É exatamente o que ela vem dizendo nos
últimos 25 anos, nesses últimos anos do milênio que precedem a era de
Aquário ou, como profetizaram alguns, os dois mil anos de paz.
Não vamos nos esquecer de que Gaia e Ouranos (Mãe Terra e Pai
Céu) eram, originalmente, companheiros. Urano é o planeta associado a
Aquário — e Gaia recentemente voltou à vida, graças a uma teoria
conhecida como Hipótese Gaia. Essa hipótese, desenvolvida pelo
biólogo James Lovelock, sustenta que nosso planeta é um organismo
vivo e que cada ato individual sobre a Terra está ligado a ele e tem
conseqüências diretas para todas as outras partes do planeta43. Esse
biólogo, um dos filhos de Gaia, fala por ela a seus outros filhos sobre a
necessidade de sua própria preservação. E interessante notar que as
ciências físicas são regidas por Saturno (biólogos como Lovelock), que
são filhos de nosso mundo industrial (Urano). O nascimento da
Revolução Industrial coincidiu com a descoberta do planeta Urano
(1781), levando-nos à era da tecnologia e da indústria que caracteriza
nossa vida na Terra nos últimos duzentos anos. Embora ela tenha nos
trazido alguns imensos avanços em medicina, produção de alimentos,
comunicações e viagens, foi também a culpada por causar tanta doença,
toxicidade, putrefação de nossos rios, regatos, oceanos, florestas e vida
selvagem. Tudo o que vai, volta, e talvez Saturno (ciência), filho de
Urano, possa novamente construir um plano maravilhoso (sem
castração — embora um controle severo de natalidade e crescimento
populacional zero tenham sido sugeridos como remédios em potencial)
para salvar Gaia e seus filhos da extinção, para que possamos
novamente entrar na Idade de Ouro (ver Saturno) e viver em paz e
saúde por dois mil anos.
Antes que os gregos de Micenas estabelecessem um sistema de
criação e de governo que refletia sua estrutura social patriarcal, a
Grande Deusa, em suas muitas emanações, era a divindade principal da
Anatólia, do Egeu e da Europa Meridional. Ela governava a terra, o céu,
a lua, os planetas, as estrelas, o oceano e mesmo o mundo subterrâneo.
Os gregos indo-europeus e hititas que chegaram a essas regiões de 3000
a 1000 a.C. comprometeram-se com a antiga fé "casando" suas
divindades masculinas com as diversas formas de Deusas-Terra. Essa
sobrepujação dos valores matriarcais pelos deuses patriarcais
desenvolveu-se lentamente no período micênico, atingiu seu auge na
Grécia clássica e durante o império romano estava ainda mais forte. A
Igreja
43. Lovelock, James, Gaia: A New Look at Life on Earth, Nova York, Oxford University
Press, 1975.
cristã que conquistou Roma adotou o conceito judaico de Deus-Pai,
embora a Igreja medieval louvasse Maria como a Sagrada Virgem Mãe;
a ênfase na Mãe de Deus começou por volta de 1000 d.C, quando a Era
de Peixes atingiu seu meio e passou da polaridade pisciana (o Filho
Moribundo) à virginiana, ou modo oposto (a Divina Mãe)44. Muitos
junguianos vêem esse culto mariano como simplesmente a mais recente
encarnação da devoção à deusa dos antigos.
No Egito havia um grande equilíbrio entre as divindades
masculinas e femininas que regiam o reino, mas os babilônicos eram
decididamente patriarcais, como ficou evidente na impetuosa descida
de Nergal ao mundo subterrâneo para o usurpar o reino escuro da rainha
(ver Marte e Plutão). A história do Gênesis nos mostra um Deus-Pai
que põe a culpa pela queda do homem em uma mulher e uma serpente,
miticamente ligadas em rituais de vida, cura, morte e renascimento.
Embora o conceito matriarcal mais antigo tenha permanecido intacto
como uma espécie de corrente subterrânea — a serpente representa o
papel de redentora no gnosticismo e na
cabala —, a antiga deusa, a Mãe
Terra, foi enterrada no fundo desse
elemento do qual recebe o nome. Essa
é Gaia, a Terra.
Temos pouca informação sobre a
forma como o mundo era governado
durante a era da deusa, e ainda há
muito o que aprender sobre essa época
da história humana em nosso planeta.
Alguns estudiosos afirmam que reis
sagrados, representando o filho e o
amante da deusa, eram sacrificados
durante festivais agrícolas, enquanto
outros historiadores citam indícios
arqueológicos que apontam que não
existiam armas feitas especialmente
para matar, mas que havia objetos que
retratam uma sociedade agrária e
pacífica45. Muitos objetos da arte
neolítica são figurinhas arredondadas
com grandes seios e barrigas —
mulheres grávidas —, celebrando e
honrando o milagre da vida46.
44. Rudhyar, Dane, Astrological Timing, Nova York, Harper Colophon, 1972, pp. 161-
2.
45. Eisler, Riane, The Chalice and the Blade, San Francisco, Harper and Row, 1988,
pp. 17-8.
46. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, passim.
Cernunnos, a partir de uma imagem
de Gundestrup, Dinamarca.
Nós, habitantes de uma era
patriarcal, vemos o céu como
masculino e a Terra como mãe.
Mas, os povos do neolítico,
adoradores da Mãe Terra, muito
provavelmente também viam a
Grande Mãe no céu, personificada
como a Lua. Os primeiros povos da
Europa reconheciam uma dualidade
masculino-feminino como o poder
governante do universo. A Grande
Deusa e o Deus Cornífero eram as
únicas divindades verdadeiras. Esse
Deus Cornífero sobreviveu no
período celta como Cernunnos,
denegrido pelos cristãos como o
"deus das bruxas". O mais
importante em Cernunnos é que ele
representa a unidade com toda a
natureza. O Senhor das Florestas e a
Mãe Terra são necessários para a
estrutura. Gaia é a unidade com a
natureza. Se há um signo que honre
Gaia em sua mais gloriosa forma,
esse é Touro, uma regência sugerida.
A polaridade natural de Urano, Pai Céu, é sua mãe e amante Gaia,
a Terra. Céu e Terra formam uma das dualidades mais básicas — o I
Ching começa com Chien, Céu, e K'un, a Terra. Como deus do céu,
Urano relaciona-se naturalmente com o conhecimento intelectual,
cerebral — daí a ligação desse planeta com a invenção científica e a
tecnologia. Mas, Urano é também o planeta da inspiração. Mesmo os
cientistas acreditam naquele momento mágico em que uma idéia
simplesmente emerge, sem nenhuma lógica para apoiá-la. Urano só
pode trazer esse tipo de inspiração quando está profundamente ligado a
uma polaridade intuitiva, feminina. A ciência não pode funcionar
propriamente sem valores sentimentais para controlá-la. Sem Gaia, a
Era de Aquário, tão aclamada, regida por Urano, poderia se tornar um
exercício frio e cerebral da tecnologia, retratado em muitos filmes
turísticos como um mundo concentrado em laboratórios, sem árvores e
sem natureza. Já estamos bastante conscientes dessa possibilidade; ela
surge como um desagradável espectro sobre o futuro da humanidade.
Seria de se espantar, então, que a Hipótese Gaia tenha surgido agora,
quando precisamos tanto dela? Apenas através de uma consciência de
Gaia a ciência aquariana pode curar, e não destruir, o planeta. Segundo
uma perspectiva mística, Gaia é o pólo feminino natural (e necessário)
da era que virá.
Insígnia da Terra localizada no Max
Adler Planetarium, Chicago, Illinois.
Fotografia de Ariel Guttman
Aparentemente, a inclinação é trazer a vida na Terra de volta ao
equilíbrio; mas, como no nascimento de qualquer nova ordem, há
sempre alguma resistência de último minuto — uma tentativa final de
se render aos antigos conceitos. Isso não significa voltar para o modo
como as coisas eram. Certamente chegamos longe demais para isso.
Não significa que as mulheres terão a soberania sobre os homens ou
que os homens serão supremos governantes das mulheres. Gaia criou
com Urano, e as lendas Hopi da criação também postulam uma unidade
reativa da Terra e do Céu. Foi assim que a regeneração sempre ocorreu
neste planeta — através do homem e da mulher unidos —, embora
agora tenhamos que lidar com fenômenos como bebês de proveta, e não
devemos nos surpreender se novos métodos continuam a ser
desenvolvidos. Mesmo assim, a menos que o conjunto genético
humano esteja irremediavelmente infectado por doenças como
resultado de viver nos ambientes que criamos (como representado em
The Handmaid's Tale, de Margaret Atwood), o método antigo ainda
será preferível.
Muitos ensinamentos esotéricos trazem a crença ou assunção de
que os seres vieram de uma só vez do céu em naves espaciais, junto
com os primatas que habitavam a Terra, e subseqüentemente deram
origem à raça que, atualmente, conhecemos como seres humanos (a
Quinta Raça-Mãe da Teosofia). Dessa forma, Darwin estaria mais ou
menos certo. Podemos descender dos macacos, mas também
descenderíamos de "deuses" ou alienígenas. Alguns dos mais antigos
artefatos pré-históricos que surgiram em cavernas subterrâneas na
França e na Espanha trazem imagens de deusas grávidas, algumas com
cabeças humanas, algumas sem cabeça e outras com cabeças de
pássaros. Antes de afirmar que as deusas haviam sido literalmente
fecundadas por pássaros, devemos concluir que a imagem do pássaro
simbolizava que os atos de procriação foram iniciados por seres que
voavam como pássaros ou apareciam em máquinas voadoras. Muitas
tribos, tão antigas quanto modernas, usaram pássaros como símbolos
para a aspiração ao céu.
Se pensarmos em Gaia como a encarnação da Mãe Terra e em
Urano como a personificação de alienígenas e/ou tecnologias
alienígenas (Pai Céu), a raça humana atual é realmente uma
composição de ambos. Muitas pessoas não percebem a ligação entre
seus corpos e mentes; se conseguem resistir de modo tão desconexo,
também esquecem que todas as formas de vida neste planeta estão
relacionadas da mesma maneira. Assim, se fôssemos atribuir um
significado para a Terra como arquétipo planetário no céu e em nossos
horóscopos, poderíamos resumi-lo como segue: a coleção de veias,
artérias, músculos, membros, nervos e células que constroem o corpo
humano e que trabalham juntos como uma equipe para criar um
organismo saudável e vital; ou, no macrocosmo, os oceanos, florestas,
desertos, montanhas, rios e geleiras que constroem nosso mundo, assim
como as numerosas espécies que
habitam a Terra, permitindo a essas
partes trabalharem juntas para criar
um planeta saudável e vital.
Quando a Terra é colocada no
horóscopo, sua posição é sempre de
180 graus em relação ao Sol; assim,
um Sol em Áries sempre terá a Terra
em Libra. Muitos astrólogos
acreditam que esse ponto de
polaridade é nossa "metade
ausente". As seis polaridades da
roda astrológica constituem um
todo; cada signo é como um lado de
uma moeda, que com seu lado ou
signo oposto cria a totalidade do ser.
Assim, um Áries não apenas é
atraído por Libra, como necessita
daquilo que Libra tem a oferecer
para se completar. Devemos também lembrar que o Sol e Urano, os dois
planetas polarizados com Gaia, são considerados planetas polarizados
um com o outro na mandala astrológica por suas regências sobre os
opostos Leão e Aquário, respectivamente. E, uma vez que a Terra e o
Sol estão localizados em lugares opostos, ambos os pontos são cruciais
para a integração do eu. Finalmente, no sistema esotérico de
astrologia47, Sagitário é regido pela Terra. Se podemos chegar ao céu,
precisamos da Terra para fazê-lo.
Vimos o quanto o Sol é vital no processo de cura, ou seja, como
Apolo foi dotado para as artes da medicina e da cura. E, certamente, o
Sol, como indicador de vitalidade e energia, tem muita relação com a
saúde e o bem-estar de um indivíduo. Mas isso é apenas uma parte do
quadro. Ao serem tomados como polaridade, a equipe Sol-Terra e os
aspectos que formam para os outros planetas podem identificar áreas
muito específicas de saúde ou doença em um sistema. Se o planeta
Saturno no mapa está oposto ao Sol, somos levados a pensar na
melancolia, frieza e severidade de Saturno impedindo a capacidade
natural do Sol de brilhar. Mas devemos também pensar na conjunção de
Saturno com o planeta Terra e em como o uso dessa conjunção pode
realmente ajudar no processo de cura.
Vejamos como essa polaridade Sol-Terra atuaria na interpretação
de um mapa. Usaremos a polaridade Touro-Escorpião como exemplo.
Ambos os signos têm a ver com riquezas e sexualidade. Signos opostos
47. Bailey, Alice, Esoteric Astrology, Nova York, Lucis Publishing Company, 1974.
A mulher-Terra dos índios Hopi,
Hahaiwugi, mãe-deusa da fertilidade
que gerou o Homem, concebido com o
pai-criador Céu.
sempre têm a ver com as
mesmas coisas. O fator da
polaridade vem da seguinte
diferença de tom: Touro faz
parte do quadrante
primaveril da mandala,
sendo portanto relacionado
à individualidade e ao
surgimento, enquanto
Escorpião é parte do
quadrante outonal, sendo
portanto ligado ao
relacionamento. Touro
concentra-se em seus
próprios recursos, enquanto
o Escorpião se concentra
nos recursos dos outros.
Para Touro, o sexo é
principalmente um fenômeno biológico, enquanto para Escorpião é uma
função social (ou seja, orientada ao relacionamento).
O Sol, na melhor das hipóteses, traz a uma pessoa equilíbrio e
harmonia. Mas, ele apenas pode realizar essa harmonia incorporando
seu fator oposto, representado pela Terra. Um Sol forte sem uma
consciência de Gaia é divorciado da natureza. Quando desenvolvemos
um sentido consciente de direção e finalidade, exaltamos nossa
individualidade sobre o poder coletivo da natureza. Os sóis de Touro
podem definir sua individualidade por meio de suas posses, e isso é
parte de seu destino. Mas, também podem isolar-se dos outros por
confiar demais em suas posses e tornar-se como o dragão que dorme
sobre seu tesouro. Apenas incorporando a polaridade de Escorpião (ou
seja, aprendendo a dividir) eles podem unir-se à vida coletiva, terrena,
em torno deles. Da mesma maneira, podem ver o sexo como uma posse
pessoal, especialmente seus filhos, os frutos biológicos do sexo. Apenas
quando aprenderem a se relacionar com a sexualidade alheia e a perder
o ego por meio da união total com outro, eles se conectarão à força de
Gaia que os liga a todas as outras formas de vida no planeta.
Tentemos agora o oposto. Sóis em Escorpião podem ser
especialistas em compreender, utilizar ou (na pior das hipóteses)
manipular o sistema de valores ou recursos alheios. Eles podem nunca
adquirir um sentido de seus próprios valores até que parem de defini-los
do mesmo modo individualista de Touro — e até que o façam, nunca
estarão realmente estruturados. Da mesma maneira, Escorpiões podem
se definir por meio de seus relacionamentos sexuais. Apenas quando
deixarem de ver o sexo como uma obrigação social e experimentarem
sua força
Uma imagem da Terra como intermediária
entre a luz e a escuridão, do Scrutinium
Chymicum de Maier. Frankfurt, 1687
terrena, biológica, poderão realmente conectar-se a um componente
Gaia (pode ser preciso até mesmo o nascimento de um filho para que
isso ocorra).
Fortes ligações por aspecto planetário à polaridade Sol/Terra serão
cruciais para definir a energia com que uma pessoa trabalha na vida.
Isso é especialmente verdade na quadratura. Por exemplo, se um
planeta faz quadratura com o Sol em um horóscopo, também fará
quadratura com a Terra. Assim, ele será o ponto focai de uma formação
astrológica conhecida como T-Square, uma disposição muito sensível.
Aprender a compreender a natureza desse planeta, seus problemas, seus
paradoxos e suas maiores variedades de expressão ajudará a pessoa a
alcançar a consciência concentrada (Sol) que muitos se empenham em
atingir aqui na Terra, unindo assim espírito e corpo.
Entre os planetas, a Lua e Ceres representam dois tipos diferentes
de maternidade. Os signos Câncer e Virgem, associados a esses
planetas, também representam modos diferentes de instinto maternal.
Mas há uma outra forma de maternidade inata em nosso seres. É Gaia
— a polaridade do Sol. Assim como o Sol em nossos mapas é uma
forma do pai (o pai radiante, criativo, espiritual), a Terra, que é sua
polaridade, seria a mãe radiante, interior, espiritual. Se fôssemos
atribuir uma "regência" astrológica para a Terra, a sugestão seria uma
regência de Touro e uma exaltação em Capricórnio. A regência de
Touro é óbvia, mas por que Capricórnio em exaltação? Porque
Capricórnio, o signo regido por Saturno, é associado à administração da
Terra. Não devemos esquecer que Cronos (Saturno), filho de Gaia,
salvou os filhos dela da tirania de Urano. E finalmente, em 1988,
quando Saturno e Urano fizeram sua conjunção a zero grau de
Capricórnio, o mundo estava concentrado na recém-surgida Hipótese
Gaia e a corrida para salvar o planeta de nossa própria falta de visão
estava em plena aceleração. Naquele mesmo ano, pela primeira vez, a
personalidade do ano da revista Time não foi uma pessoa, mas o planeta
Terra.
Na introdução a esta seção sobre os planetas, falamos sobre a boa
vontade e o empenho dos ocidentais em explorar novos campos. É
nesse espírito que oferecemos Gaia, a Terra, como arquétipo necessário
para a cura pessoal e planetária em nossa época. Esperamos que os
astrólogos comecem a colocar a Terra nos mapas, tornando assim as
pessoas mais conscientes do modo como estão ligadas à Terra na vida
real.
Viste a lua cheia, mas agora ela mudou.
Mesmo assim ainda é a lua...
— Shakespeare, Love's Labour's Lost, V, II
Lúcio Apuleio, escritor
romano do século II d.C,
deixou-nos um romance de
fantasia peculiar e exótico
intitulado O Asno de Ouro.
Apesar de, naquela época, o
cristianismo estar rapidamente
dominando o império romano,
Apuleio continuou a ser um
pagão incorrigível. Seu
romance contém uma adorável
invocação à Lua:
...tu que vagas por muitos lugares
sagrados e és objeto de tantos ritos
diferentes — tu, cuja luz feminil
ilumina os muros de todas as
cidades, cuja radiância nebulosa
embala as bem-aventuradas
sementes sob o solo, tu que controlas
o curso do Sole o próprio poder de
seus raios — eu te imploro, por
todos os teus nomes, todos os teus
aspectos, todas as cerimônias em que
condescendes em ser invocada...
dá-me repouso e paz...48
48. Apuleio, Lúcio, The Golden Ass, trad. por Robert Graves, Hannondsworth, Penguin
Books, 1972, pp. 226-7.
Poucas pessoas familiarizadas com a astrologia se surpreenderão
ao ouvir falar da "luz feminil" da Lua, pois a maioria de nós sabe que a
Lua é o arquétipo feminino quintessencial, o símbolo visível da Grande
Deusa; e a referência a embalar as sementes sob o solo combina
perfeitamente com o papel maternal da Lua como nutriz de toda a vida.
Alguns, porém, acharam estranho ler que a Lua controla "o curso do
Sol e o próprio poder de seus raios".
O fato é: durante a maior parte da história humana, a Lua teve maior
importância simbólica do que o Sol. Para nós, que estamos na era da
astrologia do "Signo do Sol", isso é difícil de acreditar, mas na Índia
ainda é a Lua que tem o maior papel na interpretação dos mapas. Já em
1899, o folclorista Charles Leland publicou um livro de contos,
recolhidos em suas pesquisas entre bruxas italianas, que se referem aos
antigos dias, quando a deusa da Lua reinava suprema. Intitulada
Aradia: O Evangelho das Bruxas, a história conta como havia
originalmente dois princípios da natureza: o princípio feminino ou Lua,
chamado Tana (Diana), e um princípio masculino ou Sol, chamado
Lúcifer49. Tana perseguiu Lúcifer pelo céu até que conseguiu apanhálo;
seduziu-o e ficou grávida. A filha dessa união foi Aradia, a
padroeira das bruxas. Note que o papel feminino representa o papel
agressivo; a Lua persegue o
Sol. E realmente é isso o que
parece no céu, a Lua em
constante movimento
tentando apanhar o Sol.
Alguns estudiosos acreditam
que, no período neolítico,
sacerdotisas armadas com
foices de pedra
(simbolizando a Lua
crescente) perseguiam
homens pelos bosques
sagrados — às vezes para
fazer amor com eles, outras
para sacrificá-los. Parte dessa
perseguição arquetípica
sobrevive na canção
folclórica britânica chamada
The Coal Black Smith —
embora os celtas e saxões patriarcais tenham mudado a história de
forma que agora o homem persegue a mulher50.
49. Leland, Charles, Aradia: O Evangelho as Bruxas, Madras Editora.
50. Graves, Robert, The White Goddess, Nova York, Farrar, Straus and Giroux, 1974,
p. 401.
Um emblema gnóstico mostrando a deusa-lua
— Luna Regia — da obra Analysis of Antient
(sic) Mithology de Jacob Bryant
Crenças como essa
remontam ao período
Paleolítico, quando a Grande
Deusa e o Deus Cornífero
(senhor das florestas e da terra)
eram as únicas divindades
conhecidas. Naquela época, o
próprio tempo era contado pela
Lua. Os calendários lunares são
sempre mais antigos do que os
solares; é necessário muita
observação matemática para
notar os solstícios e equinócios,
mas um calendário baseado no
ciclo da Lua é relativamente
fácil de manter. Chifres e ossos
da era do gelo trazem com
freqüência entalhes em séries
de 28 a 30 chanfros, um mês
lunar médio.
No período neolítico, a
Lua era adorada como a grande
deusa da vida e da morte e o
crescente e o minguante da Lua
eram símbolos do ciclo de toda a vida terrestre. A cruz com quatro
direções, um símbolo de completude, freqüentemente representava a
Lua. Outro símbolo lunar que remonta ao período neolítico é o touro,
cujos chifres assemelham-se a uma Lua crescente e cuja vitalidade
sexual é emblemática da força vital51 (até hoje, diz-se que a Lua é
exaltada em Touro).
O fato mais importante sobre a Lua é que ela passa por fases.
Como a água simboliza o sentimento e como a Lua tem forte influência
sobre as marés, é natural associar a Lua aos sentimentos; isso coloca a
Lua principalmente em um modo feminino. O período médio de
revolução da Lua é de 28 dias e meio, muito similar ao ciclo menstrual.
Assim, nos tempos antigos, a própria Grande Deusa era percebida em
fases; apesar de seus muitos nomes, tinha três aspectos principais52. No
início, era a ninfa ou donzela, correspondente à Lua crescente. Como
Lua cheia, a deusa se manifestava como a mãe, com a barriga redonda
como a Lua cheia. As chamadas "deusas gordas" do neolítico ilustram
esse aspecto fértil e fecundo da Lua. Como a Lua minguante, a deusa se
manifestava como a anciã sábia.
51. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, ibid., pp. 89-93.
52. Graves, Robert, The White Goddess, ibid., passim.
Diana Triformis, ilustrada por
Diane Smirnov
Como nos conta Apuleio, a Lua era adorada sob muitos nomes; há
pouquíssimas deusas em todo o panteão dos gregos e celtas que não
possuam um aspecto ou manifestação lunar de algum tipo. Porém, é
difícil encontrar uma só deusa que represente toda a escala de
simbolismo lunar. A chamada Deusa Lua dos gregos, Selene, raramente
aparece na mitologia. A deusa das bruxas Hécate é, como veremos, o
símbolo da lua minguante. A deusa clássica mais freqüentemente
associada à Lua é Ártemis. Porém, os gregos a viam em primeiro lugar
como a Senhora das Feras (ver Sagitário), mais do que como a Lua.
Foram os romanos que tornaram essa divindade, sob o nome latino
Diana, uma deusa essencialmente lunar. Mas, Ártemis-Diana, de
qualquer modo, representa a fase ninfa ou donzela do ciclo lunar: é uma
deusa jovem, ainda não é mãe e seu arco é símbolo da Lua crescente.
Uma deusa-lua particularmente dinâmica é Arianrhod, que
aparece no Mabinogion galês e é chamada "A Dama da Roda de
Prata"53. O rei mandou chamá-la porque supostamente era virgem (a
Lua crescente) e por isso era candidata ao cargo de massageadora dos
pés do rei. Mas, Arianrhod já era mãe (Lua cheia) e repentinamente deu
à luz duas crianças no chão do palácio antes de fugir. A primeira
criança é chamada Dylan; é um deus do mar, o que é bastante
adequado, devido à influência da Lua sobre as marés. Essa não é a
única ligação entre Arianrhod e o oceano, pois ela vive em um castelo à
beira-mar.
Para esse castelo Gwydion, mago e bardo, leva o segundo filho de
Arianrhod, ainda sem nome. Mas agora Arianrhod torna-se a mãe cruel
(lua minguante), recusando-se a reconhecer o filho dando-lhe um nome
ou as armas de um guerreiro. Gwydion usa de magia para fazê-la dar ao
menino ambos os dons; o nome que ela lhe dá é Llew Llaw Gyffes, o
Brilhante e Habilidoso. O galês Llew é certamente o mesmo herói
irlandês Lugh Samildanach, um homem de muitos dons, originalmente
um deus-sol. Aqui novamente a Lua é exaltada acima do Sol, pois é a
mãe dele.
Em um mapa astrológico, a Lua funciona principalmente como
um receptáculo — como o caldeirão da deusa que se tornou, na lenda
medieval, o santo Graal (ver Os Quatro Elementos, especialmente
Água). Tudo o que o experimentamos converge para o útero da Lua.
Seria de se espantar, então, que a Lua tenha sido tradicionalmente
associada à memória? Tudo o que lembramos, tudo o que
experimentamos, está guardado no caldeirão da deusa. Assim, a Lua
representa nossos sentimentos, nossos hábitos; em suma, o inconsciente
pessoal. Alguns astrólogos esotéricos dizem que a Lua é o planeta do
carma passado —
53. Gantz, Jeffrey, trad., The Mabinogion, Londres e Nova York, Penguin Books, 1976,
pp. 91-117.
Diana como a mãe-deusa, segundo o Kunstbüchlin de Jost Amman. Publicado por Johann
Feyerabend. Frankfurt, 1599
o que é um modo de dizer que a Lua representa aquele poço infinito de
padrões de sentimentos que, na maior parte, dirigem inconscientemente
nossas ações no presente. Entre as relações de sentimento de nossa vida,
nenhuma é mais importante do que a relação com a mãe, também
simbolizada pela Lua. O modo como fomos criados no início da vida
(para não falar do útero), o amor que recebemos (ou deixamos de
receber) representa um papel importantíssimo na formação dos instintos
inconscientes que regem nosso comportamento.
É fácil ver por que os antigos astrólogos punham tanta ênfase na
Lua. Em grande parte, somos dirigidos por essa rede de sentimentos
inconscientes representados pela Lua. Muitos astrólogos, porém,
buscam relacionar a Lua à primeira parte de nossas vidas e dizem que
viajamos metaforicamente em direção ao simbolismo de nossos signos
solares conforme envelhecemos. Essa é uma outra maneira de dizer que
devemos nos libertar das relações puramente instintivas e que a
maturidade consiste em ligar-nos mais diretamente ao propósito
consciente ou sentido de destino (o Sol). Essa, porém, é apenas uma
regra prática. Na confecção do mapa individual, às vezes aquilo que é
representado pelo Sol é um senso deformado ou fraco de destino,
enquanto a Lua tem um belo aspecto. Esse indivíduo, como um tipo
lunar positivo, pode achar preferível confiar em seus instintos, valorizar
a tradição ou o passado e não complicar a situação. Esse indivíduo pode
muito bem encontrar uma finalidade na tranqüilidade! De acordo com
os astrólogos hindus, esse é de fato um dos melhores destinos possíveis.
Isso ilustra a diferença entre orientais e ocidentais na forma de
interpretar a vida. Se aceitamos a Lua como o arquétipo feminino ou
símbolo yin da astrologia, seu modo receptivo, tranqüilo e altamente
intuitivo preenche o modelo ideal de pensamento oriental. Mas no
Ocidente, onde a ação, a realização, a ambição e os objetivos são modos
prioritários de comportamento, a inclinação em direção à Lua pode ser
vista como uma forma de comportamento estática e improdutiva. No
mundo astrológico, é bem conhecido o conceito de que a Lua representa
os padrões emocionais negativos do passado que devem ser superados
ou transcendidos para se cumprir o destino solar. Isso por vezes resulta
na crença de que a própria Lua é negativa, enquanto o Sol é positivo e
deve ser desenvolvido em detrimento da Lua. Esse tipo de ênfase
unilateral tende a desvalorizar o feminino. Esse rótulo negativo dado à
Lua reflete o enraizado medo do inconsciente ou do princípio feminino
característico de sociedades solares ou patriarcais. Donna Cunningham,
em Being a Lunar Type in a Solar World, fornece um excelente
material a respeito dos resultados para a sociedade (e os indivíduos)
quando as necessidades lunares são subestimadas ou totalmente
ignoradas54.
54. Cunningham, Donna, Being a Lunar Type In a Solar World, York Beach, ME,
Samuel Weiser, 1982
Os primeiros calendários
eram lunares e, de fato, há 13
meses lunares em um ano solar
— fato que pode ter a ver com
o número 13 ter ganho fama de
"azarado" aos olhos cristãos. O
número 13 era ligado à deusa
como o número de luas cheias
do ano. Se o calendário lunar
ainda estivesse em uso,
teríamos 13 meses de 28 dias e
meio cada. Estranhamente, a
única cultura no mundo
moderno que ainda utiliza o
calendário lunar é a mais
aparentemente patriarcal de
todas — o Islã, simbolizado
pela Lua crescente.
Os astrônomos nos
contam que a Lua é um planeta
estéril, seco e rochoso, o
satélite morto da Terra, sem
qualidades próprias de doação de vida. Como é possível que a Lua
simbolize todas as qualidades doadoras de vida da própria deusa? E
como ela poderia ser interpretada como um planeta "de água"? Como
observamos, a Lua tem uma influência direta sobre as marés oceânicas.
E quando Galileu observou pela primeira vez a Lua através do
telescópio, deu às crateras o nome de mares, sugerindo água. Os
astronautas da Apolo que pousaram na Lua em 1969 coletaram
amostras que trouxeram aos cientistas mais questões sobre as origens da
Lua. Aqueles que voltaram dessa missão falaram de uma experiência
profundamente espiritual que transformou grande parte de seus
objetivos na vida. O que realmente sabemos? A Lua permanece envolta
em mistérios, como talvez seja o correto, pois é a guardiã dos mistérios
sagrados.
Alguns livros chamam à Lua "personalidade". Outros dizem que é
o "ego". Outros, ainda, a chamam "alma". Os autores deste livro já
deram muitas outras interpretações aqui. A verdade é que não há um
acordo universal entre astrólogos sobre a Lua no que toca à sua
influência sobre o caráter do indivíduo. Porém, algo sobre o que
geralmente se concorda é que ela simboliza "Mãe" e "Sentimentos". É
muito importante considerar esses elementos num mapa quando se trata
dos fatores de motivação básicos pelos quais as pessoas tendem a levar
suas vidas.
Uma das mais antigas vistas topográficas da
lua, da Selenographia de Johann Hevelius.
Danzig, 1647
As fases da lua, desenho de Hans Holbein II incluído no Canones super novum
instrumentum luminarium, impresso por Andreas Cratander. Basiléia, 1543
Examinemos primeiro a mãe. Em termos de signos zodiacais,
podemos reconhecer quatro emanações da deusa: Touro, Câncer,
Virgem e Escorpião. Touro é associado com a deusa da fertilidade;
Câncer, com a deusa grávida prestes a dar à luz ou que tenha acabado
de fazê-lo e a bela relação que existe entre mãe e filho; Virgem é
Deméter (Ceres), a deusa da terra, que semeia a terra com frutos, flores
e grãos para alimentar os famintos filhos da terra e que lamenta a
separação de mãe e filha quando perde Perséfone para o mundo
subterrâneo; e finalmente, Escorpião, a deusa das cobras, é o mundo
subterrâneo ou o aspecto de sabedoria da deusa como a anciã sábia.
Essas quatro fases da deusa, da forma como são simbolizadas pelos
signos do zodíaco, parecem relacionar-se às quatro fases da Lua. A
antiga religião reconhece três fases ou faces da Lua — crescente, cheia
e minguante. Em nossos calendários modernos, o mês lunar é dividido
em quatro fases: crescente, cheia, minguante e nova (primeiro, segundo,
terceiro e quarto quadrantes). Dane Rudhyar divide cada fase em duas e
atribui assim
oito fases à Lua em seu clássico trabalho The Lunation Cycle,
relacionando esses ciclos às fases da vida humana55. Devemos
relacionar as fases lunares às emanações da deusa.
Em sua fase nova ou crescente, ela é, essencialmente, uma jovem
que corre livre pelas montanhas, unida a toda a natureza. Cheia de vigor
e vida, dança pelos campos, brincando com animais e flores. Parece
estar sorrindo para nós lá do céu quando está nessa fase. Está completa
em si mesma e fica longe de relacionamentos sérios. Pode ser
sexualmente ativa (a ninfa) ou virginal (a donzela), mas em ambos os
casos ela é ainda pura, inocente, esperançosa. A melhor representante
desse tipo é Ártemis ou Diana. Na segunda fase, ela está totalmente
absorvida em uma relação, seja com seu parceiro ou, ainda mais
importante, com seu filho. Assim como Maria, dá à luz sua própria
criança sagrada. Seu sorriso tornou-se uma luz branca radiante, a luz
que ilumina todos os que estão "apaixonados". Os amantes e aqueles
que estão em "lua-de-mel consideram essa fase, quando a Lua está
quase cheia, encantadora. Na terceira fase, a Lua começa a perder a
plenitude de sua luz. O brilho que rodeava a mãe com os seus filhos
começam a diminuir porque ela é forçada a sacrificar sua cria — como
Maria ou Deméter — para que
esta possa encontrar seu próprio destino.
Nessa fase, há nela uma tristeza enquanto
lamenta sua perda. Finalmente, durante o
último quarto do ciclo minguante, ela se
apressa para atingir a invisibilidade.
Assim como Ishtar, fica nua diante da
deusa do mundo subterrâneo, descobre a
si mesma e encontra o caminho para a
luz (o Sol) ou, como Perséfone unindo-se
a Hades nas profundezas do mundo
subterrâneo, ela ganha a sabedoria para
iniciar todo o ciclo novamente. Durante
essa fase minguante final, a deusa se
manifesta como a sábia anciã. Hécate,
chamada deusa das bruxas, representa
essa fase. Ela conhecia ervas e elixires
mágicos, curas populares e o controle do
clima. Também tinha o seu familiar, pois
a imagem do cão uivando para a Lua foi
associada a Hécate. Esse "cão-da-lua" é
muito antigo, pois é encontrado já na
cerâmica balcânica de 5000 a.C.56.
Hécate era também a deusa das
encruzilhadas
55. Rudhyar, Dane, The Lunation Cycle, Berkeley e Londres, Shambala, 1971.
56. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, ibid., pp. 169-71.
A lua e os cães da lua, de uma
carta de Tarô do século XIX
(onde se acreditava que as bruxas
realizavam seus rituais), o que é uma
reminiscência do neolítico, quando a
cruz de quatro direções era um
símbolo lunar.
Lembremos também a relação
semiótica da Lua com a Terra. A
Terra também tem quatro fases
distintas, similares à Lua,
literalmente demonstradas pelas
estações. No início do ano, a Terra é
estéril, mas logo abaixo da superfície
ocorre uma incrível atividade para
preparar a Terra para a segunda fase,
a primavera, quando mudas e botões
brotam em toda parte. No verão, a
plenitude das flores, frutos e mesmo
ervas daninhas abre caminho para o
outono, quando a diminuição da luz
prepara a Terra para sua jornada no
subterrâneo. A simetria nessas quatro
estações da Terra e as quatro fases da
Lua constitui uma parte integral da
vida que manteve nosso mundo equilibrado e harmonioso. Enquanto
esses ciclos levam um mês para a Lua e um ano para a Terra (Sol), na
estrutura astrológica, em que um dia é igual a um ano por progressão, a
fase lunar leva 27 anos. Esse período de 27 anos, se examinado
cuidadosamente e dividido em quatro subfases de quase 7 anos cada,
constitui as mesmas quatro fases que definem as "estações" de nossas
vidas. Uma vida humana em média consistirá em três fases completas
(81 anos) que novamente nos trazem as três emanações da Lua
representadas pela tripla deusa da Lua. Os astrólogos também percebem
que esse ciclo é muito próximo do de Saturno, de 28 anos, que recai na
mesma fórmula.
Quanto a relação da Lua com a mãe, vimos que a Lua, quando está
cheia, simboliza a maternidade em seu auge. Mas nem todos têm essa
relação com a mãe. A chave para o relacionamento mãe/filho sugerida
pela probabilidade do mapa astrológico relaciona-se com a posição da
Lua por signo, casa e aspectos. Talvez a fase da Lua no nascimento
também possa descrever os primeiros anos do indivíduo. Uma Lua
minguante pode descrever uma criança que sofreu algum abandono ou
isolamento nos primeiros anos de vida, e poderia da mesma maneira
apontar para uma alma "velha" ou muito madura. Os bebês de Lua cheia
podem sentir a atração magnética da mãe influenciando-os ao longo da
vida, mesmo quando está na hora de romper as
Diana (ou Ártemis), o aspecto
feminino da lua
Lua cheia sobre a cidade de Joshua Tree, Califórnia, Estados Unidos. Fotografia
por Ariel Guttman
amarras e ganhar autonomia. O filho da Lua nova pode sentir-se
sempre como um "bebê na floresta" e pode sempre ser visto como tal
por sua família, mesmo após a maturidade. O exame da fase lunar no
nascimento, assim como das fases lunares progressivas, pode lançar
uma luz significativa sobre as estações da vida.
Além da Lua, sugerimos que há outras referências astrológicas à
mãe no mapa, incluindo a Terra e Ceres. A Lua contém a chave para a
segurança e o amor emocionais representados no início da vida pelo
amor da mãe e a segurança que ela sentiu e conseguiu transmitir ao
filho. A maternidade representada por Ceres é o ato físico de dar essa
segurança e os instrumentos dados pela mãe para ajudar o indivíduo a
abrir o seu próprio caminho no mundo. Em outras palavras, se a mãe
representada por Ceres faz quadratura ou aflige a Lua de maneira
significativa, haverá problemas ao integrar as formas que a mãe tentou
transmitir. Se, porém, a Lua se harmoniza bem com Ceres, haverá
facilidade em expressar e lidar com o feminino na vida da pessoa.
Claro, esses aspectos ocorrem tanto para homens quanto para
mulheres, mas com freqüência se diz que uma mulher incorpora sua
própria Lua com muito mais facilidade do que um homem, que,
experimentando a Lua (como principal arquétipo do feminino) como
um oposto polar, tende a encontrá-la fora de si em seus
relacionamentos com mulheres em geral ou com a principal mulher
em sua vida. Esse nem sempre é o caso, mas é muito
freqüente. Da mesma maneira, uma mulher pode ser atraída por homens
que incorporam as características do signo solar dela, "projetando" seu
Sol da mesma maneira como um homem projetaria sua Lua.
A posição da Terra no mapa, uma terceira forma de mãe, como
polaridade do Sol, pode refletir as ligações espirituais com a mãe,
simbolicamente como "a Grande Mãe", e também aponta para as formas
que nossa fecundidade feminina tomará.
Finalmente, há os "sentimentos". A Lua, como um corpo celestial
mutável, reflete os sentimentos e humores mutáveis dentro de nós.
Quando os aspectos negativos da Lua estão sendo expressos, não temos
controle sobre nosso humor ou nossas manifestações emocionais.
Estamos sujeitos a tudo o que vem a nós e temos apenas nossos
sentimentos instintivos para responder aos estímulos externos. Esse tipo
de comportamento lunar, em seu extremo, leva à loucura — torna a
pessoa "lunática", como diziam os antigos. Claro, isso não é engraçado.
A interação entre a Lua e o Sol constitui uma relação harmoniosa
que reforça tanto o coração quanto a mente, mais do que tentar ser
apenas solar (cabeça) ou todo lunar (emoção).
Os Nodos Lunares
57. Hawkins, Gerald S., e John B. White, Stonehenge Decoded, Garden City, Nova
York, Doubleday, 1965.
Para os antigos, um
eclipse era ura dos mais
espantosos acontecimentos na
esfera celestial.
Aparentemente sem aviso, o
Sol ou a Lua começavam a
desaparecer, como se
estivessem sendo engolidos
por alguma entidade invisível.
Como os aldeões e habitantes
das cidades ficavam bastante
aterrorizados com os eclipses,
o conhecimento de tais
eventos punha o conhecedor
em posição de poder. Dessa
forma, os sacerdotes,
astrólogos e xamãs —
especialistas religiosos de
todos os tipos — estudaram os
segredos do ciclo do eclipse.
Alguns pesquisadores
acreditam que antigos
monumentos como
Stonehenge contêm indicações
simples mas efetivas para
mensurar esse ciclo57.
Ao longo das épocas
medieval e renascentista, os
astrólogos continuaram a
ver os eclipses com grande
temor, predizendo drásticas
mudanças no clima ou nos
assuntos políticos. Os
astrólogos modernos,
porém, dão pouca atenção
aos eclipses — exceto
alguns especialistas, que em
sua maioria discordam uns
dos outros. Considerando o
poderoso efeito que os
eclipses sempre tiveram
sobre a consciência humana,
fica claro que devem ser
importantes de um ponto de
vista mitológico. Mas, poucas pessoas percebem que existe uma
mitologia sobre eclipses ou que o ciclo desse fenômeno pode ser
facilmente notado no mapa astrológico, examinando-se os nodos
lunares.
Como o Sol e os outros planetas, a Lua viaja por uma faixa do céu
chamada eclíptica, ou seja, o caminho aparente do Sol. Mas, a Lua
pode, às vezes, cruzar a faixa da eclíptica para norte ou para o sul. De
fato, ela o faz a cada trinta dias — primeiro para o norte, depois para o
sul e assim por diante. Esses dois pontos de interseção, norte e sul,
sempre estão diretamente opostos um ao outro por signo e casa e são
chamados nodos lunares. A cada vez que a Lua cruza a eclíptica, ela o
faz em um grau levemente anterior de longitude. Por isso, os nodos
lunares parecem se mover ou "viajar" em marcha à ré, ou seja, em
movimento retrógrado.
É fato astronômico que um eclipse solar ou lunar pode apenas
ocorrer quando o Sol ou a Lua está em conjunção com um dos nodos.
Os nodos da Lua, portanto, são os indicadores do ciclo do eclipse. De
fato, os antigos povos provavelmente perceberam o progresso dos
nodos ao tentar prever eclipses.
Os nodos podem não ser planetas verdadeiros ou corpos celestes,
mas aparecem na mitologia dos povos indo-europeus. Os vikings
concebiam o Sol e a Lua como dois carros que corriam pelo céu —
conceito compartilhado pela maioria dos sistemas míticos indoeuropeus.
Mas, os noruegueses também concebiam dois lobos de ouro
que perseguiam os carros solar e lunar pelo céu. De tempos em tempos,
um dos lobos alcançava um dos carros, que começava a desaparecer
entre as mandíbulas
O Sol e a Lua num ornamento de um livro
italiano do início do século XX
famintas dele. Era um eclipse. Porém, os corpos luminosos sempre
acabavam por escapar de serem engolidos para sempre58.
A versão mais plenamente desenvolvida desse mito existe na
Índia. De fato, é bem possível que tenhamos derivado nossa própria
tradição astrológica sobre os nodos de fontes hindus, pois os dados
foram observados na Índia desde o tempo do Rig Veda (os
tradicionalistas hindus localizam esse trabalho por volta de 3000
a.C, embora estudiosos convencionais argumentem que não passa
de 1500 a.C.)59. Os hindus concebiam os nodos como um grande
dragão cósmico. No mundo ocidental, astrólogos medievais
chamavam os nodos norte e sul de cabeça de dragão e cauda de
dragão respectivamente, o que sugere que adquiriram o seu conceito
dos nodos por meio do contato com a Índia. Esse contato pode ter
ocorrido durante os primeiros séculos antes de Cristo, quando o
império de Alexandre, o Grande estendeu-se desde o Egeu até as
fronteiras da Índia, trazendo muitas oportunidades para transmissão
cultural.
A história hindu é a seguinte: tanto os deuses quanto seus
principais inimigos, os demônios, precisavam da maravilhosa
bebida amrita para manter sua imortalidade e eterna juventude.
Essa amrita é obviamente a mesma ambrosia dos gregos e significa
a mesma coisa — o líquido mágico dos deuses. Na história hindu,
essa amrita escasseara. Todos sabiam que ela podia ser encontrada
nas profundezas do oceano cósmico, mas nem os deuses nem os
demônios sozinhos podiam extraí-la de tal profundeza. Eles
precisavam cooperar. Assim, os dois grupos opostos de divindades
foram juntos buscar a amrita de que ambos precisavam. Viraram a
montanha do mundo de cabeça para baixo, colocando o seu cume
agudo no oceano cósmico. Enrolaram a
O Dragão Alquímico do Céu ligando o sol e a lua, gravado por V. Feil para a obra
Vögelin Praktik de Hanns Singriener. Viena, 1534
58. Ellis Davidson, H.R., Gods and Myths of the Viking Age, Nova York, Bell, 1981,
p. 28.
59. Frawley, David, Gods, Sages and Kings, Salt Lake City, Passage Press, 1991.
Eclipse lunar, do Opus Sphaericum de Johannes de Sacrobusco, impresso por
Erhard Ratdolt. Veneza, 1482
grande serpente de Vishnu em torno da montanha e começaram um
cabo-de-guerra com ela. A montanha do mundo afundou no chão do
oceano, como se os deuses e demônios estivessem batendo manteiga
numa imensa tigela. Muitas coisas emergiram daquele grande oceano,
incluindo os legendários tesouros do mito hindu. Até mesmo Lakshmi,
a deusa do amor, nasceu das águas nessa operação (como Vênus, que
também nasceu da espuma marinha e das ondas do oceano).
Por fim, a amrita fora encontrada. Os demônios lutaram para
apanhá-la, mas de repente surgiu uma bela mulher chamada Mohini.
Trazendo o néctar em uma taça, mandou que os deuses e os demônios
formassem duas filas para receber a divina substância.
Enquanto os deuses recebiam a amrita, um demônio esperto
chamado Svarbhanu — uma criatura em forma de dragão com quatro
braços e uma cauda — entrou na fila entre o deus-sol e o deus-lua.
Avidamente, sugou a amrita. O Sol e a Lua gritaram e o deus Vishnu
veio em socorro, cortando o demônio em dois. A bela Mohini continuou
seguindo a fila, mas, quando atingiu o final da companhia de deuses,
desapareceu. Era outro aspecto de Vishnu. Os demônios haviam sido
enganados.
Todos eles, exceto Svarbhanu. Embora houvesse sido cortado ao
meio, não podia morrer, pois havia provado a amrita. Era agora dois
seres, uma cabeça de dragão chamada Rahu e uma cauda de dragão
chamada Ketu. Rahu e Ketu tinham raiva do Sol e da Lua por terem
gritado; por isso caçavam os dois astros luminosos por meio do céu
eternamente e, ocasionalmente, os engoliam60.
______________________________________________________________________
60. Ions, Veronica, Indian Mythology, Londres, Hamlyn, 1967, pp. 111-5.
A astrologia hindu dá a cada nodo um papel, ou personalidade,
separado ou distinto. Rahu, o nodo do norte, é a cabeça do demônio,
ansiosa para apanhar os astros em suas mandíbulas escancaradas. Rahu
representa nossos desejos mais inflamados, as compulsões que nos
controlam de tal modo que podem chegar a engolir nossa essência — ou
seja, nosso Sol e nossa Lua. Em geral, os desejos ardentes representados
por Rahu são sensuais ou materialísticos (dependendo da casa). Ketu, o
nodo do sul, é a cauda do dragão. Não tem cabeça, ou seja, não tem
vontade própria. É uma espécie de receptáculo. Engole coisas em um
buraco negro. Engole fobias, compulsões, alucinações, doenças. Uma
pessoa que tenha forte influência de Ketu geralmente está sujeita a
todos os tipos de medos irracionais, pesadelos e doenças misteriosos.
Ketu é tão psicológico quanto Rahu é material. Mas, exatamente por
essa razão — ou seja, porque lida com o poder do inconsciente — Ketu
é também um símbolo de sabedoria e iluminação. O material que forma
nossos medos e visões escuras é o mesmo material inconsciente que,
quando transformado, leva-nos à iluminação. Os astrólogos ocidentais
podem achar que Ketu se parece um pouco com Netuno — embora os
próprios hindus o associem a Marte. Se pensarmos nele como uma
conjunção Marte-Netuno, não ficaremos longe da verdade. Rahu e Ketu
representam compulsões inconscientes, mas Rahu tende para a esfera
mundana, enquanto Ketu lida diretamente com o inconsciente.
Na astrologia hindu, acredita-se que um planeta em conjunção ou
em aspecto com os nodos é "engolido" ou "eclipsado" por eles. Um
planeta pode ser eclipsado por Rahu, caso em que suas energias serão
inconscientemente dirigidas para a gratificação material ou sensual.
Pode ser eclipsado por Ketu, quando se desliga da expressão exterior e
se liga com o inconsciente — situação que pode resultar em confusão
Eclipse solar, do Opus Sphaericum de Johannes de Sacrobusco, impresso por
Erhard Ratdolt. Veneza, 1482
psicológica ou numa busca por iluminação, ou ambas. Essa situação é
especialmente poderosa quando os nodos entram em contato com o Sol
ou a Lua61.
No Ocidente, há muitas explicações variadas quanto à
interpretação dos nodos lunares. Grande parte da tradição e da
especulação a respeito desses dois pontos é decididamente esotérica.
Porém, a interpretação mais aceita diz que o nodo Sul representa
hábitos, atitudes e comportamento "fáceis" para nós, profundamente
enraizados e que portanto representam o caminho da última resistência.
Mas, o caminho da última resistência não é o caminho mais positivo ou
mais adequado ao crescimento. Tiramos o maior benefício em tomar o
caminho menos usado, para nutrir e desenvolver as qualidades e
comportamentos que são exatamente o oposto de nossos antigos
padrões. Isso significa fazer esforço definido (e por vezes doloroso)
para construir novos comportamentos que correspondam à casa e à
posição do signo do nodo norte.
Embora essa interpretação pareça bastante psicológica, tem
funcionado bem do ponto de vista esotérico. Muitos astrólogos vêem os
padrões do nodo sul como parte de nossa herança cármica, uma
impressão de vidas passadas que deve ser superada para continuar a
crescer. Superamos esses padrões ou, para dizer de outro jeito, criamos
"bom carma", desenvolvendo as qualidades simbolizadas pelo nodo
norte.
Um forte tema que emergiu da interpretação do eixo nodal é que
os nodos são o caminho seguido pela alma, uma estrada, separada das
necessidades, desejos e estímulos do corpo físico e do mundo. Dessa
forma, o eixo nodal, como unidade, relaciona-se à jornada da alma,
sendo que o nodo sul representa a direção da qual a pessoa vem e o
nodo norte representa a direção para a qual ela se dirige —
respectivamente a "cauda" e a "cabeça". Se assim for, não é de espantar
que a interpretação do nodo sul seja algo negativo, como se as pessoas
que estão realmente ligadas a seu nodo sul estivessem, de alguma
maneira, paradas em sua "cauda" em vez de dirigir-se para a frente. E,
como vimos, o nodo norte, para os hindus, representa uma direção mais
material, enquanto o nodo sul enfatiza o inconsciente. A inclinação em
direção ao nodo norte, na astrologia ocidental, não é diferente da
propensão ocidental para a realização no mundo material. O problema
com esse tipo de interpretação — ou seja, que um nodo é "bom" e o
outro "mau" — reflete o tipo de interpretações preto-no-branco a que a
astrologia sempre foi sujeita e que se empenha para superar, pois
qualquer planeta ou signo pode ser bom ou mau, dependendo da
maneira como um indivíduo usa sua energia. Afinal de contas, é
energia, e nos concede a oportunidade de fazer escolhas conscientes
sobre como a usaremos.
61. Braha, James, Ancient Hindu Astrology for the Modern Western Astrologer, ibid.,
pp.33-5.
Obviamente, quando somos
inconscientemente
motivados por desejos sobre
os quais aparentemente não
temos controle, estamos
provavelmente expressando
os aspectos negativos dos
nodos norte e sul, mas assim
que aprendemos o que nos
motiva e quais efeitos esses
desejos inconscientes têm
sobre nós, podemos escolher
nossa expressão com mais
cuidado. Repetimos, ambos
os nodos são valiosos para
nós e, como representam
uma das polaridades da
astrologia, é muito provável que hesitemos entre os dois extremos antes
de alcançarmos a harmonia e a integração no meio. Olhando para os
nodos dessa forma, podemos ver que nos dirigir tanto às manifestações
positivas quanto às negativas de cada nodo tem um valor de
aprendizagem para nós.
A ênfase em um dos nodos como sendo superior ao outro reflete
um pouco a interpretação errônea que se faz sobre a própria Lua.
Muitos astrólogos acham que devemos dirigir nossa energia de maneira
"solar" e deixar para trás nossos hábitos "lunares". O fato de os nodos
estarem ligados à Lua pode ser responsável por parte dessa tendência de
interpretação. Podemos ter forte inclinação para um dos nodos,
tipicamente o sul, porque ele envolve padrões de memória do modo
como fomos pela maior parte da juventude, e estender-nos então na
direção oposta, para o outro nodo. Por fim, os nodos podem se
equilibrar, uma vez que ambos os lados tenham sido experimentados e
tenhamos a oportunidade de ver como ambas as extremidades nos
ajudam no desenvolvimento de nossa vida. Muitos indivíduos
talentosos têm os planetas de nascimento em conjunção com o nodo sul,
uma assinatura que freqüentemente indica uma forte memória da alma,
rapidamente despertada em uma área particular da vida. Dessa forma, a
força de uma pessoa pode residir naquilo que traz consigo do passado.
Porém, se esse se tornar todo o seu objeto de concentração na vida, ela
não estará equilibrando os nodos e talvez não cresça — esticando-se,
por assim dizer, para seu nodo norte.
Por exemplo, Ronald Reagan tem Júpiter exatamente em
conjunção com seu nodo sul em Escorpião e a Lua exatamente em
conjunção com seu nodo norte em Touro, e atingiu facilmente a posição
de um
Eclipse solar total, foto da NASA
Júpiter mesmo antes de se tornar presidente dos Estados Unidos. Como
ex-governador da Califórnia, ator de Hollywood e presidente da Screen
Actors' Guild (Sindicato dos Atores), esse Zeus adquiriu respeito em
muitos círculos. Júpiter em conjunção com o nodo sul sugere que essa
qualidade já havia sido desenvolvida anteriormente a essa vida, e a
conjunção em Escorpião aumenta ainda mais o poder que ele era capaz
de projetar. A conjunção em Touro da Lua com seu próprio nodo norte
o desafia a ser bem-apessoado, adquirir substância, desenvolver a
sensibilidade nos assuntos financeiros, ter apelo junto às massas (a Lua)
e saber intuitivamente quando agir e quando não. Caberá aos
historiadores decidir se foi ou não bem-sucedido em vencer os desafios
sugeridos por seu nodo norte, mas certamente não foi por acaso que a
Lua e Júpiter representaram um papel tão importante na vida dessa
carismática figura. A administração Reagan foi simbolicamente
caracterizada por Júpiter em oposição à Lua nos signos monetários — o
rico tornou-se ainda mais rico, polarizado pelo pobre, que ficou cada
vez mais miserável. O problema da moradia (a Lua) nos Estados
Unidos, um país jupiteriano de abundância e prosperidade, atingiu
índices recorde, assim como a dívida pública. Em contraste, o mapa de
Lyndon Johnson mostra o eixo nodal conectado a Plutão em Câncer
(nodo norte) e Urano em Capricórnio (nodo sul). Não apenas sua
administração foi marcada por esses dois planetas rebeldes, como a
década de 1960 viu uma conjunção de Plutão e Urano que trouxe uma
inquietação em massa ao país e ao mundo. A conjunção de Urano e
Plutão foi um sinal dos tempos, e o homem escolhido para representar a
nação durante esse período tinha a marca de eclipses anteriores ao
nascimento destacando esses dois planetas, que foram realizados
conforme ele cumpria o destino de sua vida. Seu predecessor, John F.
Kennedy, tinha o nodo sul em conjunção com Plutão. Lembre-se, o
demônio quer bebeu da taça da imortalidade foi partido nos dois nodos
— dessa forma, ambos os nodos contêm memória do passado e do
futuro, além da consciência corporal do plano físico, e portanto ambos
os nodos devem ser reconciliados para que se possa efetivamente lidar
com a totalidade do caminho da alma.
Os eclipses tiveram conotação negativa por muito tempo, porque
os antigos não conheciam as razões astronômicas por trás desse
"desaparecimento" temporário da Lua e do Sol. Mesmo hoje, eclipses
inspiram medo e, mais ainda, pavor entre certas pessoas. Isso também é
verdade na interpretação de mapas. Quando o padrão de um eclipse traz
um planeta para dentro de sua aura, a natureza desse planeta é
altamente enfatizada. Na astrologia mundana ou política, a função
daquele planeta é com freqüência representada de modo extremo, no
palco político do mundo e também por meio de fenômenos naturais
como terremotos, erupções vulcânicas, etc. Um caso recente ocorreu no
eclipse lunar de agosto de 1990. Dentro da órbita daquele eclipse, entre
os signos
fixos de Aquário e Leão, havia as quadraturas de Marte e Plutão,
respectivamente nos signos de Touro e Escorpião. Esse padrão de cruz
encaixava-se nos ângulos do mapa do Iraque. Nesse momento, o líder
do Iraque, Saddam Hussein, invadiu o Kuwait, incidente que deu
origem a um contra-ataque e uma reação muito forte (Marte, Plutão) do
resto do mundo. O eclipse solar seguinte, que ocorreu em 15 de janeiro
de 1991, caiu na data exata em que as nações unidas sancionaram o uso
da força para remover os soldados iraquianos do Kuwait se eles não
fizessem um acordo. Saturno, em trânsito, passou exatamente pelos
raios desse eclipse e o padrão entrou em conjunção exata com o Plutão
dos Estados Unidos. Novamente, uma forte reação foi propiciada e,
com o poder e a força plutonianos, o inimigo foi expulso. Esse é apenas
um exemplo de como os eclipses, junto com as transições, podem
moldar os eventos no mundo — mas a história está cheia desses
exemplos. O caminho traçado pelo eclipses na superfície da Terra
tipicamente apontará os países ou áreas do globo em que deverão
ocorrer grandes mudanças.
Da mesma maneira, quando um padrão de eclipses aparece de
forma proeminente em trânsito no mapa astrológico, há uma mudança
ou estímulo significativo para o indivíduo, segundo a natureza do
planeta que está sendo eclipsado. Nem sempre isso deve ser visto como
uma influência negativa. Por exemplo, muitas pessoas terão um eclipse
diretamente em seu Sol, e isso refletirá o período de sua vida em que
sua vitalidade, impulso criativo e alta expressão estão no auge — um
período em que se sentem como deuses (heliocentrados) e brilhantes.
Um eclipse no Saturno natal pode ajudar as pessoas a identificar suas
fraquezas, suas limitações físicas e sua própria mortalidade. Um eclipse
em Vênus pode destacar a deusa do amor na vida da pessoa e um
eclipse em Juno pode indicar um casamento.
O ciclo do eclipse, identificado pelos nodos em trânsito, leva
aproximadamente 18 anos para se completar. Assim, após nove anos,
quando a oposição ocorre, e novamente após 18 anos, quando o ciclo se
completa, a consciência individual pode estar em destaque e mensagens
da alma a respeito de sua fase atual podem estar nos influenciando.
"Monsieur Parolles, nascestes sob uma estreia caridosa."
"Sob a influência de Marte."
"Foi o que pensei, sob Marte."
"E, por que sob Marte?"
"As guerras vos mantêm tão por baixo que deveis ter
nascido sob Marte."
"Quando estava predominante."
"Penso antes que estivesse retrógrado."
"Por que pensais assim? "
"'Recuais sempre quando lutais."
— Shakespeare, Tudo Está Bem Quando Acaba Bem, I, II
Os astrólogos dos
períodos medieval e renascentista
observavam o progresso do
Planeta Vermelho com
perturbação, pois ele pressagiava
guerra, febre e peste. Os gregos
viam com igual reserva o deus
Ares, cuja domínio era a guerra.
Ele era filho legítimo de Zeus
(Júpiter) e Hera (Juno), embora se
diga que ambos o odiavam.
Deleitava-se na batalha e na
violência gratuita; e, embora os
heróis o adorassem ou buscassem
desenvolver algumas de suas
qualidades "marciais", também o
temiam. Até mesmo Homero, cuja
Ilíada glorifica as artes da guerra,
não fala muito bem do deus que
regia essas artes mortais: é
chamado "assassino Ares",
"violento Ares", e mesmo "Ares,
assassino manchado de sangue e
arrasador de cidades". Sua própria
irmã
Ares, ou Marte, deus da guerra
Atená o chama "uma criatura da ira, feita de mal, um mentiroso de duas
caras". E quando o deus da guerra é ferido em batalha pelo herói
Diomedes, voa enraivecido de volta ao monte Olimpo para queixar-se a
seu pai. Mas Zeus lhe diz: "Não te lamentes a mim, seu mentiroso de
duas caras. Para mim, és o mais odioso dentre todos os deuses do
Olimpo. Guerras, brigas e lutas são caras a teu coração."62 Ares tinha
uma irmã gêmea chamada Éris (discórdia), que o acompanhava no
campo de batalha e que gostava de fomentar animosidades espalhando
falsos boatos e ciúmes. Seus dois ajudantes eram o Terror e o Medo.
Seu animal era o cão, seu pássaro o abutre, e era associado à região da
Trácia, no norte da Grécia, normalmente vista como "bárbara" (apesar
do fato de que Orfeu, o poeta, também era trácio). Não havia templos
para o deus da guerra, nem lugares sagrados63, embora se possa dizer
que seus lugares sagrados eram os campos de batalha. É raramente
mencionado na mitologia. Excetuando-se Afrodite, que adorava o seu
amor fogoso, e Hades, que gostava de recrutar os mortos na guerra para
seu domínio subterrâneo, Ares gozava de pouco favor ou admiração no
monte Olimpo. Seu pai, Zeus, tinha pouco respeito por seus modos
guerreiros e briguentos, preferindo o jeito sensato e racional de Atená.
Na batalha, Ares não era um estrategista frio como Atená. Perdia
freqüentemente a calma, partia para a batalha de cabeça quente e no
momento errado. Não apenas suas
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62. Homero, A Ilíada, diversas edições.
63. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., vol. 1, pp. 73-4.
paixões o levavam à batalha,
como davam a motivação para
todas as suas ações. Ele pode
assim ser relacionado facilmente
ao planeta "vermelho", já que o
vermelho é a cor que surge
quando o temperamento atinge o
ponto de fervura — e é também a
cor do sangue.
Contudo, se Ares era
raramente honrado na Grécia, em
sua encarnação como o romano
Marte só ficava atrás de Júpiter
em escalão. Era considerado
patriarca de Roma, sendo pai de
Rômulo e Remo, os fundadores da
cidade. Para os romanos, que
glorificavam os heróis de guerra e
as artes "marciais", Marte era um
deus heróico; seu nome era
invocado nos campos de batalha. O mês de março recebeu seu nome,
pois era a época em que o clima da primavera permitia que as tropas
voltassem a se mobilizar. No mapa astrológico, Marte é o guerreiro. É
também considerado a força de motivação ou nível energético por meio
do qual a pessoa é impelida a agir. Considerando sua mitologia,
podemos deduzir que Marte age independente e rapidamente — quando
surge a urgência, nada pode detê-lo. Esse é o perigo de um Marte
descontrolado no mapa. Claro, qualquer planeta que opere
independentemente e de forma descontrolada é perigoso, mas Marte o é
ainda mais. A forma como essas urgências se manifestam em um
indivíduo podem ser determinadas examinando-se o Marte astrológico.
Os babilônicos chamavam o planeta Marte de Nergal e, assim
como entre os gregos, ele simbolizava o deus da guerra. Mas Nergal era
mais do que apenas um deus da batalha: era o Sol do meio-dia que
castigava a terra e queimava a pele; era o deus da praga e da epidemia e
de todos os desastres concebíveis. Está escrito que Nergal irrompeu na
terra dos mortos, depôs a rainha sombria que ali reinava e declarou-se
rei do mundo subterrâneo. Outras fontes, porém, afirmam que eles
chegaram a alguma espécie de acordo e Nergal governou ao lado de
Ereshkigal; assim, a terra dos mortos tinha um rei e uma rainha, como
os gregos Hades e Perséfone64.
64. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid., p. 23.
A cabeça de Ares numa moeda de
bronze dos Mamertioni, mercenários
Oscan que residiam em Messina, Sicília,
entre 220 e 200 a.C. Da coleção de
Michael A. Sikora
Em todo caso, podemos ver que Nergal era associado tanto ao Sol
(o calor do meio-dia) quanto à escuridão (o mundo subterrâneo). Isso é
significativo, pois mostra que Marte está simbolicamente ligado ao Sol
e a Plutão, e que esteve ligado a esses dois arquétipos desde o período
babilônico, talvez até mesmo desde o início da civilização da antiga
Suméria. Essa ligação é claramente representada na mandala
astrológica, pois o Sol é exaltado em Áries, um signo regido por Marte,
e Plutão, descoberto em 1930, recebeu regências sobre Escorpião, um
signo anteriormente regido por Marte.
Se pensarmos em Marte como uma ação vigorosa, podemos ver
que tem afinidades com o Sol. E, se pensarmos em Marte como deus da
guerra e da destruição, podemos compreender suas afinidades com
Plutão. Mas, qual é o processo psicológico exato simbolizado por Marte
e como difere dos processos de Plutão e do Sol?
Nesse contexto, é útil considerar um mito hindu. Na Índia, Marte
é associado ao deus Kartikeya. Essa divindade nasceu da necessidade;
os deuses estavam sendo aterrorizados por um demônio que, de acordo
com uma profecia, só poderia ser morto por um "filho de Shiva com
sete dias de idade". Os deuses criaram uma bela ilusão, na forma de
uma mulher tão tentadora que mesmo Shiva, o grande asceta, foi
forçado a ejacular ao vê-la. Seu esperma ardente caiu no oceano e foi
nutrido pelas Plêiades, viúvas dos sete rishis (que são, na verdade, as
estrelas da Ursa Maior). Elas fizeram um útero de terra e água para a
criança não nascida e em sete dias Kartikeya, o deus da guerra, surgiu
para matar o demônio65.
Marte, conseqüentemente, trata do poder e da determinação de
que precisamos para matar nossos demônios interiores. Assim como
Nergal desceu ao mundo subterrâneo, as forças de Marte emergem de
nosso próprio subterrâneo pessoal (Plutão). O poder diáfano de nossos
complexos psicológicos, temores e fobias agita-se em nossa escuridão
interior até que finalmente explode (Marte rege as explosões) e surge na
superfície. Não é de se espantar que Marte seja uma força tão
destrutiva! Ele emerge na consciência trazendo consigo toda a energia
negativa de nossos demônios interiores. Naturalmente, isso pode causar
brigas, discussões, um estado de guerra iminente entre nós e outras
pessoas. Mas, a mesma energia que explode com tanta violência em
nossa consciência pode também ser transformada em uma coisa boa,
pois é a mesma energia poderosa que pode ser usada para combater o
nossos demônios interiores, para declarar-lhes guerra. O poder de
Marte, logo que surge do mundo plutoniano do inconsciente, é uma
força intensamente sexual — o que faz sentido, pois está ligado aos
complexos
65. Behari, Bepin, Myths and Symbols of Vedic Astrology, ibid., pp. 77-80.
Representação alegórica da Vida das Crianças do planeta Marte, de uma
gravura italiana de Gabriele Giolita de Ferrari, 1533
psicológicos do inconsciente pessoal. O elemento sexual de Marte
sempre foi conhecido no mito; Ares era amante de Afrodite e Kartikeya
nasceu do esperma ardente de Shiva. Em Marte, vemos as ligações
entre sexo e agressão, entre desejo e ação.
Mas, o que devemos fazer com essa força sexual quando ela
irrompe do reino de Plutão para perturbar nossas horas de vigília?
Marte tem uma energia que, em seu estado primordial, não tem senso
de direção — mas quando ligado a um forte senso de finalidade, pode
realizar todas as coisas. Dessa forma, o planeta da direção consciente (o
Sol) é exaltado em um signo regido por Marte, enquanto o próprio
Marte é exaltado em Capricórnio, signo regido por Saturno, símbolo da
disciplina. Quando a energia crua de Marte é controlada por uma
finalidade consciente, ou seja, quando está sujeita ao Sol, símbolo do
"Eu", o equilíbrio e o poder pessoal se tornam possíveis. E quando é
dirigido pela disciplina de Saturno, a força explosiva de Marte pode
mover montanhas.
Marte corresponde ao guerreiro interior, um dos mais importantes
arquétipos masculinos. Mas, como aponta o
poeta Robert Bly, a maioria dos homens
dos Estados Unidos hoje em dia foi criada
com exemplos muito negativos do
arquétipo do guerreiro66. O "guerreiro
americano" luta pela manutenção do
império ou porque recebeu ordens para
lutar (tipicamente por uma causa que não
era a sua própria) ou, como Rambo,
simplesmente pelo gosto de matar. Bly diz
ainda que o verdadeiro guerreiro recebe
suas instruções do "Rei interior"67. Em
terminologia astrológica, diríamos que
Marte deve receber suas instruções do Sol.
Ele deve lutar pela causa da consciência. O
rei interior, como vimos, foi
simbolicamente identificado na alquimia
com a força solar — o "Sol interior" ou "rei
interior" são um só. Da mesma maneira, os
alquimistas viam o Sol ou rei como o poder
e vital essencial ao "Eu", essa
individualidade multidimensional, centrada
em Deus e que é o objetivo de todo trabalho
espiritual68. Quando o "Eu" dirige
66. Bly, Robert, Iron John, ibid., pp. 146-79.
67. Bly, Robert, Iron John, ibid.
68. Jung, Carl G., Mysterium Coniunctionis, ibid., passim.
Uma gravura de Ares do
século XIX, reproduzindo o
original em Villa Ludovisi,
Roma
o guerreiro, grandes coisas se tornam possíveis: o poder do guerreiro é
dedicado ao crescimento pessoal ou, como diriam os hindus, à
conquista de nossos demônios interiores. Como defensor e protetor de
sua família, Marte merece algum louvor e reconhecimento. É verdade
que defensores e protetores leais de qualquer causa são mobilizados a
agir quando Marte está dominante no mapa. Marte representa esse tipo
de reação rápida — do estômago, não da cabeça.
A mitologia de Marte provavelmente trouxe a base para nossas
considerações originais sobre seu comportamento num mapa
astrológico, mas há mais do que isso. A pesquisa estatística mais
aclamada e reconhecida no campo da astrologia é creditada aos
Gauquelins, que passaram anos estudando os mapas de pessoas famosas
para confirmar a significância planetária. Suas descobertas os
surpreenderam. Um Marte proeminente, por exemplo, produziu
indivíduos que se destacaram em carreiras científicas, médicas,
militares e de negócios. Do lado oposto,
Marte aparecia menos para escritores,
artistas e músicos69. Outros estudos
concluíram que Marte é proeminente
nos mapas de campeões esportivos
com "vontade de ferro", em uma
seqüência estatística bastante alta70.
Embora isso não surpreenda muitos
astrólogos, que sempre acreditaram
que a natureza de Marte era excelente
em recrutamentos militares e nos
esportes, a surpresa foi a área do mapa
que Marte ocupava, setores conhecidos
dos astrólogos como a Nona e a
Décima Segunda Casas. São áreas em
que o planeta em questão acabou de
subir (12ª) ou culminou (9ª). Dessa
forma, a força do planeta não depende
do signo em que ele está na hora do
nascimento, nem mesmo dos aspectos
planetários envolvidos, mas do setor da
carta em que ele aparece. Ao contrário
da crença popular, Marte na Décima
Segunda Casa não é nada letárgico
nem apático; na verdade, sua presença
ali fortalece sua natureza. Uma vez que
todos os planetas que se mostraram
poderosos em diversas
69. Gauquelin, Michel, The Cosmic Clocks, ibid., p. 191.
70. Gauquelin, Michel, Cosmic Influences on Human Behavior, ibid., p. 89-103.
Ares, ou Marte, deus da guerra
profissões apareciam nesses mesmos setores, podemos também
concluir que essas duas Casas (a Nona e a Décima Segunda, que são as
localizações naturais de Sagitário e Peixes, co-regidos por Júpiter)
representam as crenças e convicções mais profundas de um indivíduo.
Eles são portanto levados à ação pela presença de certas energias
planetárias, notadamente Marte.
Em sete de cada dez mapas dos presidentes americanos, uma
localização angular de Marte surge em lugares pelo mundo em que atos
abertos de agressão existiram entre aquela nação e os Estados Unidos e
nos lugares para os quais o presidente resolveu enviar unidades
militares71. Claro, com Marte angular no mapa dos Estados Unidos (seja
usando o mapa de Gêmeos ascendente ou o de Sagitário ascendente,
mais popular), a propensão a "atirar com o coração" e promover
ardorosamente a luta e a morte pela pátria pode ser uma resposta natural
para toda a nação. Mas, como mostraram os dados dos Gauquelin,
esportes competitivos também são regidos por Marte, e são uma útil
válvula de escape para o fogo interior e a paixão que Marte simboliza
de forma inata. Quando uma multidão de fãs do esporte estão
envolvidos em algo como uma Copa do Mundo ou as Olimpíadas, a
expressão de emoção e paixão crua é apropriada e mesmo encorajada.
As pessoas que praticam esportes são também encorajadas por Marte e
por isso têm mais sucesso na competição do que aqueles que não têm
Marte proeminente em seu interior. De fato, pessoas que têm um Marte
forte devem ser encorajadas a participar de esportes ou, ao menos, a
realizar exercícios físicos rotineiros para dissipar todo aquele vapor
quente dentro deles. Quando não podem fazê-lo, ou quando a função de
Marte é reprimida em um indivíduo, a quantidade de sentimentos
contidos dentro dele tipicamente resulta em ferimentos, explosões de
violência e comportamentos abusivos que podem resultar em sérias
conseqüências. Esse mesmo sentimento contido pode também se
manifestar como uma doença (especialmente inflamação com febre), se
for contido por muito tempo.
Outro símbolo de Marte, baseado em seus casos amorosos com
Vênus e outras, é o amante ou o Don Juan. Culturas fortemente
influenciadas pelo machismo podem estar coletivamente incorporando
o arquétipo de Marte. Isso traz um ponto importante. No esquema
astrológico, Marte é sempre o arquétipo "masculino", e seu glifo (e) é
usado em medicina para identificar os espécimes masculinos. Porém
todas as pessoas, tanto homens quanto mulheres, possuem um Marte. A
sociedade encoraja os homens a "possuir" seu Marte e mostrá-lo de
forma proeminente; mas, quando os meninos mostram pouco interesse
71. Lewis, Jim, e Ariel Guttman, The Astro*Carto*Graphy Book of Maps, St. Paul,
MN, Llewellyn, 1989, pp. 153-207.
Vênus entregando uma taça a Ares, da obra Kunstbüchlin de Jost
Amman, publicada por Johann Feyerabend. Frankfurt, 1599
em se identificar com seu arquétipo de Marte, são com freqüência
reprimidos, especialmente por outras crianças. Quando não gostam de
esportes ou outras atividades "de macho", são vistos como efeminados.
Isso deixa cicatrizes que por vezes ferem ainda mais profundamente do
que as cicatrizes da batalha real.
Por outro lado, as mulheres são dissuadidas de desenvolver seu
Marte interior, que poderia tornar-se uma força altamente motivadora
em sua própria estrutura. Mostrar qualquer tipo de raiva ou agressão é
um tabu para as mulheres, especialmente as que cresceram em
contextos conservadores ou tradicionais, como na América do Sul, onde
elas precisam sorrir, parecer bonitas e reprimir qualquer
comportamento espirituoso natural. É por isso que Scarlet O'Hara
tornou-se um arquétipo cultural popular — ela quebrou todas as regras
mostrando seu Marte forte em um mundo em que Marte era quase
inteiramente reprimido em mulheres.
Para esses dois grupos — as mulheres que foram ensinadas a
reprimir seu Marte e os homens que foram vitimados como resultado de
um Marte naturalmente "brando" —, um Marte aflito no mapa
astrológico pode trazer sérias conseqüências. Muitas mulheres na meiaidade
revelam uma repentina tendência a sentir incontrolável raiva e
hostilidade por acontecimentos aparentemente pequenos. Isso é com
freqüência notado pelo astrólogo como um trânsito ou progressão
significativa para o Marte natal, um planeta que até então havia sido
inteiramente ignorado e que agora busca um escape. É importante
perceber que, em tais casos, a raiva pode levar algum tempo para
conseguir sair, já que esteve trancada por tanto tempo. Da mesma
maneira, quando os homens atingem a crise da meia-idade após anos
castigando-se por sua aparente falta de fervor marciano, devem
aprender que têm um espírito cruzado — embora seu espírito possa ser
melhor empregado em alguma causa social ou espiritual do que na
arena de gladiadores dos negócios e ou dos esportes.
Quando se atinge a consciência — com qualquer aspecto —, os
pontos cegos são suavizados e ficamos realmente encarregados de
nossas vidas. Essa é a verdadeira beleza de se compreender os
arquétipos astrológicos e como eles operam em nossos mapas — são
um espelho para que vejamos diante dos olhos aquilo que, de outra
maneira, só poderíamos sentir ou adivinhar, tornando assim consciente
o que de outra forma seria inconsciente.
Ceres, da obra Kunstbüchlin de Jost Amman, publicada por Johann Feyerabend.
Frankfurt, 1599
De Deméter, augusta deusa de belos cabelos,
e de sua filha, a Cinda (Perséfone, começo a cantar.
Salve, ó deusa! (Mantém esta cidade a salvo e guia
minha canção.
Hino Homérico a Deméter
Desde meados do século
XVIII, fizeram-se descobertas na
Terra e no céu que mudaram
para sempre o curso da história.
Urano surgiu em 1781 e Netuno,
em 1846. Em 1802 houve outra
ocorrência, menos conhecida
mas igualmente importante — a
descoberta de Ceres, Palas, Juno
e Vesta, os quatro maiores
corpos no cinturão de asteróides.
E, embora esses novos corpos
não fossem considerados
verdadeiros planetas, Ceres está
precisamente onde deveria haver
um, de acordo com a lei de Bode
— no centro do sistema solar,
entre Marte e Júpiter.
Classificados como planetas
menores, esses asteróides
assemelham-se a seus irmãos
maiores em termos de
características orbitais; são
apenas de menor tamanho. De
fato, os numerosos corpos que
compõem o cinturão de
asteróides
têm órbitas bastante similares aos menores planetas em nosso sistema
solar — Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, e Plutão, o mais
distante (até agora).
Eleanor Bach foi a pioneira na pesquisa sobre as deusas do
asteróide e seu significado astrológico, inspirando muitos astrólogos a
colocá-los nos horóscopos72. Zip Dobyns73, Demetra George74 e o
falecido Tony Joseph75 continuaram e desenvolveram esse trabalho. As
teorias principais atualmente rezam que Ceres e Vesta (as deusas
"trabalhadoras") pertencem a Virgem, enquanto Palas Atená e Juno (as
deusas do "relacionamento") pertencem a Libra. Uma teoria
astronômica a respeito do cinturão de asteróides (e há muitas, pois
também os cientistas devem especular até que suas teorias sejam
comprovadas pelo tempo) diz que os milhares de destroços de
asteróides que orbitam num mar cósmico entre Marte e Júpiter já foram
um planeta. Como Júpiter é muito grande e sua atração gravitacional é
muito forte, esse planeta foi puxado pela massa de Júpiter e explodiu.
Alguns teóricos esotéricos (incluindo os autores) acreditam que esse
planeta representava um sistema arquetípico de completude feminina —
ou ao menos uma porção significativa do
feminino — que, como o culto à deusa
dos antigos, foi superado por deuses do
céu masculino, como Júpiter. Esses
pedaços errantes constituem os diversos
fragmentos do feminino que buscam a
reunificação. Acreditamos que os
asteróides como um todo representam
Virgem, o signo cujos nativos por vezes
se perdem nos fragmentos, mas sempre
conseguem juntar todos os pedaços para
fazer um todo.
É bastante adequado que esses
quatro asteróides estejam próximos ao
planeta Júpiter, pois, na mitologia, cada
uma dessas deusas era parte da "família"
de Júpiter. Ceres (Deméter), Juno (Hera)
e Vesta (Héstia) eram irmãs de Zeus e,
assim como seu irmão, tinham papéis
importantes no panteão grego. Ceres era
a deusa da terra, encarregada
72. Bach, Eleanor, Ephemerides of the Asteroids — Juno, Pallas, Ceres, Vesta 1900-
2000, Brooklin, Celestial Communications, Inc., 1973.
73. Dobyns, Zipporah, Expanding Astrology's Universe, San Diego, CA, ACS
Publications, 1983.
74. George, Demetra, Asteroid Goddesses, San Diego, CA, ACS Publications, 1986.
75. Joseph, Tony, The Archetypal Universe, ms. não publicado, 1984.
Ceres, ou Deméter
do ciclo agrícola. Vesta, a deusa do
templo, cuidava do centro espiritual
da humanidade. As outras duas —
Juno e Palas Atená — eram a
esposa de Júpiter e sua filha
favorita, respectivamente. Juno
compartilhava com seu marido
Júpiter o governo dos céus e
também presidia a instituição do
casamento. Atená, filha de Júpiter,
nasceu de sua testa e era realmente
a filhinha do papai.
A introdução e subseqüente
incorporação desses quatro
asteróides no plano de regência
zodiacal (ver O Zodíaco) eliminou
alguns dos temas desgastados da astrologia. Os nomes recebidos por
esses quatro asteróides podem parecer coincidência para alguns, mas
têm muito significado, de acordo com sua mitologia. Cada uma das
quatro deusas que deram nome aos asteróides era um dos doze
olímpicos honrados e reverenciados por todo o mundo antigo. Sua
inclusão no sistema astrológico de regência restaura o equilíbrio e a
simetria a um zodíaco que por muito tempo careceu de representação
feminina. Para manter a coerência com as novas leis e os novos papéis
na sociedade, especialmente em relação às mulheres, a inclusão dessas
deusas foi muito oportuna. Infelizmente, muitos astrólogos ficaram
confusos com a inclusão desses asteróides e ainda se recusam a
reconhecê-los como parte da estrutura astrológica.
Ceres ou, em grego, Deméter é associada, acima de tudo, aos
mistérios de Elêusis. Mesmo hoje, não é possível ter certeza sobre o que
acontecia no telesterion, o santuário eleusiano. Os iniciados deviam
jurar segredo. Conhecendo a natureza humana, seria lógico esperar que
alguém, mais cedo ou mais tarde, tivesse dado com a língua nos dentes.
Mas, apesar de os mistérios de Elêusis terem persistido por mil anos,
ninguém jamais entregou o segredo. Muitos escritores antigos deixaram
escapar algumas pistas e os estudiosos as usaram para construir teorias
sobre os mistérios — algumas bastante lógicas, outras um tanto
fantasiosas. Mas são apenas teorias. No fim das contas, não sabemos.
Quando consideramos as milhares de pessoas que foram iniciadas no
culto a Deméter por tantos séculos, podemos sentir o quão terrível deve
ter sido essa experiência — tanto que todos os participantes mantiveram
silêncio.
De acordo com a história, Core era a filha donzela de Deméter
(Ceres), deusa da terra e da colheita. Quando ela colhia flores em um
campo próximo a Elêusis, a terra se abriu diante dela. Com um ruído
Deméter numa moeda de bronze de
Petélia, Itália, entre 280 e 216 a.C. Da
coleção de Michael A. Sikora
surdo, um carro negro emergiu das profundezas, conduzido por um
cavaleiro sombrio. Era Hades (Plutão), senhor do mundo subterrâneo;
apanhou Core e a levou contra a vontade para a região dos mortos.
Durante nove dias Deméter vagou em lamentação, em busca de sua
filha perdida. No décimo dia, ela chegou a Elêusis e sentou-se para
descansar. As filhas do rei Celeus a encontraram quando vieram buscar
água no poço. A deusa estava disfarçada de velha senhora e contou às
filhas do rei uma história de pobreza e privação. As moças decidiram
que a velha seria uma excelente ama para seu irmãozinho Demofonte.
Trazendo suas bilhas d'água, levaram Deméter ao palácio do rei Celeus
e da rainha Metaneira. A rainha ofereceu alimentos e vinho a Deméter,
mas ela apenas concordou em tomar um copo de água de cevada.
Deméter tornou-se a ama do jovem Demofonte. Toda noite, quando os
pais dormiam, ela punha o menino no fogo para lhe conferir o dom da
imortalidade. Mas, certa noite, a rainha Metaneira estava desperta.
Entrou no quarto onde a velha ama estava diante de Demofonte, que
jazia no fogo ardente. Metaneira entrou em pânico. Deméter retirou a
criança do fogo. Então transformou-se, de uma anciã, na figura
refulgente da deusa. Estava com raiva. Ao interromper a magia de
Deméter, Metaneira acabou com todas as chances de Demofonte tornarse
imortal. Triptólemo, filho do rei de Elêusis, estava pastoreando o
rebanho de seu pai quando ocorrera o rapto de Core; ele vira tudo e
contou a Deméter o que havia acontecido. A Mãe Terra iniciou um
pranto dolorido. Pediu ao rei Celeus que construísse um templo para ela
em Elêusis. Ali se sentou, proibindo que a terra desse fruto. As folhas
murcharam e
secaram; a terra congelou e o
mundo caiu nas garras do
primeiro inverno.
A humanidade estava em
perigo de extinção. Atendendo
às orações dos mortais, Zeus
enviou o mensageiro dos deuses,
Hermes, ao mundo subterrâneo,
para pedir a libertação de Core.
Hades consentiu em entregar a
moça sob uma condição: que ela
não houvesse ainda provado a
comida dos mortos. Core estava
realmente tão triste que se
recusava a comer; por isso,
aprontou-se para seguir Hermes
de volta ao mundo da luz. Mas
então, um dos sombrios
jardineiros dos infernos surgiu e
revelou
Triptólemo, fundador mítico dos Mistérios
Eleusianos
A estrada de Atenas para Elêusis, na qual iniciados no culto de Elêusis andavam
portando tochas como parte dos ritos de seus Mistérios
que Core, na verdade, comera sete sementes de romã. Era preciso
chegar a um acordo. Decidiu-se que Core passaria três meses de cada
ano no mundo subterrâneo e nove sobre a terra. Durante sua ausência, o
frio do inverno reinaria, mas, quando estivesse acima da terra, a longa
primavera e o verão do mediterrâneo resplandeceriam. Mesmo assim,
ela ainda era a rainha do reino escuro e por isso seu nome não seria
mais Core, a donzela, mas Perséfone, "aquela que deve ser temida".
Depois de Perséfone ter sido devolvida à sua mãe, Deméter
alegrou-se. Ensinou seus mistérios da terra e da colheita a Triptólemo,
que foi o fundador mítico do culto eleusiano. Veremos que a história
das realizações de Deméter em Elêusis é uma espécie de tema
secundário ou contraponto à história principal, ou seja, a busca por
Core. Mesmo assim, esse conto de Elêusis representou um grande papel
nos próprios mistérios — talvez tão grande quanto a história mais
familiar do rapto de Perséfone.
Os iniciados de Elêusis identificavam-se não com Perséfone, mas
com a própria Deméter. Assim, o imperador romano Galieno, um
iniciado, por vezes fazia-se chamar Galiena Augusta, uma forma
feminina de seu nome. Os candidatos jejuavam, assim como Deméter
recusou alimento e vinho de Metaneira. Antes de iniciar sua procissão a
Elêusis, cobriam seus rostos e se banhavam no oceano. Essa
combinação de água e escuridão sugere que a estrada para Elêusis era
também a estrada
para o mundo subterrâneo. Água e escuridão nos lembram Perséfone
como a deusa do mundo subterrâneo — mas podem igualmente nos
lembrar Hécate, a outra deusa com esses atributos. No Hino Homérico
a Deméter, Hécate aparece com uma tocha na mão e, como Triptólemo,
ajuda Deméter a resolver o mistério do paradeiro de Perséfone.
Após a purificação, os iniciados andavam até Elêusis, levando
tochas. As tochas nos lembram novamente Hécate, e também de
Demofonte no fogo, pois o Hino realmente o descreve como uma tocha
ou um tição em chamas. Em Elêusis, os iniciados bebiam uma mistura
de água de cevada, assim como Deméter o fizera. Essa beberagem
provavelmente era alucinógena, e talvez contivesse o cogumelo
Amarita Muscaria — o alimento de Dionísio, a ambrosia (em sânscrito,
amrita) dos deuses. Seguia-se uma dança. O que acontecia depois nunca
foi revelado. Algumas pistas deixadas por escritores clássicos permitem
ao menos especulações sobre o que poderia acontecer. As tochas eram
pousadas e celebrava-se um "casamento divino" entre o hierofante e a
sacerdotisa de Deméter. Em seguida, Perséfone era devolvida à sua
mãe. Por fim, uma haste de grão era revelada em um cesto de joeira, e
se anunciava que a deusa havia dado à luz — Brimo dera à luz Brimos.
É Deméter, como Brimo, e não Perséfone, que dá à luz. Na
Arcádia, a região mais antiga da Grécia, conservaram-se lendas que
contam como Posídon (Netuno), em forma de cavalo, perseguiu
Deméter em forma de égua e a violentou. O resultado foi uma criança
conhecida misteriosamente como "a Senhora" — outro nome para
Perséfone enquanto rainha do mundo subterrâneo.
Quando discutimos a Lua, vimos que é muito difundida uma
história de perseguição na qual a deusa persegue o deus ou, em tempos
mais recentes, o deus persegue a deusa. Na história de Posídon e
Deméter, vemos outra variação dessa antiga história. Os arcádios
também adoravam uma "Deméter negra", ou seja, uma Deméter ctônica
que era a rainha dos mortos. Portanto, em todas essas histórias, estamos
falando sobre uma só deusa com três aspectos — donzela (Perséfone
enquanto Core), mãe (Deméter) e anciã (Hécate, Deméter como a velha
ama e Perséfone como rainha de Hades).
E quem é a criança Brimos? No Hino Homérico, Demofonte, a
criança no fogo, representa o papel de Brimos. Mas, o nome Brimos
significa terrível ou colérico. Por essa razão, a mãe sombria (Brimo),
enraivecida por ter sido violentada, dá à luz uma criança sombria. O
herói eleusiniano Triptólemo é outro nome para essa criança divina,
pois mitos posteriores afirmam que ele viajou pelo mundo em um carro
puxado por serpentes para ensinar a agricultura e os mistérios de
Elêusis para a humanidade. Mas, ainda há outra interpretação: a criança
divina é Dioniso, deus do vinho e do êxtase. De fato, Dioniso, para os
membros do culto órfico, era filho de Deméter ou de Perséfone. A
história mais familiar sobre Dioniso faz dele um filho de Zeus e
Sêmele. Ele é resgatado de uma situação muito ruim quando Sêmele
fora fulminada, consumida pela visão de Zeus em sua aparição como
divindade. Assim como Demofonte, a divina criança Dioniso nasceu de
uma explosão de fogo. Como Triptólemo, é filho da terra. Como
Perséfone, faz uma jornada ao subterrâneo — ou seja, é feito em
pedaços por mulheres, renascendo como a vinha inebriante. E, como
Brimos, pode ser terrível, pois o êxtase dionisíaco pode levar à loucura.
Dioniso, como Cristo, é o filho da mãe divina, morto e renascido. É por
isso associado ao arquétipo de Peixes. A polaridade oposta à Peixes é
Virgem, o signo de Ceres-Deméter.
O processo ligado a Ceres, enquanto mãe, é perder sua filha,
Perséfone, e então recuperá-la. A maioria de nós realmente "perde"
nossos filhos — eles crescem e se vão. Sentimos a dor da separação.
Mas, nossos filhos não voltam a nós literalmente. O mito aponta para
um "retorno" mais simbólico. Note que a própria Deméter sofre uma
violação; que ela se encoleriza (Brimo) por sua perda e violação. Mas, o
fruto dessa perda, dor, violação e frustração paradoxalmente traz o
êxtase. O aspecto da consciência humana tão profundamente
experimentado em Elêusis era de lamento e dor pela perda da inocência
e a quebra do elo entre mãe e filha, seguido por um renascimento no
êxtase espiritual — a liberdade dionisíaca do eu. A posição de Ceres no
horóscopo obviamente envolve seu papel como mãe e, por essa razão,
ela pode ser associada com e é talvez exaltada no signo de Câncer. Por
séculos, os astrólogos associaram a Lua, como regente de Câncer, ao
princípio maternal, mas não é incorreto ligar também Ceres a esse
signo. A conexão emocional, psicológica e biológica entre mãe e filho
como unidade é discutida em Câncer — e a Lua representa um grande
papel no mapa astral como agente principal dessa associação. Porém, e
quanto à "Mãe Terra", que cuidadosa e amavelmente dá a seu filho o
primeiro livro para ler na hora de dormir, que ensina o filho a amarrar
os sapatos e que fornece a estrutura para que esse filho faça seu próprio
caminho no mundo? E isso o que Ceres governa no horóscopo. Aqueles
que têm Ceres em posição proeminente se identificarão fortemente com
sua mãe terra interior ou, nos mapas de homens, com sua capacidade de
representar o papel de "zelador"; e, se Ceres está envolvida com a Lua,
pode haver uma forte dependência emocional entre mãe e filho, assim
como a que compartilhavam Core e Deméter. Perséfone, ou Core, era
tudo para sua mãe, e quando sua filha separou-se dela foi como se uma
parte dela se perdesse e ela não pudesse mais realizar seu trabalho no
mundo físico — o outro interesse e, principal de Ceres.
Não surpreende que a posição de Ceres no horóscopo tenha uma
forte ligação com comida e hábitos alimentares, devido a seu papel de
deusa do grão. Uma Ceres aflita resultará normalmente em algum tipo
de distúrbio alimentar, problema que aflige muitas pessoas no mundo
moderno, industrial. Pode ser uma maneira simbólica de dizer que, uma
vez que as preocupações agrícolas foram superadas pelos industriais,
que estão mais preocupados com a quantidade, e não com a qualidade,
da comida produzida, e que mostram pouca preocupação com a própria
terra, como conseqüência nossa comida moderna é muito pouco
nutritiva. Nessa situação, mesmo se o solo que produz sua comida fosse
saudável e limpo e as prateleiras de nossas mercearias não estivessem
cheias de pesticidas e produtos químicos, será que Ceres, símbolo da
Mãe Terra, estaria feliz?
A posição de Ceres no horóscopo pode afetar de maneira
significativa a capacidade de uma pessoa para criar e manter uma
relação saudável consigo mesma. Ceres está mais feliz, é claro, quando
Core, sua filha, está com ela por dois terços do ano. Esse é o ponto no
ciclo da natureza em que ela faz florescer e reviver a terra em
magnífico esplendor. Quando as pessoas estão emocionalmente
satisfeitas (como no início de relacionamentos), são capazes de
produzir suas mais esplêndidas obras de arte e não têm problemas em
trabalhar horas extras se tiverem ordens de entregar o serviço pronto.
O glifo de Ceres (t), como já se notou, é o glifo de Saturno de
cabeça para baixo e invertido (ver Saturno). O Pai Terra Cronos e a
Mãe Terra Ceres parecem ter muito em comum. De fato, Ceres era uma
das filhas de Saturno e foi devorada por ele; também teve sua própria
filha "comida" ou engolida pelo mundo subterrâneo. Saturno comia
seus filhos porque temia que eles o superassem. Ceres não podia se
alimentar sem sua filha. Ambos os planetas são relacionados à
paternidade e ambos podem potencialmente desenvolver
relacionamentos possessivos, dominantes ou estranguladores com seus
filhos. E, naturalmente, ambos os planetas, mal integrados no mapa,
podem também experimentar distúrbios alimentares.
Dá para constatar que a ligação entre Ceres e Plutão é também
significativa, devido à sua rivalidade mitológica. Em muitos mapas, já
se notou que uma relação tensa entre esses dois planetas pode produzir
uma espécie de perda ou sacrifício similar ao que Ceres sofreu com
Perséfone. Além disso, trânsitos de Ceres para Plutão podem indicar um
período em que a pessoa necessita desistir de algo dessa magnitude.
A ex-União Soviética adotou a foice como símbolo. Era um país
cujo tamanho enorme já o fazia enfrentar um grande desafio
simplesmente para conseguir alimento para o povo. A força
trabalhadora, o partido trabalhador, é associado a Ceres e o mapa astral
da União Soviética (na Revolução de 1917) continha um Sol de
Escorpião em firme conjunção com o asteróide Ceres a catorze graus de
Escorpião. Uma vez que tanto Escorpião, o signo, quanto Ceres, o
asteróide, simbolizam miticamente o tempo passado no subterrâneo e
tratam de temas de
perda e tristeza seguidos pela regeneração, não é de espantar que
pessoas dessa nação tenham passado 75 anos "atrás da cortina de ferro"
— como se fosse no mundo subterrâneo. Nesse horóscopo, tanto Plutão
quanto Ceres seriam considerados fortes — Plutão por sua regência
sobre Escorpião e Ceres por sua conjunção com o Sol, a força vital no
mapa. Vemos aí o firme controle que o governo soviético sempre
manteve sobre seus cidadãos, cuja única escolha era a cumplicidade
silenciosa ou a deserção. Plutão transitando por Escorpião (1984-1996)
passou pela conjunção soviética Sol-Ceres durante 1988 e 1989, com a
morte e o renascimento resultantes, no estilo de Escorpião, da União
Soviética. Podemos traçar um paralelo com a vida pessoal dos
indivíduos. Aqueles que têm parentesco ou uma relação com pessoas
que tenham fortes aspectos Ceres-Plutão podem experimentar um
sufocamento ou estrangulamento similar até que consigam se libertar,
mas a liberdade com freqüência não ocorre sem uma significativa luta
pelo poder.
A relação de Ceres com o processo de lamentação é talvez uma de
suas funções mais importantes. Sua tristeza consumia tudo. Os
mistérios de Elêusis tratavam de importantes ritos de passagem que
honravam a morte e a perda — uma experiência que todo ser humano
deve encarar em algum momento. O horóscopo de Elizabeth Kubler-
Ross contém uma Ceres angular — em seu signo de regência, Virgem,
na cúspide da Sétima Casa. Kubler-Ross é a pioneira reconhecida do
"morrer com dignidade", que ajudou a educar milhões e permitir que
ocorra o processo do luto.
Com freqüência, Ceres no horóscopo se manifesta como a área em
que a pessoa pode se tornar extremamente protetora e maternal, ou
adotar o papel de "zelador", aspectos da vida com os quais a maioria
dos nativos de Virgem e Câncer está familiarizada.
Minerva (Palas Atená) com uma coruja e escudo de Medusa, da obra Kunstbüchlin de Jost
Amman, publicada por Johann Feyerabend. Frankfurt, 1599
Canto agora Palas Atená, a deusa gloriosa,
de olhos cinzentos, expedita, de implacável coração.
Essa tímida donzela é uma poderosa defensora das
cidades,
a Tritogéneia, do próprio Zeus a conselheira
nascida de sua augusta cabeça, armada de dourada e
resplandecente
armadura guerreira, e o espanto apossou-se de todos os
espectadores imortais.
Hino Homérico a Atená
Talvez o mito mais
notável sobre Palas Atená seja
a história de seu nascimento.
Conta-se que Zeus perseguiu a
Titanesa Métis e fez amor com
ela. Essa Métis era a guardiã
original do planeta Mercúrio e
seu nome significa
"Conselho". Ficou grávida
depois da aventura. Gaia então
anunciou a seu neto Zeus que
o primeiro filho de Métis seria
uma menina, mas, se a
Titanesa sobrevivesse, ela
poderia dar à luz um menino
que suplantaria Zeus. Como o
seu pai, Cronos, antes dele,
Zeus resolveu agir e engoliu
Métis, embora ela tenha
sempre continuado a lhe dar
"conselhos" de dentro de seu
estômago. Mais tarde,
enquanto Zeus passeava pelas
margens do lago Tritão, na
Líbia, teve uma dor de cabeça
insuportável. Seu filho Hefesto
aliviou sua dor com o
expediente original de
partir a cabeça dele em duas partes. Dali surgiu Palas Atená, filha de
Métis, vestida de armadura, soltando um grande brado.
Como filha do cérebro de seu pai, é natural associar Atená com o
intelecto humano. Mas suas raízes são muito mais profundas e
estendem-se na Antiguidade. Um de seus principais atributos é o escudo
que leva, cujo brasão é a imagem da górgona Medusa, um demônio
feminino com cobras em vez de cabelos. De acordo com a lenda, foi
Teseu quem matou a Medusa com a ajuda de Atená, que lhe deu aquele
troféu. Os mitologistas vêem uma identidade entre Atená e essa temível
dama das cobras. Partindo do fato de que ela emergiu no lago Tritão, na
Líbia, Robert Graves acredita que Atená era uma encarnação grega da
deusa líbia Neith das cobras, e a maior parte dos historiadores
feministas de mitologia seguiram essa interpretação76. Mas, é possível
que as origens verdadeiras de Atená venham de tempos ainda mais
remotos. Muitos estudiosos acreditam que a famosa Senhora das Cobras
do palácio cretense de Cnossos não é uma sacerdotisa, mas uma deusa,
e que essa deusa é uma forma primitiva, minóica, de Atená. A
arqueóloga Marija Gimbutas afirmou que a cultura minóica de Creta é a
última sobrevivente e o maior desenvolvimento da antiga cultura
neolítica do sudeste da Europa. Afirma ainda que uma das principais
deusas dessa cultura neolítica (c. 6000 — 3500 a.C.) era uma Senhora
das Águas cuja epifania ou forma física era incorporada na cobra, e que
essa era a Atená "original'' — que era portanto um tipo de deusa da
fertilidade, doadora da
chuva, que trazia a vida77. Mas, se
era celestial, era também ctônica,
uma criatura do mundo subterrâneo,
e — de um ponto de vista astrológico
— há fortes ligações entre Palas
Atená e o arquétipo de Plutão.
As cobras representavam
papéis importantes nos ensinamentos
secretos e mistérios sobre a vida, a
morte e a imortalidade (Escorpião), e
Atená era, para os gregos, a deusa da
sabedoria. Dessa forma, podemos
concluir que Atená possuía a
sabedoria não apenas do intelecto,
mas a sabedoria feminina instintiva
sagrada à deusa. Algo dessa Atená
mais primitiva sobreviveu na
atribuição da coruja para essa deusa
76. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., Vol. 1, pp. 44-5.
77. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, ibid., pp. 18, 145-51.
Cabeça de Atenas envergando um
capacete paramentado com penas de
grifo, em um didracma de Velia,
Itália, entre 400 e 350 a.C. Da
coleção de Michael A. Sikora
como pássaro sagrado. A coruja sempre foi conhecida como o pássaro
de "sabedoria" — e tipicamente pensamos que isso significa um
conhecimento ou compreensão interior profundo, e não a sabedoria de
um tipo puramente intelectual. O fato de os gregos a haverem feito
deusa da sabedoria intelectual não diz tanto sobre Atená quanto sobre
os próprios gregos, que glorificavam o processo intelectual. O
conhecimento de Atená, porém, nunca era puramente cerebral: era útil.
Conta-se que Posídon e Atená tomaram parte numa competição para
determinar qual deles se tornaria a divindade padroeira de Atenas.
Posídon criou o cavalo; Atená, a oliveira. Como a oliveira era
considerada de maior utilidade que o cavalo, Atená venceu a
competição — e, é claro, a cidade de Atenas leva seu nome até hoje.
Conta-se também que ela inventou a tecelagem, a culinária, a cerâmica,
a matemática, o arado, o carro e o método de construção de navios —
todas as artes "úteis". Entre os romanos guerreiros, Atená era exaltada
na arena de batalha. Seu nome latino era Minerva; era renomada por
suas habilidades de estratégia no campo de batalha. Como guerreira,
porém, Atená era estrategista e pensadora, e não uma açougueira.
Sempre preferiu a diplomacia e a negociação ao conflito aberto.
O retrato que se fez de Palas Atená, mesmo na literatura feminista
contemporânea, concentra-se em seu papel como filha do patriarcado,
ou seja, filha de Zeus78. Astronomicamente, é verdade que Palas Atená
está mais perto de Júpiter do que os outros quatro grandes asteróides.
Não é inteiramente incorreto dizer que ela está dentro da sombra de
Júpiter. É também verdade que Atená deu o voto decisivo no
julgamento de Orestes — um caso que envolvia a questão do direito
maternal versus direito paternal. O voto de Atená, contra a mãe, foi
interpretado como uma tendência patriarcal da parte dela. Mas, essa
tendência patriarcal não era tanto característica de Atená quanto um
sinal dos tempos. Atená é o sustentáculo das leis e da justiça e, como
agente delas, reflete as leis que governam a Terra num determinado
momento.
Podemos assim observar que a evolução de Palas Atená, desde a
deusa cobra primordial, possuidora e protetora da sabedoria feminina,
passando pela "filha do patriarcado grego" até a deusa romana da
guerra, traça um caminho paralelo ao das mulheres através dos séculos.
Até o fim do século XIX, as mulheres não tinham o poder de
desenvolver seus próprios dons intelectuais e, realmente, eram punidas,
condenadas ou queimadas na fogueira se ousassem mostrar qualquer
conhecimento de cura ou magia. Como os tempos mudam e a sabedoria
feminina foi novamente devolvida a seu prestígio primitivo, a sabedoria
de Palas Atená será novamente honrada e celebrada em suas muitas
formas.
78. Bolen, Jean Shinoda, Godesses in Everywoman, Nova York, Harper and Row,
1985, pp. 75-106; e George, Demetra, Asteroid Goddesses, ibid., pp. 80-116.
Diferentemente de muitos deuses e deusas do Olimpo, que
preferiam ficar por lá consumindo néctar e ambrosia, essa deusa estava
longe de ser inativa. De fato, uma pessoa com uma forte assinatura de
Palas Atená no mapa astral pode simplesmente não saber como relaxar.
Atená era uma deusa muito dotada, inteligente, corajosa, inventiva e
industriosa. Podemos identificar a função mais importante de Palas
Atená no mapa astral — sua estratégia, julgamento e sabedoria —
encontrando sua casa e posição de signo.
Podemos ver se é Atená, a artesã habilidosa, Atená, a estrategista,
Atená, a guerreira, Atená, a intelectual, Atená, a inventora, Atená, a
industrialista ou Atená, a conhecedora dos mistérios da vida, quem atrai
mais a atenção do indivíduo. Por exemplo, no mapa dos Estados
Unidos, Atená está em Aquário, em conjunção com a Lua, uma
assinatura que com certeza se relaciona ao uso inventivo e altamente
habilidoso da tecnologia que esse país buscou em seu desenvolvimento
contínuo. Também sugere a glorificação aberta dos técnicos habilidosos
que abriram caminho em um país que luta para manter uma liderança
competitiva entre as nações industrializadas. Atená em conjunção com a
Lua também daria apoio à idéia de que as oportunidades das mulheres
em posições de administração e mesmo de liderança estão disponíveis
em um país em que todo o necessário para avançar é a ambição de
"fazer bem-feito". A China tem Atená em Virgem e, como esse é o
mapa do governo mais recente (a Revolução de 1949), essa posição de
Atená reflete a percepção do mundo das forças trabalhadoras chinesas e
sua capacidade de criar, de forma laboriosa mas eficiente, artigos em
miniatura e peças de maquinado em milhares de fábricas.
Cabeça arcaica de Atenas e uma coruja, de um tetradracma do século V a.C
reproduzido numa nota grega atual (1944). Da coleção de Michael A. Sikora
Não é segredo que a
Filha favorita de Zeus era
Atená, e os gregos refletiam a
opinião de seu deus principal
honrando-a abaixo apenas de
Zeus. Assim, estabelece-se o
laço pai-filha, assim como o
laço mãe-filha é encontrado
em Deméter e Perséfone. A
relação paradoxal de Atená
com seu pai — e, por
extensão, com a visão de
mundo dominante simbolizada
pelos rei dos deuses — foi
responsável pela imagem mais
popular da deusa em nosso
mundo moderno. Seja sob o
ponto de vista da astrologia79
ou da psicologia junguiana80, a
mulher de Atená é
prontamente reconhecida
como um arquétipo — talvez
mesmo como um estereótipo.
Fortemente armada por trás de
suas defesas emocionais,
desdenhando relacionamentos
por opção, ela sai ao mundo
armada com sua valise e
vestida em um terninho cinza
com ombreiras exageradas.
Como mulher de negócios,
joga mais pesado que os
homens, e se deleita em
superar no poder (Margaret
Thatcher se encaixa nesse
arquétipo). Toni Wolff e Linda Schierse Leonard chamaram esse tipo de
Atená de "Amazona de armadura"81. Mas, esse é apenas um dos
aspectos de Atená, e não necessariamente sua manifestação mais
saudável. É verdade que a maioria das Amazonas tende a ser Atenas;
mas a maior parte das Atenas não é amazona.
79. George, Demetra, Asteroid Goddesses, ibid
80. Bolen, Jean Shinoda, Godesses in Everywoman, ibid., pp. 75-106.
81. Whitmont, Symbolic Quest, ibid.; e Linda Schierse Leonard, The Wounded Woman,
Boulder e Londres, Shambhala, 1983.
Gravura do século XIX de Palas Atená, a
partir da estátua original de Fídias
O Tholos de Delfos, Grécia, é uma das inúmeras construções erguidas dentro do perímetro
consagrado a Atená. Começo do século IV a.C. Fotografia de
Ariel Guttman
Para perceber genuinamente o potencial incorporado nessa deusa ou
asteróide, é necessário incorporar algo de sua sabedoria profunda, de
coruja, de serpente.
Para identificar um modo específico de sabedoria de Atená em
qualquer mapa astral, é preciso primeiro determinar como ela se
relaciona com os signos e planetas que representam o simbolismo do
pai nesse mapa. Quando Atená é dominante em um mapa, com
frequência há uma forte projeção do pai no início da vida da criança.
Seja aceitando a projeção do pai, o que uma Atená provavelmente faria,
ou rejeitando-a, o que pode ser simbolizado por um trânsito inicial de
algo como Urano para Atená, o objetivo principal é atravessar o escudo
e a armadura e entrar em contato com a sabedoria pessoal do indivíduo.
É freqüentemente um choque para aqueles que vivem na sombra ou na
projeção do pai por toda a vida ter de encarar o fato de que isso não está
mais dando certo para eles. Cabe então a essas pessoas entrar em
contato com seu próprio senso de sabedoria interior, saindo da
armadura que usaram por tanto tempo.
Nessa arena do amor, Atená parece estar em sua posição mais
fraca e sua armadura simboliza a dificuldade que ela tem em estabelecer
um relacionamento íntimo. Muitos deuses e titãs se ofereceram para
casar-se com ela, mas ela rejeitou a todos. Com freqüência, ela nem
mesmo conseguia compreender as implicações sexuais de um
relacionamento. Por exemplo, uma vez pediu a Hefesto que lhe forjasse
uma armadura. Hefesto replicou que faria isso "por amor". Atená
ingenuamente pensou que o ferreiro celestial pretendia trabalhar para
ela apenas pela bondade de seu coração, mas Hefesto, que estava
acostumado a ser pago por seu trabalho, queria dizer algo muito
diferente com a palavra "amor". Quando tentou atacá-la, ela resistiu.
Hefesto ejaculou em sua coxa. Enojada, limpou o sêmen com um
pedaço de lã e o jogou na terra. Dessa fonte improvável nasceu
Erictônio, filho de Atená. Era meio homem e meio serpente, e portanto
uma representação da Atená primitiva, ctônica, a Dama das Serpentes;
mas foi também o primeiro a instituir o "direito-patriarcal" na antiga
Grécia e a considerar a linhagem pelo lado paterno. Mas, se Atená
evitava relacionamentos, não era tão brutal quanto Ártemis, que cortou
Acteão em pedacinhos por espiar sua nudez. Tirésias também teve uma
visão assim de Atená; como punição, ela o cegou, mas abrandou a
sentença dando-lhe visão interior, o poder da profecia. E ela fazia
questão de que sua beleza de olhos cinza fosse reconhecida; como Hera
e Afrodite, tomou parte no famoso julgamento de Páris, quando o
príncipe troiano teve de julgar qual das deusas era a mais bela (escolheu
Afrodite). Vale notar, porém, que, quando cada uma das deusas tentou
chantagear Páris oferecendo-lhe certos favores, Palas Atená ofereceulhe
algo eminentemente prático e patriarcal: disse que lhe daria a vitória
na batalha.
O julgamento de Páris, de um vaso grego do século III a.C.
Quando alguém deve competir habilidosamente e com sucesso
em um "mundo de homens", com frequência não há tempo ou lugar
para desenvolver a sensibilidade emocional, ou assim devemos pensar.
Porém, o oposto é o verdadeiro — a vitória é alcançada quando
elementos femininos de sentimento, compaixão e sensibilidade são
adicionados às faculdades da ingenuidade e da inventividade,
especialmente porque a compaixão é provavelmente algo que o
oponente não tem. De fato, conforme cada vez mais mulheres entram
no mundo da política, dos negócios, da medicina e do direito, o
ingrediente extra parece ser que ela pode e faz tudo! Esse é o
arquétipo da supermulher que surgiu na década de 1980 — a mulher
que podia cuidar do lar e da família, tratar de ocupações profissionais,
controlar o orçamento, manter relações sociais e resolver o problema
de todos os que a rodeavam — em suma, a personificação de Palas
Atená.
Durante os últimos vinte anos, Palas Atená tem sido um dos
arquétipos mais dramaticamente visíveis a emergir na consciência
ocidental. Mas o asteróide, é claro, tem também um papel nos
horóscopos dos homens. E, se Palas Atená com freqüência aguça os
dons intelectuais das mulheres ou lhes dá grande força para enfrentar o
mundo patriarcal, provavelmente fará o oposto nos mapas de homens.
Há um efeito de abrandamento: quando Palas Atená é forte no mapa
de um homem, ele muito provavelmente será capaz de abrandar sua
inclinação racional e científica com um pouco de compaixão ou
sensibilidade — com a profunda sabedoria simbolizada pela coruja e
pela serpente, que tornam o conhecimento "útil".
Palas Atená está entre Marte e Júpiter e sua revolução orbital
leva aproximadamente cinco anos. Assim, mais ou menos a cada cinco
anos
temos um retorno de Palas, um trânsito que pode ser usado como um
tempo para renovar ou entrar em contato com a sabedoria e a habilidade
interiores, um período em que, em qualquer acontecimento competitivo,
o indivíduo terá mais chances de se sair vitorioso. Pode também apontar
um período em que o indivíduo está seguindo um caminho de estudo
intensamente concentrado, que resultará num sentimento de
superioridade, desenvolvimento ou iluminação.
Cabeça de Juno, segundo a Juno de Ludovisi. Museu Ludovisi, Roma
O casamento é a grande coroa de Juno:
Ó abençoado laço de cama e mesa!
— Shakespeare,
Como Você Quiser (As You Like It), V, IV
Como outras deusas da
mitologia grega, a história de
Juno (Hera) trata de conquista e
subjugação da deusa do céu.
Homero com freqüência
descreve Hera como "Hera dos
braços brancos", e a cor branca,
junto com a posição de Hera
como deusa do relacionamento,
levou alguns mitologistas a crer
que ela era originalmente a
deusa em seu aspecto de Lua
cheia. Seu pássaro era o pavão;
seu animal sagrado, a vaca. Era
associada à cidade de Argos;
dizia-se que tomava seu banho
anual em uma fonte sagrada
perto dali, um rito que renovava
sua virgindade. Outro lugar
consagrado a ela era a ilha de
Samos, no mar Egeu, onde
passou sua noite de núpcias com
Zeus — uma noite que durou
trezentos anos.
Quando Zeus (Júpiter)
exigiu Hera como esposa, não
estava simplesmente tomando uma parceira de casamento, mas
incorporando em seu domínio todo o mundo patriarcal, antes regido por
sua nova noiva. Quando os invasores indo-europeus entraram na
Grécia, acharam necessário incorporar muitos dos costumes religiosos e
rituais já existentes no novo sistema, para que a população nativa lhes
oferecesse menos resistência. De acordo com a estudiosa clássica Jane
Ellen Harrison, muitos dos deuses gregos eram ritualmente casados
com algum dos aspectos da deusa, para incorporar os dois sistemas82.
Dessa forma, Hera foi associada ao novo governante dos deuses, Zeus.
Na esfera social humana, isso corresponde ao costume de casamentos
arranjados, matrimônios de conveniência em que duas famílias, nações
ou oponentes políticos poderosos concordam em uma aliança política
ou social unindo suas famílias e futuros herdeiros, tradição que tem sido
repetida por séculos, especialmente
entre a realeza e nas famílias
poderosas, como meio de aumentar
seu poder e posses.
Em tempos pré-Grécia, Hera era
o nome pelo qual a Grande Deusa era
conhecida na região de Argos. Seu
casamento com Zeus lhe deu uma
posição especial como um dos
olímpicos; além de ser esposa de
Zeus, era também sua irmã, uma das
filhas de Réia engolidas por Cronos.
O historiador astrológico Rupert
Gleadow relata que ela regia o signo
de Aquário nos tempos antigos, o que
punha o próprio Zeus como seu
opositor, como antigo regente de
Leão83. Mas os especialistas em
asteróides Zipporah Dobyns e
Demetra George sugerem uma
regência de Libra para Juno84. Libra,
como Aquário, é o signo do lar, mas
está relacionado à igualdade e
relacionamentos de pessoa para
pessoa, e não a relacionamentos com
a comunidade como um todo, como
Aquário.
82. Harrison, Jane Ellen, Prolegomena to the Study of Greek Religion, Cambridge, MA
Cambridge University Press, 1922.
83. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, Nova York, Castle Books, 1968, pp. 80-
1.
84. Dobyns, Zipporah, Expanding Astrology's Universe, ibid., p. 61; e George,
Demetra, Asteroid Goddesses, ibid., pp. 169-70.
Juno ou Hera
Zeus e Hera numa moeda grega antiga, reproduzida numa nota grega de 1944. Da
coleção de Michael A., Sikora
Libra realmente parece um signo adequado para a regência de
Juno; seu nome foi dado ao mês de junho, um mês ainda bastante
escolhido para realizar casamentos. Ela presidia à instituição do
casamento e era sempre invocada nas cerimônias nupciais da
Antiguidade.
Em Roma, a palavra juno para mulheres correspondia à palavra
gênio para homens; esses termos diziam respeito à alma ou, mais
precisamente, ao espírito vital interior ou princípio animador. Cada
mulher trazia consigo parte da deusa como parte da alma. Mais tarde, a
palavra juno caiu em desuso, mas gênio continuou comum, o que talvez
tenha dado aos Pais da Igreja do início da Idade Média a idéia de que as
mulheres não tinham alma85. Uma distinção de Juno era ser uma das
únicas duas deusas (além da deusa do amor, Afrodite) no Olimpo
legalmente casada. Seu casamento com Júpiter era tempestuoso e
turbulento; a mitologia grega está cheia de histórias de suas brigas: as
recorrentes infidelidades dele, os ataques de ciúmes dela e suas
tentativas mútuas (com freqüência bem-sucedidas) de vingar-se um do
outro. Podemos nos perguntar por que Júpiter, que podia ter qualquer
mulher no mundo ou deusa no céu, continuava com um relacionamento
desses. Mas, se não fosse casado com Juno, Júpiter não seria ele
mesmo, pois Juno é a personificação
85. Walker, Barbara G., The Woman's Encyclopedia of Myths and Secrets, San
Francisco, Harper and Row, 1983, p. 484.
da polaridade feminina de Júpiter, assim como Júpiter é a
personificação do lado masculino de Juno. Sua força e temperamento
davam poder a ele e vice-versa. Seu relacionamento é um protótipo da
importância que o casamento, não importa o quão turbulento seja, tem
para um líder político de alta visibilidade ou monarca.
Seu casamento não era sempre tempestuoso. No início, Júpiter
cortejou e seduziu Juno, perseguindo-a muito apaixonadamente. Ela
tentou resistir, mas acabou por sucumbir a seus avanços. Contudo, não
estava feliz em ser a esposa de alguém, mesmo de Júpiter. Preferia viver
como as mulheres viviam antigamente, na era da Deusa, livres e
independentes, buscando relações abertamente em seus próprios termos.
No início de seu casamento, ela ficou cansada da arrogância de Zeus e
de seus modos senhoris. Reuniu todos os outros olímpicos em uma
conspiração — a única que não participou foi Héstia (Vesta), a mística e
reclusa deusa do fogareiro. Zeus foi amarrado enquanto dormia. Hera
tomou controle do monte Olimpo; havia uma rainha dos deuses, e não
mais um rei. Mas, Tétis, deusa do mar, teve pena de Zeus e chamou o
gigante de cem braços, Briaréu, para libertá-lo. Enfurecido pela traição
de Hera, Zeus pendurou-a no céu, com os tornozelos atados em
correntes de ouro. Os outros deuses ficaram embaraçados ao vê-la
daquele jeito, pendurada no abismo do céu, contorcendo-se e gritando;
mas tinham medo de reclamar com o irado Zeus. Hefesto, filho
rejeitado de Hera, finalmente convenceu Zeus a libertar sua mãe. Zeus
continuou a ser seu esposo, mas deixou-a sempre sob vigilância86.
Já se sugeriu que a posição de Juno no horóscopo relaciona-se ao
potencial de casamento de um indivíduo. O estudo feito em casamentos
de longa duração revelou que o Juno de um parceiro em aspecto com o
ascendente/descendente (o eixo na astrologia relacionado a
relacionamentos e casamento) da outra pessoa era o aspecto que ocorria
com mais freqüência nos mapas desses casais87. Mas, não importa a
posição que ocupa no mapa individual, deve-se admitir que o
casamento de Juno com Júpiter era normalmente tempestuoso. Como
ela representa a instituição do casamento e sempre foi evocada para
abençoar as núpcias, sua posição deve ser sempre levada em
consideração ao se estudar os mapas daqueles que desejam se casar,
além de sua posição na data pretendida. Aspectos harmoniosos de
outros planetas principais com Juno ajudam a prever um futuro positivo
para o casal.
O ciúme e o espírito de vingança de Juno em relação a Júpiter não
se baseavam apenas em seus freqüentes casos extraconjugais. Tinha
também a ver com o fato de que ele continuamente mentia para ela
86. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid, Vol. 1, pp. 50-5.
87. Guttman, Ariel, Astro-Compatibility, Euclid, OH, RKM Publications, 1986, pp. 11-
14.
sobre suas escapadas. Como
amante, usava muitos
disfarces, pensando que
estava enganando todo
mundo. A humilhação de
Juno aumentava a cada novo
caso, depois do qual Júpiter
voltava para casa e lhe pedia
perdão, apenas para repetir
suas infidelidades
novamente. Talvez, no
início, Juno tenha perdoado
uma ou duas violações ao
sagrado voto do casamento,
mas, quando o contrato
começou a ser
repetidamente violado, não
havia mais como aceitar ou
perdoar. Padrões similares
entre indivíduos modernos
podem atingir o ponto em
que a irritação vira raiva, a
raiva vira doença e algumas
vezes alguém é consumido,
mata ou é morto por causa
disso. A freqüência de crimes passionais atualmente indica uma
disfunção coletiva de Juno.
Em um dos mitos, a ira de Hera fica visível de um jeito muito
gráfico. Algumas histórias falam do monstro Tifão como filho de Gaia,
morto em combate com Zeus. Mas, outra versão conta que a monstruosa
serpente ou dragão era filha de Hera. Espumando de ciúme por ter Zeus
dado à luz Palas Atená de sua cabeça, ela mesma deu à luz, sem
intervenção masculina, Tifão. A serpente é macho, mas no mito é
associada — ou talvez confundida — com Píton, a serpente fêmea de
Delfos. Por isso, em algumas versões da história délfica, Apolo, o filho
favorito de Zeus e herói patriarcal, mata um monstro nascido do ciúme
e da raiva da rainha do céu.
Assim, o aparecimento de Juno em um mapa pode não se
relacionar estritamente a casamento; também representa a raiva
emocional interna que se desenvolve e entra em combustão quando o
ser amado engana, trai ou desrespeita seus votos de lealdade e devoção.
Isso é algo que ocorre freqüentemente no jogo do amor e do casamento.
Não importa o quanto o amor possa ter sumido do relacionamento ao
longo dos anos, quando um dos parceiros abandona o outro por outra
pessoa (seja por uma noite ou permanentemente), a ira de Juno pode ser
sentida.
Hebe
Outra dinâmica do casamento entre Juno e Júpiter ilustra o notório
padrão duplo, ainda em evidência hoje. Para Júpiter, ele podia ter tantas
ligações sexuais quanto desejasse, mas não era assim para Juno. As
Junos dos tempos modernos que se queixam das infidelidades do
parceiro, mas se recusam a fazer qualquer coisa a respeito, ou que
descarregam sua raiva sobre a amante e não sobre o esposo, são
exemplos de um princípio de Juno desregulado no mapa.
Há muita repressão sexual na natureza de Juno. Embora uma
história conte que o profeta Tirésias foi cegado por Palas Atená, outra
história põe a culpa em Hera. Conta-se que Zeus e Hera uma vez
tiveram uma discussão sobre quem tinha mais prazer no sexo — o
homem ou a mulher. Zeus, o eterno playboy, dizia que as mulheres
tinham muito mais prazer no ato do que os homens. Hera,
simplesmente, insistia que os homens faziam o que queriam com as
mulheres e as deixavam sem nada. A discussão ficou mais séria. O
casal apelou a Tirésias para resolver a disputa, porque ele vivera tanto
como homem quanto como mulher. Tirésias respondeu, sem hesitar,
que as mulheres recebiam nove vezes mais prazer do que os homens.
Hera, ainda se recusando a admitir que tinha prazer no sexo, deixou-o
cego.
É interessante notar que o casamento entre Júpiter e Juno
produziu muito poucas crias e que seus filhos, especialmente Marte,
incorporavam
O casamento de Júpiter e Juno
os aspectos tempestuosos e atormentados do relacionamento de seus
pais — exceto Hebe, que pode ter sido, antigamente, o aspecto de
donzela de Hera, e que se tornou copeira dos deuses. Os filhos mais
interessantes e poderosos de Júpiter foram filhos de outras deusas ou
mulheres mortais. Juno deu à luz Marte e Vulcano (Hefesto) e não tinha
afinidade particular com nenhum deles; assim, seu papel no horóscopo
pode ser o de alguém mais preocupado com relacionamentos de casal
do que com relacionamentos pai/filho.
De fato, o relacionamento de Juno com seus filhos, especialmente
com o talentoso Vulcano, aponta para um dos complexos mais
freqüentemente associados a esse arquétipo. Juno é, afinal de contas,
uma rainha — e o trono dourado de Hera era um dos principais
símbolos da deusa. E uma rainha deve ter algo sobre o que reinar.
Embora Juno costume ser um planeta ou arquétipo problemático,
não deixa de ser um tema comum. É, algumas vezes, a "esposa social"
que avalia a vida de acordo com a posição que consegue. Essas pessoas
constroem para si um pequeno reino em sua própria comunidade e
precisam deixar que todos saibam que estão sentadas num trono de
ouro. Para uma mulher desse tipo, o casamento com um médico ou
Hefesto, filho de Hera
com um advogado representa sucesso, enquanto o casamento com um
mecânico ou com um porteiro representa um fracasso. Não importa se o
médico é alcoólatra ou se o advogado bate nela. Não importa se o
mecânico é o mais gentil dos homens ou o porteiro é um poeta
promissor. Um homem com esse tipo de complexo de Juno pode
escolher a líder de torcida arquetípica ou a garota de sociedade,
negligenciando suas necessidades emocionais reais para conseguir uma
parceira que saiba agir corretamente na esfera social. O relacionamento,
seu sucesso ou fracasso, é definido puramente em termos de posição
social.
Essa importância dada à aprovação social é freqüentemente
estendida aos filhos de Juno. Quando Hefesto nasceu, sua mãe Hera
ficou chocada ao vê-lo deformado, feio, repelente. Enojada, atirou-o
longe. Ele caiu do céu dentro do mar. Ali as antigas deusas do mar,
Tétis e Eurínome, encontraram-no, amaram-no, criaram-no. Deram-lhe
uma caverna nas profundezas do oceano e foi ali que seu gênio artístico
começou a surgir; ele tirava pedras preciosas do fundo do mar e as
engastava em broches de ouro e prata. Tétis usou uma dessas belas
peças de joalheria em uma visita ao monte Olimpo, cerca de nove anos
depois. Hera ficou fascinada pelo trabalho e forçou Tétis a revelar quem
havia feito aquilo. Então chamou de volta seu filho rejeitado do fundo
do mar e lhe deu uma fabulosa ferraria no próprio monte Olimpo —
com a ordem tácita de fazer jóias para sua mãe.
O amor da pessoa de Juno por seus filhos é muito condicional —
eles têm de atender a suas expectativas sociais para merecerem afeição.
Hefesto era feio, e de forma alguma tinha a aparência de um deus —
por isso, Hera o jogou fora. Quando o filho da pessoa de Juno se torna
um grande atleta ou o orador da classe, quando passa no vestibular para
Direito (assim como seu pai), o genitor apenas sorri. Esses genitores
podem ignorar a criança ou tratá-la mal se ela não vai bem na escola ou
não tem jeito para esportes, o mesmo se preferir ser jardineiro em vez
de médico. Juno adorará a bela filha que é líder da torcida e parece
perfeitamente madura para arranjar um bom casamento — e a expulsará
imediatamente se ficar grávida antes de terminar o colegial.
Mas, ao final, quem sofre é Juno. Essas pessoas buscam o amor,
seja do parceiro ou dos filhos, mas seu amor depende de posição social
ou sucesso — que tipo de lealdade elas poderiam esperar? Hefesto,
quando chegou ao Olimpo, odiava sua mãe tão profundamente que a
acorrentou ao trono de ouro. Recusou-se a soltá-la até que Zeus lhe
prometeu Afrodite em casamento. O perdedor, o rejeitado, se deu bem
no final. Mas, para fazê-lo, foi obrigado a rebelar-se contra a mulher
que fizera dele, bastante literalmente, um rejeitado. Quando as pessoas
de Juno concentram toda a sua atenção naquilo que querem que seus
filhos sejam ou realizem, e conseqüentemente deixam de lado o
problema de saber quem aqueles pequenos estranhos realmente são,
quase certamente conseguirão o ressentimento de seus filhos, que
lutarão raivosamente contra o status e a respeitabilidade social que
tanto importam a Juno. O vagabundo, o marginal, o delinqüente juvenil
— assim como o artista, o roqueiro, o poeta —, todos eles
provavelmente têm Juno como um dos genitores.
Por muito tempo, Vênus foi erroneamente associada ao casamento
no horóscopo. Isso pode ser devido ao fato de que, por séculos, ela e a
Lua eram os únicos planetas femininos no mapa. Mas, com a adição de
quatro asteróides maiores, as funções próprias puderam ser devolvidas
às deusas apropriadas. Enquanto Vênus é associada a amor e romance,
não é, de forma alguma, admiradora do casamento. De acordo com as
histórias de seu relacionamento com Júpiter, poderia parecer que Juno
tem pouquíssimas razões para apreciar a vida conjugal, mas
mitologicamente ela rege essa instituição. Tipicamente, Juno no mapa
astral representa o tipo de parceiro ou o tipo de casamento desejado. Se
há dignidade e signos de exaltação de Juno, eles provavelmente seriam
Libra e Escorpião, os signos mais associados à formação de casais.
Se Juno está em uma posição "fraca" no horóscopo, talvez afligida
por planetas poderosos como Júpiter, Saturno, Plutão ou mesmo o Sol
ou Marte, a pessoa pode ter uma relação ou relações cheias de desonra e
humilhação; pode ser sujeita à vitimação nas mãos de um parceiro
demasiado poderoso ou ameaçador para ser desafiado. Claro, é possível
que homens também se encontrem nessa situação. Até recentemente,
esses papéis negativos de Júpiter/Juno eram tipicamente representados
por um homem dominante no mundo profissional ou político (Júpiter),
casado com uma mulher que vivia em sua sombra (Juno). Mas,
recentemente tem sido bastante provável que a mulher represente
Júpiter, com uma carreira poderosa e dinâmica e poder ameaçador
sobre o marido, que se sente insuficiente ou impotente. Também é
verdade que muitas mulheres com o arquétipo de Juno forte vivem na
sombra de seus maridos e ficam gloriosamente contentes com essa
posição88. Outras permanecem no relacionamento por medo, vergonha
ou culpa, sentindo que não têm alternativa.
Freqüentemente se nota, em comparações de mapas, que contatos
de Juno de um mapa para outro "amarram" um casal de maneira
inexplicável. É definitivamente importante averiguar esses contatos de
Juno, ao se examinar a significância astrológica de um relacionamento.
Os aspectos de Juno com planetas, outros asteróides e particularmente
os ângulos do mapa de um parceiro em potencial dão pistas sobre o que
esperar do casamento e como fazê-lo funcionar.
88. Bolen, Jean Shinoda, Godesses in Everywoman, ibid., pp. 139-67.
Juno era uma poderosa chefe de Estado, rainha do Olimpo, por ser
a primeira das filhas de Réia a emergir das mandíbulas de Saturno. Há
muitos indivíduos de Juno que, por alguma razão, decidem "casar-se"
com suas posições na vida, em vez de escolher outro indivíduo. As
posições escolhidas por Juno, não importa em qual área, envolverão,
tipicamente, poder. As lutas pelo poder, similares àquelas entre Juno e
Júpiter, podem também envolver os pais, superiores hierárquicos ou
mesmo irmãos e namorados. Isso não quer dizer que Juno sempre estará
no poder, mas, quando Juno é dominante no mapa de uma pessoa, ela
provavelmente experimentará ambos os lados do jogo de poder —
como alguém que é inicialmente explorado pelo sistema (talvez devido
à discriminação sexual, racial ou outra), mas que tem a força, a vontade
e a determinação (e por vezes o espírito de vingança) para lutar e acabar
por dominar um sistema que outrora o subjugara.
Assim, Juno no mapa astral descreve, na pior das hipóteses,
sentimentos de vitimação ou ciúmes em relacionamentos devido ao
excesso de entrega ao poder do outro para salvar a relação; e, na melhor
das hipóteses, um poder realmente centrado na pessoa, revelando um
carisma e um magnetismo que são transmitidos a todos que entram em
contato com ela.
Héstia, nas mais altas moradias,
tanto de deuses imortais como de homens que andam sobre
a terra,
alcançastes uma residência eterna e a mais elevada honra,
além de um prêmio justo e honorífico: pois sem ti
não pode haver festivais entre os mortais, se no princípio
a tua não for a primeira e a última libação do vinho doce
como o mel.
Hino Homérico a Héstia
Como as outras deusas
cujos nomes os asteróides
receberam, Vesta passou por
algumas mudanças radicais
durante sua longa história. É uma
das mais antigas e mais
respeitadas deusas, e aquilo que
representa ainda é visto como
sagrado.
Quase todos os povos
tribais vêem o centro da aldeia ou
o centro do lar como centro
simbólico de todo o universo.
Esse tipo de pensamento baseiase
na noção de que a humanidade
é um microcosmo do universo;
somos o cosmo em miniatura.
Um xamã Lakota, por exemplo,
viaja ao outro mundo subindo
pela coluna de fumaça que sai
pelo buraco central do tipi. Por
quê? Porque o fogo e a coluna de
fumaça simbolizam a árvore no
centro do mundo, a árvore em
que o xamã sobe para atingir o
mundo dos
deuses89. O fogo que arde no fogareiro de cada casa da aldeia é o centro
visível do universo familiar. O nome grego de Vesta, Héstia, significa
literalmente "fogareiro". O fogareiro ou lareira, como ponto central,
também simbolizava o aspecto doador de vida da deusa, o foco da vida
doméstica. O fogo da lareira nunca podia extinguir-se e era sempre
fonte de inspiração e renovação.
Há pouquíssimas personificações de Vesta no mundo antigo.
Talvez seja porque ela representa o espírito interior, difícil de
personificar. No mundo moderno, é difícil imaginar como é a reunião
em torno do fogareiro familiar, permitindo que a presença de Vesta
capture nossos espíritos. Hoje, a família senta-se em volta da televisão e
tem uma experiência totalmente diferente. Mas, todos os que já se
sentaram em torno de uma fogueira de acampamento ou de sua própria
lareira sentiram a mágica operada pelo fogo sobre eles. Quando se olha
para o fogo, ocorre uma alteração de energia. É muito fácil encontrar
alguém entrando em um estado semelhante ao transe ou ao menos
alterando seus padrões sensoriais, tornando a mente mais relaxada e
calma. Assim, a presença invisível de Vesta como um espírito do fogo
nos permite variar nossa concentração entre o lado esquerdo do cérebro
e o lado direito. Quem quer que já tenha participado de um
acampamento em grupo pode testemunhar a capacidade do fogo de
purificar pensamentos, trazer unidade ao círculo, exercer uma influência
calmante sobre todos os
presentes e "divinizar" o ar.
No Antigo Testamento, Deus
aparece a Moisés no monte
Sinai em forma de uma sarça
ardente. Também levou os
israelitas à Terra Prometida
guiados por um pilar de fogo
e nuvens. Na cabala, o fogo é
visto como o Shekinah, a
presença feminina interior de
deus — para os gregos,
Héstia. Seu objetivo é
concentrar, fortalecer,
espiritualizar e divinizar.
Portanto, podemos associar
Vesta àquela motivação
interior que recebe a nossa
maior atenção, a mais
concentrada.
89. Eliade, Mircea, Shamanism: Archaic Techniques of Ecstasy, Princeton, NJ,
Princeton-Bollingen, 1972.
O fogo é um símbolo apropriado para Vesta
Assim como há poucas
imagens de Héstia, há
também poucos mitos sobre
ela, embora as referências
que existam sejam
extremamente reveladoras.
Foi a primeira filha de
Cronos e Réia e, portanto, a
primeira a ser engolida por
seu pai. Tendo sido a
primeira a nascer, foi a
última a emergir das
mandíbulas de Cronos
quando os filhos divinos
foram devolvidos ao mundo.
Portanto, Vesta é Alfa e
Ômega, o princípio e o fim,
a primeira e a última. Fez
voto de permanecer
eternamente virgem e, fiel à
sua natureza meditativa,
permaneceu de fora das
brigas dos deuses. Quando
Dioniso tornou-se um dos
deuses olímpicos, foi
necessário que outra
divindade deixasse o
Olimpo, pois só podia haver
doze olímpicos. Héstia ofereceu-se para renunciar; seu culto estava tão
profundamente estabelecido que nada poderia abalá-lo e, além disso,
estava cansada da futilidade dos olímpicos.
Nossas maiores pistas sobre Vesta vieram de Roma, e não da
Grécia. É comum acreditar-se que os romanos simplesmente adotaram
seus deuses diretamente dos gregos, mas isso não é totalmente
verdadeiro. Divindades chamadas Júpiter, Juno, Diana, Saturno, Vesta e
assim por diante eram adoradas na antiga Itália muito antes que os
povos latinos recebessem qualquer influência cultural significativa da
Grécia90. Mas, quando os romanos começaram a dominar as Cidades-
Estado gregas, desenvolveram uma espécie de complexo de
inferioridade por sua própria falta de sofisticação cultural. Assimilaram
de boa vontade a mitologia mais desenvolvida dos gregos, combinando
os mitos gregos
90. Dumezil, Georges, Archaic Roman Religion, Chicago e Londres, University of
Chicago Press, 1970, 2 vols.
Vesta, ou Héstia
com suas próprias divindades, muito mais rústicas. Porém, O conjunto
dos primitivos deuses itálicos nunca foi deixado de lado; o deus da
guerra italiano, Marte, era cultuado mais profundamente pelos romanos
do que Ares jamais fora pelos gregos. Uma situação similar ocorre em
relação a Vesta, antiga deusa romana do fogareiro que foi sincretizada
com a grega Héstia; pois em Roma, as sacerdotisas de Vesta, as virgens
Vestais, gozavam de uma posição única no mundo antigo.
Contudo, para compreender mais claramente o que representavam
as virgens Vestais, voltemos à idéia de que o homem é o microcosmo e
o universo é o macrocosmo. O poder vital que está no centro do
universo não apenas tem seu análogo no lar e no fogareiro mundanos,
como tem também sua correspondência no corpo humano — o mais
significativo dos microcosmos. Esse poder vital é normalmente
representado como um fogo ou uma serpente — o shatki ou kundalini
dos hindus, o Shekinah ou presença interior de Deus cultuado pelos
cabalistas judeus. As virgens Vestais não apenas cuidavam do fogo
verdadeiro que era o centro simbólico do Império Romano; também
cuidavam do fogo interno, que era o espírito vital das pessoas. Faziam
voto de celibato; no centro de sua ordem estava a mais direta ligação
com a divindade que um mortal poderia experimentar. As Vestais
refletiam a luz do sagrado. Gozavam dos mais extraordinários
privilégios de império romano. Se uma vestal encontrasse um
prisioneiro a caminho da execução, podia libertá-lo. Eram as guardiãs
de importantes testamentos e documentos públicos; Marco Antônio
teve de obter o testamento de Júlio César com as Vestais antes de poder
lê-lo em voz alta em sua famosa oração sobre o cadáver de César. Mas,
mesmo sendo as Vestais vistas como especialmente sagradas, era
também sujeitas à mais grotesca das penalidades. Uma virgem vestal
que fosse considerada culpada de quebrar seu voto de castidade podia
ser queimada viva.
Apesar do fato de ser a Igreja cristã, era profundamente ameaçada
pelo poder político das virgens Vestais, as mais importantes devotas
que restaram da Deusa, os primeiros Pais da Igreja fracassaram em
erradicar a adoração de Vesta até o terceiro ou quarto século d.C. As
Vestais estavam entre os últimos pagãos a se render ao cristianismo, e
tiveram uma continuação curiosa na própria Igreja. As freiras da Igreja
cristã, como as Vestais, são virgens consagradas em um casamento com
Deus91.
Vesta é o mais brilhante dos asteróides92, o que é adequado, pois
ela era a guardiã do fogo sagrado. Prometeu pode ter roubado esse fogo
dos deuses para dar à humanidade (ver Urano), mas era Vesta quem o
91. Walker, Barbara G., The Womam's Encyclopedia of Myths and Secrets, ibid., pp.
1046-7
92. Bach, Eleanor, Ephemerides of the Asteroids — Juno, Pallas, Ceres, Vesta 1900-
2000, ibid.
Escola das Virgens Vestais, uma gravura do século XIX
segundo a pintura de Le Roux
mantinha aceso. Os astrólogos Demetra George e Zip Dobyns
sugerem uma regência de Virgem para Vesta93 e, muito antes que o
asteróide fosse descoberto, os gregos associavam a deusa Héstia a
Capricórnio94. Por causa de sua regência sobre o fogo sagrado ou
espiritual, ela também podia ser logicamente associada a Sagitário ou
Escorpião (o próprio fogo do kundalini). De fato, ela parece
participar de todos esses signos; seu fogo é um fogo interior, o fogo
que acaba por nos motivar a viver nossas paixões ou, como diz
Joseph Campbell, a "seguir nossa bem-aventurança".
Examine o mapa de qualquer indivíduo — ou, nesse caso, de
qualquer nação — e a posição de Vesta muito provavelmente revelará
o objeto da mais singular atenção. O mapa astrológico dos Estados
Unidos, por exemplo, traz Vesta em Touro, o que é bastante
adequado para uma nação de pessoas singularmente concentradas em
liderar o mundo em Produto Nacional Bruto. A Vesta em Capricórnio
da Grã-Bretanha nos indica o quanto aquele país honra a tradição, o
comportamento "apropriado" e o sistema de classes. A Vesta em
Leão da França nos lembra que naquele país o amor, a arte, a beleza e
o prazer, em magnífico esplendor, são cultuados acima de tudo (quem
mais poderia ter concentrado tanta energia no palácio de Versailles e
dedicado os frutos dessa concentração ao "Rei Sol", a incorporação
de Leão?). Dane Rudhyar, cuja Vesta estava em Aquário, foi pioneira
no conceito e cunhou a expressão "astrologia humanista" no século
XX.
93. Dobyns, Zipporah, Expanding Astrology's Universe, ibid., pp. 60-1; e George,
Demetra, Asteroid Goddesses, ibid., pp. 124-30.
94. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid., pp. 80-1.
A vestal Tuccia foi acusada de quebrar seus votos, mas, como sinal de sua pureza,
conseguiu realizar o feito de carregar água numa peneira do Tibre até o templo.
De uma ilustração do século XIX, segundo a pintura de Le Roux
Se uma Vesta saudável no mapa astrológico corresponde à
capacidade do indivíduo de concentrar e dirigir seu fogo interior para
uma causa, projeto, ideal ou espiritualidade específicos, uma Vesta
disfuncional resultará em uma completa falta de concentração ou
direção. As pessoas que não possuem as qualidades de Vesta ou cuja
Vesta é aflita tenderão a ser pouco direcionadas, incapazes de definir ou
construir um caminho para si. Isso pode resultar em uma falta de limites
— pessoas com uma Vesta fraca não têm a habilidade de ficar longe da
multidão ou de pessoas que podem tirar vantagem delas. Da mesma
maneira, uma Vesta fraca pode resultar num sistema imune fraco. O
corpo está indefeso contra os exércitos invasores de microrganismos,
assim como o indivíduo está indefeso contra aqueles que queiram
invadi-lo psíquica, física ou emocionalmente. Indivíduos abusados
sexualmente com freqüência têm Vesta em forte aspecto com Marte,
Júpiter ou Plutão, três planetas conhecidos por sua atitude sexual
dominadora, que afirmam "Eu pego o que é meu", sem se importar com
a resposta. Os contatos Vesta-Saturno com freqüência se mostram como
um pai dominante que pode muito facilmente "engolir" o filho, que
subseqüentemente vive com medo dele, como a mitologia da dupla paifilha
deixa claro. Vítimas de abuso na infância e, mais tarde, de
agressão conjugal podem ser indivíduos com uma Vesta dominante,
mas aflita. Vesta não revida com facilidade. Essas pessoas estão
acostumadas a viver na sombra de alguém que pode ser monstruoso ou
terrível. Mas podem conseguir se fortalecer por meio da disciplina que
exercem sobre o desenvolvimento de sua própria devoção espiritual e
fogo interior, de forma que podem conseguir se livrar desses tiranos.
Vesta, o asteróide cuja posição orbital está mais próxima de
Marte, tem uma ligação especial com o planeta vermelho. Ambos
representam a polaridade da sexualidade e ambos tratam de problemas
nessa área. A regência matriarcal de Vesta sobre o fogo da Kundalini é
reminiscente das prostitutas do templo do antigo Oriente Próximo,
enquanto seu simbolismo greco-romano e pós-cristão é identificado
com castidade e virgindade. Portanto, ela representa uma polaridade
que caracterizou a mística feminina por bem mais de mil anos — o
complexo "Madona-Prostituta" que foi a imagem masculina das
mulheres durante os séculos cristãos. Para alguns homens, uma mulher
que não incorpora a castidade virginal é automaticamente uma
prostituta — e, em termos medievais, uma consorte do diabo. Embora
esse dualismo radical tenha estado ausente de nossa mídia e literatura
pelas últimas três ou quatro décadas, ainda é uma assunção tácita entre
homens (e mulheres!) cuja polaridade feminina está profundamente
perturbada. Há ainda culturas inteiras — notadamente o Oriente Médio
islâmico — que levam esse dualismo muito a sério.
Demetra George discute essa polaridade de Vesta atribuindo a ela
uma dupla regência95. A regência proposta é Virgem e Escorpião, dois
signos cujos glifos são semelhantes, exceto porque o glifo de Virgem é
virado para dentro, representando a polaridade ascética ou virginal,
enquanto o glifo de Escorpião é voltado para fora, o que se relaciona
com a expressão exterior da sexualidade da pessoa.
Para os que estão profundamente conscientes do poder da serpente
ou kundalini dentro de si mesmos, há duas respostas básicas e dois
modos de administrar essa força, ao mesmo tempo sexual e espiritual.
No modo de Virgem, o indivíduo de Vesta pode escolher controlar a
força sexual. Na melhor das hipóteses, essa escolha cria o iogue, o
técnico do sagrado que canaliza o poder vital para um caminho de
evolução espiritual consciente. Para nosso modo de pensar
contemporâneo, pode parecer anômalo ver um indivíduo dedicado aos
princípios ou práticas espirituais como alguém que possui também uma
forte sexualidade, embora esse seja exatamente o estado em que a
pessoa se encontra quando Vesta aparece com força no mapa
astrológico. Administrar esse poder com confiança, para atiçar o fogo
interior como um alquimista atiçando o fogo em seu cadinho, é uma
tarefa extremamente difícil, e com muita freqüência o desejo de
espiritualidade da pessoa de Vesta acaba emergindo simplesmente
como repressão sexual. Como Palas Atená, que viveu na sombra de seu
pai por anos, o indivíduo de Vesta pode começar a viver à sombra de
éticas religiosas ou culturais, comportando-se "corretamente" e
sublimando sua natureza sexual para conseguir a aprovação de Deus ou
da sociedade. Mas, a pessoa de Vesta é também capaz de extremo
abandono. Lembre-se de que Vesta abdicou de seu status olímpico por
Dioniso, o deus do êxtase e da embriaguez. Héstia e Dioniso são
emblemáticos da força sexual criativa; ambos são motivados pelo fogo
do kundalini. Mas, enquanto Héstia preservava e controlava essa força,
Dioniso entregava-se inteiramente a ela, em deleite orgíaco. Aqueles
que seguem a polaridade de Escorpião de Vesta podem ter problemas
com promiscuidade (a porção prostituta da dualidade de Vesta) quando
a força psicossexual ou kundalini está à solta. De um modo ou de outro,
o controle apropriado de uma sexualidade extremamente vital está
implícito na personalidade de Vesta — podemos mesmo chamar a isso
o dilema essencial de Vesta.
Lembramos também de outra similaridade entre Virgem e
Escorpião por meio da regência de Ceres sobre Virgem e de Plutão
sobre Escorpião. Ambos enfrentam o sofrimento pela ausência de
Perséfone quando ela está com outro. Ambos simbolizam a necessidade
do indivíduo de reconhecer a sensibilidade e a ligação que temos com
95. George, Demetra, Asteroid Goddesses, ibid., pp. 124-30.
esses relacionamentos primários com o filho ou parceiro, e ambos os
signos possuem a capacidade de incrível concentração interior. A
respeito disso, ambos compartilham o talento de Vesta para a finalidade
dirigida.
Na análise do mapa, Vesta reflete o senso de direção espiritual de
um indivíduo. Quer que as pessoas sigam conscientemente um caminho
espiritual ou simplesmente o desejo de seu coração e suas necessidades
naturais, Vesta ajuda a definir e concentrar sua intenção. Como Palas
Atená, a incorporação da inteligência criativa cujas habilidades residem
em muitas áreas, Vesta também é enfatizada em muitos domínios. Ela é
capaz de sentir grande paixão como guardiã do fogo interior, mas ao
longo dos anos sua função tem sido domesticar, controlar ou segurar
essa paixão em reserva. Quando as mulheres eram despidas de seu
poder em assuntos da Igreja e do Estado, o espírito das Vestais estava
no subterrâneo, o que para muitas resultou em uma determinação ainda
maior de manter o fogo aceso e dedicar-se à devoção e à adoração em
silêncio, discretamente. Durante os séculos que se seguiram foi a
mulher que, agindo a partir do lar, influenciou aos poucos a direção
espiritual e as escolhas de sua família, de tal modo que aqueles
influenciados por ela são com freqüência motivados a seguir caminhos
que refletem sua experiência inicial de primitivas reuniões de família
em torno do fogo simbólico. Dessa forma, Vesta opera de modos
discretos. Atualmente, porém, podemos ver Vesta agindo mais
publicamente, em uma era em que o espírito das Vestais está em
homens e mulheres que escolheram dedicar suas vidas ao
desdobramento espiritual de si mesmos e de outros, ou que escolheram
agir como representantes espirituais de grandes grupos de pessoas. Esse
processo pode desdobrar-se em silêncio e discretamente, como no caso
de Madre Teresa, ou através de escritos e palestras, como com Lynn
Andrews e Shirley McLaine, que incorporam, todas, uma Vesta forte.
Júpiter e sua águia, do Kunstbüchlin de Jost Amman, publicado por Johann
Feyerabend, Frankfurt, 1599.
E no templo do grande Júpiter
Nossa paz ratificaremos; que seja selada com.
festas.
— Shakespeare, Cimbeline, V,V
96. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid, pp. 29-33.
Para os babilônicos, o
planeta Júpiter era conhecido
como Marduk e, como o grego
Zeus e o romano Júpiter, era o rei
dos deuses. Sua história é contada
no Enuma Elish, o épico
babilônico da criação. Nesse
antigo poema, um monstro
marinho ou serpente marinha
primordial chamada Tiamat reúne
seus exércitos ctônicos para se
revoltar contra os deuses celestes.
Os deuses escolhem, como seu
campeão, o jovem Marduk, filho
do rei do céu. Marduk vai ao
encontro deles em seu carro,
derrota os exércitos da escuridão
e destrói Tiamat. Constrói o céu e
a terra a partir dos restos do
cadáver gigantesco. Coloca as
estrelas em seus cursos e
estabelece o calendário96.
O leitor deve lembrar-se de que esse também é o tema principal na
história de Apolo e Píton, que discutimos no capítulo sobre o Sol.
Realmente, estamos falando exatamente do mesmo mito. Marduk (o
Zeus, o Júpiter) é o rei dos deuses. Apolo é o Sol, e o Sol era o "rei" dos
planetas. O Sol e Júpiter exercem ambos a função real de dar ordem ao
caos e de controlar as energias vitais para a realização consciente. E
realmente, ambos os planetas participam do aspecto masculino que
Robert Bly chama de rei interior.
Em astrologia, porém, o Sol e Júpiter são planetas bastante
diferentes. Cabe ao astrólogo definir a diferença entre esses dois
arquétipos reais. Júpiter com freqüência é descrito como um planeta
social, enquanto o Sol é chamado planeta pessoal — talvez o mais
pessoal dos planetas. O Sol pode trazer a força vital de cada indivíduo
para o controle pessoal dele, e esse direcionamento de poder nos dá um
senso de direção. Pode nos orientar nos negócios, no aprendizado e nos
relacionamentos ou na espiritualidade — qualquer número de objetivos
possíveis. Mas, como estendemos essa energia para o mundo? Como a
nossa energia dirigida funciona na esfera social? O papel de Júpiter é
responder a essas questões. Com Júpiter, nossa vontade dirigida
direciona-se para objetivos sociais específicos e aprende a incorporar
atitudes sociais específicas.
Como rei dos deuses, Júpiter é o administrador do cosmo clássico.
Pessoas com um Júpiter forte
ou elevado normalmente
administram seu
próprio cosmo e, enquanto
um Júpiter proeminente no
horóscopo é tradicionalmente
associado a profissões como
direito, negócios ou educação
superior. Os jupiterianos
podem aventurar-se em
qualquer empreitada, desde
que saibam que estão nos
degraus superiores da escada
social e controlados por
nenhuma lei além da sua
própria. As questões
importantes são: que tipo de
atitude trazemos para a
realização de nossos
objetivos? Que tipo de
espírito incorporamos em
nossa busca pelo sucesso?
Para explorar o papel de
Júpiter no mito, podemos
formar um panorama da
atitude
O deus babilônico Marduk, associado ao
planeta Júpiter
Júpiter trazendo a ordem ao caos, ao derrotar os gigantes
positiva ou bem adaptada de Júpiter. Deve-se dar grande atenção ao
fato de que Júpiter era o rei. Para os antigos gregos, o rei era
essencialmente uma figura paternal, um zelador do povo. A Ilíada de
Homero traça um notável grupo de reis — Agamêmnon, Odisseu,
Menelau, Ájax e assim por diante —, todos reunidos diante dos muros
de Tróia. Esses reis são bastante diferentes; Ájax é todo músculos,
enquanto Odisseu é todo cérebro e Agamêmnon gravita entre a extrema
nobreza e a crueldade, mas todos têm uma coisa em comum: vêem a si
mesmos como protetores de seu povo. Júpiter foi descrito
(especialmente em astrologia esotérica) como o protetor ou "guia
interior" do horóscopo. Um Júpiter na Sexta Casa pode proteger nossa
saúde, enquanto um Júpiter na Décima Segunda Casa pode nos dar
proteção. Abrir caminho no mundo seguindo o caminho de Júpiter pode
nem sempre nos levar à bem-aventurança, mas certamente nos levará a
um tipo de sucesso — e por estágios muito fáceis.
Outra característica dos reis é que eram todos "doadores de
presentes". Quando um bardo cantava ou quando um campeão ganhava
uma competição, o rei tinha de conceder pulseiras, ou gado, ou belas
mulheres. Júpiter num horóscopo pode nos conceder presentes; também
representa nossa própria capacidade de generosidade.
Vamos lembrar o papel de Zeus de conceder a imortalidade
àqueles que julgava merecedores. Quíron foi libertado de seu
sofrimento e posto nos céus como Sagitário como recompensa por seus
serviços à humanidade, embora Prometeu tenha sido condenado a ser
atado numa rocha por outro ato de caridade. Hércules recebeu a
imortalidade por seus atos corajosos e Zeus pôs a imagem de Calisto
entre as estrelas.
Hefesto recebeu a mão de Afrodite em casamento. A palavra de Zeus
acabou por libertar Perséfone de Hades (embora ele tenha
originalmente sancionado o ato de rapto que selou seu destino). Cronos
também foi banido para o Tártaro por Zeus por seus atos desleais.
Asclépio foi atingido por um dos raios de Zeus por despertar os mortos.
Em outras palavras, Zeus tinha o poder e a autoridade, como rei
soberano, para recompensar um e dar a imortalidade a outro, ou
condená-lo a destinos terríveis, segundo seu julgamento daqueles atos.
Não se deve esquecer de que Júpiter é um planeta associado a
advogados e juizes; os trânsitos de Júpiter podem elevar as pessoas ao
estrelato ou à oportunidade de ouro de suas vidas. Pode, da mesma
maneira, fazer julgamentos que resultem no banimento ou na completa
imobilidade.
O rei interior (Sol e Júpiter) organiza e concentra toda a nossa
energia psicoespiritual e a dirige para um objetivo específico, enquanto
o guerreiro (Marte) faz o trabalho real. O Sol pode ser visto como o
cerne essencial de nosso ser, que nos dirige para nosso verdadeiro
objetivo espiritual. Mas, é apenas por meio de Júpiter que tornamos real
esse objetivo, em um sentido mundano. Esse planeta imperial nos
impele a andar no mundo com generosidade e espírito benevolente.
Protege certos caminhos e avenidas de nossas vidas, para que possamos
encontrar uma rota apropriada para o sucesso. Seguir a estrada de
Júpiter para a abundância nos capacita a manter o espírito de
generosidade e boa camaradagem.
Mas, Júpiter tem os seus revezes. Abundância demais também não
é bom. Um exemplo, bem conhecido dos astrólogos, diz respeito ao
corpo físico. Se Júpiter está em uma das casas que pertence ao corpo
físico (Primeira ou Sexta), ou quando está em trânsito nessas casas,
podemos experimentar a abundância física — ou seja, podemos comer
demais e ganhar muito peso! Da mesma maneira, Júpiter pode nos levar
ao excesso de confiança, a uma certa arrogância ou presunção ou a uma
condição de complacência estática. Em combinação com Vênus e/ou
Netuno, pode aumentar a tolerância para sexo, drogas, comida ou
bebida.
Podemos resolver esses revezes de Júpiter com uma visão mais
ampla das coisas. Zeus tinha um trono especial no alto do monte
Olimpo; dali, ele podia ver tudo o que ocorria na Terra, embaixo. Da
mesma maneira, o deus norueguês Odin sentava-se em seu trono em
Asgard, o mundo divino, e olhava para o mundo humano embaixo. Nos
ombros de Zeus pousavam dois corvos, Pensamento e Memória, seus
constantes conselheiros (o tema do trono no alto da montanha será
familiar aos leitores de Senhor dos Anéis). Júpiter rege o signo de
Sagitário, associado à filosofia, conhecido por sua capacidade de obter
uma visão ampla (e por isso tolerante) de toda a atividade humana e de
sintetizar diferentes ramos de conhecimento em um todo vital e
filosófico. Essa
O deus norueguês Odin em seu trono em Asgard, o mundo divino
síntese é um traço muito jupiteriano, embora devamos lembrar que é
difícil notar pequenos detalhes de uma grande altura. Para atingir o
espírito prático que transforma grandes sonhos em manifestação,
Júpiter precisa da ajuda de Mercúrio, o mestre do detalhe.
Vimos Júpiter como o divino guerreiro que se tornou o rei, como
apóstolo da consciência que mata o dragão e como filósofo no alto da
montanha. Mas, e quanto a Júpiter, o amante? Na mitologia grega,
temos a impressão de que que a única função de Zeus era engravidar
deusas, semideusas e donzelas mortais, e assim produzir heróis. Apesar
disso, os astrólogos sempre olharam Júpiter como um planeta
assexuado, sem qualquer papel especial no jogo dos relacionamentos.
Os signos regidos por Júpiter têm poderosas conotações sexuais: Peixes
retira êxtase místico do ato do amor, enquanto Sagitário manifesta uma
sexualidade brincalhona, mas totalmente descompromissada, digna do
próprio Zeus. Mas, a pista verdadeira para o papel de Júpiter no
processo sexual reside no fato de que os mais antigos astrólogos gregos
associavam esse deus a Leão97. Leão é o signo que simboliza os filhos;
97. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid., pp. 80-81.
Júpiter, ou Zeus
os astrólogos lêem a relação de uma pessoa com seus filhos a partir de
uma consideração de Leão ou da Quinta Casa. Na astrologia védica,
Júpiter ainda é visto como significador de filhos, assim como da Quinta
Casa98. Outro significado da Quinta Casa é criatividade.
Eis portanto a razão por trás da prolífica fertilização de mulheres e
deusas por Júpiter. Não se tratava de uma natureza supersexuada, nem
mesmo de uma vontade de envolver-se em um relacionamento; era um
desejo expresso do deus do céu de ser o progenitor de uma nova raça.
As histórias não se concentram nas habilidades amorosas de Júpiter
como, por exemplo, o fazem com as de Marte. Em vez disso, retratam o
ato do acasalamento como especificamente dirigido à produção
prolífica de rebentos. Nunca se diz que Júpiter e sua amante escolhida
são estéreis; sempre nasce um filho, às vezes vários, dessas uniões. As
ações de Júpiter dão fruto. Ele, mais do que qualquer outra coisa, era o
rei dos deuses e, quando reparava em uma mulher particularmente
bonita, fosse deusa ou mortal, casada ou solteira, querendo ou não,
sentia-se obrigado a possuí-la. Não vamos esquecer de que os
arquétipos femininos com quem Júpiter se acasalou eram deusas
poderosas, detentoras da sabedoria feminina. "Acasalar-se" com elas
permitiu a Júpiter adquirir algo de seu conhecimento e também fazer
filhos que poderiam encarnar o melhor da composição genética de cada
um de seus genitores.
98. Braha, James, Ancient Hindu Astrology for the Modern Western Astrologer, ibid.,
pp. 27, 65.
Estátua Criselefantina de Zeus Olímpios, restaurada — ilustração do século XIX
Os muitos filhos mitológicos de Júpiter, portanto, devem ser vistos
como metáforas de sua prolífica criatividade e não como indicações de
uma natureza sexual demasiada ativa. Júpiter é a abundância
personificada e sua natureza abundante é muito adequadamente
expressa na produção de prole. Um jupiteriano de mente estreita pode,
porém, ver seus filhos como posses, contribuições para sua posição
social. Essa tendência de ver os filhos como objetos de status é notável
também no caso de Juno, que era a esposa de Júpiter, sua polaridade
feminina.
Como planeta social, não se espera que Júpiter tenha um
relacionamento pessoal muito profundo com as outras pessoas em sua
vida. Dessa forma, tipos com Júpiter forte terão muitos relacionamentos
com muitas pessoas diferentes, mas são todos intencionais, como os
relacionamentos de Júpiter com as deusas e mulheres que deram à luz
seus filhos. Ele não perdia tempo tentando conhecer melhor aquelas
mulheres e nem precisava disso. Da mesma maneira, seus filhos eram
realmente estranhos a ele (com exceção de Atená, sua favorita). Tinha
orgulho deles ou se aborrecia com eles de acordo com seus feitos e
reputações. Assim é o genitor com Júpiter forte — não quer perder
tempo com a família, mas observa de longe suas ações. Essa visão
distanciada resulta em sua consciência de quando enviar um raio ou
uma jóia — as ações de sua prole o agradam ou o desagradam? É
verdade que Júpiter é exaltado em Câncer, o signo da família. Dessa
forma, podemos dizer que, mesmo se um Júpiter fortemente dominante
não está encarregado do mundo, pode certamente ser considerado o
patriarca ou a matriarca da família.
Isso também ocorre com os relacionamentos com amigos. Os
amigos de Júpiter, nesse contexto, são provavelmente seus pares —
governantes de outros reinos, chefes de outras empresas, socialmente
proeminentes e com uma grande carreira, filantropos ou semideuses da
sociedade. Embora as amizades ocorram entre essas pessoas, elas não
são a força motivadora por trás da atividade jupiteriana. Júpiter não
"necessitava" de amigos, mas necessitava ter o respeito e a admiração
de seus súditos. Usava as pessoas conforme lhe agradava — e suas
ações eram consideradas aceitáveis, pois ele era o rei. Seus interesses
eram supostamente o bem do reino, não o benefício próprio. Um juiz
(uma profissão jupiteriana) que vá pronunciar uma sentença para um
criminoso para determinar se aquela pessoa deve ser encarcerada ou
libertada deverá basear sua decisão no impacto que isso terá para a
sociedade como um todo, e não no fato de ele gostar ou não da pessoa.
Da mesma maneira, os favores de Júpiter ou a falta deles supostamente
nada têm a ver com preferências pessoais, mas são motivados pela
interação daquela pessoa com a sociedade. Por outro lado, temos o
arquétipo de Júpiter, o deus pai, que mostrava muito claramente sua ira
e desagrado
com seus filhos quando eles não correspondiam a suas expectativas com
um comportamento apropriado e digno. O Júpiter astrológico com
frequência mostra o que pensamos que devemos fazer para nos
acomodar aos padrões sociais e "nos encaixar" no sistema. E, quanto
mais nos acomodamos, mais nos encaixamos. Como já observamos,
Júpiter pode não nos levar à bem-aventurança, mas certamente podemos
nos sentir abençoados pelos deuses por atingir a aprovação da sociedade
quando Júpiter está bem integrado. E como Júpiter representa a justiça e
o domínio filosóficos, podemos escolher fazer aquilo que acreditamos
estar certo e assim nos sentimos também espiritualmente
recompensados por Júpiter.
Astrologicamente, Júpiter sempre foi significador de boa fortuna e
companheirismo; outro nome para o deus em latim era Jove, de onde
vem nossa palavra "jovial". E verdade que o grego Zeus podia ser
terrível de vez em quando. Era o deus do trovão, controlador do
relâmpago. Como Palas Atená, usava o terrível rosto da Medusa como
parte de sua armadura e seu pássaro era a nobre, mas predadora, águia.
Sua árvore sagrada era o carvalho, símbolo do reinado (o carvalho é o
rei da floresta), e em Dodona os sacerdotes de Zeus adivinhavam o
futuro ouvindo o murmúrio do vento através de um bosque de
carvalhos. Mas, depois que o culto aos deuses deixou de ser levado a
sério, Júpiter começou a ser visto sob uma luz um pouco diferente. Os
humanistas do fim da Idade Média e do início da Renascença viam o
período greco-romano como uma espécie de período dourado,
suavizado pelo tempo e pela distância (da mesma maneira, os gregos
viam o neolítico como um período dourado e perdoavam a tirania de
Cronos e Saturno, porque haviam governado numa época maravilhosa).
Esses estudiosos da Renascença se lembraram da glória real de Júpiter,
esqueceram sua ira e criaram para si um retrato do período clássico
semelhante a uma grande festa ao ar livre, com ninfas, vinho e o canto
da brisa nas oliveiras. Foi esse Júpiter suavizado pelo tempo que passou
à tradição astrológica. Sagitário, regido por Júpiter, fica no período do
ano entre o Dia de Ação de Graças e o Natal. O espírito da estação,
sempre febril e estressante, está imbuído das atividades jupiterianas de
trocar presentes e oferendas, fazer montes de comida e bebida e reunir
uma família numerosa, não importa a distância entre seus membros. Os
membros da família que normalmente nem se falam durante o resto do
ano têm de pôr de lado suas diferenças e agir como se fossem todos
felizes e unidos. Até mesmo o arquétipo do Papai Noel é confundido
por muitos astrólogos com o arquétipo de Júpiter — ele conhece e vê
todos os seus filhos durante o ano e o número de presentes encontrados
sob a árvore corresponde diretamente ao bom ou mau comportamento
deles. Muitos astrólogos acreditam que o trânsito de Júpiter por um
signo (o que dura
um ano, já que Júpiter dá a volta no zodíaco a cada doze anos) nos
recompensaria com fabulosos presentes apropriados ao signo ou casa
em questão. Por exemplo, o trânsito de Júpiter pelo meio-céu
recompensaria o nativo nos assuntos de carreiras, o trânsito de Júpiter
pela cúspide da Quarta Casa poderia trazer uma situação de vida
melhor, o trânsito de Júpiter para a Sétima Casa poderia trazer um
parceiro maravilhoso, etc. O resultado da atividade de Júpiter em
trânsito pode não ser sempre tão tangível, mas sempre traz
oportunidades para o crescimento e a abundância, tanto interna quanto
externamente.
Com muita frequência, portanto, nos assuntos
humanos estamos sujeitos a Saturno, através do ócio,
da solidão ou da força, através da Teologia e da mais
secreta filosofia, através da superstição, da Magia, da
agricultura e através da tristeza.
— Marsilio Ficino (1433-1499), O Livro da Vida
Saturno constitui um dos
mais complexos arquétipos na
mandala astrológica. A maior
parte dos outros planetas revela
seu lado problemático quando
combinados com Saturno — e,
realmente, Saturno é o capataz
arquetípico entre os planetas.
Escuridão, destruição, doenças e
atraso são todos lançados sobre os
ombros de Saturno. Mas, Saturno
também era o regente da Idade de
Ouro mitológica, a alegre
primavera da humanidade. Reza a
tradição astrológica que os
benefícios de Saturno seriam
maiores — ou ao menos mais
substanciais — do que os de
qualquer outro planeta. Claro, faz
parte da natureza humana botar
toda a culpa em um dos lados da
cerca enquanto coloca
simultaneamente todo o crédito
em outro lugar e, na astrologia,
esses papéis polarizados foram
atribuídos a Saturno
e Júpiter, respectivamente. Mas sempre há dois lados em tudo na
natureza (e na astrologia) e, assim como vimos que Júpiter tem seu lado
negativo, devemos também observar as características mais positivas de
Saturno.
Vamos explorar primeiro o lado escuro dele. Os gregos o
conheciam como Cronos, um dos sete Titãs. Os antigos escritores
gregos tiraram o nome Cronos de chronos, que significa Tempo.
Cronos era filho de Urano (Pai Céu) e Gaia (Mãe Terra). Quando Urano
se tornou tirânico e despótico, Gaia persuadiu Cronos a derrubar seu
pai. Cronos esperou Urano e castrou-o com uma foice; tornou-se assim
rei dos deuses. Casou-se com sua irmã Réia e, como seu pai, tornou-se
um déspota à sua maneira. Começou a acreditar que seus filhos
tentariam destroná-lo, assim como ele destronara seu pai. Logo que
Réia dava à luz, Cronos engolia os recém-nascidos, consumindo sua
própria descendência. Primeiro Héstia, em seguida Deméter, Hera,
Hades e Posídon desapareceram dentro do estômago de Cronos. Mas,
quando Zeus nasceu, Réia embrulhou uma pedra em cueiros e Cronos,
sem perceber, a engoliu. Zeus foi mantido a salvo; quando cresceu,
começou a trabalhar como copeiro para o velho Cronos e lhe deu uma
poção que o fez vomitar todos os filhos. Apoiado por seus irmãos e
irmãs, Zeus pegou em armas contra Cronos e os outros Titãs. Após dez
anos de guerra, os novos deuses, os olímpicos, reinaram supremos.
Cronos e seus irmãos foram aprisionados no Tártaro, uma região escura
e sombria nos confins da terra99.
O Saturno astrológico sempre foi associado à letra da lei e não ao
espírito: os gnósticos e os primeiros cabalistas identificaram Saturno
com o deus do Velho Testamento, que viam como um pai tirânico,
obcecado pelo cumprimento rígido da lei. Realmente, pode ter havido
uma ligação simbólica muito antiga entre Saturno e Javé, pois o sabá de
Javé ou o dia sagrado é no sábado — dia de Saturno.
Há de fato uma associação entre a trindade masculina de paisdeuses
representados por Júpiter, Saturno e Urano, que simbolicamente
representam o pensamento patriarcal religioso e político através das
eras. Urano, o pai original, era a versão grega de Varuna, o deus da
criação védico. Ele governou antes de Saturno. Então veio Saturno,
armado de uma foice, e destronou Urano pela castração, acabando com
seu poder gerador. Em seguida veio Júpiter que, como o "Filho de
Deus" Jesus, foi visto como salvador das gerações futuras, que não
seriam mais governadas por um pai-deus tirânico que engolia seus
filhos. As associações entre o governo de Júpiter e o cristianismo
ajustam-se aos signos astrológicos regidos por Júpiter — Peixes, o
signo associado ao
99. Hesíodo, Theogony and Works and Days, ibid., pp. 7-25.
Saturno prestes a devorar um de seus filhos, do Kunstbüchlin, de Jost Amman,
publicado por Johann Feyerabend, Frankfurt, 1599
cristianismo, e Sagitário, o signo associado a sistemas de crença
filosóficos e à consciência de uma força maior que governa a natureza.
Assim, não é tão importante aqui o pai que derruba o filho, que por sua
vez derruba o outro filho, quanto a tendência de qualquer ordem a dar
lugar progressivamente a uma nova. Embora o judaísmo nunca tenha
derrubado o pensamento religioso pagão, certamente preparou o
caminho para que um sistema de crença totalmente novo tomasse
forma. Da mesma maneira, o cristianismo não derrubou o judaísmo,
mas sua influência formou a cultura ocidental pelos últimos dois mil
anos e o pêndulo da história ocidental inclinou-se numa nova direção.
Pareceria, então, que a trindade de Urano, Saturno e Júpiter representa
três pais-deuses que impingem suas próprias leis de acordo com sua
própria natureza peculiar; é preciso recorrer a essas leis ou resoluções
para ler seu simbolismo na estrutura astrológica.
Saturno com freqüência aparece como um significador do pai em
astrologia, assim como o Sol; mas, no caso de Saturno, a ligação com o
pai com freqüência simboliza problemas com ele. Uma criança com um
pai saturnino tirânico pode ser facilmente "engolida" por esse genitor
dominador. Um Saturno dominante num horóscopo natal pode indicar,
portanto, o pai controlador que tenta moldar seus filhos segundo sua
própria imagem e forçá-los a viver de acordo com seus padrões. Uma
das tristes conseqüências dessa situação é que a criança com freqüência
também se tornará um pai tirânico! Essa criança deve desejar romper
com o papel de pai controlador, mas terá problemas ao fazê-lo — pela
simples razão de que não conhece nenhuma outra maneira de agir.
Afinal de contas, aprendemos como ser pais vivenciando nossos
próprios pais. Zeus derrubou Cronos mas, como o pai, tinha medo de
que um de seus filhos pudesse tentar derrubá-lo. Como nos conta a
psicologia moderna, uma família disfuncional é uma instituição autoreprodutora.
Para se libertar do padrão, a pessoa deve desenvolver um
dos aspectos mais positivos de Saturno — o mentor ou regente da Idade
de Ouro. Essa tarefa demanda dedicação, devoção e uma vida inteira de
trabalho duro. Saturno, quando se manifesta como um complexo
psicológico, agarra-se mais firmemente do que qualquer outro planeta
(com a possível exceção de Plutão). Tentar transformar Saturno no
mestre interior é difícil, porque isso nos força a lidar também com
outros aspectos problemáticos dele.
Cronos terminou sua carreira como prisioneiro no Tártaro. O
planeta Saturno pode, literalmente, colocar-nos em nosso Tártaro
pessoal, trancando-nos em cadeias de desolação tão pesadas que nos
sentimos como se estivéssemos realmente num buraco escuro nos
confins da terra. O que pode intensificar a dor desse tipo de situação (ou
carma, que é uma das associações esotéricas de Saturno) é que Saturno
já esteve lá em cima e caiu no poço escuro e solitário. Foi outrora o
governante de
Os anéis de Saturno, que representam limitações e fronteiras em nossa vida.
Fotografia da NASA
todo um reino e sofreu o banimento e a perda do poder. Esse Saturno
"isolacionista", assim como o Saturno "caído", são características que
afetam até mesmo nossas interpretações modernas do planeta, embora
mais recentemente astrólogos de orientação mais voltada à psicologia,
como Liz Greene, tenham nos ensinado a iluminar seu lado brilhante
assim que a escuridão dele houver sido descoberta100. Mas, o legado
astrológico da maioria dos antigos textos romanos e medievais, até a
era da astrologia humanista, inclina-se a retratar Saturno apenas como
o miserável anjo caído, e não como o governante da Idade de Ouro. E,
realmente, quando se experimenta uma visita de Saturno que resulta
num poço de desespero e escuridão, podemos nos sentir tão
envergonhados, tão temerosos de que nunca voltaremos a nos erguer
daquelas escuridão, que nos mantemos psicologicamente trancados no
Tártaro por um tempo muito longo. É o temor de nunca voltar a se
erguer, a culpa por ter feito algo terrível no passado e que deve ser
subseqüentemente punido e a humilhação por ter estado no alto da
montanha antes de cair; eis a maioria dos complexos de Saturno. Uma
vez que reconhecemos essas energias, sejam impostas por forças
externas ou auto-impostas, aprendemos que o único modo de nos
erguer e sair disso é assumindo a responsabilidade sobre aquela
situação desagradável. Muitos dos que sofrem dos problemas de
Saturno permanecem em suas câmaras de desolação por anos, porque
ainda não assumiram
100. Greene, Liz, Saturn: A New Look at an Old Devil, Nova York, Samuel Weiser,
1977.
a responsabilidade pela situação, preferindo culpar parentes, a
sociedade, o chefe ou circunstâncias externas por seu contínuo
infortúnio. Saturno, portanto, representa nossas limitações, e esses
limites são simbolizados de diversas maneiras. Primeiro, o tempo de
Saturno no trono como governante onipotente, que parecia ilimitado,
mas acabou tendo um fim. Em segundo lugar, há limitações e fronteiras
representadas pelo aprisionamento de Saturno no Tártaro, uma
existência escura e solitária. Terceiro, e talvez o mais simbólico de
todos, para os antigos esse planeta era o membro mais distante do
sistema solar e, portanto, representava o limite ou fronteira da esfera
dos planetas. O simbolismo não está restrito aos tempos antigos;
criamos nossos próprios símbolos até hoje. Sondas enviadas ao planeta
Saturno convenceram os cientistas de que esse planeta tem o mais
complexo conjunto de anéis existente. O campo de força desses anéis
pode ser responsável pelo campo gravitacional de Saturno. Gravidade,
estabelecer obediência aos limites são as áreas regidas por Saturno.
Quando tentamos transformar Saturno de tirano em mentor,
encontramos todas as nossas limitações, tanto materiais quanto
psicológicas. Nossos instintos reprimidos, os recônditos
escuros de nossa alma, tudo vem
à tona. Saturno nos sujeita a
restrições e atrasos também no
plano material. Telhados furados,
carros que não funcionam, contas
não pagas e a agonia de ficar na
fila para preencher formulários
em triplicata — isso tudo faz
parte do domínio de Saturno. Ele
pode nos induzir a um estado de
depressão — o estado de mente
em que nos sentimos realmente
confinados numa escuridão sem
fim.
Estudiosos medievais e
renascentistas associavam
Saturno a um dos quatro humores
da antiga medicina e, o que não é
surpreendente, Saturno regia o
humor melancólico101. Temos aí
uma boa metáfora para a
influência depressiva de Saturno.
101. Lilly, William, An Introduction to Astrology, Hollywood, CA, Newcastle, 1972
(publicado pela primeira vez em 1647).
Uma versão mais contemporânea de
Saturno devorando um de seus filhos,
segundo o Saturno de Goya, c. 1820
Marsilio Ficino prevenia seus colegas magos da Renascença contra o
poder sombrio de Saturno sobre filósofos e estudiosos. De acordo com
Ficino, homens de estudo tinham mais tendência do que os outros
mortais para sofrer de aflições saturninas102. Para os Gauquelins,
homens de estudo realmente estão sob os raios de influência de Saturno,
como mostravam os posicionamentos de Saturno no mapa astrológico
de cientistas e médicos nos "setores de Gauquelin", quando examinados
estatisticamente103. Mas, se a melancolia do sábio era associada a
Saturno, a sabedoria também o era. O Pai Tempo traz serenidade, assim
como ansiedade. E sua sabedoria é a sabedoria da própria terra.
Hesíodo fala de cinco idades da humanidade: Ouro, Prata, duas
Idades de Bronze e uma Idade do Ferro. Como o ouro é o mais puro dos
metais, a Idade de Ouro foi a mais pura era da humanidade. Prata,
Bronze e Ferro representam uma degeneração da consciência
humana104. A Idade de Ouro de Hesíodo parece, de muitos modos,
remontar a um país das maravilhas pré-histórico: ninguém trabalhava, o
tempo era eternamente agradável, a fruta caía das árvores por vontade
própria e havia abundância de carneiros e cabras. Os felizes mortais da
Idade do Ouro passavam seus dias dançando e orando aos deuses e a
morte era, para eles, tão amigável quanto o sono. Era Cronos quem
regia essa Idade de Ouro. Isso, junto com sua foice (instrumento com o
qual castrou Urano), sugere que ele era de algum modo uma divindade
agrícola. Se examinarmos a antiga religião da Itália, essa suposição é
confirmada, pois Saturnus era originalmente um deus dos campos de
colheita105. (O glifo de Ceres, a deusa feminina do grão, é outra forma
da foice de Saturno, mas virada para o lado oposto.) O festival de
inverno de Saturno, a Saturnália, era uma época em que toda
licenciosidade era permitida, em que sérios guerreiros romanos e
matronas divertiam-se como os filhos despreocupados da Idade de
Ouro; uma época em que a realidade era virada de cabeça para baixo e
os senhores visitavam seus servos. Há também outra característica
menos agradável desse período do ano que sugere o simbolismo de
Saturno. O término do ano no solstício de inverno marcava a época em
que apareciam os coletores de impostos. Todas as somas devidas ao
governo, suseranos ou devedores tinham de ser cobradas e pagas. Essa é
outra face de Saturno e seu signo de regência, Capricórnio: os débitos
devem ser resolvidos. Mesmo hoje, aqueles que não podem pagar seus
impostos ou suas contas sentem medo ou aversão pela época de fazê-lo.
Quando as pessoas estão agoniadas pelo
102. Ficino, Marsilio. The Book of Life, ibid., passim.
103. Gauquelin, Michel, Cosmic Influences on Human Behavior, ibid., pp. 120-132.
104. Hesíodo, Theogony and Works and Days, ibid., pp. 40-2.
105. Perowne, Stewart, Roman Mythology, Londres, Hamlyn, 1969, pp. 42-3.
medo de perderem seus bens por não serem capazes de saldar suas
dívidas, estão normalmente murmurando a melodia do lado menos
glamouroso de Saturno.
Na Babilônia, o planeta Saturno era chamado Ninib, e esse Ninib,
como o itálico Saturnus, era uma divindade agrícola. A correlação de
Saturno com a agricultura sugere a natureza do próprio tempo. Os
frutos só podem ser colhidos na estação apropriada, após o trabalho no
solo estar completo. Não se pode forçá-los a vir antes do tempo. Da
mesma maneira, pessoas com um Saturno bem colocado têm um bom
"senso de oportunidade". Trabalham o solo cuidadosamente, plantam as
sementes na época certa e dão água e adubo às plantas com paciência,
esperando pela colheita. Impressionam os outros com sua capacidade
de organização, embora possam ser um tanto dominadores ou
autoritários sobre o modo como as coisas devem ser feitas.
A sabedoria proverbial de Saturno é a da própria terra. Não é por
acaso que os americanos contemporâneos se referem aos anos de
aposentadoria como "anos de ouro"; Saturno rege a velhice e mesmo
hoje buscamos fazer desse período uma idade de ouro — ainda que
com sucesso irregular. Aqueles que perseveram, que aprendem a
enfrentar suas limitações, suas tiranias e sua própria escuridão; que se
curvam devagar, pacientemente, para a aceitação gentil e tolerante do
mundo que os rodeia — esses são os indivíduos que experimentam
Saturno como o regente de uma idade de ouro interior. Envelhecem
com dignidade e sabedoria, aproveitando seus anos dourados.
Saturno é o mestre interior. Esse mestre pode tornar-se um tirano,
um patriarca severo e obcecado por leis de restrições, ou pode tornar-se
um verdadeiro mentor. Como afirmou Robert Bly, os homens
americanos (e provavelmente também as mulheres) carecem
desesperadamente de verdadeiros mentores106.
O conceito do mentor é tirado também da mitologia clássica.
Mentor, um personagem da Odisséia de Homero, era o velho
conselheiro de Telêmaco, o jovem herdeiro de Odisseu. Enquanto
Telêmaco esperava em vão por seu pai ausente, Mentor guiava suas
ações com sábios conselhos. De qualquer modo, só parecia ser o
Mentor. Na verdade, era Palas Atená quem falava a Telêmaco, usando
Mentor como veículo107.
O relacionamento entre Mentor e Telêmaco traz muitos pontos
importantes. Em primeiro lugar, o conselheiro, Mentor, não é o pai do
jovem. Como notou Bly, um jovem não pode ser iniciado nos mistérios
106. "A Gathering of Men", PBS, 1989.
107. Homero, The Odyssey, trad. Robert Fitzgerald, Garden City, Nova York,
Doubleday, 1961.
Saturno, ou Cronos
da vida por seu pai. Seu laço é demasiado próximo e qualitativamente
diferente. O mentor necessita de um certo distanciamento de seu
protegido108.
Infelizmente, nossa sociedade não reconhece a necessidade
espiritual pela figura de um mentor, ao menos não nos dias atuais.
Antigamente, um homem servia seu mestre como aprendiz,
especialmente na época dos artesãos especializados. Essa relação
desapareceu em nossa veloz era tecnológica. Ainda é possível,
especialmente dentro das muralhas fechadas de uma universidade ou de
um monastério, desenvolver
108. "A Gathering of Men ", op. cit.
e manter esse tipo de relacionamento. Porém, quando a figura paterna
tenta representar o papel de mentor, normalmente acaba por se tornar
um Cronos tirânico no processo. Poucos de nós temos oportunidade de
ser iniciados nos mistérios da vida (especialmente nos "mistérios" da
carreira, o verdadeiro domínio saturnino) por uma genuína figura de
mentor. A maioria de nós precisa cultivar o mentor interior ou escolher
uma figura histórica (o próprio Bly escolheu William Butler Yeats).
Saturno no horóscopo é o planeta mais adequado para representar o
papel de mentor interior — mas devemos libertar Saturno do estigma de
pai tirânico antes que ele possa realmente representar esse papel.
Enquanto permanecermos abatidos por atitudes limitadoras, Saturno
não pode funcionar plenamente. Ele pode nos tornar magnatas, mas não
nos fará felizes. Necessitamos da sabedoria terrena de Saturno para que
esse planeta nos mostre seu melhor lado, e a sabedoria terrena é uma
sabedoria feminina. É significativo que a Odisséia conte que Palas
Atená falava através de Mentor, pois isso sugere que o mestre interior
necessita de um equilíbrio das polaridades masculina e feminina para
ser realmente efetivo. Astrologicamente, Saturno é exaltado em Libra,
signo tradicionalmente regido por Vênus e que também é associado ao
asteróide Palas Atená, unindo assim o simbolismo patriarcal de Cronos
com elementos femininos. Talvez o símbolo mais completo de Saturno
seja aquele que vem do folclore popular — o Pai Tempo. Essa figura
alegórica deriva-se claramente de Saturno. Cronos significa "Tempo"; o
Pai Tempo faz sua aparição na noite de Ano-Novo, que ocorre durante o
mês astrológico de Saturno, Capricórnio. O Pai Tempo traz uma foice
na mão — a foice que marca a posição de Saturno como deus da
colheita, ou a foice com a qual Cronos castrou Urano. Na virada do ano,
o velho Pai Tempo magicamente desaparece, substituído pelo bebê do
Ano-Novo. Mesmo se a maioria de nós vê esse drama como uma
melodia adequada à orquestra de um Guy Lombardo, é puro mito.
Assim é a Criança Divina nascida no solstício de inverno.
Saturno deve nos apresentar limitações e restrições. Pode nos
amadurecer, forçando-nos a trabalhar dentro desses limites. Pode lançar
sobre nós a sombra de um pai tirânico, da qual devemos aprender a
emergir. Todos esses trabalhos só podem ser realizados com o tempo,
mas sua realização leva a um renascimento, uma idade de ouro do
espírito que pode ocorrer em qualquer época, não apenas em nossa
velhice. Os períodos mais típicos para que essa realização se manifeste
são durante as "Revoluções de Saturno", algo com que a maioria dos
astrólogos e seus clientes estão familiarizados. Aos 29, 58 e 87 anos
isso ocorre, períodos em que os indivíduos são testados por esse planeta
em muitas disciplinas diferentes. O primeiro retorno, aos 29,
normalmente implica um período de sensatez — o indivíduo aceita que
a maturidade
e a responsabilidade devem vir no lugar do abandono da juventude. O
segundo retorno, aos 58 anos, pode ser uma das mais gloriosas
experiências de Saturno, se o indivíduo realmente conseguir atingir a
sabedoria buscada por esse planeta. Também pode ser experimentado
como um período dos mais difíceis, especialmente, se o indivíduo não
está inspirado por seu trabalho e vê a vida como uma constante lida.
Poucas pessoas conseguem chegar ao terceiro retorno de Saturno, mas,
como ele vem quase junto com o retorno de Urano (ver Urano), pode
ser muito profundo.
Quíron e seus alunos
Eu queria que Quíron, filho de Filira...
que partiu, vivesse ainda,
filho esclarecido do uraniano Kronos; e que reinasse
sobre os vates de Pélion, animal selvagem das montanhas
De coração amigo dos homens, que outrora criou
O gentil ferreiro que acalma a dor e cura o corpo,
Asclépio, o herói que combate todas as doenças.
— Tíndaro, Third Pythian Ode (trad. Richard Lattimore)
O "planetóide" Quíron foi
descoberto em 1977 e batizado,
como era o costume, pelo
astrônomo que o descobriu — no
caso, Charles Kowal. O mapa
astrológico da descoberta sugere o
encontro de algo incrivelmente
profundo: o ascendente
corresponde ao centro da galáxia
(26 graus de Sagitário), enquanto
Plutão está no Meio-Céu e o
próprio Quíron é um solitário
hemisférico, retrógrado e baseado
na Quarta Casa em Touro. Todos
os outros planetas estão acima do
horizonte109.
Os astrólogos foram rápidos
em usar Quíron desde o momento
em que sua presença foi
anunciada. Em seguida à
publicação do primeiro material
sobre Quíron por pesquisadores
______________________________________________________________
109. Clow, Barbara Hand, Chiron: Rainbow Bridge Between the Inner & Outer
Planets, St. Paul, MN, Llewellyn Publications, 1987, pp. 215-27.
como Zane Stein110, os astrólogos começaram a colocar essa estranha
criatura em mapas e a observar seu comportamento em trânsito. Desde
sua descoberta, há apenas uma quinzena de anos, ele se tornou um
grande sucesso.
Os astrônomos, por outro lado, não sabem muito bem o que fazer
com ele, mas já surgiram várias teorias; aquelas que o tratam como um
forasteiro que foi capturado por nosso sistema solar parecem ser as mais
comuns. Ele se assemelha um pouco aos asteróides, aos pedaços de
rocha que orbitam entre Marte e Júpiter, mas Quíron, embora tenha
aparência similar a um asteróide, está muito longe do cinturão de
asteróides. De fato, sua órbita, entre Saturno e Urano, constitui uma
anomalia, por ser extremamente elíptica. Já fora chamado de planetóide
ou planeta pequeno. Recentemente, porém, os astrônomos sugeriram
que Quíron é na verdade um cometa, ou ao menos uma "bola de neve
suja" que estava em processo de tornar-se um cometa quando foi atraída
para orbitar em torno do Sol.
Por causa de seu pequeno tamanho e sua localização peculiar,
assim como sua órbita incomum, os astrólogos começaram a aplicar a
palavra "dissidente" a Quíron — um dissidente é um ser que age
independentemente de qualquer grupo social e se recusa a conformar-se
a
qualquer tradição em
particular, vivendo segundo
suas próprias regras. Zip
Dolbyns o compara a uma
combinação de Júpiter-Urano,
Zane Stein o liga a Sagitário,
Bárbara Hand Clow e Philip
Sedgwick o dizem regente de
Virgem, Erminie Lantero e
Tony Joseph sugerem uma
mistura Escorpião-Sagitário
(Ofíoco, o gigante Asclépio) e
Al Morrison, o especialista
em esquisitices astrológicas,
insiste em que cometas não
regem nenhum signo! Richard
Nolles também acha que a
regência é, em geral,
desnecessária.
110. Stein, Zane, Interpreting Chiron, Lansdale, PA Associates for the Study of Chiron,
1983.
Uma representação de Centaurus
(Phyllirides — o nome poético de Quíron).
do Astronimicon de Higino, Veneza, 1482
O que c mais importante
para nosso propósito, porém, é
que Quíron é uma das primeiras
descobertas planetárias a ser
relacionada desde o início à
mitologia. Estudos pioneiros de
Erminie Lantero e do falecido
Tony Joseph tratam de Quíron
como um verdadeiro arquétipo
emergente, haurindo em fontes
místicas para determinar qual a
provável influência astrológica
de Quíron111. Isso demandou
muita pesquisa, pois a história
de Quíron é encontrada em
obras clássicas obscuras como a
Biblioteca de Apolodoro e a
Argonáutica de Apolônio de
Rodes, e não em poemas
homéricos, em Hesíodo ou nas
Metamorfoses de Ovídio, que
são mais familiares.
Quíron, de acordo com um
dos relatos mitológicos, era filho
de Cronos ou Saturno. O primeiro pai dos deuses perseguiu e fez amor
com uma ninfa chamada Fílira, mas foi surpreendido em seu ninho de
amor por sua esposa enganada, Réia. No momento do clímax, Cronos
transformou-se num garanhão e fugiu da ira de Réia. Mas a mistura de
cavalo e deus já havia se cumprido; Filira deu à luz Quíron, meio
humano e meio cavalo, e foi dele que surgiu a raça dos centauros.
No mito grego, em geral, os centauros eram retratados como
criaturas de baixos instintos, que apreciavam a bebedeira e a
sensualidade desinibida, por vezes violenta (muito semelhante ao
aspecto negativo de Touro). Quíron, porém, é uma exceção à regra. O
centauro-rei vivia em isolamento meditativo em sua caverna no monte
Pélion, um filósofo recluso que ocasionalmente saía de sua solidão para
ser o mestre de mortais excepcionais. Possuía o conhecimento da
mecânica celeste (ou seja, astronomia e astrologia), natureza, medicina
e matemática, e sua perícia nessas áreas era respeitada até mesmo pelos
deuses. Entre seus mais famosos pupilos mortais estavam Acteão,
Enéias, Aquiles e, mais
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111. Joseph, Tony, The Arquetipal Universe, ibid.; e Erminie Lantero, The Continuing
Discovery of Chiron, York Beach, ME, Samuel Weiser, 1983.
Um centauro típico
especialmente, Jasão, cuja relação com Quíron está detalhada na
Argonáutica de Apolônio de Rodes. Quíron treinou todos esses homens
para tornarem-se guerreiros sagrados. Foi também mestre de Asclépio,
filho de Apolo e de uma mulher mortal. Asclépio aprendeu a arte da
medicina de Quíron — mas, por ser filho de um deus da cura (Apolo),
ultrapassou seu tutor e tornou-se conhecido como a divindade padroeira
das
artes da cura. Seu símbolo era um
bastão com uma serpente
entrelaçada, similar ao caduceu de
Hermes, que tinha duas serpentes.
Em ambos os casos, o simbolismo
parece representar a passagem do
kundalini, o poder da serpente,
pela coluna espinhal, que, no caso
de Asclépio, sugere que essa
força vital interior é o princípio
operativo de toda cura verdadeira.
Asclépio foi fulminado por um
dos raios de Zeus quando usurpou
o privilégio dos deuses e começou
a trazer os mortos de volta à
vida112.
Quíron encontrou seu fim de um
modo muito peculiar. O herói
Hércules, em meio a seus Doze
Trabalhos, parara no monte
Pélion para dividir um barril de
vinho com os centauros. A festa
se transformou numa briga de
bêbados e Hércules começou a
atirar nos centauros suas setas
envenenadas. Os gritos e barulhos
na batalha perturbaram Quíron
em sua caverna. Perguntando-se o
que interrompera sua meditação,
ele saiu — e foi imediatamente
atingido no calcanhar (ou, em
algumas versões, na coxa) por
uma das setas mortais. Embora
Hércules lamentasse ter ferido seu
velho amigo, não
112. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., Vol. 1, pp. 173-8.
Asclépio, aluno de Quíron e renomado
curandeiro. Ilustrado por Diane
Smirnow
O centauro Nessos, fiel às violentas paixões de sua espécie, foi morto por Hércules
quando tentou violentar a mulher do herói, Dejanira. De uma ânfora
Ática, século VII a.C.
havia nada a fazer. O ferimento era mágico, e nem mesmo Quíron, o
grande curandeiro, poderia curá-lo. O rei-centauro tinha tanta dor que se
cansou da vida. Durante sua longa e filosófica existência, a morte havia
sido a única coisa que ele nunca experimentara e, mesmo tendo nascido
imortal, ansiava agora por ser mortal — por morrer. Mas, mesmo no
final, conseguiu uma troca com o Olimpo que provou ser de imenso
benefício para a humanidade. Prometeu, o Titã rebelde que auxiliara a
humanidade contra os deuses, sofria no alto de uma montanha,
amarrado a uma rocha por ordem de Zeus. Este decretara que Prometeu
apenas poderia ser libertado se um dos deuses imortais morresse e
descesse ao Hades — uma perspectiva bastante improvável. Mas, agora,
Quíron exigia que Prometeu fosse libertado, já que as condições do
decreto haviam sido atendidas. Quíron foi de boa vontade para o mundo
subterrâneo e Prometeu, salvador da humanidade, voltou à terra113.
Todos os componentes da história mítica de Quíron têm uma forte
relevância na interpretação de Quíron no mapa astrológico, mas o que
deve receber mais atenção é seu papel de curandeiro. A constelação
113. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., Vol. 2, pp. 113, 148-9.
de Ofíoco representa Asclépio e fica próxima a Escorpião, o que pode
relacionar-se à tradicional associação de Escorpião com as artes
médicas. Mas, não temos nenhum planeta ou asteróide que represente
esse deus da cura. Por isso, Quíron parece ter se tornado o mensageiro
do arquétipo de Asclépio, o que quer dizer que pessoas que estejam
fortemente sob a influência de Quíron podem também incorporar as
características arquetípicas de Asclépio (esse conceito de "mensageiro"
de um arquétipo se mostrará importante nos próximos dois ensaios,
quando discutiremos Urano como mensageiro do arquétipo de
Prometeu e Netuno como mensageiro de Dioniso).
Os métodos de cura de Quíron baseavam-se principalmente em
dietas — Aquiles fora alimentado primordialmente com favos de mel,
tutano de urso e miúdos de leão e de javali selvagem. Asclépio também
curava utilizando técnicas que atualmente associaríamos à magia. Os
sacerdotes do templo de Asclépio (dos quais ainda existem dois, um em
Epidauro e o outro na ilha de Cos) recomendavam jejum e meditação
ao paciente. Assim preparado, ele passava por uma limpeza ritual e o
mandavam dormir na vizinhança do templo. Na manhã seguinte, ele
contava seus sonhos aos sacerdotes, que diagnosticavam e prescreviam
de acordo com isso.
Quíron está mais ligado aos métodos alternativos de cura do que
aos tradicionais. Na época da descoberta de Quíron, os transplantes de
coração, fígado e rins haviam estendido a vida humana a um grau tal
que pareciam oferecer uma séria alternativa à morte — a mítica
confrontação de Quíron com o senhor do mundo subterrâneo. Mas
tornamo-nos dependentes da tecnologia para nossa própria
sobrevivência. Ao mesmo tempo, outro interessante fenômeno ocorria
na medicina — uma estranha cria chamada "tratamento holístico"
começava a se destacar; a medicina do século XX era realmente
desafiada pela primeira vez. Milhares de pessoas começaram a procurar
a medicina holística para obter respostas a problemas que a ciência
moderna não queria ou não podia resolver. Durante os primeiros anos
após a descoberta de Quíron, em 1977, ainda havia apenas um punhado
de praticantes holísticos. Eram quiropráticos — o termo "quiroprático"
relaciona-se linguisticamente a Quíron. O nome Quíron significa "a
mão" e o termo "quiropraxia" fala de alguém que pratica a medicina
com as mãos. A quiropraxia foi desenvolvida por Daniel Palmer
quando ele tinha 51 anos, ou seja, quando Quíron estava voltando ao
lugar que ocupava em seu mapa natal114. No início da década de 1980,
houve um surgimento de outros curandeiros holísticos, como
acupunturistas e naturopatas. Um número
114. Nolle, Richard. Chiron: The New Planet in Your Horoscope, Tempe, AZ,
American Federated Astrologers, 1983.
Asclépio e sua filha Higéia, que como deusa da saúde, estava intimamente
associada ao culto de seu pai
impressionante desses praticantes tem posicionamentos muito fortes
de Quíron em seus mapas astrológicos. Nesse novo campo, houve
muita especulação, tentativa e erro e a exploração livre de métodos
totalmente desconhecidos e inovadores. Antes da década de 1970, a
massoterapia (outra arte eminentemente quirótica) ainda era associada
a salinhas escuras em casas de luz vermelha. Agora, apenas uma
década e meia após a descoberta de Quíron, a massoterapia tornou-se
um tratamento de cura muito procurado, junto com a massagem
esportiva, remédios herbais, terapias crano-sacrais e uma porção de
outras artes. Esse campo é uma indústria fervilhante de milhões de
dólares, adquirindo milhares de novos seguidores anualmente.
Quíron pode ter uma grande importância para a astrologia
médica. Pessoas com doenças mortais que conseguem a cura são bons
exemplos dos poderes de Quíron; a localização de Quíron no mapa
astrológico pode indicar não apenas a parte do corpo mais propensa à
tensão, como também a fonte interior do problema. Por exemplo,
Quíron em Câncer
pode indicar um estômago sensível, mas também deve atrair nossa
atenção para desequilíbrios no corpo emocional ou problemas
duradouros da situação da família que podem ter levado àquele
estômago sensível.
Nem todos, porém, que têm um Quíron proeminente trabalharão
com as artes curativas. Quíron é tanto o mestre quanto o curandeiro;
muitos professores, especialmente de nível superior, parecem ter uma
influência poderosa de Quíron — como o professor de ciências em The
Centaur de John Updike, que se viu vivendo o mito de Quíron em sua
própria vida cotidiana, lutando para curar os ferimentos em sua alma.
O ferimento mágico talvez seja a contribuição mais notável de
Quíron para os mapas de homens e mulheres comuns. Quíron foi ferido
no calcanhar ou na coxa e apenas a morte podia aliviar a dor. A posição
de Quíron no mapa astrológico pode apontar algum tipo de ferimento
interior da psique do nascituro. O ferimento é freqüentemente sexual,
porque se diz que Quíron foi ferido na coxa. De qualquer forma, uma
parte de nós deve morrer para curar esse ferimento interior. Devemos
renunciar a algumas partes velhas e fora de moda de nossos seres,
algum ferimento cármico ou de infância — e, ao fazê-lo, descobrimos
que libertamos nosso verdadeiro potencial criativo. Prometeu fora solto
e o poder inspirador de Urano está livre para entrar em nossas vidas.
Portanto, essa ferida pode nos tornar completos novamente e, por isso, é
uma ferida "mágica".
Para muitos americanos e europeus modernos, especialmente
homens, o ferimento mágico de Quíron envolve o pai. Saturno ou
Cronos era pai de Quíron e fugiu no exato momento da concepção dele,
para nunca mais voltar. Portanto, o abandono do filho pelo pai está
envolvido nesse arquétipo. De 1935 a 1939 e novamente de 1945 a
1952, Saturno e Quíron estavam em quadratura — ou seja, estavam
num ângulo de 90 graus um com o outro, uma das relações mais difíceis
da astrologia. De 1986 a 1988, estavam em oposição. Durante esses
anos, o pai forte, positivo, estava notoriamente mais ausente na
sociedade moderna. Vem ocorrendo uma separação entre pais e filhos
desde a metade do século XIX. Cada vez mais, os homens pararam de
trabalhar sua própria terra ou a se devotar à prática comercial em suas
próprias lojas e oficinas. O advento da industrialização e o sistema de
fábricas separou os homens de seu modo de vida tradicional. Separou
também pais e filhos. Os meninos não mais participam com seus pais
no trabalho dos campos nem aprendem o ofício da família.
Na época em que Quíron e Saturno entraram em quadratura, entre
1945 e 1952, a força paternal fugira de nosso mundo tão rápido quanto
Cronos fugira da cena da concepção de Quíron. Quase todos os homens
americanos ou europeus haviam se tornado habitantes de cidades, que
dirigiam até o trabalho de manhã, voltavam cansados, de mau humor c
distantes à noite. Filhos e esposa experimentavam o pai ou marido
principalmente como uma criatura frustrada, isolada e infeliz. Durante
essa época, surgiram tiras de quadrinhos como Blondie ou Life with
Father, retratando o pai como um indivíduo tolo, simplório e
preguiçoso, servil ao regimento de uma esposa poderosa, fugindo à sua
ira assim como Cronos fugiu de Réia. O arquétipo do pai atingira seu
ponto mais baixo. Durante a oposição de Saturno com Quíron, em
1986-88, o divórcio chegou a um ponto em que de 25 a 30% das
crianças americanas eram criadas em casas sem pai nenhum115.
Mas, Quíron também estava em oposição com Urano entre 1951 e
1989, um aspecto geracional que aponta o caminho para a cura da
ferida do pai. Quíron libertou Prometeu e, como veremos, Prometeu
está ligado de forma vital ao arquétipo de Urano. Em algum sentido,
Urano é um componente do Homem Selvagem, o poder masculino
profundo e criativo — um poder espiritual e vivificante. Urano,
selvagem, peludo, cheio de artimanhas, é um nível de masculinidade
que cura a ferida do pai ligando-nos à própria terra. Quíron é também
selvagem e peludo, meio animal. E é um xamã.
Quíron corresponde ao arquétipo do curandeiro ferido, que é o
xamã. Entre as tribos siberianas e de índios americanos, com freqüência
o aleijado ou o neurótico é considerado como escolhido pelos deuses
para ser um xamã ou médico, o curandeiro da tribo. Na Sibéria,
especialmente, uma perna manca (o ferimento de Quíron) é vista como
um possível indicador de que a criança ou adolescente é um xamã em
germe. Entre os índios americanos, uma doença terrível com freqüência
serve como a experiência que marca uma pessoa como um curandeiro
— o famoso xamã Lakota Alce Negro experimentou sua grande visão
da medicina durante uma doença que sofreu aos 10 anos de idade116. Se
tivéssemos de interpretar esse processo psicologicamente em termos da
posição de Quíron no mapa astrológico, diríamos que a tarefa de curar
o ferimento interior de Quíron abre nosso próprio potencial para curar
outras pessoas.
Dada sua função xamânica, não é surpreendente encontrar Quíron
ligado aos índios americanos. Durante o final da década de 1970 —
logo após a descoberta de Quíron —, o ato de liberdade religiosa dos
índios americanos foi aprovado pelo congresso, permitindo e
encorajando assim que curandeiros pudessem praticar no "mundo real",
despertando o renascimento do interesse no xamanismo indígena que,
atualmente, é muito forte.
115. Bly, Robert, Iron John, ibid., pp. 23, 186.
116. Neihardt, John G., ed., Black Elk Speaks, Lincoln, Universidade de Nebraska,
1961.
Quíron também pode estar conectado — ao menos no nível
esotérico — com o calendário maia e seus mistérios. O calendário
sagrado de 260 dias dos astecas e maias tem com o calendário solar de
365 dias uma relação tal que um ciclo completo é criado a cada 52 anos.
O período orbital de Quíron é de 51 anos — uma correlação quase exata
(Barbara Hand Clow acredita que a correlação deve ter sido mais
precisa outrora, mas as mudanças no calendário maia ao longo dos
séculos podem ser as culpadas pela diferença)117.
Outro fenômeno interessante que ocorreu durante a década de
1970 foi a busca coletiva por respostas a questões que não podiam mais
ser abordadas pelos métodos tradicionais. Foi o auge da era do guru,
quando pessoas de todo o mundo, principalmente os jovens, juntaram-se
em novos tipos de movimentos religiosos. O guru representa a pessoa
que tem as respostas, que pode desvendar os mistérios e trazer a
iluminação — a libertação dos limites do reino físico. As implicações
mais profundas desse fenômeno podem ter sido uma geração
coletivamente em busca de alguém que pudesse ajudar a curar as feridas
do pai ausente, para servir como mentor e guia e torná-los novamente
completos.
O surgimento de Quíron durante esse movimento social e
espiritual pode indicar que Quíron representa, ao menos em parte, a luz
por trás da escuridão de Saturno. Seu glifo (g) assemelha-se a uma
chave
O centauro Quíron numa moeda de bronze da Bitínia durante o reinado de Prúsias II,
15-114 a.C. Da coleção Michael A. Sikora
117. Em conversa com os autores, fevereiro de 1990, Santa Fé, NM.
que podemos tomar como o instrumento que destranca os mistérios do
universo. A posição orbital de Quíron entre Saturno e Urano nos dá
outra pista quanto a seu significado. Antes da descoberta de Urano em
1781, Saturno era o fim da linha, a fronteira final do sistema solar. Os
últimos duzentos anos podem ser caracterizados como de natureza
uraniana, concentrados nos desenvolvimentos e avanços tecnológicos
que fizemos. Mas, também começamos a ver o universo em termos de
criatividade espiritual personificada em Urano, assim como em termos
dos outros planetas exteriores, Netuno e Plutão — ou seja, agora vemos
o universo como um campo imensamente inexplorado de luz e energia,
tal qual uma possível fonte de imortalidade (ou ao menos de
renascimento) à nossa espera. Essa consciência dos outros planetas está
em contraste direto com o conceito de Saturno como limite final,
conceito que implica morte, escuridão e as limitações da realidade
física ou mundana. A posição de Quíron faz dele uma ponte entre
Saturno e os planetas exteriores, uma ponte entre escuridão e luz.
Esse conceito tem sua fonte no mito de Quíron. O Titã Prometeu,
o Homem Selvagem ou rebelde, deu à humanidade a criatividade e a
iluminação. Roubou o fogo sagrado do céu para que os mortais não
tivessem de viver na escuridão. Dessa forma, ele representa o espírito
criativo que reside dentro de todos nós e que, astrologicamente, é
simbolizado por Urano. Mas, a maioria de nós é incapaz de perceber
nosso verdadeiro potencial ou nossa própria iluminação, porque
permanecemos aprisionados em nossas fronteiras materiais e
psicológicas. Estamos agrilhoados nos anéis de Saturno, assim como
Prometeu foi agrilhoado ao pico da montanha com correntes de
adamântio. A morte de Quíron libertou Prometeu. Da mesma maneira,
nossa capacidade de curar nossa ferida interior — o ferimento mágico
ou espiritual que reside no cerne de todo sofrimento humano —
capacita-nos a libertar nossa criatividade uraniana e assim percebermos
o poder dos outros planetas exteriores.
A classificação de Quíron como cometa também tem a ver com o
simbolismo desse arquétipo. Quíron saiu de sua caverna para
desinteressadamente servir à humanidade e elevar os mortais a um novo
nível de consciência em relação à vida e à morte. Ao terminar sua
tarefa, voltou a uma caverna ainda mais profunda, a do mundo
subterrâneo (em certo sentido, Quíron, como o rei pescador do mito do
Graal, com quem tanto se parece, é uma figura de Cristo; ele cura, sofre
e morre para que todos possamos viver). Os cometas também em
chamas vêm do espaço profundo para nossa consciência e então, após
imprimir seu fogo em nós, partem. Mas, se Quíron é realmente um
planeta capturado, é provável que fique conosco por muito tempo.
Podemos suspeitar que o curandeiro ferido está emergindo no
inconsciente coletivo em
nível mais permanente — não mais como o santo ou avatar que realiza
sua missão e não é mais visto.
O ciclo de 51 anos de Quíron implica um retorno dele nessa idade.
Algumas pessoas não são especialmente sensíveis a esse processo (ao
menos ainda não). Para outras, esse pode ser um ponto crítico. Já vimos
como Daniel Palmer desenvolveu parte da quiropraxia durante seu
próprio retorno de Quíron. Outro bom exemplo pode ser visto em
Elisabeth Kubler-Ross, pioneira do conceito de morte consciente no
Ocidente (o próprio Quíron, ao preferir a morte a uma imortalidade
ferida, é um exemplo incontestável de "morte consciente"). Kubler-
Ross nasceu com Quíron no início de Touro; portanto, experimentou
seu retorno de Quíron no próprio ano da descoberta dele, e esse foi o
ano em que seu trabalho no hospital realmente começou118.
118. Nolle, Richard. Chiron: The New Planet in Your Horoscope, ibid
Dos olhos das mulheres esta doutrina derivo:
Eles ainda refulgem do fogo de Prometeu;
São os livros, as artes, as academias,
Que mostram, contêm e nutrem todo o mundo:
— Shakespeare, Trabalhos de Amor Perdidos, IV, III
Urano constitui um dos
mais confusos de todos os
arquétipos planetários — embora
talvez até mesmo essa confusão
seja apropriada ao planeta que
perturbou os ordenados
conceitos de astrologia
ptolomaica simplesmente com
sua descoberta.
Como Urano fora
descoberto durante as
Revoluções Americana e
Francesa em 1781, foi
relacionado à liberdade, à
independência e a uma natureza
revolucionária ou rebelde. É
também adequado que o planeta
logo atrás de Saturno represente
um rompimento com a tradição
ou uma liberdade do mundo
ordenado e estruturado
representado por Saturno. Urano,
"o planeta diferente", gira em
torno de si mesmo num ângulo
de 90 graus, diferentemente de
qualquer outro corpo do sistema
solar. Isso também
O deus hindu
Varuna, semelhante ao grego Ouranos
Ouranos era o deus-céu original, castrado por seu filho Cronos. Ilustrado por
Diane Smirnov
nos dá uma pista sobre a natureza da mente uraniana: o afastamento
de 90 graus de qualquer outra coisa!
A palavra "pioneiro" foi aplicada a Urano; de fato, os que
nascem com Urano em proeminência parecem possuir um incrível
espírito de pioneirismo — Sigmund Freud, Carl Jung e Ram Dass
(Sol em conjunção com Urano); J. Krishnamurti (Sol oposto a
Urano); Gandhi (Urano em conjunção com o Meio-Céu); e Albert
Schweitzer (Saturno em oposição a Urano), para citar apenas
alguns119. Junto com esse espírito pioneiro e consciência divina,
com freqüência vem o sacrifício de uma vida pessoal ou mundana
entre esses indivíduos. Mas, esses tipos uraniano/prometeanos
contribuíram significantemente para o processo evolutivo da vida
na Terra. Não importa o mapa astrológico que você prefira para os
Estados Unidos (Gêmeos em ascensão, Sagitário ou Virgem em
ascensão), Urano ascende, põe-se ou culmina! Por isso, a
119. Lewis, Jim, e Ariel Guttman, The Astro*Carto*Graphy Book of Maps, ibid.
América e a maior parte de seus habitantes são altamente identificados
com o planeta Urano como um arquétipo nacional, caracterizado pela
liberdade, independência, comportamento iconoclasta, quebra de
barreiras sociais, econômicas e raciais, loucura tecnológica — e, é
claro, a arrogância ou orgulho que resulta de ser uma superpotência e
sentir-se superior (divina) em comparação com qualquer outra nação,
seja isso justificável ou não.
Urano é o iconoclasta, o rebelde divino; é também o poder
criativo da vontade humana. Seu primeiro aparecimento é como
criador, e não como rebelde. A palavra latina Uranus deriva do grego
Ouranos, que por sua vez relaciona-se ao sânscrito Varuna. O deus
Varuna, no Rig Veda, é o criador e guardião da lei cósmica. Cria todo
um universo pela força de seu maya — embora aqui devamos
compreender a palavra maya como "vontade criativa", e não como seu
significado mais familiar, "ilusão". Havendo criado, ele também
mantém, pois é o juiz e guardião do rta, a lei, a ordem moral que
governa o mundo. Em certo sentido, sua criação é um processo
contínuo; Varuna é o senhor das "águas acima do céu", a fonte da
chuva doadora de vida120. No século VI ou VII a.C, o profeta persa
Zaratustra (mais conhecido como Zoroastro) transformou essa
divindade védica em Ahura Mazda, o senhor da luz, que era também
guardião da lei cósmica121.
Na antiga Grécia, Ouranos era o pai-céu original, o primeiro filho
de Gaia ou Mãe Terra quando ela surgiu do caos primordial.
Aproximou-se em silêncio de sua mãe adormecida e derramou chuvas
suaves sobre ela para que vicejasse com árvores, flores e grama.
Tornou-se também seu consorte e os dois deram origem a muitos seres
monstruosos, incluindo a raça dos Ciclopes de um olho só. Finalmente,
deram origem à primeira família de deuses que governaram a
humanidade, os sete Titãs e suas e irmãs-esposas, as Titanesas. Mas,
Ouranos se tornou um tirano. Aprisionou os Ciclopes no Tártaro porque
eles haviam tentado se rebelar contra ele. Gaia enraiveceu-se e
persuadiu Cronos (Saturno), o mais jovem dos Titãs, a esconder-se à
espera de Ouranos e castrá-lo com uma foice. A semente do moribundo
pai-céu derramou-se sobre a terra, produzindo as terríveis deusas da
vingança chamadas Fúrias, mas também dando origem a Afrodite
(Vênus), a bela deusa do amor122.
Urano é, portanto, a força essencial da criação. Duas vezes, na
mitologia grega, ele derrama sua força criativa sobre a terra, assim
como Varuna derramou sua maya ou vontade criativa. Ouranos criou
todas
120. Ions, Veronica, Indian Mythology, ibid., pp. 14-5.
121 Zaehner, R.C., The Dawn and Twilight of Zoroastrianism, Nova York, CP Putnam's
Sons, 1961, pp. 65-71.
122. Hesíodo, Theogony and Works and Days, ibid., pp. 8-9.
as folhagens e a vegetação que nascem sobre o corpo da Mãe Terra;
também deu origem a conceitos tão dicotômicos como o amor e a
vingança. Em todos os casos, seu poder derrama-se do céu como uma
chuva. Em astrologia, Urano recebeu a regência de Aquário. Como
veremos (em Aquário), esse signo sempre foi associado às "águas da
vida" que são derramadas do céu. Assim, Aquário é um símbolo
adequado para esse deus da criatividade primordial. Nesta era
tecnológica, estamos mais inclinados a pensar nessas águas aquarianas
como eletricidade ou energia cósmica, mas o significado essencial da
vontade criativa (o maya de Varuna) permanece imutável.
O poder diáfano da criatividade uraniana raramente chega a nós
em sua forma pura, "cósmica". As primeiras agitações do poder criativo
normalmente causam turbulência na psique da maior parte dos
indivíduos; essa turbulência se expressa como rebelião contra o
passado. Assim, Urano é mais conhecido da maioria dos astrólogos e de
seus clientes como o divino rebelde. Como tal, esse planeta se torna o
mensageiro de um arquétipo bastante diferente do pai-céu primordial,
mas que é ainda mais importante para nossa sociedade individualista e
turbulenta. Urano tornou-se mensageiro do arquétipo de Prometeu.
Prometeu era da raça dos Titãs, filho de Eurimedonte, o Titã
associado ao planeta Júpiter. Seu irmão gêmeo era Epimeteu e o nome
Prometeu significa "presciência", enquanto Epimeteu significa
"percepção tardia". Uma visão profética ou futurista da realidade era
característica de Prometeu, que sempre foi amigo do seres humanos e os
defendeu contra os deuses. Algumas versões do mito dão a Prometeu
uma verdadeira função uraniana como espírito criador, pois se diz que
ele moldou os primeiros humanos em argila e então soprou seu espírito
vital neles para fazê-los viver. Junto com Hefesto, Prometeu ajudou a
tirar a deusa Atená da cabeça de Zeus e foi ela quem ensinou a
Prometeu as diversas artes e ciências, que ele, por sua vez, ensinou aos
mortais.
O que fez de Prometeu o grande rebelde foi seu amor pelos
humanos. Os deuses estavam acostumados a ganhar a melhor parte de
cada touro sacrificado, deixando aos homens as sobras. Mas, quando se
discutia o assunto da porção divina, Prometeu usou de uma artimanha
contra os deuses. Disfarçou cuidadosamente a carcaça do touro
sacrificial de forma que, quando Zeus escolheu sua porção, havia na
verdade escolhido a gordura e os ossos, deixando a melhor carne para a
humanidade. Zeus não estava contente. Ordenou que os patéticos
mortais tivessem de comer a carne crua; confiscou deles o dom do fogo.
Com a ajuda de Atená, Prometeu subiu ao Olimpo. Com uma
haste de funcho, esperou até que o carro do sol, conduzido pelo Titã
Hélios, passasse por ele, soltando faíscas de fogo divino no cume
rochoso do Olimpo. Prometeu apanhou uma fagulha desse fogo com a
haste de funcho e a deu à humanidade — uma "iluminação" literal.
Mas, Prometeu se rebelara duas vezes contra os ditames dos
deuses. Zeus ordenou um terrível destino para ele — seria acorrentado
ao cume de uma montanha no Cáucaso, onde uma águia comeria seu
fígado. Mas a cada dia o fígado do rebelde divino se renovaria e a cada
dia a águia viria de novo, mantendo Prometeu num perpétuo tormento.
Esse destino mítico fora sofrido pelo deus viking Loki, outro rebelde
divino que rejeitou a vontade dos deuses.
Mas, como vimos, o tormento de Prometeu não durou para
sempre. A humanidade ainda tinha alguns amigos no mundo imortal.
Coube a Quíron, o rei centauro, sacrificar-se para que Prometeu pudesse
ser libertado
Prometeu rouba o fogo dos deuses, ilustrado por Diane Smirnov
Urano no mapa astral é comparado à rebelião social de um
indivíduo. Embora isso seja verdade até certo ponto, é igualmente
verdade que a boemia das últimas décadas foi produto de Netuno tanto
quanto de Urano. Também se atribui ao rebelde planetário um talento
para a invenção científica. Supomos que tudo isso seja verdade; afinal
de contas, Urano foi descoberto no início da Revolução Industrial e o
espírito prometeano era inventivo. Os astrólogos prendem-se a esse
aspecto de Urano em particular quando prevêem a Era de Aquário como
uma era de tecnologia avançada — embora, atualmente, como nos
tornamos cada vez mais conscientes do lado escuro da tecnologia, isso
possa nos levar a reconsiderar ou rever o que realmente seria a
criatividade uraniana.
O ponto principal é: todas as idéias preconcebidas que nós
acostumamos a atribuir a Urano sugerem apenas parte do arquétipo.
Urano pode ou não ser socialmente rebelde — sua premência por
liberdade pode ser expressa em um nível interno e não por meio do
estilo de vida. Como rebelde, é também o Homem Selvagem ou Mulher
Selvagem, o espírito cheio de artimanhas que vive de acordo com suas
próprias regras.
Urano tinha a inventividade de Prometeu, certamente, mas o
governo tirânico do deus-céu Ouranos deve nos prevenir que a ciência e
a tecnologia podem tornar-se forças tirânicas ou limitadoras — a menos
que, como Prometeu, estejamos sempre conscientes de nossa
necessidade de servir a humanidade por meio de nossa inventividade.
Mas, Prometeu, devemos lembrar, foi recompensado por sua
criatividade sendo amarrado ao topo de uma montanha. Esse é um
aspecto de Urano ou Aquário que poucos astrólogos, com a exceção de
Liz Greene, notaram; a incrível solidão de resolução que se apodera de
nós quando nosso espírito prometeano desperta plenamente.
A solidão e o isolamento experimentados quando incorporamos o
arquétipo de Urano é similar ao isolamento experimentado pelo
arquétipo de Saturno. Saturno caiu em desgraça quando seu filho
Júpiter o destronou e o baniu para o Tártaro. Urano também foi
destronado por seu filho, Saturno, e suas partes foram jogadas no mar.
Prometeu, cujo espírito se elevava, foi condenado a ser amarrado a uma
pedra; essas condições de liberdade e banimento se apoderam de uma
pessoa quando ela está sob influência de Urano em trânsito ou em
progressão. Primeiro, há a necessidade irresistível de criar ou gerar.
Como projetor da primeira raça de deuses terrestres, aquele que
responde ao arquétipo de Urano se sentirá onipotente, libertado pelos
sentimentos que resultam de uma co-criação tão magnífica, sem
qualquer premeditação quanto aos resultados ou o efeito de que essas
criações terão sobre seu criador ou sobre o mundo em que emerge. Na
mitologia, a Mãe Terra Gaia deu um fim a isso; o tempo e a distância
trouxeram alguma objetividade e perspectiva ao assunto. Repetimos,
para Urano tudo acontece de forma explosiva — a repentina
consciência de que a pessoa pode criar coisas
O relâmpago é associado a Urano, bem como a Júpiter. Fotografia de Michael
Guttman
magníficas e o repentino fim ou queda do estado divino que resulta
quando a pessoa é trazida de volta à vida real. Da mesma maneira, a
energia de Prometeu é um espírito arrojado, que voa alto com os deuses,
consciente da ordem universal do cosmo, mas preso num corpo terreno
no qual parece estar acorrentado ou com os movimentos severamente
restringidos. Assim, os uranianos, que não encontram um modo de
reconciliar seu dilema criativo, sofrem de uma sensação de frustração e,
freqüentemente, de isolamento. Quando alguém reside no reino dos
deuses, mas é acorrentado à terra, o mundo pode ser um lugar muito
solitário. Também pode induzir características de violência.
O sêmen de Urano deu origem à deusa do amor, Afrodite. Quase
todos nós experimentamos o magnetismo e a atração uraniana em
assuntos amorosos. Ouvimos com muita freqüência, porém, que os
casos amorosos que se iniciam sob a influência de Urano podem
terminar tão abrupta e intensamente quanto começaram. Urano, como
os outros planetas exteriores, precisa de nove meses para completar um
trânsito sobre um planeta ou grau em particular. O que se inicia no
início do trânsito de Urano pode terminar com a sua conclusão. Muitas
pessoas experimentam uma necessidade repentina, esmagadora, de criar
um estilo de vida totalmente novo para si e romper uma rotina ou
relação. São irresistivelmente atraídas para o campo magnético de
alguém ou experimentam uma outra forma uraniana de libertação
durante o trânsito de Urano pelos planetas natais. Mas, com freqüência,
quando
o trajeto de Urano se completa, a pessoa é trazida de volta daquelas
alturas celestiais e deve novamente adaptar-se à realidade terrena.
Quando alguém experimenta um trânsito de Urano (especialmente pelo
Sol, Lua ou Ângulos), pode parecer bastante afastado das preocupações
cotidianas da vida — a rotina mundana não tem muito interesse para ele
durante essas etapas. Esses períodos são com freqüência caracterizados
por um sentimento de estar elevado a estados eufóricos normalmente
reservados para os deuses — como Prometeu roubando o fogo ou Urano
envolvido em atos de magnífica criação. Impulsos elétricos zumbem em
torno de nós, parecemos amarrados a gigantescas redes de
computadores que oferecem toneladas de informação nova e excitante,
nosso sistema nervoso é altamente estimulado — e, certamente, temos
de nos concentrar para nos sentirmos ligados ao chão. Embora esses
estados possam ser altamente compensadores, o baque na volta à terra
parece muito duro quando a fase termina. Mas, imagine viver nesse
estado o tempo todo — seria preciso grande habilidade para agir de
forma realista e eficiente num universo uraniano perpétuo. Saturno é o
deus da terra e exige que ajamos de acordo com suas leis. Os períodos
uranianos vêm trazer um alívio de Saturno, dando-nos uma chance de
atingir a liberdade de que precisamos, acabar com modos de
comportamento desgastados, permanecer progressivos e manter nosso
suco criativo correndo. Mas, há pessoas nascidas com um fator Urano
altamente enfatizado no mapa e essas pessoas estão extremamente
estimuladas na maior parte do tempo. Sua consciência pode certamente
ser divina ou extramundana. Podem ter freqüentemente visões de
extraterrestres, pois esse é um símbolo uraniano/prometeano — deuses
que residem acima de nós e que vêm à nossa esfera para nos ajudar com
nosso processo revolucionário (Prometeu/Quíron) ou para infligir
vingança e punição sobre nós, como Zeus em seus momentos de ira. Os
homens sempre contaram mitos sobre como os deuses estão raivosos ou
contentes conosco, segundo a maneira como interagimos com a
natureza. Relâmpagos e trovões (símbolos de Urano e Júpiter) são
símbolos tradicionais dos momentos em que os deuses estão bravos
conosco. Visitantes de outros planetas são normalmente descritos como
úteis a seus irmãos terrenos menos desenvolvidos ou como
propositalmente destrutivos, tentando conquistar-nos123.
Talvez não haja uma maneira melhor de afirmar a influência de
Urano nos assuntos humanos do que perceber os quatro estágios
uranianos na vida humana. Urano leva 84 anos para dar a volta do
zodíaco; assim, estará em quadratura com a posição natal por volta dos
21, em oposição a si mesmo aos 42, em nova quadratura aos 63 e
123. Greene, Liz, The Astrology of Fate, York Beach, ME, Samuel Weiser, 1984, pp.
250-7.
voltará ao seu lugar aos 84. Esses são os quatro momentos uranianos na
vida de uma pessoa e podemos emprestar uma frase do psicólogo Gail
Sheehy, chamando-os "crises previsíveis da vida adulta"124.
A primeira quadratura uraniana concorre no final da adolescência
e início da vida adulta. Aqui vivemos o espírito uraniano de rebelião em
em sua forma mais pura: é a idade em que incorporamos o homem
selvagem, vestimo-nos como boêmios, repudiamos os valores de nossos
pais ou da sociedade, vivemos com pessoas com quem nunca
pretendemos casar e acabamos partindo em viagem pela América na
garupa de uma moto. Claro, algumas pessoas nunca passam por essa
fase de rebelião, embora talvez fosse mais saudável se o fizessem. Esses
personagens naturalmente saturninos, não tendo feito suas loucuras de
juventude, podem achar a fase seguinte de Urano muito difícil de lidar.
Já se disse que "a vida começa aos 40", o que é um modo
inconsciente de a sociedade reconhecer a oposição de Urano. Os
psicólogos chamam a isso "crise da meia-idade". Astrólogos
conservadores (saturninos) — e sempre parece haver um punhado deles
— podem olhar para esse período da vida com grande trepidação e
caracterizá-lo como caótico. Mas, os astrólogos uranianos o vêem
como, potencialmente, a melhor época da vida. É quando nos
conscientizamos de que ainda não somos velhos, mas de que não somos
mais jovens. Não sabemos tudo, mas sabemos bastante. Quando Urano
entrou em quadratura consigo mesmo aos 21, pensávamos que sabíamos
tudo; mas, quando ele atinge a oposição, percebemos que não sabemos
nada e que essa percepção nos traz uma espécie de iluminação que nos
dá uma chave para destrancar as portas secretas do futuro. Essa
percepção, junto com alguma experiência saturnina, nos prepara em
grande estilo para a próxima fase da vida, quando começamos a colher
aquilo que trabalhamos tanto para plantar. Perguntamo-nos, nessa fase,
se atingimos ou não nossos objetivos, se realizamos nossos sonhos. Se
formos sábios, percebemos que é tempo de desviar a atenção de
preocupações puramente materiais ou mundanas (Saturno) para
objetivos mais espirituais, criativos e individuais (Urano). Os que
estiverem abertos a esse momento uraniano estarão prontos para elevarse.
Já têm idade bastante para usar as habilidades que adquiriram ao
lidar com o mundo de Saturno — habilidades que podem ajudá-los a
encontrar a liberdade interior e exterior, ainda tão nebulosa e dura de
alcançar quando tinham vinte anos. Aqueles que não podem ouvir a voz
de Urano nessa época, podem começar a fazer coisas muito estranhas. A
mãe fuma maconha com os filhos, visita um astrólogo pela primeira vez
ou tem um caso amoroso;
124. Sheehy, Gail, Passages, Nova York, E.P. Dutton, 1974.
o pai chega ao escritório de contabilidade em uma nova Harley e
belisca todas as secretárias. Aqueles que tentam manter tanto a
criatividade quanto o caos fora de suas vidas podem correr o risco de
desenvolver doenças sérias — especialmente homens executivos que
não querem sair da pista rápida.
A quadratura final ocorre por volta dos 63 anos. É significativo
que nossa sociedade tenha escolhido esse período como idade da
aposentadoria. Somos, finalmente, libertados do mundo de Saturno. E a
fase em que papai e mamãe vendem a casa, decoram o motor-home com
adesivos que anunciam "Vamos gastar a herança de nossos filhos" e
põem o pé na estrada. Agora, terminado o jogo, podem finalmente
descobrir a América — que foi o que tentaram fazer há quarenta anos!
Urano volta a seu lugar após oitenta e quatro anos. A maior parte
das pessoas não vê isso acontecer, pois ainda está além da expectativa
de vida média dos americanos contemporâneos — embora isso deva
mudar logo. Com muita freqüência, estamos cansados, doentes ou
presos ao leito ao atingir essa fase. Isso nos diz algo sobre nossa
sociedade: não damos valor à velhice e, conseqüentemente, não estamos
preparados para receber essa bênção. Se tomássemos como exemplo as
tribos nativas que honram e reverenciam seus anciãos e os convidam a
ensinar os mais jovens, experimentaríamos a iluminação maior de
Urano, pois simbolicamente essa infusão uraniana final sugere um
renascimento espiritual, quando aceitamos de boa vontade separar-nos
do mundo e fixar o olhar em pastagens mais verdes e mais livres.
Alguns acontecimentos muito profundos têm lugar quando Urano
está em conjunção com outro planeta, especialmente um dos exteriores
ou trans-saturninos. Urano fez sua última conjunção com Saturno
durante 1988 no signo de Saturno, Capricórnio. Novos paradigmas
políticos emergiram e continuarão a emergir até que os planetas
exteriores Urano e Netuno saiam de Capricórnio, em 1998. Urano
encontrou-se com Netuno durante 1993, no signo de Capricórnio.
Como este é um signo de terra, normalmente associado a administração,
governo e economia, o final da década de 1980 e toda a década de 1990
podem ser caracterizados como um período de mudança de realidades
políticas ou, como dizem os sensitivos, "mudanças na Terra"!
Urano fez conjunção com Plutão durante a década de 1960, sendo
que a conjunção exata ocorreu no meio da década, o que demonstra a
experiência de irrealidade que pode ocorrer durante um trânsito de
Urano. Ambos os corpos no espaço simbolizam mudança — com
Urano, as mudanças são para melhorar, revolucionar ou ser
progressivo, de algum modo; mas com Plutão que, como Shiva, é um
deus da destruição, a mudança não carece de análise racional. Dessa
forma, testemunhamos um período tão fora do comum que os
historiadores ainda estão
tentando definir o que aconteceu. Algumas das coisas que foram postas
em movimento durante aquela década provavelmente levarão um ciclo
completo (oitenta e quatro anos) para manifestarem-se plenamente ou
serem compreendidas por nós. O fato de os dois planetas terem se
encontrado no signo astrológico da deusa da terra (Virgem de Deméter)
sugere que uma nova consciência da terra (talvez de natureza religiosa)
emergia e começava a virar a maré da ascensão tecnocrática anterior de
Urano. Uma nova onda de "caçulas da terra" emergiu, defendendo o
êxodo de nossas cidades poluídas e a volta ao campo, um retorno à
"vida natural" e, mais importante que isso, assumindo um compromisso
de combater a poluição das florestas, rios e oceanos da Terra e impedir
que mais espécies se extingam. A tendência continua, mais de trinta
anos depois; mas o importante alvoroço em que se encontram cidadãos
e políticos atualmente não terá nunca a mesma intensidade ardorosa que
caracterizou os anos da conjunção — embora possamos experimentar
uma profunda intensidade emocional sobre esses problemas como
resultado da conjunção Urano-Netuno em 1993.
Netuno em um "cavalo-marinho" do Kunstbüchlin de Jost Amman, publicado por Johann
Feyerabend, Frankfurt, 1599
Vós, elfos das montanhas e córregos, das lagoas
tranqüilas e dos bosques,
Que nas areias, com pés que não deixam rastro
Perseguem Netuno na vazante ou dele fogem
Quando volta...
— Shakespeare, A Tempestade, V, I
Do reino aquoso do oceano
vem Posídon, irmão de Zeus.
Quando Zeus tornou-se
comandante e chefe do monte
Olimpo, dividiu o reinado do
mundo com seus dois irmãos,
Posídon e Hades. Hades recebeu
o domínio do mundo
subterrâneo, enquanto Posídon
deveria governar os oceanos.
Portanto, somos mais familiares
com essa forma oceânica,
embora Posídon também governe
os cavalos e os terremotos.
O contato com o grande
oceano do inconsciente coletivo,
esse eterno armazém de imagens
e sonhos, pode trazer terremotos
psíquicos e nos varrer para o
reino tempestuoso de Posídon.
Em geral, porém, os astrólogos
percebem Netuno como um
planeta suave, quase feminino —
alguns nem mesmo usariam a
palavra "quase". Netuno aparece
muito forte nos
horóscopos de idealistas, musicistas, pintores, dançarinos
(especialmente dançarinos), assim como entre alcoólatras, viciados em
drogas, terapeutas e aqueles que seguem uma vocação espiritual. O
netuniano típico vive em outro mundo, sua visão volta-se para uma
realidade interior que pode criar castelos de fantasia que deliciam as
multidões ou que podem levar o nativo a um submundo escuro de
escapismo e abuso de substâncias tóxicas.
Esse devaneio deve nos alertar para o fato de que Netuno está
agindo como mensageiro para outro arquétipo que não o tempestuoso e
irado deus do mar Posídon. É o espírito de Dioniso — tão visível em
nossa cultura moderna, mas notavelmente ausente do céu — que se
incorpora no Netuno planetário. De acordo com a versão órfica do mito,
Perséfone, rainha do mundo subterrâneo, era mãe de Dioniso. Nos
mistérios de Elêusis, Dioniso era revelado como o miraculoso filho de
Deméter. Ele era, em tempos arcaicos, filho divino da Mãe Terra, ou
mesmo da Mãe do mundo subterrâneo. Suas origens vêm das
profundezas do inconsciente. A história mais comum de seu
nascimento, porém, faz dele um filho de Sêmele, princesa de Tebas; seu
pai era Zeus. Hera, com ciúmes, enganou Sêmele, fazendo com que
fizesse um pedido fatal para seu amante: ela pediu para que Zeus se
mostrasse a ela em toda a sua glória. Zeus atendeu ao infeliz pedido e
Sêmele foi consumida em fogo imediatamente. Mas, seu filho de seis
meses, Dioniso, foi costurado na coxa de Zeus, para que pudesse nascer
no tempo devido. Escondido de Hera, foi criado por um grupo de ninfas
chamadas Híades; elas o disfarçaram de menina. Não devemos nos
espantar, portanto, com o fato de os netunianos terem uma suavidade
feminina ou pelos netunianos homens serem muito delicados: Dioniso é
filho da Grande Mãe e foi criado como andrógino.
Um homem netuniano
realmente ama mulheres;
chega mesmo a compreendêlas.
Quando Dioniso tornou-se
consciente de sua divindade,
mostrou-se como mais do que
apenas o filho de sua mãe;
incorporou também o Homem
Selvagem. Após ensinar o
cultivo da vinha à
humanidade, viajou pelo
mundo, espalhando o êxtase
alcoólico por onde passava.
Suas devotas, as mênades,
eram mulheres embriagadas
que dançavam com
Dioniso numa moeda de bronze da Bitínia
durante o reinado de Prúsias II, 15-114 a.C.
Da coleção Michael A. Sikora
Uma gravura do século XIX mostrando o Bacanal,
o frenético culto ao deus Dioniso, ou Baco, segundo o vaso Borghese no Louvre
selvagem abandono e que, em sua loucura, cortavam homens em
pedaços. Aqui vemos incorporados dois dos atributos mais populares
de Netuno: sua ligação com a arte da dança e com a embriaguez
alcoólica ou narcótica.
Dioniso é principalmente um deus do êxtase religioso. Pode ser
um dos deuses mais antigos que conhecemos. Robert Graves chama a
atenção para uma pintura da idade da pedra na caverna de Cogul, que
mostra um homem no centro de um grupo de mulheres dançando
selvagemente125. Isso, assim como sua posição como filho de
Deméter nascido na Terra, sugere que originalmente o próprio
Dioniso foi feito em pedaços pelas mênades. O filho da mãe divina
torna-se seu amante e é ritualmente assassinado pelas sacerdotisas
dela para que possa voltar a se erguer. Marija Gimbutas identificou
uma divindade da Velha Europa (século 5000 a.C.) a quem chama o
Deus Pesaroso e que acredita ser um precursor de Dioniso em seu
aspecto de deus sacrificial126. A criança divina, ao crescer, se torna o
Deus Pesaroso. Em meio à dança sagrada, é assassinado. Mas volta a
se erguer, personificado como a vinha — ou seja, sua ressurreição é
êxtase. O cristianismo incorpora o mesmo mito, levemente
modificado.
O êxtase é ao mesmo tempo o dom e o defeito fatal do
indivíduo netuniano. Isso é muito bem ilustrado em nossa história
cultural recente, especialmente na década de 1960. Os astrólogos
com freqüência referem-se a essa década como uma época muito
netuniana — e realmente, as drogas, os arroubos amorosos, o
idealismo, a colorida roupagem boêmia sugerem Netuno muito
fortemente. Durante essa década, Dioniso — havia sido há muito
banido da vista de nossa cultura
125. Graves, Robert, The White Goddess, ibid., p. 399.
126. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, ibid., pp. 230-4.
puritana — fez sua dramática reaparição. As estrelas do rock dessa
época (Dioniso e Netuno são, ambos, ligados à música) foram rapazes
andróginos com cabelo comprido, filhinhos da mamãe. Como outros
homens do tempo, procuravam mulheres, e não homens mais velhos,
para a iniciação. Assim, ganhavam uma visão interior lunar, mas
careciam da força solar. E, sempre que se apresentavam, arriscavam ser
quase cortados em pedaços por multidões de seguidoras femininas.
Embora nunca tenham sido literalmente cortados em pedaços,
foram certamente assassinados simbolicamente pelo poder do
inconsciente coletivo. É perigoso ser possuído por um arquétipo. O ego
humano comum não consegue lidar com isso. Quando começamos a
acreditar que somos seres divinos, acima e além das leis e limitações
humanas, arriscamo-nos a ser engolidos pela Mãe Terra. As estrelas do
rock da década de 1960 fizeram essa descida por meio de sexo e drogas
— dois dos instrumentos favoritos de Dioniso. Jim Morrison, do The
Doors, é um ótimo exemplo. Segundo alguns relatos, ele acreditava
conscientemente estar possuído pelo espírito de Dioniso. Assim,
rendeu-se de boa vontade ao Homem Selvagem dentro de si e isso o
matou.
O xamã saudável, que cura a tribo, não cai vítima do tipo de
possessão arquetípica que aflige tão facilmente os netunianos
contemporâneos. Ele executa sua dança divina, tira sua máscara e volta
à consciência humana comum. Um processo similar ocorre no teatro,
que é uma excelente analogia por duas razões: o teatro, no mundo
ocidental, surgiu nos festivais de Dioniso; e os indivíduos netunianos
tendem a se sair bem nas artes performáticas. Um ator, assim como um
xamã, treina para assumir outra personalidade — antigamente, era
sempre a personalidade de um deus. Ele veste a máscara, executa a
dança, canta o cântico sagrado — e está pronto. A tribo foi curada. O
sentido de catarse, tão importante para o dramaturgo grego, foi
atingido. A possessão arquetípica — o rendimento à ilusão netuniana
coletiva — ocorre quando somos incapazes de remover a máscara de
deus. Outro exemplo é Marilyn Monroe, que tinha Netuno em ascensão
(junto com Vênus no Meio-Céu) e que decaiu num mundo de drogas e
álcool porque foi incapaz de pousar a máscara de Afrodite. A deusa a
consumiu.
Como, então, devemos administrar a força do êxtase — a linha
direta para o mundo dos deuses que parece ser a província de todos os
netunianos, para o melhor ou o pior? Como devemos nos ensinar a tirar
a máscara do deus sacrificial, do homem selvagem, ou qualquer
máscara que tenhamos escolhido para nós? O mito de Dioniso sugere
duas respostas. Uma delas é: um relacionamento amoroso baseado nos
mais altos ideais netunianos. Durante sua jornada desenfreada pelo
mundo, Dioniso chegou à ilha de Naxos. Ali encontrou Ariadne,
princesa de Creta, que ajudara o herói Teseu a matar o Minotauro e
derrubar o reino de seu pai. Por sua devoção a Teseu, foi muito mal
recompensada: o
"Ariadne abandonada" foi resgatada da ilha de Naxos por Dioniso
herói conquistador a abandonou na ilha. Dioniso apaixonou-se por
ela e a desposou; pouco depois, foi admitida na companhia dos
deuses olímpicos. Mediante ao seu casamento, ele adquiriu
maturidade e equilíbrio. Tomou seu lugar entre os deuses e
abandonou seu estilo de vida vagabundo. Mas, deve-se notar que
Ariadne era uma vítima — ferida pelo amor. O netuniano é
tipicamente atraído para relacionamentos com uma característica
salvador-vítima, o que é, com freqüência, pouco saudável. Apenas
concentrando o foco de um relacionamento na transcendência —
Dioniso foi ao Olimpo enquanto Ariadne recebeu um lar celestial
como a Coroa Boreal — o Netuniano cura seus anseios interiores e
alcança a maturidade da alma. Netuno já foi chamado a Oitava
Superior de Vênus; Vênus é exaltada no signo de regência de
Netuno, Peixes. Isso sugere que a manifestação mais elevada de
Netuno é o amor e a compaixão universal, que abrange tudo.
Mas, se o relacionamento netuniano é potencialmente
perigoso por causa de sua tendência salvador-vítima, a segunda
solução para o dilema dionisíaco é ainda mais arriscada. Conta-se
que o deus desceu ao mundo subterrâneo, encontrou sua mãe
Sêmele e subiu com ela ao Olimpo. Filho da Mãe Divina, tão
próximo do coletivo feminino que pode ser feito em pedaços por
ele, Dioniso encara a mãe diretamente. Da mesma maneira, o
netuniano pode escolher descer ao inconsciente para encarar o
mundo de sonhos e imagens que fazem de sua vida uma alegria e
um tormento. O netuniano pode escolher enfrentar Plutão, o
Senhor sombrio — ou, neste caso, a Senhora sombria — do mundo
subterrâneo. Afinal de contas, a versão órfica do mito nos conta que a
própria Perséfone era mãe de Dioniso! Mas a mãe pode comer seu filho, se
ele se aventurar demais no domínio dela. Para o netuniano, uma descida
direta ao inconsciente pode se mostrar fatal. Mas, se houver coragem o
bastante, pode também levar à salvação.
Os astrólogos inclinam-se a associar Netuno, incluindo sua dimensão
artística e espiritual, com o aspecto sonhador do mar. Sua regência sobre
Peixes conjura essas imagens, mas Netuno certamente tem seu lado negro.
Provavelmente nenhum planeta foi mais mal-compreendido e maldito em
textos astrológicos do que Netuno. Talvez, porque seu arquétipo reja o
oceano (o inconsciente coletivo), onde os processos lógicos e racionais
deixam de existir, é preciso olhar com outros olhos para "ver" Netuno. De
qualquer modo, visto ou não, seu poder de revolucionar nosso mundo
cotidiano foi amplamente demonstrado.
O planeta chamado Netuno foi descoberto em 1846 quando estava no signo
de Aquário e parece ser mais aquariano do que suspeitávamos. Catorze
anos após sua descoberta, o aquariano Abraham Lincoln tornou-se
presidente dos Estados Unidos. Era um homem de princípios tipicamente
aquarianos (prometeanos) e cuja missão tornou-se abolir a escravatura.
Realmente, a escravatura e o cativeiro parecem ser uma das tônicas de
Peixes, signo de regência de Netuno, enquanto a liberdade é questão
personificada por Aquário. Sua descoberta nesse último signo aponta para
uma explosão prometeana: Netuno não pode mais ser agrilhoado e mantido
em cativeiro contra a vontade quando está em Aquário (ou seja, quando
Prometeu está próximo). A escravidão é um problema da humanidade
desde os seus inícios e continua a assolar nosso mundo. Testemunharemos
novamente o trânsito de
Netuno por Aquário,
junto com Urano,
iniciando-se em 1998:
será o primeiro retorno a
esse signo desde sua
descoberta. Repetimos:
sem dúvida, a libertação
daqueles que ainda estão
acorrentados é a tônica
dessa era.
O problema com a
escravidão e o cativeiro é
que, uma vez libertos,
precisamos fazer escolhas
sozinhos, aceitar a
responsabilidade por
essas escolhas e
Netuno em seu aspecto colérico
Anfitrite, esposa de Posídon
viver de acordo com elas. Aparentemente, uma das coisas mais
difíceis é espanar areia de nossos olhos, despertar e manifestar
nossas visões. Mesmo quando têm a oportunidade de fazê-lo,
muitos de nós preferem viver com os olhos fechados, culpando
todas as outras pessoas por sua desgraça. Em círculos psicológicos
e em centros de tratamento por todo o país, esse processo chamado
negação dilacera o próprio tecido da unificação de corpo, mente e
espírito, o processo de síntese com o qual o signo de Peixes e seu
planeta regente, Netuno, é mais associado.
Negação significa literalmente "olhar para outro lado". A
negação, como vista em nossa sociedade por tanto tempo, baseia-se
nesse princípio — olhar para longe da realidade. Quando a
realidade (Saturno) é ignorada ou negada, Netuno toma a dianteira
com sonhos, fantasias, vícios, ansiedade desenfreada, etc. É isso
que assola nossa sociedade no final desta era de Peixes.
Basicamente, o vício deriva da co-dependência, a co-dependência
deriva de sentimentos de rebaixamento ou vergonha e a vergonha
começa com outra pessoa (tipicamente, o genitor) que quer arrumar
um bode expiatório para si e coloca a culpa de sua própria
inferioridade em nós. Isso é recorrente em sistemas familiares,
como apontou John Bradshaw de forma bastante eloqüente em seus
trabalhos127. Assim, o ciclo continua a se repetir até que finalmente
abrimos nossos olhos e ousamos nos ver no espelho como
verdadeiramente somos, e não por meio dos olhos da negação ou
das fantasias que criamos em torno de nós mesmos por tanto tempo.
Claro, esse processo demanda muita coragem e força e a maioria
das pessoas prefere o
127. Bradshaw, John, Healing the Shame that Binds You, Deerfield Beach, FL,
Health Communications, Inc. 1988, p. 103.
caminho da resistência. Ao examinar a posição astrológica de Netuno, é
possível apontar as áreas mais sujeitas à negação e à auto-ilusão.
Muitos livros de astrologia dão uma descrição bastante negativa
de Netuno, especialmente se, por acaso, Netuno está "aflito". De acordo
com os textos, se Netuno está transitando em seu mapa, é melhor você
ir dormir, matricular-se no centro de tratamento local ou partir em retiro
espiritual pelos próximos dois anos — nem tente realizar coisa alguma.
Na verdade, isso não reflete a realidade e, se refletisse, todo o nosso
mundo estaria disfuncional na maior parte do tempo, porque de um
modo ou de outro estamos sempre em um trânsito de Netuno. É uma
característica que Netuno compartilha com seu irmão Plutão, os dois
deuses que foram relegados aos reinos submarino e subterrâneo.
Residem em domínios em que é mais fácil ignorar ou empurrar para
debaixo do tapete todas as coisas com que não queremos lidar
diretamente — os domínios do inconsciente pessoal (Plutão) e coletivo
(Netuno). Esses dois departamentos são muito adequados para a
humanidade neste momento, pois se relacionam aos dois planetas mais
novos de nosso sistema solar.
Seja observando a regência de Netuno sobre drogas e álcool, a
indústria do petróleo (nosso vício tecnológico) ou mesmo nosso vício
em conquista espiritual, todos parecem buscar alguma forma de Netuno
em nossos dias. De certo modo, é como uma cenoura brilhante
pendurada diante de nós. Pensamos poder tocá-la, mas na verdade ela
sempre está longe o bastante para nos manter tentando alcançá-la.
Assim, o que acontece com os indivíduos que têm um trânsito de
Netuno afetando-os por algum tempo? O mesmo que ocorre para
pessoas que nasceram com Netuno proeminente; porém, as pessoas
nascidas com esse posicionamento devotam suas vidas inteiras a
compreender suas propriedades e fazer os ajustes necessários, enquanto
pessoas que o experimentam em trânsito significativo apenas são
forçadas a viver sob seu feitiço por um ou dois anos.
Netuno (Posídon) nem sempre foi um bom menino na mitologia.
De fato, era ótimo em atirar nuvens de tempestade e redes no caminho
de suas vítimas, fazendo com que perdessem seu caminho no mar por
longos períodos. A história mais famosa de sua vingança e de seus
feitos traiçoeiros é contada na Odisséia, detalhando a tentativa de
Odisseu para retornar à sua casa depois da guerra de Tróia. Muitas
pessoas sentem que não podem ver para onde estão indo quando estão
sob um trânsito de Netuno. Certamente, isso tem alguma verdade,
porém a visão do futuro vem de outros modos quando somos afastados
de um senso de realidade puramente físico. Assim, um dos trabalhos de
Netuno pode ser encorajar a abertura do terceiro olho, desenvolver a
confiança e a esperança na fé de um poder mais elevado que surge
quando um indivíduo não é mais capaz de controlar seu próprio
caminho.
Netuno ou Posídon
Mencionamos duas vezes a associação de Netuno cora a visão.
Quando têm a oportunidade de ver a verdade, as pessoas com
freqüência não a adotam e, em segundo lugar, quando a visão clara é
retirada delas, insistem em tentar ver de qualquer modo. Esse é o
aspecto velhaco de Netuno, que realmente tem influência sobre nossa
capacidade de ver. A maioria das pessoas com visão pobre tem Netuno
num aspecto proeminente com o Sol ou a Lua, os significadores
tradicionais da visão e dos olhos.
Se pensarmos em Netuno como num deus submarino, erguendo-se
do vasto mapa da consciência primordial, chegamos a um retrato de
uma divindade ou pessoa muito mais centrada no sentimento caótico e
no processo instintivo do que no reino ordenado, disciplinado e lógico.
Sentimentos pessoais governam de algum modo o tipo netuniano; mas,
mais que isso, Netuno representa sentimentos universais — aqueles que
flutuam pelos oceanos, contendo um pouco de tudo e de todos. Com
tanta sensibilidade e ternura, a maioria dos netunianos não sobrevive
muito bem no mundo lá fora, a menos que sejam dotados de um Júpiter
ou um Saturno bem-resolvido para ajudá-los. Mas, acabam por perceber
que não pertencem a esse mundo e, mais importante, que não precisam
agir como se pertencessem ou se conformar às expectativas de outra
pessoa. Seu desafio na vida é manter-se ligados a seu centro espiritual
interior enquanto continuam a viver no plano material, processo similar
ao de Peixes, com seus dois peixinhos nadando em direções opostas
(ver Peixes). Peixes e Netuno têm a capacidade, além de todos os outros
signos e planetas, de absorver tudo o que os rodeia. Assim, têm também
a menor quantidade de ego pessoal ou limites. Limites fracos são em
geral uma aflição aquática ou dos signos de água, e são também
característica de Vesta, mas a falta de limites é mais aparente quando há
uma aflição de Peixes ou Netuno no mapa. Quando o indivíduo possui
um Netuno fortemente aflito, pode carecer de um senso de definição
pessoal, ou vontade, ou propósito, ou identificação no mundo exterior; o
resultado pode ser tão danoso que uma força solar ou saturnina forte é
necessária para trazer a pessoa de volta. A mesma falta de definição
pode ser verdadeira no mundo interior da pessoa — se Netuno não for
apoiado por uma forte Lua ou Vênus, pode haver muita dúvida e
confusão sobre as verdadeiras crenças interiores da pessoa. É por isso
que as pessoas ficam tão temerosas quanto aos trânsito de Netuno —
elas não parecem mais funcionar no mundo racional e linear como
antes. Seu modo de adaptação externa deixa de funcionar. Tudo começa
a ser despedaçado; nada mais faz sentido. O ego tem de se dissolver ou
ficar de lado enquanto Netuno atira sua rede sobre nosso caminho,
forçando-nos assim a aprender a navegar por outros métodos, ou seja,
confiando em nossas faculdades intuitivas ou aprendendo a desenvolvêlas,
se elas já não existirem. Quando Posídon atirou nuvens de
tempestade no caminho de Odisseu, o herói foi forçado a ter
discernimento, além de inteligência, para seguir em frente — e mesmo
assim levou dez anos para chegar em casa. Obviamente, as pessoas que
vivem apenas no mundo racional terão dificuldades em confiar de
repente no domínio de seus instintos. Assim como o teimoso Odisseu, a
maioria das pessoas não abraça abertamente os trânsito de Netuno.
Essas pessoas podem sentir ondas sazonais de emoção inundando-as
logo no início de uma experiência de Netuno, e isso é com freqüência
bastante assustador.
Mas, esse é também um processo necessário. A dissolução
representada por Netuno é importante em certas fases da vida em que
ficamos muito orgulhosos de nós mesmos ou de nossa ligação com
objetivos materiais. Netuno pode inflar nossos sensos de ego ou
importância (especialmente em relação à vida espiritual), mas também
pode agir como um artifício deflacionário. Até mesmo os ciclos
econômicos são afetados por esse planeta — quando Netuno está em
conjunção com Júpiter a inflação atinge seu pico; com Saturno,
predominam a deflação, a recessão e os temores econômicos. Com
Urano, todas as formas tradicionais e
barômetros econômicos são abalados. Estamos no meio de uma
conjunção de Urano e Netuno, que ocorre uma vez a cada século, cujo
ápice ocorreu em 1993. Como a conjunção ocorre em Capricórnio,
muitos astrólogos especulam que uma grande reformulação das
realidades econômicas e políticas que governam nosso planeta deverá
ocorrer. Uma vez que Netuno rege o socialismo em seu sentido mais
puro, ou seja, a desistência de valores pessoais em favor das massas, e
uma vez que Urano rege o processo democrático, há uma possibilidade
de que esses dois sistemas possam finalmente encontrar um terreno
comum e consigam uma espécie de fusão, que caracterizará a abertura
do século XXI. Certamente, haverá problemas a ser resolvidos antes,
mas essa é a conjunção planetária certa para instituir uma visão que
muitos já profetizaram — a de um governo mundial e uma coalizão
planetária que trabalhem juntos para servir o mundo, em vez de dividilo.
Falamos da ligação de Urano com seres extraterrenos; Netuno tem
uma sensibilidade similar. Porém, as visões uranianas se parecem mais
com um filme de ficção científica, cheio de seres que chegam em
espaçonaves para salvar ou ajudar o planeta Terra e seus habitantes,
enquanto as visões netunianas parecem angelicais e dévicas, vindas
diretamente de deus. Repetimos, não importa a forma que possam
tomar nossas visões coletivas, é muito provável que haja um senso de
consciência elevado dessas formas — o sentimento de que algo ou
alguém de fora de nosso reino físico está monitorando e influenciando
acontecimentos na Terra.
Como deus das tempestades e terremotos, Netuno era capaz de
liberar sua raiva primordial e sua intensidade emocional sobre a Terra à
vontade. Esse aspecto de Netuno não é bem compreendido, mas é o
resultado quando emoções e instintos não têm permissão de existir na
superfície ou quando não são liberados em intervalos apropriados.
Tanto Netuno quanto seu irmão Plutão podem desencadear esse tipo de
explosão. Na astrologia mundana, Netuno governa os terremotos, os
furacões e as ressacas (e, aparentemente, os derramamentos de
petróleo), enquanto Plutão rege as erupções vulcânicas. Esse tipo de
ocorrência está além de nosso controle e pode arrasar milhares de
pessoas de uma só vez sem nenhum aviso sobre quando ou onde vão
atacar. Isso se relaciona ao tipo de sentimento de medo, trepidação ou
descontrole que se pode experimentar durante um trânsito de Netuno ou
Plutão — simplesmente porque não há um meio de saber o que será
destruído ou por quê — e, realmente, há pouco a se comentar sobre o
assunto.
Netuno encontrou-se pela última vez com Plutão em 1892 no
signo de Gêmeos, uma era caracterizada pelo rápido avanço da
mobilidade aérea e terrestre, das comunicações e do conhecimento
tecnológico, assim como pelo início da consciência "New Age" (Nova
Era) entre os primeiros teosofistas, artistas e performers que
compunham o cerne da
Ordem da Aurora Dourada, e mesmo entre os milhões de leitores do
romance best seller de Du Maurier Trilby, no qual o sinistro
hipnotizado Svengali (Plutão) domina uma bela cantora (Netuno).
Desde 1945 até 2000, Netuno e Plutão viajarão mais ou menos à mesma
velocidade e permanecerão numa formação sextil (60 graus), uma
indicação de que poderosos processos evolucionários podem ocorrer
fácil e naturalmente para a humanidade, e de uma época em que o
racismo, o preconceito, a guerra e a injustiça terão sua melhor chance
para ser dissolvidos e superados.
Mas quando uma nuvem negra o mundo ameaçou,
Com sua neblina turva escondeu as altas montanhas,
Algumas brisas suaves o útero sombrio da terra soprou,
Exalando tenebrosos vapores de suas entranhas...
E o deprimido Plutão pestanejava enquanto Orfeu tocava.
— Shakespeare, O Rapto de Lucrécia.
Quando o planeta descoberto
em 1930 foi batizado Plutão, o
mundo embarcava em outra crise.
Esse período foi o momento mais
negro do século XX; de fato, de
toda a era pós-industrial. Os
Estados Unidos estavam nas garras
de uma severa depressão, tão
grande que por todos os lados
havia pessoas pulando do alto de
edifícios porque tinham perdido
suas fortunas. Para a Europa, a era
do ditador estava em pleno vapor:
Hitler, Mussolini e Franco, com
seus exércitos sombrios, evocavam
o terror. O gangsterismo, tanto na
América quanto na Europa, estava
em ascensão e os chefões da Máfia
implementavam seu próprio modo
de terrorismo. Na área científica, a
bomba atômica, feita de plutônio,
estava em seus primeiros estágios.
O mundo vivia entre duas guerras
mundiais; prevaleciam o medo e a escuridão. Outro elemento
plutoniano emergiu das profundezas do mundo subterrâneo — a
psicologia profunda e o processo psicanalítico estavam em seu apogeu
com Freud (sexualidade plutoniana), Adler (direcionamento de poder
plutoniano) e Jung (transformação plutoniana).
O planeta Plutão recebeu rapidamente a regência sobre Escorpião,
já que tanto o planeta quanto o signo têm afinidades com o mundo
subterrâneo. E, como as interpretações astrológicas de Plutão
começaram há 60 anos, foi inicialmente uma síntese de mitologia,
acontecimentos mundiais e o significado do signo astrológico de
Escorpião que formulou o simbolismo do planeta. O tempo mostrou que
esses significados estavam corretos, pois vemos o mundo escuro de
Plutão emergir muito claramente em nosso século. O medo que
tínhamos dos já mencionados gangsterismo, terrorismo, ditadura,
bombas nucleares e depressão econômica durante a descoberta de
Plutão haviam se tornado um temor constante. Em todos os jornais,
dominavam essas histórias. Um novo
tipo de inimigo emergira
também na forma da energia
atômica — um inimigo que
poderia aniquilar o mundo em
questão de minutos,
especialmente se caísse nas
mãos erradas.
Dessa forma, Plutão,
que os gregos chamavam
Hades, foi reintroduzido em
nosso mundo. Assim como
seu irmão Posídon, Hades
recebeu a regência sobre uma
região do mundo menos
glorificada do que aquela
comandada por seu irmão
Zeus. Hades regia o reino da
escuridão e do medo — o
mundo dos mortos.
Plutão, assim como seu
irmão Zeus, foi engolido por
seu pai, Cronos. Ao ser
libertado da sombra de
Cronos, tornou-se o
governante do mundo
subterrâneo. Sempre viveu
longe da luz do dia e,
metaforicamente, podemos
constatar que isso
Plutão entronizado
teve um efeito em seu caráter. O planeta Plutão, que é um planeta bem
pequeno, fica nos confins do sistema solar, atrás dos gigantes Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno. O sol não brilha em Plutão.
Os astrólogos por vezes ficam confusos com o simbolismo de
Plutão, pois o planeta parece ser ao mesmo tempo masculino e
feminino. A contraparte feminina de Hades é Perséfone; muitas
mulheres que têm Plutão numa posição importante experimentaram
uma forte ressonância com Perséfone e sua história. Ela foi raptada
muito jovem por Hades e, embora tenha acabado por gostar de sua vida
como rainha do mundo subterrâneo, também sempre acabou vivendo na
sombra — a sombra de sua mãe Deméter, cuja possessividade era
extrema e, em seguida, ao lado de Hades.
A história da subida de Hades ao mundo exterior para raptar sua
noiva Perséfone já foi contada aqui (ver Ceres). Após ter capturado
Perséfone e feito dela sua rainha, ele presumivelmente não teve
problemas com ela, mas pode ter precisado dela para ser realmente rei
de seu escuro domínio. Nas sociedades pré-patriarcais, havia sempre
uma deusa no mundo subterrâneo, assim como no mundo exterior.
Psicologicamente, os instintos femininos se saem muito melhor nas
regiões subterrâneas do inconsciente do que os aspectos masculinos.
Assim, a presença de Perséfone no mundo subterrâneo restaurou
parcialmente a regência feminina original desse mundo. Zeus e Hera
tinham muitas brigas e lutas de poder no monte Olimpo, mas não há
menção de discussões semelhantes entre Hades e Perséfone. Eles
governavam juntos, exceto nos meses em que Perséfone tinha
permissão de voltar para sua mãe, Deméter.
Se parte da interpretação de Plutão derivou-se de sua associação
com Escorpião, devemos olhar também para Marte, o antigo regente de
Escorpião, e para o fato de que Plutão é considerado a oitava superior
de Marte na astrologia tradicional. Definitivamente, há
correspondências entre esses dois planetas — por exemplo, são
associados, em alguns sistemas esotéricos, com os chacras ou centros
de poder, o primeiro e o segundo, que governam os instintos e a
sobrevivência. Mas há algumas diferenças vitais.
Marte era, oficialmente, um deus da guerra; expressa a energia em
um nível muito consciente e físico. Plutão também tem um espírito
guerreiro, mas está incrustado no mundo subterrâneo ou inconsciente e
é portanto libertado de forma esporádica e desajeitada nas épocas em
que a pessoa está menos capaz de controlá-lo. Em uma palavra, essa é a
chave para Plutão. Ele desafia o controle. Tem uma vida própria e,
quando uma pessoa está envolvida no processo plutoniano, tudo o que
pode fazer é esperar até que ele se resolva para que a mente racional
possa novamente dominar. Adequadamente, Plutão recebeu o domínio
sobre o inconsciente pessoal e a psicoterapia em geral. Fomos
apresentados a
Hades, Perséfone, Hermes e almas entrando no mundo subterrâneo
esses estados de comportamento "anormal" por meio de Urano e
Netuno, os outros dois planetas de oitava superior. O limite
exterior de Urano sugere o caos primordial do qual ele emergiu,
semelhante ao reino do ar, ou seja, a oitava superior de Mercúrio.
As fúrias de Netuno e suas profundas meditações nasceram nas
profundezas do oceano — caos emocional ou êxtase transcendente
na mais intensa forma. Com Plutão, com freqüência,
desencadeamos a turbulência subterrânea de anos de sentimentos
reprimidos e, como oitava superior de Marte, os sentimentos
plutonianos normalmente incluem raiva e violência afogadas há
muito tempo. Por que tanta raiva? Seria Hades um deus raivoso?
Não há qualquer menção à raiva em sua mitologia, mas sabemos
que seu irmão Zeus tomou para si o governo do céu e da terra e
deixou a ele o reino dos mortos — algo que pode muito bem
inspirar ciúmes e mesmo raiva128.
Portanto, ambos os lados de Plutão podem representar
repressão e dominação — típicas experiências de infância do
plutoniano, que podem acabar por capacitar-se para "tomar de
volta" todo o poder perdido. Eis como Plutão ferido pode acelerar
seu próprio processo de cura. Porém, há muitos plutonianos que
nunca conseguem fazer com que o processo funcione de forma
suficientemente saudável. Os plutonianos que continuam a
lamentar-se por seus raptos ou humilhações continuam a viver na
escuridão ou na sombra daquela experiência ou pessoa.
Normalmente, buscam vingança sobre aqueles que os maltrataram
ou, pior ainda, começam a maltratar outras pessoas. O Plutão
curado pode
128. Bolen, Jean Shinoda, Gods in Everyman, ibid., pp. 98-123.
tornar-se Perséfone, que transforma sua experiência de rapto em
sabedoria e adquire os mistérios da vida, da morte e do mundo dos
espíritos. Perséfone alterna-se entre dois mundos — o dos vivos e o dos
mortos, a luz e a escuridão, o consciente e o inconsciente — para
conseguir o equilíbrio e a harmonia em seu ser. Se Plutão não for
curado, permanece preso no Hades, no sombrio subterrâneo, com
ciúmes de seu irmão Zeus, com raiva de seu pai Cronos, raptando todas
as Perséfones que vê pela frente e conversando apenas com os mortos,
formas sem vida que surgem diante dele.
Como Plutão tem o domínio sobre o mundo e as almas dos
mortos, não podemos evitar o simbolismo que isso apresenta em
astrologia. Muitos astrólogos, como Jeff Green, relacionam sua posição
com a viagem da alma129. Liz Greene relaciona Plutão ao governo
subterrâneo e instintivo das Moiras, as Parcas cuja lei era definitiva e
absoluta e não podia ser subvertida, nem mesmo pelo próprio Zeus130.
Uma vez que uma alma era condenada ao domínio de Hades, ali ela
ficava. Obviamente, Plutão trata de assuntos da vida e da morte e
muitas pessoas tremem ao pensar que um trânsito de Plutão significa
que há uma morte próxima. Sempre há uma morte de algum tipo nas
proximidades, mas Plutão não trata apenas (e nem mesmo
principalmente) de morte física. Normalmente há algum tipo de morte
psicológica ou perda durante o trânsito de Plutão. A sensação é como a
de ser sugado por um buraco negro. Nesses períodos, é melhor agüentar
como dá e deixar passar. Nada pode nos tirar desse buraco até que
estejamos prontos para emergir.
Podemos encarar o retorno de Perséfone ao mundo subterrâneo
como um ciclo anual que representa as estações, como um ciclo
humano representando as perdas e ganhos experimentados na vida ou a
jornada da alma para o mundo subterrâneo (vida após a morte) e de
volta para o próximo corpo (reencarnação); de qualquer forma, seu
mito tornou-se um dos dramas mais representados sobre a vida e a
morte.
Talvez o mais poderoso de todos os mitos plutonianos venha da
antiga Mesopotâmia e não da Grécia. Envolve a descida da deusa Ishtar
ao mundo subterrâneo. Ishtar é um nome babilônico; porém, a mesma
história foi contada sobre sua equivalente Suméria Inanna, o que faz
desse um dos mais antigos mitos registrados
Ishtar chorava a morte de seu amante, Tammuz. Começou sua
jornada ao mundo subterrâneo para tentar trazê-lo de volta.
Sucessivamente, passou por cada um dos portões da região dos mortos.
A cada
129. Green, Jeff, Pluto: The Evolutionary Journey of the Soul, St. Paul, MN, Llewellyn,
1985.
130. Greene, Liz, The Astrology of Fate, ibid., pp. 36-51.
vez que atingia um novo portão, os guardiões sombrios exigiam algo
dela. Ele entregou sua coroa, suas jóias. Finalmente, entregou suas
roupas. Portanto, a deusa do amor estava totalmente nua quando chegou
ao trono da rainha do mundo subterrâneo.
Essa rainha subterrânea — a encarnação feminina de Plutão — era
conhecida como Ereshkigal na versão Suméria da história. Parece ser
análoga à Górgona Medusa do mito grego. O cabelo de Medusa era
feito de serpentes, enquanto Ereshkigal, ainda mais primitiva, tinha o
cabelo feito de sanguessugas. A recepção de Ishtar não foi nada
favorável: a deusa do amor foi pendurada a um gancho de açougueiro
como se estivesse morta, uma carcaça desfazendo-se no chão do
inferno.
Mas, os deuses não podem suportar um mundo em que não haja
uma deusa do amor. Enviaram seus mensageiros ao mundo subterrâneo
para pedir que Ereshkigal libertasse a deusa. Dessa forma, Ishtar voltou
à região dos vivos. Agora, porém, era algo mais do que apenas a deusa
do amor. Era a rainha do céu.
O mito da descida de Ishtar tem base na verdadeira astronomia.
Como observamos (ver Vênus), relaciona-se ao desaparecimento de
Vênus como Estrela da Manhã e seu reaparecimento como Estrela da
Noite. Mas, a ressonância psicológica desse mito tem significância
ainda maior.
Note que Ishtar começa sua jornada por causa de uma sensação
insuportável de perda — seu amante Tammuz estava morto. Quando
encaramos uma experiência plutoniana — seja por causa da posição de
Plutão no mapa astral ou por causa de um trânsito de Plutão —,
sentimos tipicamente essa mesma sensação de perda. Por vezes,
podemos achar que algo de grande valor foi afastado de nós. Nem
sempre é o resultado de um encontro verdadeiro com a morte física,
como foi com Ishtar (embora de fato possa ser). Em vez disso, podemos
experimentar a "morte" de um relacionamento, a perda de emprego, a
necessidade de vender uma casa estimada e de se mudar para um lugar
estranho. As variações são infinitas. Mas, de um modo ou de outro,
somos forçados a desistir de algo sem o que pensávamos que não
poderíamos viver. Não é de espantar, então, que a experiência de Plutão
possa ser tão terrível. Não é de espantar que nos sintamos como se
estivéssemos literalmente face a face com o Senhor ou a Senhora dos
Mortos. Estamos sem nenhum apoio e nossa segurança desapareceu.
Mas esse é apenas o início. Qualquer que seja a experiência inicial
de perda, manda-nos numa descida em espiral para as profundezas do
inconsciente, onde precisamos encarar nossos demônios pessoais.
Conforme descemos, parecemos perder cada vez mais as coisas que nos
fazem sentir salvos e seguros. Como Ishtar, somos despidos de nossos
trajes de glória. Esses trajes de glória podem ser posses materiais, mas
com maior freqüência são atitudes ou opiniões cuidadosamente
guardadas sobre a vida.
Tudo o que tínhamos por
certo parece
insignificante. Não temos
mais nenhuma sensação
de estrutura, seja moral,
emocional ou espiritual.
Por fim, encaramos a
imensa escuridão.
Ereshkigal, a rainha dos
mortos, com sanguessugas
no cabelo, é o rosto que
vemos no espelho. O
nome de Perséfone
significa "aquela que deve
ser temida". No centro de
uma experiência
plutoniana, encaramos
nossos piores medos. Não somos nada além de emoção crua ou
simplesmente uma coleção de órgãos e fezes amarrados num saco de
pele. Atingimos o fundo do poço; estamos pendurados num gancho de
açougueiro na parte mais profunda do inferno. Mas aí é quando surge
um outro lado de Plutão. Uma voz ainda fraca, como um mensageiro
dos deuses dentro de nós, começa a sussurrar palavras de consolo, de
esperança. Algo muda dentro de nós, algo que, no início, podemos ser
incapazes de definir. Começamos a nos erguer. A deusa do amor está
prestes a tornar-se a rainha do céu. Renascemos.
Psicólogos e astrólogos deram atenção a esse drama da descida;
Liz Greene liga apropriadamente a descida de Ishtar ao planeta
Plutão131. A analista junguiana Sylvia Brinton Perera chama a isso um
"modo de iniciação feminina"132. E, realmente, é significativo o fato de
ser tipicamente o arquétipo feminino a fazer a clássica descida —
Inanna, Ishtar, Core-Perséfone. A descida ao mundo subterrâneo
representa a aquisição da "sabedoria da serpente", que definimos como
uma sabedoria essencialmente feminina — afinal de contas, Medusa
tinha serpentes em seu cabelo e Escorpião, o signo tradicionalmente
associado à serpente, é regido por Plutão. Assim, o processo da
iniciação por meio de dor, tristeza, escuridão e ressurreição emocional é
um processo essencialmente feminino. Os homens não lidam bem com
essa jornada em
131. Greene, Liz, The Astrology of Fate, ibid., pp. 39-40.
132. Perera, Sylvia Brinton, Descent to the Goddess, Toronto, Inner City Books, 1981.
Perséfone numa moeda de bronze de Siracusa,
Sicília, durante o reinado de Agátocles, 317-289
a.C. Da coleção Michael A. Sikora
particular. Orfeu desceu ao subterrâneo para buscar sua noiva Eurídice,
mas não conseguiu trazê-la de volta à luz. Teseu fez uma jornada ao
subterrâneo, mas foi preso ali, grudado a uma cadeira de pedra. Foi
libertado por Hércules, um homem que passou pelo Hades com sucesso
— mas apenas porque permaneceu essencialmente intocado pela
experiência. Apenas Dioniso conseguiu descer ao mundo subterrâneo
com tanto sucesso que pôde trazer sua mãe Sêmele de volta ao mundo
dos vivos — e Dioniso foi criado por mulheres como mulher. Homero
diz de Dioniso: "Um homem, mas como se fosse uma mulher"133.
Hermes também podia ir e vir à vontade do domínio de Hades, mas
também tem qualidades andróginas. A descida plutoniana, embora
possa ocasionalmente ser experimentada por homens, é principalmente
um caminho feminino. Para os homens, o caminho de iniciação e
descida é mais propriamente indicado pelo sacrifício de Quíron e a
libertação de Prometeu. Os homens experimentam o planeta Plutão de
forma bastante diferente das mulheres, embora não se possa negar que
os homens podem sentir-se tão transformados por um trânsito de Plutão
quanto as mulheres.
O deus romano Plutão era associado à riqueza porque os antigos
mediam a riqueza terrena em termos minerais (ou seja, ouro e prata).
Não tinham moeda de papel. Como os minerais vinham de debaixo da
terra, eram parte do reino de Plutão. A riqueza física ou material pode
resultar às vezes de um Plutão proeminente, mas mais importante ainda
é a riqueza que reside no subterrâneo de nosso inconsciente; quanto
mais nos familiarizamos com aquilo que ocorre nesse reino, mais ricos
nos tornamos espiritualmente. Porém, não se pode negar que as pessoas
plutonianas podem também atingir grande riqueza material. Nosso
mundo " plutocrata", ou seja, em que quem governa detém a riqueza,
deriva seu nome de Plutão; a maioria dos grandes empresários,
magnatas e políticos (nos Estados Unidos, são principalmente os ricos
que se candidatam) têm um Plutão forte ou dominante em seus mapas.
Mas é igualmente provável que o trânsito de Plutão arranque a fortuna
de uma família, assim como pode trazer uma. Quando a vida de uma
pessoa é desequilibrada e há concentração absoluta e total na
arrecadação de bens materiais sem o desenvolvimento da riqueza
espiritual interior, Plutão pode ter efeitos devastadores nas marés da
fortuna. Durante a Grande Depressão (1929 e 1930, o ano da descoberta
de Plutão), as pessoas se matavam porque não suportavam existir sem
seu dinheiro. Tal dependência e ligação ao materialismo afetou nosso
mundo desde então, que resultou num severo estado de koyanisqaatsi, a
palavra Hopi para "vida desequilibrada". Um Plutão forte tipicamente
forma um tipo
133. Bolen, Jean Shinoda, Gods in Everyman, ibid., pp. 98-123.
intenso e meditativo de homem, com muita freqüência introvertido.
Esse indivíduo, com muita probabilidade, concentrar-se-á nas coisas
que são símbolo de poder em nossa cultura — sexo, dinheiro e o
próprio poder. Políticos e magnatas financeiros em geral têm Plutão em
posições muito fortes em seus mapas astrológicos — o Plutão de
Richard Nixon está no Meio-Céu em oposição a Marte, e o de John
DeLorean está no Nadir em oposição ao Sol. Esses homens podem
parecer implacáveis ao mundo, pois possuem a qualidade vulcânica do
verdadeiro plutoniano — uma energia que irrompe no mundo com toda
a força de um terremoto ou uma bomba atômica.
Mas, apesar de seu mundanismo e aparente crueldade, esses
homens são motivados principalmente pelo inconsciente, pois esse é o
reino de Plutão. Sua intensa necessidade de se manifestar em termos
dos símbolos de poder de uma cultura é uma necessidade baseada nesse
mundo de complexos e insegurança que associamos a Plutão. Isso
implica, é claro, que esses indivíduos têm uma relação profunda,
poderosa e forte com o inconsciente. Com muita freqüência é uma
tragédia para o próprio homem quando ele não consegue reconhecer
que sua sede de poder tem raízes em seu próprio inconsciente. Ao
negligenciar suas profundezas psicológicas e projetar seu poder
plutoniano no mundo exterior, ele pode estar projetando sua própria
queda — tanto Nixon quanto DeLorean são bons exemplos. Os
problemas de Plutão só podem ser resolvidos quando são encarados no
próprio reino em que foram originados — como o inconsciente.
Carl Jung, com Plutão em conjunção com sua Lua natal, voltou
seu poder plutoniano diretamente para sua fonte e assim abriu a porta
para as camadas profundas da psique humana que eram território
desconhecido para as pessoas do início do século XX. Eis o verdadeiro
potencial da personalidade plutoniana — abrir fontes ocultas de
conhecimento e sabedoria. Portanto, aqueles que possuem um Plutão
forte podem fazê-lo funcionar de modo positivo como terapeutas,
cientistas ou pesquisadores de qualquer variedade. Se olharmos para os
anos imediatamente anteriores à descoberta de Plutão, podemos ver que
o planeta estava trabalhando no campo da literatura, assim como na
psicologia e na economia. O Ulysses de James Joyce foi lançado em
1922 e não há personagem da literatura tão plutoniano quanto a heroína
de Joyce, Molly Bloom, que faz seu solilóquio final enquanto menstrua
num urinol nas horas que antecedem a amanhã, relembrando
experiências sexuais passadas e presentes.
O planeta Plutão é com freqüência acusado de possuir uma
natureza exageradamente sexual. Isso não se justifica inteiramente de
um ponto de vista mitológico — tirando-se o rapto de Perséfone, as
necessidades sexuais de Hades nunca são mencionadas.
Presumivelmente, Hades e Perséfone tinham um relacionamento sexual
saudável. Outros
deuses, notadamente Zeus, com freqüência abduziam donzelas e deusas
para encontros sexuais. Quando Plutão está num signo ou em forte
aspecto com um planeta associado a sexo, pode definitivamente levar a
obsessões com paixão. Por exemplo, Plutão com Vênus ou Marte pode
aumentar a luxúria na expressão do indivíduo. Plutão com Júpiter pode
levar a impulsos procriadores prolíficos, enquanto Plutão com a Lua
pode resultar num tipo de relacionamento Deméter/Perséfone/ Hades.
Os trânsitos de Plutão são longos e lentos. Representam períodos
significativos de crescimento da alma e/ou experiências
transformadoras na vida de uma pessoa. Normalmente, essas
experiências de transformação resultam primeiro num processo
simbólico de morte (ida ao subterrâneo), sensação de perda,
lamentação, dor, separação ou tristeza de algum tipo (a experiência de
realmente visitar Hades em seu domínio subterrâneo). Isso pode ocorrer
ao se penetrar o inconsciente por meio de experiência espiritual, terapia,
sonhos, regressão ou fenômenos psíquicos. Essas experiências
geralmente resultam em clareza e aceleração evolucionária e a pessoa
pode emergir à luz do dia sentindo-se novamente renascida. Quando
saímos com sucesso desse processo, subimos a escala evolucionária;
não apenas progredimos horizontalmente consoante ao tempo e espaço,
mas também verticalmente. Para aqueles que não têm Plutão
profundamente imbuído como parte significativa de sua experiência de
vida, esse processo é longo e vagaroso e pode levar a vida inteira para
se completar. Mas os plutonianos que se comprometem a fazer de sua
vida algo significativo no ciclo evolucionário passaram por esse
processo muitas vezes. Essa vida se torna "fora do comum"; essas
pessoas não conseguem ligar-se muito bem ao mundo "em voga", mas
possuem um armazém de experiência interior mais rico do que o dos
mortais comuns.
Representação do Horóscopo com os sete planetas, os doze signos do zodíaco
e as doze casas, gravado por Ehard Schön, da página de rosto do Nativitäts
Kalender de Leonhard Reymann, Nurembergue, 1515
Esfera armilar com zodíaco, do Textus de sphaera de Johann de Sacrobusco,
impresso por Simon Colins, Paris, 1531
Conforme observavam o
céu noturno, os antigos
notaram que alguns corpos
celestiais pareciam permanecer
na mesma posição, enquanto
outros se moviam ao longo de
um caminho específico. Esses
corpos móveis eram os
planetas, chamados "os
viandantes". Os babilônicos
deram aos planetas os nomes
de seus deuses e tentaram
mapear seu movimento
ininterrupto pelo céu.
Dividiram os céus em três
grandes faixas que chamaram .
caminhos de Anu, Enlil e Ea (outros de seus deuses). O caminho de
Anu fica no meio e por ele todos os planetas, assim como o Sol e a Lua,
moviam-se perpetuamente. Hoje, conhecemos essa faixa do céu como
eclíptica134.
Os astrólogos babilônicos precisaram de um padrão de medida
para mapear a jornada dos planetas ao longo da eclíptica. Então
notaram as constelações que ficavam no caminho de Anu e mediram o
curso de cada planeta de acordo com a constelação que ele
aparentemente
134. Gauquelin, Michel, The Cosmic Clocks, ibid., pp. 35-41.
ocupava — ou seja, aquela constelação servia como uma cortina de
fundo para seu movimento.
Mas, quais, das muitas constelações possíveis, deveriam ser
usadas como aparelhos de medição? Levou muitos séculos para que os
doze signos do nosso moderno zodíaco fossem ajustados. Um antigo
documento babilônico lista nada menos do que 18 constelações, ou
signos, ao longo do caminho de Anu135. Finalmente, porém, os doze
signos que conhecemos hoje foram estabelecidos e o círculo de 360
graus da eclíptica foi dividido (um tanto arbitrariamente, é verdade) em
doze segmentos de 30 graus cada. Isso funcionava bastante bem como
calendário, já que o sol passava aproximadamente um mês em cada um
dos doze signos.
Não se sabe exatamente quando e como os doze signo zodiacais
foram escolhidos. A maior parte dos estudiosos acredita que o zodíaco
seja uma invenção dos babilônicos, embora outros postulem uma
influência egípcia ou mesmo grega. O nome é grego e provavelmente
significa "o ciclo animal". A primeira sílaba, zo, é uma palavra grega
que significa animal ou vida biológica, como em nossas palavras zôo e
zoologia. E a identificação do zodíaco com um círculo animal é
bastante óbvia, pois a maioria dos signos é simbolizada por animais.
Alguns dos signos, porém, são humanos (Gêmeos, Virgem,
Aquário e metade de Sagitário), de forma que talvez tenhamos de
pensar no zodíaco em termos da referência mais ampla da palavra zo,
ou seja, formas de vida biológicas em geral. Assim, o zodíaco torna-se
o círculo da vida.
O elaborado relógio do zodíaco em Hampton Court mostra as fases da lua, os signos do
zodíaco e as doze casas. Fotografia de Ariel Guttman
135. Gauquelin, Michel, The Cosmic Clocks, ibid., pp. 37-8.
Embora cada signo tenha
sua própria ressonância mítica
particular, o zodíaco como um
todo constitui um grande
protomito. A jornada do sol
através do ano é um drama de
nascimento (primavera),
atividade (verão), morte
(outono) e ressurreição
(inverno). Os quatro pontos
críticos principais são os
equinócios e solstícios. No
equinócio (palavra latina que
significa "noite igual") de
primavera, os dias e noites têm
duração igual, embora os dias
comecem a ficar mais longos,
como é próprio da estação de
crescimento vibrante, potente,
seja da terra ou da consciência
humana. O solstício (latim para
"sol estacionário") de verão
marca o dia mais longo do ano
e, portanto, a estação mais viva, mais abundante. É também o momento
em que os dias começam a ficar mais curtos e por isso o deus da
colheita, símbolo de fertilidade e crescimento, é ritualmente morto
nesse dia. Os dias e noites ficam novamente iguais no equinócio de
outono, mas agora as noites começam a se tornar mais longas e o
mundo dirige-se à sua morte outonal, assim como o espírito humano
deve ocasionalmente experimentar a morte psicológica, uma jornada ao
gelado subterrâneo. Finalmente, no dia mais curto e mais escuro do ano,
o sol começa outra volta e os dias passam a ficar mais longos. Esse é o
solstício de inverno, quando nascem simbolicamente todos os deuses do
renascimento. Esse é o momento do nascimento do eu mais elevado.
Portanto, o zodíaco significa todo o processo de desenvolvimento
da consciência humana — o ciclo de morte e renascimento comum a
todas as mitologias em todo o mundo e que constitui a história ou mito
essencial da alma humana. Essa viagem da consciência forma a base do
mito do herói, como demonstrou Joseph Campbell em seu famoso livro
The Hero with a Thousand Faces136. Em mitologia, e em geral no
pensamento "primitivo", há sempre uma correspondência ou elemento
de sincronicidade entre o que acontece no céu ou no mundo
136. Campbell, Joseph, The Hero with a Thousand Faces, ibid.
Urânia segurando uma esfera armilar
com zodíaco, do Prognosticou 1503-1505
de Johannes Stabius, desenhado por
Albrecht Dürer, Nurembergue, 1502
Ilustração de Diane Smirnov do zodíaco no templo de Dendera, Egito
exterior e o que acontece dentro do coração da humanidade. Esse é um
ponto muito importante — reside na estrutura da astrologia e é
provavelmente a razão por que ela existe e persiste por tantos milênios.
O drama anual da morte e renascimento do sol reflete o mesmo
processo ocorrido eternamente dentro do indivíduo. Muitos mitos
parecem ligar a jornada do herói com a jornada zodiacal do sol de modo
muito direto — o épico babilônico de Gilgamesh* e história grega dos
Doze Trabalhos de Hércules são ótimos exemplos. Em suma, sempre
que o número 12 aparece — as doze tribos, os doze portões de
Jerusalém, os doze meses do ano de nosso calendário — estamos
falando de nossa jornada por todas as partes para chegar ao todo.
Dane Rudhyar identificou o processo psicológico simbolizado
pelo zodíaco em seu estudo clássico The Pulse of Life, publicado pela
primeira vez em 1943137. Rudhyar vê esse ciclo sazonal em termos de
dois princípios opostos, a Força do Dia (masculino ou yang) e a Força
da
*. N. E.: Sugerimos a leitura de Versão Babilônica Sobre o Dilúvio e a Epopéia de
Gilgamesh, de E. A. Wallis Budge, Madras Editora.
137. Rudhyar, Dane, The Pulse of Life, Berkeley, Shambala Publications, 1970.
O Zodíaco, do Le grand kalendrier et compost des bergieres, impresso por Nicolas le
Rouge, Troyes, 1496
Noite (feminino ou yin). A Força do Dia é essencialmente individualista
e representa o crescimento do ego, enquanto a Força da Noite é coletiva
e mede nossa integração com unidades sociais e espirituais maiores.
Dessa forma, Rudhyar interpreta o egotismo infantil de Áries como
símbolo do crescimento da Força do Dia, mas, como os dias e noites
ainda são iguais, Áries tem um pé no coletivo e pode incorporar
facilmente papéis coletivos e atender a necessidades coletivas em vez
de seus próprios desejos individuais. O talento de Libra para
relacionamentos ou, mais precisamente, para se relacionar, tem a ver
com o fato de que os poderes iguais da Força do Dia e da Força da
Noite agora tendem para o coletivo, para a importância do outro. A
reputação de Sagitário quanto a preocupações filosóficas de longo
alcance vem do fato de que cai nos dias mais curtos do ano, quando o
elemento coletivo expandiu-se para incluir o cosmo e quando o
indivíduo apenas pode emergir nas necessidades de um todo maior.
Nos capítulos que se seguem discutiremos o caráter e a estrutura
do zodíaco segundo a volta sazonal. É importante notar que estamos
falando das estações do hemisfério norte quando dizemos que Áries
representa uma Força do Dia crescente. Não vamos esquecer que
antigamente, quando o zodíaco estava sendo desenvolvido, o ritual
religioso era fortemente ligado à natureza, pois a sobrevivência
dependia disso. Dessa forma, os deuses (planetas, signos) no céu
tinham uma relação direta com a terra e suas atividades. Uma vez que a
astrologia vem das regiões temperadas do hemisfério norte, o caráter de
cada signo está de acordo com as estações do hemisfério norte, mais do
que com as do hemisfério sul — embora o simbolismo dos signos como
os conhecemos pareça funcionar tão bem para australianos e brasileiros
como para todas as outras pessoas.
Muitos livros de astrologia dividem a roda do zodíaco ou a roda
das casas em quadrantes e hemisférios, relacionando os fatores de
personalidade de acordo com o número dos planetas que há em cada
região. Seguindo o tema da Força do Dia e da Força da Noite, há dois
tipos de pessoas definidas pela linha do horizonte: aquelas com a maior
parte dos planetas acima do horizonte vivem na região do dia, enquanto
aquelas abaixo ocupam o mundo da noite. Planetas que estão acima do
horizonte no setor diurno da roda são geralmente solares e podem ser
vistos como "objetivos", tendo sua estrutura racional ilógica
simbolizada pelo modo masculino de pensar. Abaixo do horizonte,
onde não há luz, aquilo que não pode ser visto mas pode ser intuído
predomina. Assim, o hemisfério inferior incorpora uma estrutura lunar,
mais interior e subjetiva, em que brilham a intuição e o instinto. Esses
hemisférios são produto da divisão da roda em doze casas, baseado no
movimento diurno da rotação da Terra. Embora não sejam
estreitamente ligadas aos doze signos, as casas (e também os planetas)
têm uma certa ressonância ou ligação simbólica com os signos do
zodíaco. Outra divisão da roda por hemisfério é em leste e oeste. Essa é
a linha divisória criada pelo I.C. (imum coeli — cúspide da Quarta
Casa) e M.C. (medium coeli — Meio-Céu) e que forma o meridiano do
mapa. Planetas localizados no hemisfério leste são considerados mais
independentes, enquanto planetas no oeste seriam mais orientados aos
outros. Isso se relaciona à posição de Áries no ponto mais oriental da
roda natural e Libra no ponto mais ocidental.
Além disso, a roda pode ser dividida em quatro quadrantes.
Dizemos que os primeiros quadrantes (Áries, Touro, Gêmeos)
relacionam-se ao desenvolvimento individual pessoal. O segundo
quadrante (Câncer, Leão e Virgem) se relaciona às relações
interpessoais com família, filhos, etc. O terceiro quadrante (Libra,
Escorpião, Sagitário) tem a ver com relacionamentos com pessoas fora
da unidade familiar, enquanto o quarto (Capricórnio, Aquário e Peixes)
se relaciona ao desenvolvimento de interesses transpessoais e
atividades que envolvem a comunidade ou o mundo como um todo.
As pessoas com freqüência esquecem que os doze signos estão em
todos os horóscopos. Adoram fazer comentários como "eu não sou de
As regências olímpicas
Câncer, então não sou muito caseiro". Mas, o signo de Câncer,
juntamente com todos os outros onze, faz parte de uma roda integral de
vidas que constrói a estrutura sobre a qual somos feitos e reflete tudo o
que está dentro do organismo. Nossos corpos são microcosmos dessa
estrutura maior e, assim, há partes do corpo que se relacionam aos doze
signos; essas correspondências são bastante úteis para analisar as forças
e fraquezas do corpo. Dentro dessa estrutura, portanto, não há algo
como um "mau signo" ou um "bom signo". São todos integrantes de
uma operação funcional de um ser. Certamente, algum signos não
conterão a ênfase planetária, enquanto outros signos podem conter
stelliums (agrupamentos de planetas), indicando a atenção ou ênfase
particular que a pessoa deve escolher naquela dada encarnação. Ao
analisar os mitos e origens desses signos, esperamos encontrar mais
pistas para o indivíduo sobre a atenção ou ênfase que ele escolheu para
a sua vida. Outro importante componente da roda zodiacal é o sistema
de atribuições planetárias, pois, dessa maneira, dois dos fatores
principais da arte astrológica (planetas e signos) são entrelaçados numa
unidade simbólica.
As regências ptolomaicas
Como notamos, o horóscopo é uma mandala. Por meio da
história astrológica, os signos do zodíaco foram atribuídos ou
simbolicamente ligados a diversos planetas e/ou divindades. Essas
atribuições formam outro componente da mandala astrológica. O que
em geral não se sabe, porém, é que as atribuições planetárias ou
divinas mudaram segundo a época. O historiador astrológico Rupert
Gleadow deve receber o crédito por recuperar a mais antiga dessas
mandalas, o sistema de correspondências que data do tempo de
Platão138. Os signos ainda não eram regidos por planetas: em vez
disso, era regidos pelos "doze olímpicos", os principais deuses do
Panteão grego (ver página 233).
Diversos pontos importantes surgem de um estudo desse antigo
sistema. Em primeiro lugar, podemos ver que os elementos masculino
e feminino ainda estão em estado de perfeito equilíbrio. Há seis
deuses e seis deusas. Se um signo é regido por um deus, seu signo
oposto será
138. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid.
Regências contemporâneas
regido por uma deusa. O conceito de opostos psíquicos vai muito
mais ao longe do que uma mera divisão em masculino e feminino.
Por exemplo, Áries é regido por Palas Atená e seu signo oposto,
Libra, por Hefesto. Ambas as divindades tiveram só um genitor, e
não foram geradas por união sexual comum; a fêmea Atená nasceu
do masculino Zeus, enquanto o varão Hefesto nasceu da fêmea Hera.
Apolo (Gêmeos) e Ártemis (Sagitário) eram gêmeos. Zeus (Leão) e
Hera (Aquário) eram respectivamente o rei e a rainha do céu.
Afrodite (Touro) e Ares (Escorpião) eram amantes. Alguns desses
pares de opostos são mais difíceis de entender, mas teremos ocasião
de discutir isso mais adiante.
No tempo de Cláudio Ptolomeu, um astrólogo do final do
período romano, estabeleceu-se um novo sistema de atribuições.
Nessa mandala, os sete antigos planetas eram designados como
regentes dos signos. Começando com o Sol leão) como símbolo do
arquétipo masculino e a Lua (Câncer) como o arquétipo feminino, as
regências distribuíam-se, em ordem orbital, de cada lado desse par
primordial. Cada planeta regia uma "casa do dia" (ou seja, o signo
masculino) e uma "casa da noite"
(signo feminino). Devido a essa estrutura em forma de leque, Saturno, o
planeta mais distante conhecido pelos antigos, regia os dois signos
opostos ao Sol e à Lua, enquanto os outros planetas eram também
arranjados em pares de opostos — Marte com Vênus e Mercúrio com
Júpiter. Essa elegante mandala (ver página 234) durou desde o fim da
Antiguidade até a descoberta de Urano, em 1781.
Urano sempre foi o iconoclasta, o inimigo da tradição. Bem de
acordo com seu papel mítico, Urano trouxe um fim à tradicional
mandala do horóscopo. Foi preciso encontrar um signo para que o novo
planeta regesse e ele acabou sendo dado a Aquário. A descoberta de
Netuno em 1846 e de Plutão em 1930 perturbou ainda mais o equilíbrio
clássico. Conforme a ciência da astrofísica se tornava cada vez mais
precisa, os astrólogos foram confrontados com um número crescente de
corpos celestes que podiam ser relevantes para os padrões míticos da
vida humana. Apenas desde o início da década de 1970, começamos a
dar importância aos quatro principais asteróides e a Quíron. Como se
isso não bastasse, temos a opção de usar um número quase infinito de
asteróides, dos quais milhares foram batizados e mapeados na história
recente.
O que temos de fazer com toda essa opulência? Se estudarmos as
atribuições planetárias que estão estabelecidas ou sendo discutidas
atualmente, veremos que não há mais nenhum padrão (ver página 235).
Nenhum padrão significa nenhuma mandala. Seria fácil olhar para tudo
isso de um ponto de vida negativo ou pessimista e dizer que o caos em
nosso retrato dos céus não passa de um modelo de nossa sociedade
caótica e desorganizada. Mas, isso não é correto. O que é correto é que
temos um número muito grande de opções e escolhas com as quais
nossos predecessores jamais sonharam. Além disso, estamos numa era
de mudança radical e profunda, uma era em que os arquétipos da
consciência humana também estão em estado de transformação.
Essa espécie de mudança não deveria ser inesperada, já que
estamos no ponto de transição entre duas eras astrológicas, Peixes e
Aquário. Afinal de contas, uma era astrológica implica uma fase
coletiva de consciência que dura mais de dois mil anos: uma mudança
quântica nesse inconsciente coletivo terá algum tipo de impacto visível
em nossas realidades interiores, simbólicas. No momento certo, outra
mandala surgirá do caos aparente e as idéias que trazem esse estímulo e
inspiração aos astrólogos contemporâneos formarão a base de uma nova
estrutura, uma nova mandala que representará uma nova fase de
consciência.
Os Quatro Elementos:
Fogo, Terra, Ar e Água
Os quatro elementos e as órbitas dos
planetas, do Judicium cum tractibus
planetarii,
de Philippe de Mantegat, Milão, 1496
A astrologia divide sua
realidade psíquica em quatro
"elementos" — fogo, terra, ar
e água. Como muitos aspectos
da tradição astrológica, os
quatro elementos parecem ter
chegado a nós vindos da
antiga Grécia. Aristóteles
dividia o mundo físico nos
mesmos quatro elementos.
Porém, é claro que os antigos
astrólogos se referiam a um
conjunto psicológico de
elementos, e não físico.
De fato, se examinarmos
a mitologia, descobriremos
que essa mesma divisão
quádrupla da realidade é
comum da Irlanda até à Índia.
Na antiga mitologia céltica,
dizia-se que os deuses traziam
quatro tesouros consigo de seu
lar místico do oeste: uma
espada, uma lança, um
caldeirão de renascimento e
uma pedra que gritava, cada
vez que o rei pousava o pé
sobre ela. Os mesmos
tesouros
míticos dos antigos celtas aparecem na lenda medieval do santo
Graal139.* Percival, o cavaleiro puro, encontra-se no castelo mágico do
Graal. Ao sentar-se junto com os guardiões do castelo para um festim,
observa uma procissão que passa silenciosamente pelo salão. As figuras
misteriosas que marcham pelo castelo carregam quatro objetos
sagrados: uma espada, a lança que perfurou o flanco de Cristo, um
peixe num prato e o próprio Graal — a taça da qual Cristo bebeu na
última ceia. Esses mesmos quatro objetos aparecem mais tarde no Tarô,
onde formam os naipes de Paus (a lança), Copas (o Graal ou caldeirão),
Espadas e Pentáculos (Ouros — a pedra ou prato)140. Magos e bruxas
cabalísticos sempre associaram esses quatro tesouros aos quatro
elementos: a lança ou vara simboliza o fogo, a taça ou caldeirão
representa a água, a espada o ar e o pentáculo, pedra ou prato a terra141.
O psicólogo Carl Jung, estudioso da tradição mística ocidental,
acreditava que esses quatro elementos simbolizavam as quatro funções
O Caos dos Elementos, do Utriusque Cosmi Historia, de Robert Fludd,
Oppenheim, 1617
*. N. E.: Sugerimos a leitura de A Linhagem do Santo Graal — A verdadeira história
do casamento de Maria Madalena e Jesus Cristo, de Laurence Gardner, Madras
Editora.
139. Jung, Emma, e Marie-Louise von Franz, The Grail Legend, Nova York, Putnam's,
1970, pp. 83-4.
140. Douglas, Alfred, The Tarot, Harmondsworth e Baltimore, Penguin, 1972, pp. 36-7.
141. Regardie, Israel, The Tree of Life, Nova York, Weiser, 1973, p. 115.
que governam a psique
humana. Essas funções
eram a intuição (togo), o
sentimento (água), o
pensamento (ar) e a
sensação (terra). As quatro
funções compreendem dois
pares de opostos: intuição e
sensação, pensamento e
sentimento. Intuição e
sensação são modos de
percepção, enquanto
pensamento e sentimento
são modos de julgamento.
Cada um de nós desenvolve
uma dessas quatro funções em um grau mais alto do que as outras; essa
é nossa função dominante. Seu oposto torna-se automaticamente nossa
função inferior, representando um modo de julgar ou perceber que é
nosso ponto cego, parte de nosso ser não desenvolvido. Dessa forma, os
que são dominados por seus sentimentos podem pensar de modo
confuso ou ilógico e aqueles que são profundamente práticos (sensação
dominante) são normalmente Céticos e temerosos do mundo interior
dos sonhos e visões (intuição). Cada função pode cooperar de um modo
introvertido ou extrovertido. Jung acreditava que nenhum ser humano
poderia ser completamente equilibrado e inteiro a menos que
equilibrasse essas funções psíquicas. De acordo com Jung, essa era a
razão por que místicos, como os alquimistas, estavam sempre
preocupados em transformar um quadrado num círculo — por
reconhecerem que a verdadeira iluminação consistia em moldar nossa
natureza quádrupla interior num todo harmonioso142.
Como veremos ao discutir cada um dos quatro elementos
separadamente, eles têm propósitos únicos importantes na formação da
consciência humana e até mesmo de sua integração. A maioria de nós
se lembra do Mágico de Oz, que nos conta a jornada mítica de Dorothy
para encontrar seu caminho de volta para casa. Antes que pudesse
atingir seu destino, porém, encontrou alguns personagens muito
curiosos (partes dela própria). O Homem de Lata procurava um coração
(água); o Leão covarde estava em busca de coragem (fogo); o
Espantalho carecia de um cérebro (ar). Quando os sapatos mágicos de
rubi foram finalmente colocados nos pés de Dorothy (terra), seu desejo
foi realizado e ela foi rapidamente levada de volta para casa. Sua
odisséia lhe permitira integrar os quatro elementos.
142. Jung, Carl G., Psychological Types. (Collected Works, vol. VI), Princeton, NJ,
Princeton-Bollingen, 1974.
Cristo como o Homem Primordial com os
quatro elementos, Anthropos, França, 187
Embora a tradição astrológica seja similar à tipologia da psique de
Jung, ela não é exatamente idêntica. Os astrólogos, por exemplo,
enfatizam o fato de que dois elementos, o fogo e o ar, incorporam
qualidades masculinas, ativas ou yang, enquanto a terra e água são
femininas, receptivas e yin. Outra diferença reside num equilíbrio entre
os quatro elementos interiores. Quando um grande número de planetas
ocupa o signo de fogo num mapa astrológico, podemos esperar que o
indivíduo vá possuir um temperamento extremamente intuitivo, muito
semelhante ao tipo de personalidade intuitiva de Jung. No esquema
Junguiano, automaticamente consideraríamos que esse indivíduo se
relacionaria muito mal com as coisas mundanas, tangíveis, pois teria
uma função de sensação (terra) inadequadamente desenvolvida. Mas, de
um ponto de vista astrológico, é possível que o mapa astral inclua
bastante fogo (intuição) e terra (sensação), unindo assim precisamente
os elementos ou funções que Jung coloca em eterna oposição. O
conflito dentro de tal indivíduo, atraído com força igual para os mundos
opostos do espírito (fogo) e da carne (terra), pode ser bastante intenso,
mas ele também tem um potencial muito alto para unir os opostos
internos e conseguir a completude. Embora o sistema astrológico seja
muito próximo do de Jung, é um pouco menos estruturado e contém
menos variáveis.
Fogo
Na tipologia de Jung, o fogo representa função intuitiva, embora
essa palavra demande alguma explicação. Como vimos, o fogo é um
dos elementos masculinos, criativos, yang. Mas, estamos acostumados a
pensar na intuição como algo feminino — como na frase "intuição
feminina". Entretanto, o que chamamos intuição é, de fato, um
desenvolvimento muito elevado da função de sentir. A faculdade da
intuição, como simbolizada pelo elemento fogo, na verdade descreve
algo bastante diferente.
Vamos olhar isso de outra perspectiva. Os livros de astrologia
com freqüência comparam fogo a "energia" ou o "espírito". É um
espírito vital que nos move, inspira-nos, que nos dota da quantidade de
energia que possuímos. Os horóscopos com pouco fogo com freqüência
mostram indivíduos desatentos, que se cansam com facilidade e com
pouca energia.
Essa ligação entre o fogo e a energia espiritual ou vitalidade é
com freqüência encontrada no gnosticismo e na cabala. Esses sistemas
de pensamento postulam uma unidade espiritual original da qual saem
todas as coisas criadas. Mas, quanto mais sólidas ou mundanas se
tornam
Uma Salamandra viva nas chamas, do Scrutinium Chymicum de Michael Maier,
Frankfurt, 1687
as coisas criadas, mais se separam da unidade espiritual original. Os
gnósticos acreditavam que nosso mundo, a Terra, era uma espécie de
prisão, o maior desenvolvimento da materialidade. Mas, mesmo aqui,
na Terra, ainda possuímos algo da divindade original em nossas
almas. Essa divindade é simbolizada pelo fogo — gnósticos e
cabalistas referem-se, ambos, à "centelha divina". Usam a analogia
de um fole — empreender qualquer tipo de prática espiritual atiçará a
centelha, a tornará uma chama e assim nos reunirá com a fonte de
todo ser.
Os alquimistas, descendentes espirituais dos gnósticos,
preocupavam-se profundamente com os quatro elementos, pois seu
objetivo era fundi-los todos e assim criar algo novo, algo completo,
uma quintessência. Psicologicamente, podemos dizer que eles
estavam tentando unir todas as quatro funções psíquicas e dar origem
ao Eu. Viam o fogo como um dos agentes da transformação. Era por
meio de um fogo lento, regulado, que uma substância podia ser
transmutada em outra, fazendo passar o
nisso um paralelo distinto com as disciplinas orientais como a ioga ou a
meditação taoística. O fogo é o espírito vital dentro de nós, chamado
kundalini pelos hindus e ch'i pelos chineses. Ajustando-se esse fogo —
por meio do controle de nossas energias vitais —, efetuamos a
transformação do ego no Eu.
Vista sob essa luz, a intuição é aquela centelha vital dentro de nós
que simplesmente sabe. É a fonte de nossa energia essencial, que dá luz
a nossos olhos e determina a força de nossa presença. A intuição sabe
sem precisar analisar. Ela percebe; nunca julga. Pessoas cujos mapas
são ricos em planetas nos signos de fogo têm essa energia vital, esse
saber intuitivo. Olhando apenas para o mapa, pode ser difícil ou
impossível dizer se uma pessoa é introvertida ou extrovertida. Podemos
presumir que os planetas na Oitava ou Décima Segunda Casas, por
exemplo, denotariam um temperamento introvertido, embora nem
sempre seja o caso (na verdade, a Quarta Casa é um indicador melhor
de extroversão — como podem atestar os autores, ambos com Sol na
Quarta Casa). Mas, o equilíbrio entre os elementos nos dará pistas sobre
o tipo da pessoa em questão.
Signos de fogo extrovertidos podem ser grandes empreendedores.
Realmente sabem como seguir uma intuição. Sintonizam-se, com
aquele conhecimento interior, aos acontecimentos que ocorrem no
mundo exterior. Mas, se podem ganhar uma fortuna, podem também
falir, pois tendem a passar por cima de limitações físicas. Ignoram da
mesma maneira sua própria saúde, pois com freqüência têm uma
relação muito fraca com o elemento terra ou sensação, que é seu oposto
polar (quer
Os elementos fogo, terra, ar e água se encontram na atividade vulcânica, Big
Island, Havaí, 1989. Fotografia de Ariel Guttman
dizer, a menos que seus mapas contenham uma boa porção de terra para
equilíbrio e contraste). São com freqüência suscetíveis a "explodir",
pois se aborrecem com facilidade, buscando sempre reacender sua
chama. Se são grandes especuladores, podem também ser aventureiros
irresponsáveis.
Tipos introvertidos de signos de fogo têm a mesma percepção
altamente desenvolvida da realidade psíquica que caracteriza seus
primos extrovertidos. Mas, essas pessoas voltam essa consciência para
dentro. Sentem-se mais confortáveis com seus sonhos e visões do que
com realidades físicas. Se o carro ou o cortador de grama quebra, não
têm a menor idéia de como consertá-lo; problemas com dinheiro ou
máquinas podem enchê-los de ansiedade e pavor. O analista junguiano
Edward Whitmont diz que essas pessoas são do tipo que ferveriam o
relógio enquanto olham o ovo para ver que horas são143! Um dos
autores é um introvertido intuitivo e deve confessar que isso é quase
literalmente verdade. Claro, nem é preciso dizer que esses tipos
introvertidos de fogo são também os grande profetas, artistas e
visionários deste mundo. A centelha vital é ardente e flamejante dentro
deles; apesar de sua interioridade dolorosa, ocasionalmente pegam fogo
e mudam o mundo com um livro, um sermão ou uma sinfonia que toca
o espírito dentro de todos nós.
Fogo também pode ser definido como o princípio da combustão
espontânea. As pessoas que possuem bastante elemento fogo — por
exemplo, se o Sol, a Lua ou o ascendente estão em Áries, Leão ou
Sagitário, ou se Marte, Sol ou Júpiter (regentes desses signos de fogo)
estão próximos dos quatro ângulos do horóscopos na Primeira, Quarta,
Sétima ou Décima Casas — podem ter muita espontaneidade e
combustibilidade. Uma vez que Áries é a forma mais primordial e a
primeira de expressão de fogo, atribui-se a esse signo mais
espontaneidade e impulsividade que a qualquer outro signo. Por ser um
fogo cardinal (ver capítulo 21, "Modalidades"), que, de muitas formas,
age como um duplo yang, Áries aparentemente não necessita de sinais
externos antes de agir. É realmente uma voz intuitiva vinda de dentro
que acende essa chama. Como Áries é o primeiro dos signos de fogo e
também o primeiro signo do zodíaco, qualidades infantis e uma
preocupação autocentrada com as próprias necessidades pessoais são
enfatizadas. Assim também é a pureza do elemento fogo, pois é dirigida
pelo modo cardinal que inspira a ação — da impaciência irrequieta e
irritável dos arianos (ou, como os chamava John Bradshaw,
"rage-aholics")144 pouco desenvolvidos aos guerreiros destemidos,
pioneiros e singularmente concentrados em seu caminho, quando mais
evoluídos.
143. Whitmont, Edward, The Symbolic Quest, ibid., p. 152.
144. Bradshaw. John. Healing the Shame that Binds You. ibid.. n. 103.
Em sua modalidade fixa, o fogo opera através da chama de Leão,
regido pelo Sol — e que fogo seria mais fixo ou contido do que o Sol, o
regente de Leão? A fixidez, em astrologia, expressa-se principalmente
num modo yin, de forma que Leão pode facilmente incorporar a
necessidade essencial yang do fogo de expressar seus impulsos criativos
exteriormente, assim como a premência yin de atrair, concentrar e
conter algo de seu calor e intuição, alimentando sua cria, como é a
inclinação de Leão. Essa luz interior é o poder do magnetismo e da
atração que muitos leoninos possuem, uma luz que atrai os outros para
eles, tão brilhante que eles próprios podem ser seduzidos por aquilo que
vêem como sua própria grandeza. Sendo o fogo de Leão contido e
centrado através da modalidade fixa, não há muita espontaneidade ou
movimento constante como há com Áries e Sagitário; em vez disso,
Leão contenta-se em expressar seu fogo criativo por meio da
reprodução, seja biológica ou artística. E, como outros signos de fogo,
precisa de espaço em seu ambiente para fazê-lo.
No terceiro e último estágio do fogo, a mutabilidade de Sagitário
sugere uma distribuição ou disseminação dos inflamados impulsos
espirituais interiores. Assim, muitos sagitarianos necessitam espalhar a
verdade onde vão e para quem encontram, qualquer possa ser essa
verdade. Uma vez que a mutabilidade traz, paradoxalmente, tanto a
completude quanto a inconstância à natureza das coisas, o fogo de
Sagitário está sempre mexendo a panela para ver as imagens que vão
aparecer. Como terceiro e último estágio do fogo, a purificação do "Eu"
é um problema com os sagitarianos e normalmente os encontramos em
um extremo ou outro — com excesso de auto-indulgência, até o ponto
de morrer (por exemplo, Jimi Hendrix e Jim Morrison) —, ou polindo,
limpando e refinando seus veículos terrenos na preparação para sua
imanente reconexão com a Fonte.
A função do fogo representa um papel importante na saúde e
vitalidade de um indivíduo. A fonte terrestre principal de fogo natural é
solar, o Sol, que nos dá calor, vida, radiância e aquecimento. Como
mencionado anteriormente, pessoas que carecem do elemento fogo
parecerão carecer de radiância e calor natural, serão sem graça, pouco
enérgicas e desatentas. Com freqüência, também, queixar-se-ão de estar
com frio, mesmo quando não está fazendo frio. Por outro lado, excesso
de fogo pode causar excesso de calor corporal, de forma que o fogo
interno parece arder de forma descontrolada. Pessoas de fogo com
demasiado estresse na vida sentirão espasmos, dores musculares ou dor
em partes do corpo incapazes de assimilar ou aliviar o estresse de outras
maneiras. Portanto, suavizar esse fogo é importante pela expressão
física — corrida, aeróbica, esportes e jogos. Um lembrete desse
princípio é o carregador da tocha olímpica, que a acende no fogareiro
sagrado de Olímpia, carregando-a ao lugar dos jogos. A expressão
mental do fogo
com freqüência resulta no gênio criativo quando inspirada ou, ao
contrário, em raiva ou irritação. No mais alto nível, o indivíduo
evoluído de logo canaliza a energia pura a partir da fonte, havendo
superado sua necessidade de preocupar-se com o ego pessoal.
De todos os quatro elementos, o fogo é o que demanda mais
espaço para respirar. Se precisa fazer um trabalho com outras pessoas,
especialmente quando é o encarregado de pressioná-las, signos de fogo
podem "atear fogo ao local" ou explodir de raiva. Por causa de sua
dificuldade de trabalhar com figuras autoritárias, os signos de fogo são
os primeiros a reconhecer sua necessidade de ser sua própria
autoridade. Assim, muitas pessoas com fogo em excesso se tornarão
free-lancers, empreendedores com seu próprio negócio, trabalhando
segundo seus próprios horários, mantendo-se livres (mesmo se for
apenas uma ilusão de liberdade) para criar quando têm esse impulso ou
para dirigir seu tempo na organização do fluxo de energia que os rodeia.
Tipos de ar e água podem simplesmente não conseguir compreender
esses indivíduos de fogo, cujo maior medo é viver suas vidas em uma
rotina comum e previsível.
Os signos de fogo têm tipicamente a habilidade de expressar seu
propósito consciente e sua vontade de forma mais enérgica que os
outros. Como sua paixões são expressas diretamente, podemos sentirnos
fortalecidos pela presença de pessoas cujo elemento fogo
predomina, uma vez que seus níveis de energia, entusiasmo e
motivação são elevados. Por outro lado, têm a capacidade de "elevar" a
energia quando ela está "caída" em outras pessoas, pois sua capacidade
de canalizar a energia diretamente da fonte é com freqüência poderosa e
direta.
Os signos de fogo (especialmente Áries e Leão ou a Primeira e a
Quinta Casas) com freqüência não se sentem bem em dias nublados
nem lidam facilmente com a depressão. Precisam do sol e de estímulo
revigorante para manter-se motivadas, felizes e produtivas.
Além disso, cada um desses signos mantém um relacionamento
importante com algo: em Áries, com o "Eu", em Leão com a
descendência ou as criações diretas do "Eu" e em Sagitário com o
"Eu-Deus"; esses três parceiros invisíveis são projetados em uma
enorme variedade de experiências de vida pelos signos de fogo.
Terra
Os signos de terra parecem seres afortunados em muitos aspectos,
pois possuem uma habilidade inata de dominar todas as coisas neste
mundo. Vivem no reino dos sentidos. Claro que todos nós vivemos no
reino dos sentidos, mas alguns não se sentem lá muito confortáveis com
o fato. Desejaríamos ser mais práticos, ter mais bom senso ou mais
dinheiro. Em outras palavras, desejaríamos ter um relacionamento
melhor com aquilo que Jung chamava função da sensação, ou com o
que um astrólogo chamaria elemento da terra.
As pessoas cujos mapas são ricos em signos terrestres (Touro,
Virgem e Capricórnio) ou que têm planetas de terra enfatizados
(Saturno ou Ceres) têm esse relacionamento especial com o físico.
Essas pessoas sabem como ganhar dinheiro e guardá-lo. Podem
consertar seus carros, ser ótimos em consertos domésticos e usufruir
realmente dos confortos da vida cotidiana. Podem fazer todas essas
coisas que seus opostos, os tipos introvertidos de fogo, acham tão
difíceis. São os tipos elementais "com maior probabilidade de sucesso"
— ou ao menos de gozar de um alto nível de posição material e
prosperidade.
Claro, há um lado negro no elemento terra. Os gnósticos e
alquimistas simbolizavam a terra ou matéria como uma figura feminina
mítica chamada Físis (o que é apropriado, já que a terra é um elemento
feminino ou receptivo). No período mítico anterior à história, o Homem
Cósmico olhou para o mundo recentemente criado. Viu seu reflexo nas
águas do mundo e apaixonou-se por esse reflexo, como Narciso no
antigo mito grego. Pulou do céu à Terra, inclinando-se sobre as águas
para ver melhor. Físis, a personificação feminina da Terra, apaixonouse
pelo Homem Cósmico; ergueu-se, agarrou-o num abraço e puxou-o
para as profundezas da Terra. Ele permanece preso ali até hoje145.
Já falamos de alguns dos significados desse mito gnóstico ao
examinar o elemento fogo. O Homem Cósmico representa o modo
essencialmente espiritual de percepção chamado intuição que, como
vimos, é uma função criativa ou masculina. Quando o mito diz que o
Homem Cósmico está "preso no abraço da Terra", aponta para a divina
centelha de consciência contida no corpo material. O mito simboliza a
armadilha ou isca do plano terrestre ou mundo material, pelo qual a
divindade que reside em todos nós é posta de lado ou esquecida em
favor das necessidades mais prementes e imediatas que o mundo nos
exige e com as quais, estranhamente, nos recompensa. A constante
busca por essa recompensa — sejam brinquedos, moedas de ouro,
frutas ou patrimônio real — pode movimentar o círculo vicioso de
forma que, quanto mais temos, mais queremos, o que nos leva cada vez
mais longe da centelha interior e nos prende no plano terrestre vida
após vida. Os hindus chamam a isso Roda de Samsara; a roda só pode
ser girada ao
145. Jung, Carl G., Psychology and Alchemy (Collected Works, vol. 12), Princeton,
NJ, Princeton-Bollingen, 1977, pp. 301-2.
contrário por uma força diligente
e consistente,
semelhante à energia que
seria necessária para
inverter a gravidade, para
que uma pessoa possa se
libertar dessa prisão.
Enquanto o fogo
representa a centelha, a
terra representa o corpo.
Portanto, signos de terra são
as pessoas mais prováveis
de sentir-se cortadas ou
alienadas dessa centelha
divina interior. Assim como
o tipo introvertido teme
contas bancárias e motores
V-8, o tipo extrovertido
teme o mundo psíquico. Há
pessoas que proclamam em
alto e bom tom que não
acreditam em magia ou
astrologia, que as únicas
coisas reais são as que podem tocar. São as que ficam nervosas na
proximidade de artistas e místicos, que se agitam desconfortavelmente
durante qualquer conversa que envolva o mundo da intuição, sonhos ou
visões. Em suma, o que não podem ver ou tocar com seus cinco
sentidos está além de seu campo de compreensão e para eles aquilo não
existe. Assim, o tipo de terra — especialmente o extrovertido — é o
mais facilmente preso na materialidade, como o Homem Cósmico no
abraço de Físis. A menos que haja uma quantidade substancial de fogo
no mapa, a pessoa pode achar dolorosamente difícil despertar essa
centelha de divindade por meio da criatividade, dos sonhos ou da
meditação — todos os caminhos que os indivíduos de fogo atravessam
facilmente. Os alquimistas medievais reconheciam esse problema
quando falavam de "redimir o espírito na matéria". Isso significa, é
claro, despertar a centelha divina. Os alquimistas o expressavam em
termos de extrair uma essência (espírito) da pedra (matéria) para criar a
Pedra Filosofal, uma pedra ou corpo purificado ou aperfeiçoado146. Para
a maioria dos pertencentes a um signo de pedra, o início desse processo
será na própria terra — ou seja, com o
146. Jung, Carl G., Psychology and Alchemy. (Collected Works, vol. 12), ibid., pp.
288-316.
Esses petróglifos em Galisteo, NM, podem
representar os elementos. Fotografia de Ariel
Guttman
corpo físico. Essas pessoas terão de seguir caminhos como a ioga,
exercícios e dieta apropriada antes de poder se libertar. O elemento
terra deve ser purificado ou — como diriam os alquimistas —
transmutado. Esse é um problema de que voltaremos a tratar ao falar de
Virgem, o mutável signo de terra.
Nem todos os tipos de terra, porém, são ruidosos ou materialistas
joviais. Alguns são reflexivos e introvertidos. O tipo introvertido de
terra tem muita probabilidade de tornar-se um escultor, um carpinteiro
ou pintor — inteiramente absorvido por suas sensações interiores. Essas
pessoas são tão desprendidas que não parecem preocupar-se com nada
nem ninguém em torno deles. Parecem ainda mais "espaciais" que os
tipos de fogo introvertidos. Mas, esses introvertidos de terra são raros; é
difícil encontrá-los. Pessoas de terra são exageradamente extrovertidas
por natureza.
Assim como a necessidade premente de fogo é a liberdade e o
espaço para trabalhar com sua função intuitiva, a necessidade principal
de terra é a segurança. Para terra, a segurança representa proteção. Não
há surpresas, tudo está em seu lugar e você sabe o que tem. Aqueles que
têm um excesso de planetas em signos de terra podem ser supercontroladores,
até mesmo (e especialmente) com coisas pequenas. Isso
acontece porque eles se movimentam muito bem quando sabem onde as
coisas estão e que podem contar com que elas sempre estarão ali. Por
sua relativa facilidade em manipular o mundo material, sua maior
humilhação ocorre quando querem fazer algo e aquilo não dá certo.
Assim, para evitar vexames futuros, realizam seu eficiente trabalho de
conserto e arrumam tudo no lugar para que aquilo funcione
apropriadamente da próxima vez. Isso dá certo quando os consertos
envolvem computadores, carros, eletrodomésticos ou outras máquinas
— mas os tipos de terra podem tentar eliminar surpresas esculpindo,
moldando ou consertando pessoas do mesmo modo, com resultados
bastante infelizes.
Uma das maiores piadas cósmicas certamente se relaciona ao fato
de que o elemento terra sempre segue o fogo na roda astrológica. Se,
após ler a descrição dos tipos de fogo, você ficar pensando sobre como
eles operam neste planeta, pode parar de pensar. Cada signo de fogo
automaticamente progride em um signo de terra na fase seguinte de
desenvolvimento, queira ou não, pois a terra sempre se segue ao fogo
na mandala astrológica. Assim, a oportunidade de manifestar
fisicamente a sabedoria visionária, intuitivamente inspirada, adquirida
no fogo, existe para todos aqueles que fazem essa progressão. Mas essa
progressão com muita freqüência transforma-se em outro exemplo de
espírito aprisionado em um corpo. E reminiscente da brincadeira
infantil de apanhar vagalumes e prendê-los num vidro. Por um certo
tempo sua luz desaparece, já que dentro do vidro eles não conseguem
piscar nem voar. Mas logo são libertados novamente para iluminar os
céus, pois a dor de
ver seu brilho desfalecer é um lembrete para que saibamos que deixar
nossa fagulha se apagar é um destino comparável à morte.
O aprisionamento nada tem a ver com o fato de a terra ser um
elemento negativo. O fogo explode e a terra implode. O Fogo é yang; a
terra é yin. O fogo é intuitivo; a terra é orientada pelos sentidos. De
fato, estudos mostram que 75% da população dos Estados Unidos
encaixa-se no modo sensorial de Jung; apenas 25% são intuitivos147.
Todos têm a capacidade de ser intuitivos, então porque a proporção não
é 50/50? Porque o desafio reside em confiar na intuição e usá-la, e esse
é o caminho menos seguro. Na terra, como notamos, a segurança tem
muito a ver com a forma como uma pessoa funciona. Obviamente, o
indivíduo cujo mapa contém uma mistura de fogo e terra pode trazer a
inspiração ao mundo da forma. Mas a terra pura — e em geral falamos
da pureza de um elemento ao descrever sua natureza — nem sempre
tem a opção de expressar sua visão de forma criativa. O indivíduo
dotado de uma boa quantidade de terra com freqüência foi posto aqui
para compreender e dominar os elementos da existência material. Esse
domínio pode começar com a sensação de seu próprio corpo físico —
incluindo suas necessidades de sobrevivência, como fogo e abrigo.
Pode estender-se para a manutenção geral e o bem-estar do corpo e em
seguida aos modos de economizar tempo e energia para o corpo criando
aparelhos que façam o trabalho por nós enquanto observamos e
coordenamos a operação. Podemos reconhecer esses três estágios de
adaptação como representativos dos três signos de terra, Touro, Virgem
e Capricórnio, respectivamente.
Não importa qual possa ser seu desarranjo elemental, o elemento
fogo será provavelmente o mais observável entre a puberdade e os
trinta anos, enquanto a terra reina suprema dos trinta aos sessenta anos
de idade. É quando passamos boa parte de nosso tempo labutando para
viver, chegando a fazer horas extras para ter mais segurança, o capataz
mais rígido do elemento terra, para nós mesmos e nossa prole. Essa
dedicação ao trabalho é tolerável porque nos convencemos de que as
atividades visionárias e cômodas da vida serão usufruídas em nossos
anos dourados. Infelizmente, nesses anos muitas pessoas descobrem
que o corpo se desgastou e que o problema da segurança ainda é o
principal, ou que as tensões e o estresse desenvolvidos durante os anos
de trabalho não podem ser facilmente postos de lado, para que esse
lazer, recreação e inspiração possam existir. A maior lição para os tipos
de terra, portanto é relaxar e gozar do processo da realização terrena
enquanto ainda estão no processo. Os signos de terra preferem fazer a
ser. No estágio de fazer, estão sempre conscientes do mundo que os
rodeia e que precisa ser cuidado. Com freqüência aventam a
possibilidade de
147. Kiersey, David, Please Understand Me, Prometheus Nemesis Books, Del Mar, CA.
fazer o trabalho de todas as outras pessoas porque ninguém mais pode
fazê-lo tão bem, e mesmo assim ficam ressentidos porque estão fazendo
todo o trabalho. Como resultado disso e da seriedade com que realizam
suas tarefas (exceto talvez por Touro, que sabe como fazer isso de
forma descontraída), costumam forçar seus membros e juntas.
Sobrecarregar o corpo é como sobrecarregar um cavalo ou um carro. Os
carros devem passar por revisões regulares ou não funcionarão. O
mesmo vale para o corpo humano. Tipos de terra muito estressados com
freqüência sentem dores nas costas, no pescoço e nos ombros (carregam
o mundo em seus ombros), perdem dentes ou ferem as gengivas
(rangem os dentes e vão em frente, não importa como) ou, em suma,
sofrem de estresse em todos os aspectos aparentes do corpo — cabelo,
pele, unhas, dentes e ossos.
O que podemos elogiar adequadamente no elemento terra é sua
capacidade de trabalhar de forma realística, ordenada e sensível no
mundo material. O fato de um mundo tão vasto e potencialmente
caótico poder funcionar com eficiência tão espantosa deve-se aos
esforços dos tipos de terra que coordenam a operação. Em tempos de
crise, os tipo de terra são com freqüência responsáveis por controlar a
situação, calma e ritmicamente, sem perder o tom. E são leais. Se
prometem algo, normalmente o cumprem. E não esqueçamos que são os
tipos de terra que têm algo a mostrar como resultado de seus esforços
no fim da vida.
Ar
O ar pode ser claro como cristal; podemos olhar para um céu sem
nuvens. Mas, quando as nuvens aparecem, o ar, o próprio céu, pode
ficar turbulento. Pode uivar e assoprar, ou simplesmente se cobrir em
sombras cinza. E, embora o ar possa ser aquecido de quando em quando
pelo sol, foi classificado por Aristóteles como um elemento
essencialmente frio.
O ar é a mente ou, como diria Jung, a função pensante. Como
vimos, a intuição (fogo) e a sensação (terra) representam modos de
percepção. O pensamento (ar) e o sentimento (água) representam
modos de julgamento. A maioria das pessoas tende para duas funções;
uma que capacita a perceber, outra que ajuda a julgar as percepções. O
tipo extrovertido de signo de ar muito provavelmente fará esses
julgamentos de acordo com regras tradicionais. Essas pessoas são os
cientistas, os pensadores objetivos que dão forma e estrutura à nossa
sociedade. Seus primos, os pensadores introvertidos ou tipos de signo
do ar, tendem
Alegoria alquímica: "O Vento O carregara em sua barriga", do Scrutinium
Chymicum de Michael Maier, Frankfurt, 1687
a ser mais originais. Podem, de fato, ser teóricos e filósofos dotados,
embora sua filosofia possa contradizer as visões de mundo
dominantes. Ambos os tipos são prováveis professores.
Vivemos em uma cultura que cultua a razão e, em certo sentido,
elevou-a a uma posição divina. Mas, há uma séria desvantagem em
tal atitude. Nas religiões orientais, a mente é reconhecida como algo
ambivalente, não inteiramente confiável. Dane Rudhyar observou
que a mente é uma excelente serva, mas um mestre terrível. Um
antigo aforismo teosófico diz que a mente é "o assassino do real" e
que o verdadeiro buscador deve "matar o assassino". Em outras
palavras, nossa mente pode nos enganar e a lógica pode nos afastar
daquela centelha divina intuitiva que forma nossa real conexão com o
Eu Superior. O hinduísmo, o budismo e outras disciplinas
meditativas orientais sempre se empenharam para ir além do
intelecto.
Note que, no Tarô, a função do pensamento é simbolizada pelo
naipe de Espadas, e que as cartas de espadas em geral trazem
imagens de lutas, desafio ou conflito. Os heréticos medievais cuja
filosofia
reside no cerne do Tarô reconheciam a natureza ambivalente da mente.
Também o faziam os autores da Lenda do Graal, que encaravam o
pensamento como uma espada.
Na Lenda do Graal, o mundo foi transformado em um deserto
estéril porque o rei do Graal estava doente, ferido na coxa ou na virilha.
Esse mito tem grande significância simbólica para nosso tempo. A
própria imagem do deserto evoca nossa crise ecológica atual. A coxa ou
virilha representa o poder dos instintos primitivos e da sexualidade. Os
instintos do rei do Graal foram feridos por uma aplicação demasiada
grande do intelecto. Assim, as histórias do Graal, escritas entre 1150 e
1200 d.C., curiosamente pressagiam nossa própria era. Nossa
civilização tornou-se muito dependente da função do pensamento, que
nos colocou em desacordo com nossos instintos e nossos sentimentos.
Como somos alienados de nossos sentimentos, permitimos que nossa
civilização se desenvolvesse de maneira desequilibrada, com uma
ênfase demasiada grande na lógica e na tecnologia. Sendo assim,
criamos, literalmente, um deserto.
Atená, a deusa grega da sabedoria e do conhecimento, é sempre
retratada com um elmo e uma espada. Embora muitos interpretem a
espada como parte de seu traje de batalha, pois ela tem um poderoso
domínio nesse campo, ela refere-se, mais provavelmente, à espada da
mente, e relaciona-se com a agudeza e a estratégia, que era seu principal
dom. "Filha do cérebro" de seu pai, Zeus, a sabedoria e o intelecto de
Atená, além de seu traje armado, a mantêm distintamente separada do
mundo do sentimento e da emoção (exploramos mais profundamente
esse simbolismo no Capítulo 10, "Palas Atená"). Ar, o elemento da
Tempestades elétricas ativam os quatro elementos
Fotografia de Michael Guttman
mente, c água, o elemento dos sentimentos, têm extrema dificuldade de
integrar-se um com o outro, assim como fogo e terra.
Pessoas cujos horóscopos trazem uma poderosa ênfase nos signos
do ar (o Sol, a Lua ou o ascendente em Gêmeos, Libra ou Aquário, ou
localizações angulares com Urano, Mercúrio ou Palas Atená) muito
provavelmente terão dificuldade para entrar em contato com seus
sentimentos. Podem parecer frios e cruéis, incapazes de tocar o coração
dos outros. Eles pensam ter uma resposta para tudo e que a lógica pode
trazer a resposta. Quando suas emoções emergem, com freqüência o
fazem de modo bizarro, de forma que os tipos pensantes ou "de ar"
(especialmente os introvertidos) podem favorecer o surgimento de
algumas reações emocionais bastante peculiares. Se fôssemos expressar
a personificação do ar em forma de um cartum, veríamos o desenho de
um balão de ar quente como a cabeça e dois bastõezinhos como o corpo.
O ar, mais do que qualquer outro elemento, é com freqüência "lá em
cima" ou, metaforicamente falando, na cabeça e distintamente não no
corpo.
Mas, muito já se disse sobre as qualidades negativas dos tipos de
signo de ar. Se por vezes as vemos como responsáveis por todos os
nossos males, é apenas porque nossa civilização está em um momento
de crise em relação ao pensamento e aos sentimentos. Os tipos de ar
têm coração e alma como qualquer outra pessoa. Apenas têm mais
dificuldade em atingir esse nível. É sua tarefa manejar a espada do
intelecto e "assassinar o assassino" do real. Isso equivale a dizer que
devem usar a mente para ir além da mente — uma afirmação paradoxal
e uma tarefa difícil, mas verdadeira.
O melhor que se pode fazer por essas pessoas é ouvi-las quando
dão essa rara demonstração de sentimento, em vez de criticá-las pela
falta de emoção (afinal de contas, isso apenas as leva a mergulhar mais
fundo em suas posições rigidamente entrincheiradas). E também
faremos bem em nos lembrarmos de que sem o raciocínio claro e
preciso delas não gozaríamos dos confortos ou luxos tecnológicos que
possuímos hoje. Seu aparelho de CD, seu novo carro, seu precioso
videocassete e seu computador — devemos todas essas coisas às
mentes lógicas e penetrantes dos tipos de ar.
É fácil ver como Gêmeos, Libra e Aquário constroem a
triplicidade do ar na roda astrológica. Assim como a mente, os três
signos têm aspectos duplos, simbolizados por seus glifos reais e como
são representados pela função deles no zodíaco. Todo o círculo do
zodíaco é representado por animais, exceto um conjunto: o dos signos
do ar, que têm mais símbolos "humanos". Na Antropologia,
aprendemos que o fator distintivo entre o homem e seus irmãos
mamíferos relaciona-se ao fato de que o homem pensa. O homem tem
uma mente e um intelecto e por isso pode
raciocinar. O mundo animal exterior ao homem baseia-se
principalmente no instinto.
A imagem que define o primeiro dos signos de ar, Gêmeos, é
composta por dois gêmeos homens (Castor e Pólux ou outros gêmeos
mitológicos que discutiremos ao falar de Gêmeos). Nesse primeiro
signo de ar, a mente ainda está em um estado infantil, fuçando em toda
parte, curiosa por conhecer e aprender sobre tudo o que encontra. Por
essa razão, possui uma habilidade em aprender muitas coisas
rapidamente e ao mesmo tempo, assim como a criança pequena, que
cheia de energia aprende a imitar seu ambiente. Em Gêmeos, a
dualidade da mente é expressa em seu modo mais extremo: as duas
crianças não apenas têm corpos e objetivos distintos, como a mítica
rivalidade entre elas simboliza o diálogo e o debate vivenciado pela
mente quando muitas vozes interiores falam, mas nenhuma delas está
suficientemente desenvolvida para realmente responder às demandas do
momento.
Para Libra, o símbolo é uma balança, por vezes sustida por uma
mulher, outras não. A balança simboliza o estágio a que chegamos com
o segundo signo do ar — o de equilíbrio. No libriano, o fator de
dualidade é menos pronunciado que no geminiano, pois é uma pessoa
que possui um par de pratos de balança. Repetimos, o par está em busca
de um equilíbrio de opostos e Libra está sempre preocupada com justiça
ou igualdade. De fato, a balança de Libra foi adotada pelo campo legal
como lembrete de que ali também a justiça e a igualdade devem estar
acima de tudo. A posição de Libra na roda astrológica dá a ela um papel
único, pois está situada no ponto médio de todos os signos e por isso se
diz que tem maior objetividade ou capacidade de ver todos os lados de
uma questão igualmente. Seja isso ou não inteiramente verdadeiro, a
maior parte dos librianos dirá que sua trajetória de vida sempre envolve
alguma variação desse ato de equilibrar.
Se Gêmeos representa a luta individual com a dualidade de sua
própria mente e Libra equilibra o "Eu" com o "Outro", é Aquário, o
terceiro e último estágio do ar na mandala astrológica, quem assume a
tarefa de usar a qualidade do ar para se afastar de problemas pessoais e
estender uma mão solidária para a humanidade como um todo. De fato,
a queixa comum sobre os aquarianos em um nível pessoal ou de
relacionamento é que eles são muito desprendidos e não são sensíveis o
bastante para necessidades pessoais. Isso é bastante verdadeiro, uma
vez que Aquário (assim como o Vulcano Spock, na série de TV
Jornada nas Estrelas) com freqüência se preocupa com o bem de
muitos acima do bem de um só.
A impressão costumeira é que os aquarianos sempre tomam as
decisões certas, mas esse nem sempre é o caso. Aquário, assim como
Gêmeos e Libra, é dirigido pela mente e, como resultado, pode "vestir
antolhos" em relação a outras áreas da preocupação humana, com uma
visão de vida bastante fria o seca. Quando os planetas ocupam signos de
ar, a finalidade consciente e a força de vontade dirigida estão voltadas
para as atividades "aéreas", o mundo das idéias, conceitos e resolução
de problemas. Relacionamentos com pessoas que podem agir como
receptores, pelas quais possam "arejar" esses conceitos e idéias, tomamse
o objetivo do tipo de ar.
Em assuntos de saúde, a triplicidade do ar trata da capacidade de
circular o sangue através dos caminhos do corpo, as artérias e as veias.
Quando o ar está pouco representado no mapa, a circulação será fraca.
Quando está excessivamente enfatizado, serão aparentes a secura da
pele, do cabelo e temperamento. Técnicas de respiração são
extremamente importantes para os signos de ar e os iogues reconhecem
a respiração vital ou prana como o elo de ligação entre o corpo e o eu.
Todos os tipos de ar, especialmente Gêmeos — que rege os pulmões —
podem beneficiar-se de exercícios cotidianos de respiração e com
freqüência necessitam viver em um lugar em que o ar seja limpo e puro.
Também precisam freqüentemente estar elevados, em grandes altitudes.
Embora o ar seco case bem com seu temperamento, também exacerbará
a secura que pode acometer seu corpo se o elemento ar for excessivo.
Nesses casos, hidratantes e óleos naturais serão de grande valia.
Água
O elemento água simboliza o fluxo dos sentimentos humanos, e
não é de se espantar que a Lua, esse grande significador da emoção,
encontre seu lar em um signo de água, Câncer. Um horóscopo
profundamente dotado de planetas nos signos de água mostra um
indivíduo que confia em seus sentimentos, um indivíduo que é mais
emocional que mental.
Se extrovertidas, essas pessoas são dotadas de todas as graças
sociais, pois estão afinadas com o sentimento das outras. Os
introvertidos são as pessoas a quem tipicamente chamamos "águas
paradas e subterrâneas", almas meditativas, sensíveis, inarticuladas que
permanecem trancadas em um casulo interno, como Laura na peça de
Tennessee Williams The Glass Menagerie. Como vivem de acordo com
seus sentimentos, os tipos de água (a menos que também tenham muitos
planetas em signos de ar) não ligarão para valores de pensamento. Os
extrovertidos, em particular, aceitarão o julgamento da sociedade sem
questionar, e todos os tipos "puros" de água, sejam introvertidos ou
extrovertidos, tendem a ter mais opiniões do que idéias.
Valores sentimentais
podem ser expressos de muitos
modos. Em Câncer, água está
em seu modo cardinal de
expressão. Os sentimentos estão
ativos. Fazem as coisas
acontecer. Água cardinal é
como um rio correndo na época
da cheia, traçando um caminho
para seu destino final, o mar.
Em Escorpião, a água opera por
meio do modo fixo de
expressão, como um brejo
plácido ou um lago congelado
no inverno. Dessa forma, contase
que pessoas de Escorpião são
muito tenazes ou mesmo
francamente retentivas, quando
se trata de suas emoções. Uma
vez que investem sua energia
emocional em algo — seja em
um casamento ou em uma causa
sociopolítica —, eles
simplesmente não desistem.
Estão trancados, como o lago
congelado. É tão difícil ver além da superfície de Escorpião quanto é
ver o fundo de um lago. O verdadeiro centro emocional, o poder da
água, fica escondido sob o exterior plácido, algo enevoado. Em Peixes,
a água ocupa um signo mutável. Aqui, os deslocamentos e variações
sobre o tema emocional tornam-se infinitos. Não há um fim para os
sentimentos profundos contidos em Peixes, pois Peixes é o próprio
oceano, infinito em sua variedade e interminável em suas mudanças. E,
como o oceano, é impossível conhecer inteiramente Peixes.
Vimos como os quatro elementos fazem sua aparição na mitologia
correspondendo aos quatro tesouros do Graal. O papel representado pela
água nesse mito em particular tem um poderoso significado para nossa
civilização como um todo. Jung afirmava que o mito medieval em geral,
e o mito do Graal em particular, levantavam todos os problemas que
atualmente confrontam nossa civilização148. A civilização ocidental,
nascida da sublevação criada pelo cristianismo emergente e uma
148. Jung, Emma, e Marie-Louise von Franz, The Grail Legend, New York, Putnam 's,
1970, pp. 83-4.
Queda d'água em Big Island, Havaí.
Fotografia de Ariel Guttman
Água e terra encontram-se na costa
civilização greco-romana moribunda, começou a tomar forma durante
aquilo a que chamamos Idade Média. Portanto, é durante a Idade
Média, de acordo com Jung, que os principais mitos da civilização
ocidental também tomaram forma. Na história do Graal, o cavaleiro
Percival está em busca da taça na qual Cristo bebeu na Ultima Ceia.
Enquanto o Graal não for encontrado, o mundo será um deserto. O
significado profundo da história é óbvio. A qualidade do sentimento
— simbolizado pelo elemento aquático e a taça mágica — é a mais
triste carência da civilização ocidental. Os autores da Lenda do Graal
já haviam percebido, na Idade Média, que nossa cultura inclinava-se
muito fortemente na direção da ciência, do intelecto racional. Uma
repressão do princípio feminino (o Graal simbólico) estropiou o rei
interior e agora o mundo é um deserto — uma curiosa antecipação da
atual crise ecológica para a qual nos levou nossa orientação científica.
De acordo com o mito, a cura para a cultura só pode vir por meio dos
sentimentos. O Graal é o descendente simbólico do caldeirão do
renascimento da mitologia céltica; portanto, não devemos nos
surpreender por descobrir que o Graal, o vaso sagrado, era um
símbolo feminino, assim como não devemos nos surpreender ao notar
que a portadora do cálice no Castelo do Graal é uma mulher cujo
nome significa "Resposta Escolhida". Apenas por meio da confiança e
da união com o elemento água, a faculdade feminina de sentir, nossa
civilização pode se curar.
O Sol representa o ego, e a capacidade do ego de transmitir as
intenções da personalidade, combinada com sua capacidade de filtrar
estímulos externos, é provavelmente única. Os poderosos raios de luz
do sol, quando está em forte aspecto com outros planetas, estimulam
ou aumentam suas intenções e desígnios. Mas, suponhamos que temos
um dia nublado. Dizemos que o sol não saiu, mas isso não é verdade.
O sol sempre sai durante as horas do dia. Em um dia nublado ainda
podemos ver para onde estamos indo sem recorrer à luz artificial, mas
não estamos necessariamente conscientes da presença do sol. Assim é
com muitas
pessoas que têm o Sol no elemento água. Há véus e muitas camadas de
material psíquico e/ou emocional entre aqueles cujo Sol ocupa um signo
de água e o objeto de sua atenção ou interação. Você não terá
queimaduras de sol através desses tipos, mas sentirá que há mais coisas
ocorrendo sob a superfície do que acima dela. A água apaga o fogo, de
forma que, quando a natureza aquosa é forte, as pessoas cujos Sóis estão
em signos de água não se expressarão de forma tão poderosa quanto as
pessoas com o Sol em fogo. Mas suas vidas interiores já são outra
história! Por trás das nuvens e da neblina estão muitos tipos de
experiência, tanto inspiracionais como turbulentas. E, através da luta
com esses extremos, a iluminação chega para esses indivíduos. Quando
o Sol, um planeta de fogo, está num signo de água, o tema fogo/água
pode estar fortemente aparente no resto do mapa. Ambos os elementos
têm de ser honrados. Como os signos de água absorvem sentimentos e
sensações, e o Sol simboliza a forma como expressamos aquilo que faz
parte de nosso ser interior, é tarefa do Sol em água externar essas
profundidades aquosas de qualquer maneira.
Num mapa astrológico, quando vemos uma abundância do
elemento água, vemos imediatamente que o indivíduo tem uma grande
capacidade de sentir. Se os planetas localizados em signos de água têm
bons aspectos e estão livres para "fluir", com freqüência indicam
pessoas que usam esses dons de maneira atenciosa e sensível. Podem
ligar-se às profissões curativas ou de ajuda, usando sua consciência
psíquica e psicológica de modo a manter o princípio ativo para ele
próprios e também transmitindo o conhecimento àqueles a quem estão
ligados. Podem ser artistas ou músicos, místicos ou poetas, professores
ou líderes de grupo que, por virtude de sua capacidade de agitar seus
sentimentos, inspira outros a fazer o mesmo. Esse processo, porém, nem
sempre ocorre facilmente.
A Água, como já mencionamos, é provavelmente o mais
reprimido dos quatro elementos em nossa cultura. Os últimos duzentos
anos concentraram nossa atenção na industrialização e na tecnologia
avançada. Portanto, há muito mais razão para que o sentimento e a
sensibilidade, representados pela água, estejam presentes em nossas
vidas. Porém, esse não tem sido o caso. Chegamos ao extremo ao
incorporar a tecnologia e a ciência em nossas vidas, desenvolvendo
megamentes e peritos corporativos que vivem em um mundo de cromo
cinza e vidro, de pensadores robotizados que usam ternos cinza e
correm pelos aeroportos como uma massa de valises mecânicas, e que
respondem, mediante comando, à sua programação quase
computadorizada. Essas também são as cenas que se mostram aos
nossos filhos nos muitos vídeos que chegam a suas jovens mentes muito
abertas, psíquicas e impressionáveis. Diz-se a eles que a expressão dos
sentimentos não é permitida. As meninas conseguem expressar-se um
pouco mais (ao menos
durante a adolescência), mas os meninos são ensinados desde cedo a
não chorar, pois isso é sinal de fraqueza e não é muito masculino. Mas
logo também as meninas são alvo de zombaria quando surge a natural
expressão das lágrimas.
Muitas das doenças de hoje podem ser ligadas a princípios de
limitação de sentimentos ou repressão do princípio água na vida.
Quando observamos uma represa construída para conter o fluxo natural
da água, notamos que uma tremenda quantidade de força feita pelo
homem deve ser empregada para deter aquele fluxo natural. Imagine o
que fazemos em nossos corpos ao obstruir o livre fluxo do processo da
água. É necessário muita força e resistência para segurar os sentimentos
— ou o fluxo natural das respostas emocionais. Nossos corpos têm um
modo natural de soltar a água ou expressar os sentimentos presos dentro
dele — as lágrimas. Mesmo assim, muitos se sentem bobos ou
estúpidos, ou mesmo culpados, se deixam as lágrimas correr. Pense em
quanto você se sente bem após uma boa chorada. É similar a um banho
frio de manhã, com a diferença de que o banho foi por dentro.
Quando a função da água é bloqueada na vida de uma pessoa, isso
pode aparecer no mapa como uma falta de planetas nos signos de água.
Pode também ser simbolizado por planetas em signos de água
grandemente aflitos ou desafiados por planetas em signos de ar ou fogo
ou por planetas de natureza aérea ou ígnea. Nesses casos, a pessoa foi
com freqüência impedida de expressar o fluxo natural de seus
sentimentos ou ensinada a reprimi-los por medo de que, se saíssem,
explodiriam. A combinação de água com fogo, por exemplo, é bastante
vulcânica. As inflamadas emoções de fogo misturam-se com a água e
fervem em um caldeirão a muitos níveis abaixo da consciência, até que
um trânsito, um eclipse, lunação ou progressão os faça sair e crie uma
erupção altamente vulcânica. Isso ocorre com freqüência quando
Escorpião está envolvido, pois Escorpião é o signo da água parada, a
água que fica retida sob a superfície, segurando os sentimentos antes
que possam ser processados. Quando positivamente integrados e
expressos, a combinação de água e fogo cria pessoas apaixonadas,
sensíveis, ardorosas e calorosas, que encorajam seus sentimentos a fluir
livre e espontaneamente.
A mistura de água com ar é muito própria de Peixes, o que cria
nuvens de chuva que podem ser turbulentas às vezes, com trovões e
relâmpagos sobre o oceano, e outras vezes suaves e calmantes, como
uma garoa de verão. Quando propriamente expressa, a mistura água/ar
pode criar a verbalização ou vocalização do sentimento — escritores,
músicos, cancioneiros, poetas, etc. Uma das mais produtivas misturas
de ar e água dos últimos tempos foram os Beatles, que apresentavam
dois intelectos criativos (John e Paul) com seus Sóis em signos de ar
(Libra e Gêmeos, respectivamente) apoiados por dois músicos (George
e Ringo) com seus
Sóis em signos de água (Peixes e Câncer). A dupla de autores de
canções Paul Simon (Libra: ar) e Art Garfunkel (Escorpião: água)
também criou belas harmonias, mas sabe-se bem que preferiam
trabalhar de forma independente. Ambos os grupos nos estimulam tanto
no nível verbal (ar) quanto no musical (água).
Como vimos, o princípio do ar liga-se à função do pensamento,
enquanto o da água conecta-se com a função do sentimento. Quando ar
e água competem, nem sempre são fáceis de reconciliar. A mente
manda que as emoções se controlem, enquanto as emoções não têm
parâmetros de controle — respondem ao sentimento puro. Quando o
princípio do ar é muito fortemente dominante e controla o princípio da
água, a manifestação interna com freqüência é como o temporal — uma
resposta crítica, cáustica e exageradamente julgadora a uma situação
que não parece merecer essa abordagem.
Terra com água pode normalmente criar um fluxo harmonioso. A
terra precisa da água para crescer e sobreviver. A água pode usar um
recipiente como a terra (similar a Câncer) para evitar derramar-se e
escorrer, destruindo potencialmente tudo em seu caminho. Quando a
terra e a água estão muito dominantes em um mapa astral sem a adição
dos outros dois elementos, cria-se "lama", ou um sentido de êxtase e
complacência com a situação atual; falta motivação.
Podemos ver por isso, portanto, que a função da água no mapa
ajudará a lubrificar as juntas psíquicas e oferece um elemento de ligação
para impedir que os sentimentos e respostas emocionais fluam
livremente e que, quando bloqueamos essa função, podemos fazer
muito mal para nós mesmos e para outros. Podemos ver também que o
equilíbrio dos quatro elementos é necessário para a completude e a
integração.
As Três Modalidades:
Cardinal, Fixa e Mutável
Os signos fixos são mostrados
nos cantos deste baralho de Tarô Francês
do século XIX
O esquema dos quatro
elementos é um modo de
categorizar a realidade
psíquica da astrologia; o
esquema das três modalidades
é diferente. Esses dois
sistemas se entrelaçam na
mandala astrológica; e, como
veremos, acrescentam
camadas de significado aos
signos zodiacais.
Assim como cada signo
pode ser classificado de
acordo com o seu elemento,
pode também ser classificado
segundo seu modo. Quatro
elementos vezes três modos é
igual a doze signos. Assim,
temos um signo cardinal do ar
(Libra), um signo fixo de terra
(Touro), um signo mutável de
água (Peixes) e assim por
diante. Cada signo é uma
mistura única de elemento e
modo; nenhum signo tem
exatamente a mesma
constituição que outro.
De acordo com Jung149 e com os astrólogos védicos150, os números
ímpares são masculinos. O número três é um exemplo especialmente
forte, pois o próprio cristianismo concebe Deus como uma trindade;
conseqüentemente, nossa civilização cristã baseia-se no princípio
masculino representado pelo número três. Números pares são femininos
e o número quatro, em particular, aparece de forma recorrente na
mitologia e em religiões não-ocidentais. Jung observou que a estrutura
da psique humana aparece em sonhos como uma entidade quádrupla;
dessa forma, podemos concluir que a alma humana é essencialmente
feminina151.
A mandala astrológica une os números três e quatro. Une a
energia masculina e feminina, yin e yang, em um símbolo reconciliador,
o círculo horoscópico. Dentro dessa união do yin e do yang, há nuances
mais sutis, pois os próprios elementos podem ser divididos em
componentes masculinos (fogo e ar) e femininos (terra e água). A
astrologia tem algo da antiga sabedoria, pois une símbolos masculinos e
femininos em um arquétipo de completude. Essa completude foi
perdida há muito no mundo ocidental. Mesmo antes do advento do
judaísmo e do cristianismo com seus fortes aspectos patriarcais, as
mentes analíticas dos pensadores gregos já inclinavam nossa civilização
em direção de seu atual curso masculino ou científico. O horóscopo,
porém, trata de uma visão de mundo mais antiga e equilibrada.
Se nos perguntarmos como ou de onde essas modalidades
surgiram, não haverá uma resposta clara. Certamente, as modalidades
são parte da teoria astrológica desde Ptolomeu de Alexandria, embora
não pareçam ter sido conhecidas pelos babilônicos; de fato, todo o
sistema de elementos e modos parecem ter origem grega. Qualquer que
seja sua origem, as modalidades são um conceito muito antigo.
Podemos encontrar muitas similaridades entre os três modos da
astrologia ocidental e os três gunas ou atributos da filosofia clássica
hindu152. Os três gunas, que exploraremos um pouco mais
profundamente com os modos, são rajas (atividade), tamas (inércia) e
sattva (espírito ou harmonia). Correspondem com bastante exatidão aos
modos cardinal, fixo e mutável, respectivamente153. A medicina hindu
clássica, ou Ayurveda, reconhece também uma divisão similar dos três
"humores" (doshas) ou tipos físicos: vata (sattva, mutável, ar); pitta
(rajas, cardinal, fogo); e kapha (tamas, fixo, terra/água).
149. Wilhelm, Richard, trans. The I Ching, Princeton, NJ, Princeton-Bollingen, 1970.
150. Frawley, David, comunicação pessoal com os autores, agosto de 1990.
151. Jung, Carl G., Psychology and Alchemy (Collected Works, vol. 12), ibid. Passim.
152. Leo, Alan, Esoteric Astrology, Nova York, Astrologers Library, 1983, p. xvii.
153. Frawley, David, The Astrology of the Seers, Salt Lake City, Passage Press, 1990.
Os quatro signos da cruz fixa são representados nesta janela de catedral como:
Aquário — o homem (São Mateus); Leão — o leão (S. Marcos);
Escorpião — a águia (São João); e Touro — o touro (São Lucas).
Fotografia de Ariel Guttman
Será que deveríamos, por isso, admitir que a astrologia grega foi
influenciada pelo hinduísmo? Essa influência certamente não é
impossível. Praticantes do sistema védico que inclui a astrologia
afirmam que ele tem ao menos cinco mil anos. Alexandre, o Grande,
um conquistador grego*, tinha iogues hindus em seu séquito e
conversava freqüentemente com eles sobre assuntos filosóficos. Suas
façanhas militares deram origem a uma civilização que era meio grega e
meio asiática, que ia do continente europeu até as fronteiras da Índia.
Muitas idéias foram transportadas pelas rotas das caravanas do Oriente
Próximo naquele tempo. O sânscrito, a língua do hinduísmo clássico,
tem semelhanças com o grego. Ambas são classificadas como línguas
indo-européias, o que sugere que em algum momento distante elas
tiveram um ancestral comum. A maioria dos estudiosos acredita
atualmente que a busca por esse ancestral comum remonta ao quarto
milênio antes de Cristo e à
______________________________________________________________________
* N. da T.: Na verdade, Alexandre, o Grande, era macedônica, e não grego.
parte meridional da antiga União Soviética154. Ali, nas grandes estepes,
viviam algumas tribos guerreiras — patriarcas que manejavam espadas
e mestres cavaleiros. Tudo o que sabemos sobre esses primitivos indoeuropeus
sugere que o número três tinha vital importância para sua
religião. Esses nômades viajaram para oeste de sua pátria original e
invadiram a Europa. Surgiram nos Bálcãs por volta de 3500 a.C. A
arqueóloga Marija Gimbutas afirmou que os Bálcãs eram o local de
origem de uma proto-civilização muito primitiva a que chama "Velha
Europa"155. A cultura da Velha Europa baseava-se no culto à Grande
Deusa; era um mundo de pacíficas aldeias agrícolas, um verdadeiro
matriarcado. Não surpreende que seus artefatos religiosos sugiram que
quatro, o número feminino, fosse de grande importância. Mas em
meados do quarto milênio a.C. a Velha Europa foi invadida por
nômades que traziam espadas de bronze e esculpiam cabeças de cavalo
em seus utensílios fúnebres. Esses invasores, segundo Gimbutas, eram
os indo-europeus. Continua dizendo que a mesma história de conquista
repetiu-se quando os gregos micênicos patriarcais invadiram a
civilização da Creta Minóica, que cultuava a Deusa (de acordo com
Gimbutas, há fortes razões para crer que a Velha Europa e a Creta
Minóica fossem ramificações da mesma civilização matriarcal).
Aqui, pela primeira vez, vemos o conflito e a eventual união entre
a religião patriarcal baseada no três e a visão de mundo matriarcal
baseada no quatro. Na Grécia, especialmente, as duas visões de mundo
realizaram uma síntese incômoda, mas praticável. Os indo-europeus
trouxeram seus deuses guerreiros — Zeus, o Pai Céu, Ares, o Guerreiro
e outros — para uma Grécia que ainda cultuava a Grande Mãe. Os
invasores e os habitantes originais forjaram um desconfortável
compromisso em que os novos deuses se tornaram filhos ou consortes
da Grande Mãe156 — como quando Zeus é retratado como filho da
deusa cretense Réia ou marido de Hera, nome sob o qual a Grande
Deusa era cultuada em Argos. Gaia, a Mãe Terra, deu à luz Ouranos, o
Deus Céu. Gaia também era cultuada em Delfos muito antes que Apolo
surgisse e exigisse aquele ponto como lar.
A mandala astrológica de elementos e modalidades pode ser parte
do legado simbólico dessa síntese. Se os quatro elementos representam
uma sobrevivência da visão de mundo matriarcal, os três modos podem
representar os conceitos dos invasores indo-europeus que trouxeram um
fim à Antiga Europa.
154. Mallory, J.P., In Search of the Indo-Europeans, Londres, Thames and Hudson,
1989, pp. 182-5.
155. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, ibid
156. Ver Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., pp. 9-26; e também Harrison, Jane
Ellen, Prolegomena to the Study of Greek Religion, ibid.
Em suma, vemos que três, o número dos modos da astrologia,
simboliza um princípio patriarcal masculino, celeste, enquanto o quatro,
número dos elementos, relaciona-se com o culto terrestre da deusa-mãe.
A roda astrológica de quatro vezes três equilibra o masculino e o
feminino, ou yin e yang, num círculo de completude. Afinal de contas,
embora alguns digam que Deus é homem e outros que é mulher, a vida
neste planeta não tem possibilidade de surgir exceto através de uma
união de ambos. Além disso, diz-se que além deste plano terrestre não
há necessidade de uma diferenciação masculina ou feminina; somos
seres absorvidos um no outro. Mas nesse plano também não há
necessidade de classificações como cardinal-fixo-mutável ou
terra-fogo-ar-água. Tudo se funde e se torna um.
Cardinal
Os signos cardinais iniciam a energia. Seu poder dirige, é a
vontade de agir. Podem ser motivados por uma visão ou puramente pela
obsessão de realizar algum tipo (qualquer tipo) de ação — mas eles
agirão. Por vezes parecem-se com um tufão ou, melhor ainda, um rolo
compressor. Arremetem para a frente e tudo o que se pode fazer é sair
do caminho deles.
Entre os três gunas hindus, o modo cardinal corresponde a rajas.
Rajas tem a mesma raiz de rajá ou marajá, que significa rei. A mesma
palavra aparece nas linguagens européias como rex (latim) ou roi
(francês), além de regai e royal. Na antiga Índia, os reis eram
guerreiros; era sua incumbência pegar em armas e conquistar o campo
de batalha, assim como era dever de um brahmin meditar e estudar as
escrituras. Da mesma maneira, as pessoas cujos horóscopos trazem uma
ênfase nos signos cardinais estão no caminho da ação. Necessitam de
uma causa, uma batalha, um campo ou atividade. Sem isso, tornam-se
feixes frustrados de energia nervosa.
Falando novamente da filosofia clássica hindu, descobrimos que
os rajaguna têm uma deficiência crônica: a ira. Pessoas cardinais têm
um temperamento volátil, inflamado, que pode explodir facilmente, a
menos que tenham um escape para sua abundante energia. Signos
cardinais gostam de iniciar coisas. Quando estudarmos a mandala do
zodíaco um pouco mais a fundo, isso se tornará aparente, pois os signos
cardinais correspondem aos quatro ângulos principais do mapa astral e
também ao início das quatro estações (ou seja, os equinócios e
solstícios). E eles não apenas começam coisas, como parece que as
coisas
são começadas para eles. Entre indivíduos multicardinais, com
freqüência ocorre que suas vidas tomam as rédeas e se movem antes
que eles realmente saibam que estão fazendo ou por quê. Essa energia
que alguns atribuem à "sorte de principiante" pode não durar para
sempre; mas, com os signos cardinais, isso está muito bem — porque,
quando as coisas atingem um ponto em que o planejamento consciente
de rotina se estabelece, os tipos cardinais já estão procurando um modo
de sair do antigo e entrar em algo novo.
Áries manifesta sua cardinalidade de modo mais óbvio do que os
outros signos. Pessoas de Áries criam atividade simplesmente por criála.
Precisam estar fazendo algo, mesmo que seja bater a cabeça na
parede, lutar por uma causa perdida ou chutar um cachorro morto.
Realmente não se importam, desde que isso dê a eles algo a fazer.
Capricórnio, o signo cardinal de terra, é um pouco mais quieto, mas
mais incansável. Prefere caminhar e não correr em direção a um
objetivo em particular; mas, como qualquer signo cardinal, nunca será
desviado de seu propósito. Essa cardinalidade de Capricórnio lhe dá a
força de determinação necessária para atingir o topo da pirâmide
corporativa ou política — ou a força interior para manifestar seu mito
do solstício de inverno e buscar ininterruptamente a luz interior.
Alguns estudiosos de astrologia acham um pouco mais difícil
identificar as qualidades cardinais de Libra e Câncer. E, realmente, se
pensarmos em Libra apenas como o signo do relacionamento, teremos
muito trabalho para apontar sua natureza essencialmente cardinal. Mas,
como aponta Dane Rudhyar em seu Pulse of Life, Libra representa o
equinócio de outono, quando o poder da humanidade coletiva começa a
fazer sombra ao poder do ego individual157. Temos de pensar nos
relacionamentos nesse contexto mais amplo. Um libriano que canaliza
todo o seu poder de relacionamento num casamento ou outra relação
íntima pode não estar expressando todo o leque da cardinalidade
libriana: o espectro completo do relacionamento é manifestado pelos
librianos que prevêem uma nova humanidade baseada naquilo que os
índios americanos ou budistas chamariam relacionamento correto.
Mahatma Gandhi é um ótimo exemplo desse tipo de libriano.
A natureza cardinal de Câncer também pode ser um pouco difícil
de apontar. Isso porque o campo de atividade de Câncer é o coração
humano. Câncer vem no solstício de verão, quando os dias são mais
longos e o sol brilha. Pode parecer um pouco confuso para alguns, já
que o Sol é normalmente visto como um planeta masculino e Câncer é
um signo essencialmente feminino. Mas, como veremos (em Câncer),
157. Rudhyar, Dane, The Pulse of Life, ibid, pp. 73-8.
Os signos da cruz cardinal, ilustrado por Diane Smirnov
Câncer une as energias solar e lunar de um modo muito importante — e
se aplicarmos o esboço de Joseph Campbell do mito do herói à
passagem do Sol através do zodíaco, Câncer representa o casamento
místico, a união das energias masculina e feminina158.
A energia cardinal de Câncer é utilizada construindo-se uma
sólida base para o ego solar, de forma que ele possa expressar melhor o
seu desígnio. Essa base pode ser um lar e uma família ou o centro
interior do ser (e por isso pensamos em Câncer como um signo
psíquico).
Signos cardinais são como o primogênito de uma família —
levados a realizar ou perseguir uma visão que está praticamente fora de
alcance. Todavia, há constante movimento e atividade, nunca um estado
de perfeito descanso; é como se uma cenoura fosse balançada diante
158. Campbell, Joseph, The Hero with a Thousand Faces, ibid., p. 245.
deles, incitando-os a prosseguir só por mais uma milha até alcançá-la.
Por mais exaustivo que isso possa parecer, aqueles que possuem uma
forte modalidade cardinal preferem assim. O descanso não é fácil para
esses tipos, a menos que tenham uma súbita queda de energia.
A energia possuída pelos signos cardinais opera de modo diferente
e corresponde grosseiramente ao elemento em questão. Por exemplo, a
cardinalidade de Áries se expressa por meio do fogo, Câncer por meio
da água, Libra por meio do ar e Capricórnio por meio da terra; Áries, o
signo de fogo, é levado a buscar alguma espécie de vitória pessoal —
ser o primeiro, o mais rápido ou o melhor em algo. A água de Câncer
corre constantemente como um rio em busca de seu lar definitivo, ou o
que quer que faça Câncer sentir-se seguro e a salvo. Libra, o signo
cardinal de ar, é levado por sua necessidade de constante equilíbrio e
harmonia em um mundo que parece fazer questão de manter as coisas
em um estado de desequilíbrio na maior parte do tempo. Capricórnio, o
signo cardinal de terra, é impulsionado por seu desejo de dominar o
mundo físico, seja sentado no cume do Monte Everest, no mais alto
escalão da escada corporativa ou, de acordo com seu simbolismo de
solstício de inverno, empenhando-se para manter a luz interior acesa.
O ciclo encarnatório do modo cardinal é um período de
produtividade e ação. Não é à toa que ficamos tão contentes em
descansar e ficar parados quando atingimos o modo fixo! O mesmo
processo é verdadeiro para nossa experiência do mundo como um todo
quando há muitos planetas transitando por signos cardinais. Por
exemplo, durante o final da década de 1980 e início da de 1990, três ou
quatro dos planetas exteriores (mais pesados) transitaram por signos
cardinais — Saturno, Urano e Netuno estavam em Capricórnio, com
Quíron simultaneamente no cardinal Câncer. Esse alinhamento no céu
induz a uma grande atividade na Terra; observamos "terremotos" tanto
geológicos quanto geopolíticos — movimentos da terra e movimentos
políticos. Eis como quantidades excessivas de cardinalidade costumam
agir, tanto individual quanto coletivamente. Normalmente, há esse
sentido de urgência com os signos cardinais — se não agirmos agora,
vamos perder aquele momento. Por essa razão, uma pessoa com forte
cardinalidade muito provavelmente perderá a paciência com pessoas ou
situações que parecem estagnadas e podem facilmente ficar aborrecidas
mesmo com seus próprios projetos, pois o ato de iniciar ou criar é o
mais estimulante e esse momento de gênese já passou. Logo que o novo
e diferente se torna a rotina e necessita de manutenção diária, as pessoas
cardinais podem desencantar-se bastante.
Não é por acaso que os ciclos sazonais anuais começam nos
signos cardinais. Os primeiros dias de primavera, verão, outono e
inverno correspondem exatamente aos primeiros graus de Áries,
Câncer, Libra
c Capricórnio, respectivamente*. Conhecemos esses dias como
equinócios e solstícios, as quatro vezes no ano em que a Terra e o Sol
estão suspensos em ângulos exatos de potência magnética aumentada.
Talvez isso tenha algum efeito nos componentes bioquímicos dos
indivíduos multicardinais. Uma coisa é certa com signos cardinais — a
vida nunca carece de drama.
Situações de vida complexas e potencialmente estressantes
surgem para indivíduos nascidos com muitos planetas em signos
cardinais. Quando planetas ocupam três dos signos cardinais em uma
orbe próxima de maneira a formar ângulos de 90 graus uns com os
outros, os astrólogos chamam a essa configuração um Quadrado T
cardinal. Quando os quatro signos cardinais contêm planetas, a
configuração produzida é chamada grande cruz — ou, mais
especificamente, cruz cardinal. Essas configurações apontam para a
necessidade de um indivíduo de expressar todas as situações
simultaneamente, mesmo quando parece haver competição entre as
diversas situações e cada voz exige ser tratada separadamente. Nesses
casos, não há "este ou aquele": tudo deve ser tratado ou as diversas
situações cutucarão incessantemente o cérebro da pessoa até que
consigam o que querem. E o que querem? Quando três estão presentes,
como no Quadrado T, a solução está com freqüência na perna que falta
— o que faz sentido, pois aquele signo é a polaridade do signo situado
no ponto focai do T, o signo que recebe a maior tensão. A terapia de
polaridade opera segundo o mesmo princípio, uma vez que alivia a
tensão de um ponto do corpo recorrendo a um oposto correspondente.
Dessa forma, se o Quadrado T envolve planetas em Câncer, Libra e
Capricórnio, Libra é o mais pressionado e encontra um alívio em Áries.
Quando os quatro signos estão firmemente configurados na grande
cruz, o indivíduo deve manter um fluxo firme e direcionado para cada
um dos quatro — necessidades emocionais (Áries) devem equilibrar-se
e harmonizar-se com as necessidades do parceiro (Libra); família ou
preocupações pessoais (Câncer) necessitam receber tanta atenção
quanto as preocupações mundanas ou profissionais (Capricórnio).
Embora isso tudo possa parecer incrivelmente estressante, as pessoas
geralmente têm mais facilidade em lidar com a cruz de quatro pontas do
que com o Quadrado T, em que estão em jogo apenas três dos quatro
elementos. Talvez seja assim porque, como observamos anteriormente,
quatro é um número que repousa sobre um alicerce seguro, originado
da fonte feminina de poder doador de vida, e oferece mais estabilidade
e segurança do que o três, um número em constante movimento.
*. N. da T.: mantive o esquema do original, que se refere ao hemisfério norte. No
hemisfério sul, onde está o Brasil, a correspondência seria: Áries-Outono, Câncerinverno,
Libra-primavera e Capricórnio-verão. Por causa dessa variação de
hemisfério, alguns trechos parecerão estranhos ao leitor brasileiro.
Fixo
Se os signos cardinais se empenham na atividade apenas pela
atividade, os signos fixos agem apenas quando é absolutamente
necessário. A energia cardinal é como um furacão, arrasando tudo em
seu caminho. Os signos fixos capturam esse furacão em suas mãos
fortes e o enraizam — ou, mais precisamente, fixam-no — em um
ponto. Transformam o poder do vento em moinhos para que ele produza
algo tangível.
Entre os três gunas, tamas corresponde aos signos fixos. O
significado básico de tamas em sânscrito é "inércia"; de todos os três
gunas, tamas tem a conotação mais negativa. É associado a indolência,
materialidade e obscurecimento da mente por meio da imersão no
sensorial. É bem fácil ver a tendência dos signos fixos para atolar em
trilhas. Touro, como um signo fixo de terra, atola em assuntos do
mundo físico, dinheiro ou sensualidade; Leão, como fogo fixo, na autoindulgência,
o famoso egotismo leonino. Escorpião, o signo fixo de
água, fica exageradamente ligado a seus desejos emocionais e Aquário,
o signo fixo de ar, pode facilmente atolar em padrões de pensamento
rígidos ou adesão fanática a uma idéia.
Mas, essa interpretação concentra-se apenas nas deficiências dos
signos fixos. De fato, o poder de cada um dos quatro elementos fica
concentrado nos signos fixos e assim podem realizar sua forma de
expressão mais poderosa. Reza uma tradição astrológica que o ponto
central de cada signo fixo (ou seja, o 15° grau de cada signo) representa
seu foco máximo de poder. Observamos isso na história recente.
Quando Plutão atingiu o 15° grau de Escorpião pela primeira vez, em
novembro de 1989, o muro de Berlim caiu, um acontecimento que teve
implicações inacreditáveis para a Europa oriental e o mundo. Quando
Plutão atingiu o 15° grau de Escorpião em sua terceira e última
passagem, em agosto de 1990, o Iraque invadiu o Kuwait, iniciando
uma série de reações em cadeia com a qual o mundo terá de lidar ainda
por algum tempo.
Tal ênfase no poder dos signos fixos reflete-se na mitologia. A
visão de Ezequiel do carro de fogo (Ezequiel, 1:4-24) talvez seja o
exemplo mais famoso:
Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte e uma grande
nuvem, com fogo a revolver-se, e resplendor ao redor dela, e no meio
disto uma cousa como metal Brilhante que saía do meio do fogo. Do
meio dessa nuvem saía a semelhança de quatro seres viventes, cuja
aparência era esta: tinham a semelhança de homem. (...) A forma de
seus rostos era como a de homem; à direita os quatro tinham rosto de
leão; à esquerda, rosto de boi; e também rosto de águia, todos os
quatro.
Uma página de título de Hans Holbein, o Jovem, mostrando os quatro signos fixos do
zodíaco, da casa de impressão de Adam Petri, Basle, c. 1524
Aqui, vemos os quatro signos fixos: Aquário, o homem, Leão, o
leão, Touro, o boi e Escorpião, a águia. Na cristandade primitiva e
medieval, os autores dos quatro evangelhos foram associados aos
quatro signos fixos. Mateus era representado como um homem, Marcos
como um leão (daí o Leão de São Marcos, emblema da cidade de
Veneza), Lucas como um boi e João como uma águia (note que o
evangelho mais esotérico, o de João, é atribuído a Escorpião)159. Na
magia cabalística, os quatro elementos são freqüentemente
simbolizados pelos signos fixos e aparecem ainda na carta Mundo do
Tarô, onde mostram que as quatro funções da psique foram
harmonizadas em uma unidade ou completude — um círculo mandálico
dentro do qual uma figura feminina, a anima mundi ou alma do mundo
dos alquimistas, está dançando160.
O lado positivo dos signos fixos é a estabilidade. São os
construtores, seja de coisas terrenas (Touro), criações artísticas (Leão),
poderes ocultos (Escorpião) ou idéias e visões que mudarão o mundo
(Aquário).
Em muitos aspectos, é fácil ver o lado "fixo" desses signos.
Touro, em particular, tem talento para tomar da energia crua e moldá-la
em algo útil. Touro também tem uma reputação de indolência, preguiça
e todas as qualidades de inércia que os hindus atribuem a tamas. A
fixidez ou o desígnio de Leão reside em sua atenção a si mesmo.
Podemos pensar que essa é uma qualidade muito negativa, mas essa
auto-absorção é com freqüência necessária para que o artista transforme
seus sentimentos em um produto ou resultado tangível. Os escorpianos
são especializados em "sentimentos fixos". Podem guardar um rancor
por anos ou mostrar o maior dos apegos por um relacionamento —
podem mesmo prender-se a ele por muito tempo depois que está
terminado. Essa concentração de sentimento sobre um único objeto ou
obsessão tem suas utilidades. Escorpianos são os melhores ocultistas;
têm talento para transformar emoção crua e sentimento em poder
espiritual ou mágico.
Com freqüência, é difícil para as pessoas conceber Aquário como
um signo fixo. Aquário não deveria ser livre e tranqüilo, um sonhador
de olhos risonhos brincando entre as tulipas da vida? Mas, os
aquarianos podem fixar-se num único ideal — mesmo que haja muitas
provas que mostram que o ideal simplesmente não funciona. Abraham
Lincoln pode ser um bom exemplo. Como muitos aquarianos, seus
ideais demoraram mais de cem anos para manifestar-se.
A fixidez é a modalidade que nos permite segurar ou preservar
aquilo que começou no modo cardinal e que será dispersado no
mutável. Essa é, portanto, uma função muito importante na astrologia.
Não haveria sentido no que veio antes sem o modo fixo. Indivíduos
nascidos em
159. Jung, Carl G., Aion (Collected Works, vol. 9 II), Princeton, NJ,
Princeton-Bollingen, 1975, p. 123.
160. Douglas, Alfred, The Tarot, ibid, pp. 113-5.
famílias com culturas fortemente enraizadas em tradições e costumes
que remontam a centenas de anos tipicamente têm pontos importantes
(especialmente a Lua) em signos fixos. Têm um senso inato de manter
o costume e repassar a tradição para a próxima geração. De fato, prole e
progênie, tipicamente associados a Leão, o signo fixo de fogo, podem
ser relacionados à fixidez em geral, baseada na necessidade fixa do
indivíduo de se reproduzir ou continuar a linhagem.
Tipos fixos têm maior resistência que outros. Talvez porque com
freqüência pertençam a famílias ou regiões geográficas com uma longa
história, ficam contentes em manter as coisas seguras e esperar pelo
momento exato de fazer um movimento. Isso deixa seus associados
cardinais (que já estão no caminho) meio bravos. São quase opostos,
pois os cardinais buscam uma batalha ou causa para conquistar e os
fixos gastam a maior parte de sua energia prendendo-se ao que já têm.
Isso não quer dizer que os signos fixos não sejam ativos — longe
disso. Apenas que muito raramente conseguem mudar ou se adaptar a
novas condições. Por isso, sua insistência em manter o status quo pode
ter conseqüências muito ruins para eles. Conforme os tempos mudam,
as tendências econômicas mudam também. Vivemos por ciclos que são
ondas mutáveis de contínua enchente e vazante. Com freqüência é
preciso mudar com os tempos e aprender métodos novos e modernos
apenas para manter-se vivo. As energias dos signos fixos costumam
proclamar que "isso foi bom para meu pai e para o pai dele e, por Deus,
vai ser bom para mim!", quando, de fato, aquilo já está obsoleto.
Mesmo assim, os signos fixos sabem quando usar sua intuição e com
freqüência ficam ricos graças a seu talento aguçado para saber quando
poupar e quando gastar. E, se não ficam ricos, isso provavelmente se
deve a pura teimosia e recusa em deixar que as coisas fluam.
O Quadrado T cardinal significa muita atividade; já o Quadrado T
fixo exemplifica excesso de inércia. É interessante notar que os
planetas com maior influência são Urano e Plutão, regentes de dois
signos fixos, Aquário e Escorpião. Não surpreende que seja preciso
tanta força para mover os signos fixos.
O Quadrado T fixo e a grande cruz ocorrem para indivíduos que
desenvolveram um legado ou fixidez tão fortes que se tornaram uma
crise e devem ser trabalhados. Com freqüência, essas pessoas lutam
com decisões sobre quais valores são verdadeiros e duradouros e quais
são apenas efêmeros. Indivíduos com Quadrado T fixo experimentam
mais dramaticamente os ciclos de "abundância ou fome". Há épocas de
suas vidas em que ajuntam coisas e as guardam. Com freqüência,
surgem testes sobre o uso correto do poder por esses indivíduos.
Quando têm, até que ponto dividem? Até onde desejam concordar com
o ponto de vista de outra pessoa ou comprometer sua posição para
ajudar alguém em dificuldades? Preocupam-se apenas com o lucro
pessoal ou com o
bem-estar planetário? Teriam seus métodos, idéias e práticas se tornado
dogmas, em que as regras não podem ser corrompidas? Seriam seres
mecanicamente programados sem pensamento consciente sobre o que
estão fazendo e as conseqüências que suas ações podem ter para outras
pessoas? Questões de poder são grandes testes também para os tipos
com cruz fixa, já que se experimenta a capacidade de poupar durante a
época de poupança e gastar durante a época de gastança. Ao esgotarem
seu proveito quanto a uma posição de poder, modo de pensar,
relacionamento ou como "guardiões do castelo", eles recebem a
oportunidade de partilhar e abdicar da situação por iniciativa própria. Se
o convite for recusado (e isso ocorre com freqüência na modalidade
fixa), Plutão e Urano estarão ali para catapultar o fixo relutante para a
próxima fase, que no início parecerá um período de "fome" para a
personalidade fixa típica. Isso é um choque tão grande para seus
sistemas que mal têm tempo para aceitar seu destino e "entrar" na nova
fase até que ela termine e a próxima possa começar. A mudança não é
fácil para os signos fixos. Mas, é necessária, já que o próximo
movimento é em direção ao mutável, o que demanda muita
flexibilidade.
Os signos fixos ocorrem durante as fases do ciclo anual da
natureza, quando cada estação está sendo vivenciada em sua forma
mais extrema. Os dias mais quentes do verão e os dias mais frios do
inverno ocorrem durante signos fixos, assim como os dias mais
coloridos do outono e os dias mais frutíferos da primavera. A mais
extrema expressão de cada um dos quatro elementos é experimentada
em seu modo fixo: a expressão mais extrema do fogo é Leão, a da terra
é Touro, de ar é Aquário e de água é Escorpião. Isso também tem a ver
com a contenção e o foco interiorizado que os signos fixos necessitam
para experimentar seus processos de forma mais dramática.
Mutável
O fluxo de energia inicia-se com os signos cardinais; o poder,
desencadeado, emerge com força impulsionadora. Nos signos fixos,
essa força é capturada, enraizada em um ponto, transformada numa
base de produtividade. E, nos signos mutáveis, o poder espirala a partir
de sua base fixa, crescendo, comunicando, educando, tomando formas e
formatos variados. Os signos mutáveis são "deformadores".
No sistema dos três gunas, os signos mutáveis correspondem a
sattva, que significa harmonia. Sattva é o atributo cultivado por devotos
do caminho espiritual, pois busca o equilíbrio, e não a realização
mundana.
Os signos da cruz mutável, ilustrado por Diane Smirnov
Os signos mutáveis sempre tiveram a reputação de buscar a sabedoria e
o conhecimento; são excelentes professores e comunicadores. Gêmeos é
o senhor das palavras e dos nomes das coisas, e portanto o mago.
Virgem é o devoto, que purifica suas energias através de um processo
de transmutação alquímica. Sagitário é o buscador intelectual por
excelência, domando a sabedoria na busca pelo Eu. E Peixes é o
místico, o visionário que luta contra os fantasmas do passado cármico
para obter a realização final.
Porém, se os signos mutáveis possuem uma inclinação espiritual
natural e representam a energia que espirala de volta à sua fonte,
também têm dificuldade para lidar com o mundo material, pois a
natureza difusa e variável de sua energia com freqüência torna difícil
para eles concentrar sua atenção no aqui e no agora. A menos que a
espiral seja conscientemente dirigida para uma finalidade espiritual, ela
pode vagar ao acaso, desconectada e nervosa. Signos mutáveis estão
normalmente conscientes de que estão em busca de algo — mas nem
sempre sabem que estão em busca de libertação. Mesmo quando ficam
conscientes da natureza de sua busca, podem ter problemas em se
concentrar num caminho em particular. Têm muito mais probabilidade
que os outros signos de recair naquilo que se chama "promiscuidade
espiritual" — passar incessantemente de uma religião ou grupo New
Age para outro, sempre encontrando algo levemente impróprio em cada
nova visão do caminho, sempre faminto por algo mais. Isso é
particularmente perceptível nos dois signos de Mercúrio, Gêmeos e
Virgem, pois Gêmeos é facilmente distraído pelo fluxo de pensamentos,
idéias e imagens, enquanto Virgem acha que tudo o que é humano é
insuficiente para a perfeição espiritual que busca. Sagitarianos e
piscianos, por outro lado, são freqüentemente impelidos a absorver
todos os caminhos e tradições de sabedoria sem discriminação.
Signos mutáveis também manifestam muita confusão quando se
trata de assuntos emocionais em geral e relacionamentos em particular.
Seus talentos residem na esfera da ação mental e/ou espiritual, não na
do relacionamento. Os dois signos de Mercúrio, Gêmeos e Virgem, são
com freqüência acusados de frieza. De fato, Gêmeos pode estar mais
preocupado com sua conversa mental interna do que com outros seres
humanos, enquanto Virgem pode manifestar um belo senso de
relacionamento. Sagitário, como Gêmeos, provavelmente se preocupará
mais com objetivos do que com relacionamentos, enquanto Peixes,
como Virgem, pode ser demasiado empático para navegar pelo confuso
mundo das emoções humanas reais. Signos mutáveis também tendem a
viver segundo sua própria moralidade individual — uma moralidade
que pode relacionar-se mais com sua espiral única de percepção do que
com quaisquer formas de tradições sociais. Por isso os mutáveis têm a
reputação de experimentar formas alternativas de relacionamento.
Nervosos, mentais, cheios de encanto, os signos mutáveis são
também distantes, desprendidos, perdidos nos mundos de sua própria
imaginação. Ao combinar as energias dos modos cardinal e fixo,
incorporam um paradoxo, uma união de opostos. Essa união de opostos
reside no cerne de seu comportamento mutável e é por vezes
desconcertante.
A capacidade de uma espécie de se modificar segue as exigências
evolucionárias de sua era. Da mesma maneira, a preocupação maior do
modo mutável é adaptar-se, transformar-se e mudar-se segundo as
demandas atuais de seu mundo. O problema é que o mundo, na visão
dos signos mutáveis, está sempre mudando. "A única coisa constante é
a mudança" é uma visão da realidade expressa nas Metamorfoses do
romano Ovídio, que tinha o Sol no mutável Peixes.
Os quatro signos mutáveis ocorrem durante o ciclo anual da
natureza nas quatro épocas do ano em que a estação está prestes a
mudar. A antecipação da mudança iminente é provavelmente a força
psicológica por trás da relutância do mutável em permanecer assentado
externamente ou centrado internamente. E, de fato, esse diálogo ou
drama interno mantém os indivíduos de modo mutável continuamente
em movimento.
Quamdo trânsitos importantes (trânsito de planetas interiores para
o Sol, a Lua ou os ângulos de uma pessoa, ou retornos dos planetas
exteriores) ocorrem para ou em signos mutáveis, é normalmente um
período de grande dispersão na vida. Uma fase da vida está terminando
e, assim como na iminente mudança das estações que ocorre durante
signos mutáveis, uma nova fase está prestes a começar.
Embora a sobrevivência do modo fixo dependa de controle,
organização e concentração, o mundo mutável tem ilimitadas
possibilidades. Como a água, o mutável tem muito pouco senso de
limites, exceto talvez Virgem, cujo processo de compartimentalização
pode ser infinito. Essa falta de limites pode criar um isolamento similar
ao vazio experimentado por um viajante espacial. Os mutáveis com
freqüência estão perfeitamente conscientes de todos os grãos de areia
em uma praia, e que é apenas uma dentre milhões de praias num
planeta, e que é apenas um dentre milhões de corpos que flutuam pelo
espaço, ad infinitum. Por isso, tecer considerações práticas pode ser um
verdadeiro desafio para tipos mutáveis.
Se você examinar cada um dos quatro signos mutáveis, descobrirá
que são facilmente perdidos nesse tipo de processo. Gêmeos recolhe
volumosos nacos de informação, mas não encontra uma verdadeira
explicação para a vida. Virgem vê a vida de forma a encontrar
significado em todas as partes, mas ainda totalmente sem consciência
do todo. A visão de Sagitário por meio de lentes telefotográficas está
em busca do intangível e as lentes multicoloridas de Peixes estão bem
conscientes de tudo o que acontece por aí, mas não do que está bem
diante deles (Peixes, ao contrário de Virgem, tem consciência da
floresta, mas sempre tropeça nas árvores).
Tendo todos esses problemas profundos em que pensar, é de
espantar que os mutáveis consigam fazer alguma coisa. Mas, seus
estados perceptivos de mente, seus estados expandidos ou alterados de
consciência têm todos um objetivo final — manter o indivíduo mutável
em busca dos significados profundos da vida, dos parâmetros
filosóficos ou psicológicos da existência.
Pessoas cujos mapas contêm Quadrado Ts mutáveis têm um
dilema muito diferente dos de seus companheiros fixos. Uma vez que o
mutável já é naturalmente dispersivo e disruptivo, as pessoas cujas
energias mutáveis estão ainda mais espalhadas por ter múltiplas
escolhas ficam, freqüentemente, quase loucas pela pressão interna para
continuar a explorar novos reinos, para continuar "mudando". Talvez o
melhor conselho que essas pessoas podem receber é: sim, você
conseguirá vivenciar isso tudo, mas pare de tentar experimentar tudo de
uma vez.
Amun, o deus egípcio com cabeça de carneiro
ÁRIES, o Carneiro
SIGNO: Áries, o 1o Signo Zodiacal
MODO: Cardinal - ELEMENTO: Fogo - REGENTE: Marte
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Atená - Frixo e Hele - Jasão
Luke Skywalker
As mais antigas listas de
constelações zodiacais vêm da
Babilônia. É inútil procurar por
Áries nesses primeiros zodíacos,
pois o signo com o qual o ano
astrológico atualmente se inicia
era desconhecido dos
babilônicos. Em seu lugar ficava
uma constelação a que
chamavam Mercenário e que
simbolizava um agricultor ou
outro trabalhador braçal.
Devemos aos egípcios o signo
de Áries, embora no início ele
tenha sido chamado cordeiro ou
carneiro161.
A ascensão de um signo
em particular está ligada, na
mente dos modernos astrólogos,
à ascensão heliacal, o que significa "nascer com o Sol". Isso, claro,
sempre ocorre na alvorada. Mas, no antigo Egito, o nascer da noite
tinha maior importância. A ascensão noturna de Áries teria
161. Gleadow, Rupert, The Zodiac Revealed, North Hollywood, Wilshire Book Co.,
1971, p. 44.
ocorrido durante o mês de Libra. Era o mês da cheia do Nilo, quando os
fazendeiros afastavam seus rebanhos das águas que subiam e separavam
os carneiros das ovelhas162. Mas, além de representar um papel no
calendário sazonal dos egípcios, o carneiro tinha também uma função
espiritual ou religiosa, pois era consagrado a Amon-Rá, associado ao
Sol. E o Sol é exaltado — ou seja, alcança o ápice de seu poder e
eficácia — em Áries. Um dos eventos mais celebrados do cristianismo é
a Páscoa, que honra a ressurreição da alma após a morte, a vitória
definitiva do espírito sobre o corpo. É sempre celebrada no primeiro
domingo após a primeira lua cheia da primavera163. Ao reconhecer que
a roda astrológica e o ano sazonal se iniciam nessa época com Áries,
que representa vida nova, nascimento e inícios, vemos uma harmonia
natural em celebrar esse
evento nesse período do ano.
Entre os doze anos olímpicos,
Áries recebeu a proteção de
Atená, por muitas razões.
Atená era padroeira da arte da
tecelagem, e o carneiro dava
lã em abundância, o material
de tecelagem por excelência.
Outra coisa, ainda mais
importante, é que Atená
nascera já adulta da cabeça de
seu pai Zeus (Júpiter) e Áries
rege a cabeça na astrologia
médica. Esse foco na cabeça
denota uma ênfase muito
mental ou intelectual, seja
ligada a Atená, a deusa da
sabedoria, ou ao signo de
Áries164. Não pensamos
normalmente em Áries como
um signo excepcionalmente
mental, mas quando Mercúrio,
Urano ou o asteróide Palas
Atená estão em Áries em um
horóscopo, há normalmente um
intelecto poderoso, talvez
mesmo dominador.
_______________________________________________________________
162. Fagan, Cyril, Astrological Origins, St. Paul, MN, Llewellyn, 1973, p. 117.
163. Walker, Barbara G., The Woman's Encyclopedia of Myths and Secrets, ibid., p.
267.
164. Gleadow, Rupert, The Zodiac Revealed, ibid., p. 45.
Uma ilustração italiana do começo do século
XX mostrando Atená
Marte, regente de Áries
O intelecto de Áries é resoluto e volátil, e isso se relaciona à
regência de Marte. Entre os planetas, Marte, o deus da guerra, rege
Áries (o nome grego para Marte era Ares, mas essa palavra não se
relaciona à palavra Áries, que significa carneiro). Por causa da regência
de Marte, Áries adquiriu boa parte de sua reputação de agressividade.
Boa parte, mas não toda. Pois o significado essencial do signo está
incorporado em sua posição no ciclo anual. No equinócio vernal, ou
primeiro dia de primavera, os dias e noites têm comprimento igual. Na
terminologia de Rudhyar, isso significa que o poder do indivíduo (força
do dia) e o poder do coletivo (força da noite) também são iguais. Por
que, então, pensamos em Áries como um signo essencialmente
individualista, talvez mesmo egotista? Porque no equinócio de
primavera é a Força do Dia da individualidade que fica mais forte, pois
os dias estão ficando mais longos. Assim, Áries representa o poder do
ego individual emergindo do oceano coletivo. Áries deve lutar contra a
atração desse passado coletivo para poder afirmar sua individualidade.
Como uma criança recém-nascida, grita para anunciar sua chegada ao
mundo165. A plena força do espírito marciano é empregada na batalha
para ser. Eis porque Áries está sempre no princípio das coisas — como
uma criança. Tudo é perpetuamente novo.
165. Rudhyar, Dane, The Pulse of Life, ibid, pp. 31-8.
Frixo e Hele
Não é de espantar que Áries seja o arquétipo do pioneiro, o
explorador das novas terras. Em nenhum lugar esse aspecto pioneiro
ou aventureiro de Áries é melhor expresso do que no mito do Velo de
Ouro, o conto que os gregos associavam, acima de todos os outros,
ao signo de Áries.
A história começa com Frixo e Hele, filhos do rei Átamas.
Frixo e Hele estavam prestes a ser sacrificados no cume de uma
montanha por seu pai para aplacar os deuses. Porém, não haviam sido
os deuses a exigir o sacrifício daqueles jovens, mas sua madrasta,
para que seus próprios filhos pudessem herdar o trono. No momento
em que seriam mortos, um carneiro alado com um velo de ouro (um
dos totens de Zeus) apareceu magicamente, disse-lhes que pulassem
rapidamente em suas costas e voou para uma terra distante chamada
Cólquida, a salvo da ira de seus pais. Hele, a menina, perdeu o apoio
e caiu no mar, mas Frixo chegou em segurança à Cólquida e
sacrificou o carneiro a Zeus. O velo de ouro mágico do carneiro foi
entregue à guarda do rei da Cólquida. Essa parte da história deve ter
se originado no costume do sacrifício anual do rei ou do filho do rei,
no equinócio de primavera; eles vestiam
uma pele de carneiro. A celebração ocorria em abril, quando Áries
estava em conjunção com o ponto vernal. Mais tarde, substituiu-se o
homem por um carneiro166.
Coube a Jasão a tarefa de recuperar aquele velo e trazê-lo da
Cólquida, que ficava no extremo do Mar Negro, nas montanhas do
Cáucaso. Filho de um rei cujo trono havia sido usurpado, Jasão fora
criado escondido no deserto, educado pelo sábio centauro Quíron.
Quando Jasão saiu das montanhas para o mundo, o usurpador,
Pélias, sentiu-se ameaçado por sua existência e mandou Jasão em uma
demanda aparentemente impossível. Jasão, que possuía o verdadeiro
dom ariano da liderança, conseguiu reunir todos os heróis da antiga
Grécia e com sua ajuda construir um navio chamado Argo. Na liderança
dessa tripulação poderosa, Jasão zarpou para a Cólquida. Após passar
por muitas aventuras perigosas pelo caminho, ele e seus companheiros
acabaram por chegar a seu destino. Porém, apenas com a ajuda de
Medéia, filha do rei da Cólquida, finalmente conseguiram se apossar do
velo. Assim, Jasão navegou para casa em triunfo, tendo se tornado o
herói — um papel que todos os arianos se esforçam para representar.
Uma vez em casa, porém, abandonou sua esposa Medéia e, cansado do
antigo, bem à maneira de Áries, começou a procurar novas aventuras,
incluindo uma nova mulher. Medéia, talvez um arquétipo de Escorpião,
era uma poderosa feiticeira e não gostou nem um pouco do rumo que os
acontecimentos estavam tomando. Num ímpeto de raiva, matou a nova
noiva de Jasão e seus próprios filhos, que tivera com ele.
A construção do Argo, o navio que levaria Jasão e os Argonautas em busca
do Velo de Ouro
166. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., Vol. 1, pp. 229.
O mito deixa claro que Jasão incorpora o arquétipo ariano do
pioneiro, o explorador, o aventureiro. Mas, há outros níveis aqui, ainda
mais significativos. Como observou Liz Greene, há duas figuras
paternas negativas na história, o usurpador Pélias e o malvado rei da
Cólquida; e é uma dessas figuras paternas, o usurpador, quem manda
Jasão em sua demanda167. A imagem negativa do pai aparece de forma
recorrente na vida dos nativos de Áries, homens ou mulheres. Com
freqüência a inquietude pessoal e a atividade obstinada do tipo de Áries
podem ser compreendidas como uma busca para sacudir o jugo do pai.
Isso nunca pode ser realizado simplesmente amaldiçoando-se o pai e
virando-lhe as costas. O ariano, como Luke Skywalker na série Guerra
nas Estrelas, deve olhar através da máscara negra de Darth Vader para
ver o frágil ser humano sob ela — o pai cuja ferida interna transformouse
numa falha em sua própria alma e na alma de seu filho.
Note também que a noiva escolhida por Jasão era uma "perigosa
feiticeira". O arquétipo da feiticeira aparece com freqüência como uma
imagem da "mulher interior", a anima ou componente feminino na alma
de um homem. O mito de Tristão e Isolda é um bom exemplo, pois
Isolda é filha de uma feiticeira. A paixão de um Jasão ou um Tristão por
uma figura feminina tão "perigosa" mostra que esses homens heróicos
não reconheceram seus próprios lados femininos; sua natureza feminina
ficou escondida e, portanto, perigosa. Realmente, homens arianos
parecem ter dificuldades em reconhecer e honrar o eterno feminino.
Obcecados pela realização exterior, não conseguem ver a "mulher
interior" e, conseqüentemente, têm muita dificuldade em se relacionar
com mulheres. Vênus em Áries, por exemplo, com freqüência aparece
nos mapas de homens que se apaixonam por mulheres simplesmente
porque são bonitas. Esses tipos de Vênus em Áries raramente gastam
seu tempo ou se importam em conhecer a verdadeira pessoa por trás da
máscara enfeitiçadora.
Contudo, e quanto às mulheres de Áries? Ela também será muito
provavelmente impulsionada por problemas que envolvem o pai, pois é
muito provável que seu pai tenha sofrido algum ferimento profundo e
persistente. Seu padrão arquetípico é muito freqüentemente modelado
segundo Atená, a filha do pai, e é muito comum que sua batalha seja
com a mãe. Como percebe as mulheres como fracas e vulneráveis e
respeita a autoridade e o poder dados aos homens, pode facilmente
perder o contato com sua própria feminilidade e tornar-se a amazona
guerreira regida por Marte em sua busca por poder, dinheiro ou
autoridade. Nesse contexto, devemos lembrar que o Velo de Ouro foi
consagrado a Zeus e que a deusa Atená saiu já adulta de sua cabeça.
Atená,
167. Greene, Liz, The Astrology of Fate, ibid., pp. 176-83.
Um carneiro, símbolo do signo de Áries, da The History of Four-footes Beasts and
Serpents, de Edward Topsell, 1607
como vimos, era associada ao signo Áries na Antiguidade. Atená
defende a lei cósmica de seu pai Zeus — assim como as mulheres
arianas, em sua busca pelo sucesso no mundo exterior, adotarão muito
provavelmente os valores de nossa sociedade masculina. Como
notamos, porém, a maior parte dos tipos de Atená não são amazonas,
mas muitas amazonas são Atená. O mesmo pode ser dito de mulheres
que possuem uma abundância do arquétipo ariano, para quem os
modelos masculinos que observaram estimulam seu desejo de agir, de
realizar e de heroísmo muito mais que os papéis secundários,
freqüentemente vitimizados que as mulheres foram obrigadas a
representar desde o início do sistema patriarcal. Porém, os tempos
mudam. No período clássico Atená defendia o patriarcado, mas hoje
observamos mulheres de Atená usando sua inexaurível energia ariana
para fortalecer a si mesmas e ao movimento feminino em geral.
Duas mulheres arianas vêm à mente quando analisamos essa
dinâmica — a feminista Gloria Steinem, com o Sol, Marte e Urano em
Áries (e Palas Atená bem próxima, embora em Peixes) e Anita Bryant,
com o Sol, Júpiter e Juno em Áries. Ambas as mulheres começaram
suas carreiras retratando uma imagem idealizada de deusa feminina —
Steinem foi coelhinha da Playboy e Bryant ganhou um concurso de
beleza, o Miss America. A curta carreira de Steinem como "coelhinha"
foi instituída como um projeto de pesquisa para experimentar em
primeira mão o assédio sexual e a vitimização a que as mulheres são
submetidas nesse papel. Seus quatro planetas em Áries a dotavam de
força, coragem e
liderança para lutar pelos direitos das mulheres e trazer à atenção
pública as leis injustas que tratavam das mulheres. Inspirou milhões de
mulheres a erguer-se por si próprias, seus valores e suas famílias.
Bryant, por outro lado, usou sua voz pública para criticar mulheres
"pouco femininas", incluindo homens "femininos". Antigay e
antifeminista, Bryant afirmava que o lugar de uma mulher é ao lado de
seu homem. Aqui vemos duas mulheres de Áries fortemente influencia
das pelo patriarcado — e que expressam sua influência através de
polaridades opostas.
Três de nossas personalidades de Áries (Atená, Jasão e Marte) são
bravos e destemidos guerreiros. Todos têm fortes exemplos masculinos
ou pais fortes. Frixo, outra personalidade de Áries, não apenas tinha um
pai dominante que queria matá-lo, como uma madrasta má no centro de
tudo. Não é incomum que Áries tenha de lidar com fortes figuras
paternas ou irmãos mais velhos em seus anos de desenvolvimento.
Essas figuras ajudam a formar o caráter de Áries, pois, se Áries é
valente e agressivo, um pai dominante ou uma família interferente
podem encorajar ainda mais essa agressão — e com freqüência se
tornam o dragão que Áries deve matar.
Áries trata de surgimento e afirmação do ego individual, e com
freqüência isso também inclui lutar com qualquer um que fique no
caminho desse objetivo. Mesmo na infância, Atená e Marte lutavam
com quem aceitasse seu desafio ou parecia ameaçar sua autoridade
pessoal ou sua autonomia. Encontramos em muitos arianos a
necessidade de batalhar, mesmo quando não há ameaça real. Mas com
freqüência essas batalhas, para Áries, representam algo mais do que
simplesmente ir atrás de uma briga. Observe crianças pequenas
brincando juntas, corajosamente mostrando suas afirmações indômitas,
ainda não desenvolvidas, de poder pessoal. Com freqüência há uma
jocosidade, um desejo por um oponente (como veremos também em
Gêmeos) para atiçar o fogo de Áries. Os arianos vivem em busca de
drama, aventura e, acima de tudo, novos inícios. A natureza cardinal e
ígnea de Áries dá muito pouco descanso a esses indivíduos. Estão em
constante movimento e, quando suas vidas ficam muito calmas ou as
coisas começam a ficar monótonas, estão prontos, como Marte, para
uma batalha ou, como Jasão, para uma demanda heróica.
As personalidades no mito de Áries parecem possuir um
relacionamento altamente desenvolvido com o veículo físico, e é
verdade que os arianos se sentem melhor quando exercitam
vigorosamente seus corpos físicos. Mas, como já notamos, alguns
arianos, como Atená, canalizam sua incessante energia para seu
intelecto e apresentam uma incrível sabedoria e estratégia que
movimentam áreas turbulentas de pensamentos novos. Pioneiros do
intelecto e do espírito como os arianos Dane Rudhyar e Joseph
Campbell são bons exemplos: sua vigorosa
e incansável energia e suas paixões foram postas em seus trabalhos.
Outros arianos como Jasão colocam suas paixões em causas, e esses
indivíduos são capazes, como o jovem Jasão, de alistar a ajuda de
pessoas importantes para levar adiante seu trabalho. Notamos que Áries
rege a cabeça na astrologia médica, e os arianos têm muita
probabilidade de ser super-empreendedores (como Atená) e também de
sofrer de dores de cabeça e de febres influenciadas por Marte.
A associação de Áries com a cabeça na astrologia médica reflete
seus dois regentes, Marte e Atená. Quando se profetizou a Zeus que um
filho nascido de sua união com Métis um dia o suplantaria, rapidamente
decidiu dar um fim a Métis e à criança em sua barriga, engolindo
ambas. Certo dia foi consumido por uma dor de cabeça insuportável e
pediu a Hefesto, o deus ferreiro, que usasse seu machado para racharlhe
a cabeça. Naquele instante, surgiu Palas Atená adulta, vestida de
armadura, elmo e espada. Assim, Hefesto se torna o parteiro de Atená.
Essas dores de cabeça acometem as pessoas que estão prestes a dar à luz
alguma imensa idéia, acontecimento, pessoa ou experiência em sua
vida. A criatividade revolve-se dentro delas, forçando as costuras, e não
parece haver maneira aparente de aliviar isso.
O outro tipo de dor de cabeça reflete Marte, o guerreiro. Como
regente de Áries, Marte possui uma natureza destemida, corajosa e
agressiva, sempre pronta a lutar. A expressão negativa de Marte,
portanto, pode ser relacionada à timidez, falta de coragem e
comportamento pouco agressivo, mas, o que é mais importante, a seu
temperamento tempestuoso. Marte tinha um temperamento muito ruim,
o que desagradava totalmente a seu pai. Na infância, somos ensinados
que é impróprio demonstrar raiva ou apresentar mau gênio. Quando o
mau gênio não tem um escape, reagimos com dores de cabeça.
O aspecto de artesanato dos dons de tecelagem de Atená aparece
de forma proeminente na vida de Áries. Competitiva, sim — deleita-se
em concursos e, é claro, em vencer. Mas isso também estimula Áries.
Muitos arianos deleitam-se da mesma maneira exercitando seu dom
criativo. Isso é muito verdadeiro para aqueles que têm Vênus, Ceres,
Palas ou a Lua em Áries.
Planetas em Áries em um horóscopo se expressarão tipicamente
liderando, e não seguindo. São indivíduos, em primeiro lugar. Isso se
aplica principalmente a indivíduos com o Sol, a Lua ou o ascendente
em Áries. Esses indivíduos estarão ligados de forma muito pessoal com
seu próprio processo de desenvolvimento, seu impulso em não deixar
que nada fique no caminho do autoconhecimento ou da realização
pessoal. Os que têm o Sol em Áries são particularmente concentrados
em expressar seu "eu sou" em sua forma mais pura. Pessoas com a Lua
em Áries precisam ser sempre emocionalmente estimuladas, o que pode
resultar em constante mudança de relacionamento ou atividade. Além
Estátuas com cabeça de carneiro do Templo de Karnak, Luxor, Egito.
Fotografia de Diane Smirnov
disso, a excitação das novas criações os faz perder a cabeça e sentirse
vivos. O Sol e a Lua em Áries podem levar o indivíduo a dirigir
em alta velocidade com o som do carro no máximo volume ou,
melhor ainda, a tocar bateria ou rock and roll. Mercúrio em Áries
estimula o espírito competitivo; essas pessoas podem sentir-se
intelectualmente superiores e ter grandes dons de leitura ou escritura.
Na pior das hipóteses. Mercúrio em Áries ou na Primeira Casa (ou
negativamente relacionado a Marte ou Palas Atená) pode resultar em
rivalidade entre irmãos, assim como Hermes e Ares a tiveram com
seus irmãos mais velhos, Apolo e Atená, grandemente favorecidos
por seu pai Zeus. Pode também induzir a contínua motivação para
tentar levar a melhor sobre esses irmãos (ou qualquer um na vida que
os represente), rebaixando-os, e atingir qualquer um que tenha
provocado o notório ciúme de Marte.
Vênus em Áries traz uma interação Vênus-Marte que pode
obviamente estimular a natureza amorosa da pessoa; atividades que
vão desde a composição de poesia erótica até se comprometer em
diversos casos amorosos podem dominar a atenção dessa pessoa. Ela
pode buscar com avidez uma satisfação em seus parceiros, mas
sempre estarão essencialmente insatisfeitas por causa de sua
necessidade de buscar novas aventuras no horizonte. Marte em seu
próprio signo ou casa se expressa por meio de sucesso nos esportes,
lutas, musculação ou conquistas sexuais.
Ceres em Áries funciona como um agente independente,
favorecendo a exploração e novas aventuras. Não há muita ligação
emocional com a mãe ou com mulheres; na verdade, pode haver
competição com ela ou outras que possam representá-la. Palas Atená
poderia ser exaltada em Áries, baseada em sua associação com esse
signo, e assim incorporar
toda a gama de seus dons estratégicos, intelectuais e artísticos. Juno em
Áries pode ser muito independente em relacionamentos, mas deseja
fortemente um parceiro. Vesta, cujas qualidades espirituais aperfeiçoam
qualquer signo, pode parecer algo solitária em Áries, talvez
constrangida e desajeitada em situações sociais, mas concentrada de
forma muito singular no desenvolvimento pessoal interior e
sexualmente permissiva na busca por relacionamentos íntimos.
Júpiter em Áries ou na Primeira Casa pode resultar em um líder
forte, especialmente de natureza política ou religiosa, capaz de moldar
as leis da sociedade ou influenciar o modo como são cumpridas.
Saturno está em "queda" em Áries, o que pode tornar essa localização
bastante difícil. Essas pessoas podem demorar mais tempo para
perceber seus objetivos últimos e em geral a sociedade (ou o pai) recebe
a culpa por suas dificuldades, por parecer estar sempre bloqueando ou
sabotando seus esforços. Na melhor das hipóteses, porém, essas pessoas
têm uma capacidade de liderança similar à de Júpiter em Áries e podem
tornar-se também exímios artesãos, construtores e arquitetos do mundo,
logo que descubram quanto talento realmente têm.
Os planetas exteriores, Urano, Netuno e Plutão, trabalham em um
nível coletivo, não individual. Em outras palavras, Urano em Áries não
é apenas uma característica pessoal, mas influencia todo o grupo de
pessoas nascidas no período de sete anos durante os quais Urano
transita pelo signo de Áries. A última ocorrência desse trânsito foi em
1928-35, quando líderes poderosos como Stalin, Hitler, Mussolini e
Franco surgiram. Os seguidores de Hitler, de fato, apoiavam sua idéia
de uma raça "ariana" pura. Eram todas almas atormentadas, mas
poderosos líderes carismáticos cujo amor pela batalha e pela atuação
acabou por resultar em sua queda. Também surgiram tecnologias
inovadoras durante aquele período — idéias cujo tempo chegara,
incluindo o New Deal, a resposta de Roosevelt à crise financeira
desencadeada pela Depressão. Esses planetas exteriores ainda podem
ter uma nota ariana nos mapas das pessoas, porém, se por acaso
ocuparem a Primeira Casa ou fizerem aspectos fortes com Marte ou
Atená. Quíron, o curandeiro ferido, muito provavelmente aplicará
muito de seu aprendizado para estudar a si mesmo e curar quando está
na Primeira Casa, e também pode apreciar a relação aluno-professor
que Quíron teve com Jasão e outros. Urano, nessa Primeira Casa, pode
mostrar brilho físico e intelectual, pois todo o sistema da pessoa fica
imbuído da força catalisadora da criação. Essas pessoas podem ser
altamente individualistas, ser contra o sistema e estabelecer seu próprio
conjunto de regras. Para Netuno, é uma posição difícil; sua natureza
aquosa, dissolvedora do ego, trabalha contra o espírito marciano ígneo
("EU SOU") de Áries e da Primeira Casa, criando um ambiente
emocional agitado e perturbado. A capacidade marciana de ação pode
parecer enfraquecida, embora a reação seja
forte. Pessoas com essa localização podem ter grande sucesso quando
examinam cuidadosa e deliberadamente os sentimentos mais profundos
que residem na raiz de suas emoções e começam a trabalhar para
compreendê-las. A depressão é comum nesse aspecto, já que com
freqüência é resultado de raiva reprimida. A liderança espiritual ou
artística, porém, é altamente possível com essa combinação. Plutão na
Primeira Casa ou em Áries enfatiza a conexão arquetípica entre Marte e
Plutão (a conquista do mundo subterrâneo por Nergal). Essa posição
pode intensificar as paixões de uma pessoa, pois ambos concernem à
luta e à sexualidade. Também pode ser uma poderosa ajuda para libertar
os demônios interiores, aparecendo de forma muito acentuada entre
psicólogos e seus pacientes.
Áries é o primeiro signo da roda zodiacal e, embora não haja
início ou fim em um círculo, sua função simboliza a primeira na
evolução humana. Emergir das estrelas e retornar a elas é um tema
importante em Áries. Chegamos a Áries vindos de Peixes, o útero
primordial do cosmo; na busca pelo Velo de Ouro ou pelo ouro dos
alquimistas, entramos em comunhão com nossa própria divindade. Em
Áries, descobrimos que nossas batalhas nos forçam a lidar com o
mundo das aparências, mas no final estamos mais próximos da
compreensão de nós mesmos e do dom da consciência que foi por nós
recebido.


TOURO, o Touro
SIGNO: Touro, o 2º Signo Zodiacal
MODO: Fixo - ELEMENTO: Terra - REGENTE: Vênus
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: A Lua e todas as Deusas
Lunares - Europa - Rei Minos e o Minotauro - Ishtar -
Ariadne e Teseu - Pasífae - Dioniso (Baco) - Rei Midas -
Dédalo Hefesto (Vulcano)
Assim como Áries, Touro
era importante no calendário
sazonal egípcio. Durante a
subida noturna de Touro (ou
seja, durante o mês de
Escorpião) o gado era cruzado e
os bois eram atrelados ao arado.
Porém, mais importante é que
Touro antigamente era o início
do zodíaco e Áries, o signo final.
A estrela Aldebaran, no meio da
constelação de Touro, era
chamada "o olho do touro" e
servia para fixar o ponto inicial
do círculo zodiacal168.
Isso indica que o zodíaco,
e talvez a própria astrologia,
passou por seu período de
formação quando o equinócio de
primavera ocorria em Touro. Esse período, a que chamamos Era de
Touro, estendeu-se aproximadamente de 4000 a 2000 a.C. Durante esse
período, as civilizações Suméria e egípcia começaram a tomar forma no
Oriente Médio; durante esse
168. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 118, 28-32.
período, também, a civilização minóica de Creta atingiu seu primeiro
auge e Stonehenge estava sendo construída na Inglaterra. A Era de
Touro foi caracterizada como uma era matriarcal em que o culto ao
touro era o mais importante, mas isso não passa de uma
supersimplificação. O período matriarcal da civilização ocidental teve
suas origens muito antes (na Era de Câncer, o que não surpreende),
mas por volta da Era de Touro as simples aldeias agrícolas da Era de
Câncer (8000 a.C.) haviam se transformado nas sofisticadas
civilizações mencionadas anteriormente. O glifo ou símbolo usado
pelos astrólogos para denotar Touro é uma cabeça de touro com os
chifres em destaque. Os chifres de touro eram análogos à lua
crescente e representavam o princípio do crescimento e da geração169
(tanto Touro quanto a Lua são associados até hoje a esse princípio).
Uma vez que a Grande Deusa era a fonte de todo crescimento, de
toda geração, o fértil touro era representado como seu consorte, o
princípio masculino necessário para que o ciclo de nascimento e
crescimento continue170. Deusa, lua e touro eram símbolos
inseparáveis do ciclo sazonal. Não é de espantar que o mês de Touro
caia durante o período mais abundante e fértil da primavera. E,
embora atualmente possamos pensar em Touro como regente do
pescoço ou garganta na astrologia médica, os antigos egípcios
ligavam esse signo aos genitais171.
Os "Chifres da Consagração" do palácio de Cnossos, Creta.
Fotografia de Ariel Guttman
169. Gimbutas, Manja, Goddesses and Gods of Old Europe, ibid., pp. 89-93.
170. Campbell, Joseph. Occidental Mythology (Masks of God, vol. III), Nova York,
Viking Press, 1969, pp. 42-92.
171. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 112, 118.
Touro sagrado egípcio, ilustrado por Diane Smirnov
O touro em si não era cultuado na Era de Touro, mas sim o ciclo eterno
das estações, o ciclo de crescimento inerente à natureza e à humanidade.
Em toda Creta encontram-se imagens de pedra dos chifres do
touro, chamados bucrania. Encontraram-se estátuas e estatuetas
cerimoniais dos Bálcãs que combinam os símbolos do touro e da lua
crescente, de modo a não deixar dúvidas quanto à identidade dos dois
conceitos. Esses itens datam de cerca de 4000 a.C. e foram criados
pelos povos agrícolas do período neolítico172. A lua, é claro, é a Grande
Deusa, em sua fase crescente associada à fertilidade e ao crescimento. A
sabedoria popular ainda nos diz que é melhor plantar durante a lua
crescente e qualquer bom mago sabe que os feitiços de abundância e
crescimento devem sempre ser realizados durante uma lua crescente.
Touro é, portanto, associado à Lua tanto quanto Vênus, seu regente
planetário. Na tradição astrológica, a Lua é exaltada em Touro; essa
tradição é parte de um mitologema que remonta ao neolítico.
A exaltação da Lua em Touro, porém, tem outro significado. Na
tradição hindu, a Lua é exaltada precisamente no grau das Plêiades —
______________________________________________________________________
172. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, ibid., passim.
Europa raptada por Zeus em forma de Touro, ilustrado por Diane Smirnov
a partir da pintura do início do século V a.C.
no Museu Arqueológico de Tarquínia
que, no nosso atual zodíaco tropical, fica a 29 graus de Touro. Para os
hindus, as Plêiades eram as esposas dos sete sábios celestiais, que eram
as estrelas da Grande Ursa. As Plêiades são famosas no mito hindu por
educar o deus da guerra, Marte, quando era criança. No mito grego, as
Plêiades são as filhas do Titã Atlas, que carrega o mundo nas costas.
Todos esses mitos afirmam as qualidades taurinas (ou lunares) da
criação ou do sustento.
Touro era regido por Vênus (Afrodite) no sistema olímpico, e
manteve essa regência quando as divindades planetárias receberam seus
signos zodiacais. A ligação mítica entre a deusa do amor e o touro é
realmente muito antiga. O épico de Gilgamesh babilônico — que
provavelmente originou-se na Suméria — conta como Ishtar, deusa do
amor e da batalha, enviou um touro para atacar Gilgamesh que, como
campeão
da ordem patriarcal, era inimigo
da Grande Deusa173. O mito
grego também liga a Grande
Deusa com o touro. Um dos
mais famosos casos amorosos de
Zeus foi o rapto da donzela
Europa, filha do rei da Fenícia.
Na forma de um touro, Zeus
carregou Europa através do
Mediterrâneo para a ilha de
Creta, onde se uniu com ela e
deu origem à casa real cretense.
Já que a palavra Europa vem
daí, fica claro que Europa é a
deusa-mãe dos povos da Europa,
trazidos da Ásia nas costas de
seu animal sagrado, o grande
touro. Também é significativo
que Zeus e Europa tenham
atracado em Creta, pois Creta
era uma sociedade predominantemente matriarcal onde a Grande Deusa
era cultuada como suprema divindade174. Os afrescos do palácio
cretense de Cnossos mostram mulheres joviais, sorridentes, de peito nu.
Com seus braços adornados por cobras, dão a impressão de
sacerdotisas. O culto ao touro, como vimos, também era altamente
desenvolvido em Creta (os dois animais indicados, a serpente e o touro,
podem evocar Touro e seu signo oposto, Escorpião).
O touro que levou Europa a Creta não foi o único touro a aparecer
na mitologia dessa misteriosa e importante ilha. Ainda mais famoso é o
Minotauro, o homem com cabeça de touro. De acordo com o mito, o
deus Posídon (Netuno) trouxe um touro do mar e o deu ao rei Minos de
Creta, com ordens de sacrificá-lo. Mas, Minos recusou-se a obedecer a
ordem divina; guardou o animal mágico. Isso enraiveceu os deuses, que
fizeram com que a esposa de Minos, a rainha Pasífae, enlouquecesse de
luxúria. Ela acasalou com o touro de Posídon e deu à luz um monstro,
meio homem, meio touro, o Minotauro. Escondido em um labirinto sob
o palácio, o Minotauro era uma fera terrível que exigia sacrifício
humano. Traziam-se cativos da Grécia para oferecê-los ao Minotauro.
Um desses cativos, Teseu, ganhou a confiança da filha de Minos,
Ariadne, e com a ajuda dela matou o Minotauro. Ela lhe deu um fio
mágico para
173. Sandars, N.K., trad., The Epic of Gilgamesh, Londres e Nova York, Penguin, 1988,
p. 87-8.
174. Eisler, Riane, The Chalice and the Blade, ibid., pp. 29-41.
O Minotauro, de uma ânfora coríntia,
século V a.C.
não perder o caminho no labirinto. Teseu mergulhou na escuridão,
encontrou o Minotauro e o matou. Em seu conhecido romance The King
Must Die, Mary Renault liga a história de Teseu e Ariadne ao antigo
esporte cretense do rodeio, em que rapazes e moças literalmente dão
cambalhotas sobre as costas de touros na arena175. Também associou
esse mito à dominação da antiga civilização cretense pelos gregos
micênicos patriarcais — uma conjectura que encontra apoio na
arqueologia.
Em todas essas histórias, o touro está ligado a uma figura
feminina e podemos suspeitar que em todos os casos essa figura era a
Grande Deusa. Ishtar, senhora do touro que enfrentou Gilgamesh, era
o equivalente babilônico de Vênus, regente de Touro. Europa foi a
mãe epônima de seu povo. O nome "Ariadne" significa "a pura"176. Ela
é também outra encarnação da deusa de todas as coisas e é provável
que até mesmo a desafortunada Pasífae fosse, em algum mito mais
antigo, a Grande Deusa177. A Deusa tem muitos aspectos: é mãe,
esposa, amante, bruxa,
sábia anciã e médium.
Mas, no caso de Touro, é
principalmente a deusa
do crescimento, da
fertilidade e do sexo, o
que é adequado para um
signo que ocorre durante
a primavera, quando
todas as coisas estão no
mais abundante estado
de crescimento.
"Sustento" é um
princípio a que Touro
está fortemente ligado. A
astrologia considera
Touro, o signo da terra
fixa, o signo mais fértil,
frutífero e constante.
Embora algumas pessoas
possam se queixar da
lentidão de Touro para
agir ou de sua intolerável
teimosia, Touro, como o
touro, firma-se
775. Renault, Mary, The King Must Die, Nova York, Pantheon, 1958.
176. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., Vol. II, pp. 381.
177. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., Vol. 1, pp. 267, 306.
Teseu e o Minotauro
c cria raízes em um
lugar até que esteja
pronto para se mover.
Então, como se um pano
vermelho fosse agitado
diante dele, torna-se
uma locomotiva. Mas,
esse processo ocorre
para Touro apenas
quando ele está pronto,
não necessariamente
quando todas as outras
pessoas esperam que ele
esteja. Isso torna único
o temperamento taurino;
seu poder interior fixo,
sustentador, o torna
comparável ao princípio
feminino arquetípico da
Deusa.
A astrologia moderna compara Touro à fixidez, fertilidade,
fecundidade e segurança — todas as energias que de alguma forma se
relacionam às coisas que crescem na terra. Embora nem todo Touro seja
um jardineiro, é verdade que suas vidas são paralelos próximos à
natureza. No ciclo primaveril taurino, é importante que se plantem
sementes, assim como se certificar de que a coisa certa será plantada na
época certa. Não se pode plantar flores durante o inverno. A semeadura
deve ser regada e receber a quantidade certa de luz e alimento. Os
taurinos recebem essas tarefas e durante seu ciclo primaveril sua
competência em sustentar a jovem plantação, esperar e observar
pacientemente seu crescimento é mais importante que a expectativa por
resultados instantâneos. O ciclo do verão é associado com uma
tranqüilidade de existência que muitos taurinos tentam estender para
além do tempo normal — a tranqüilidade de sentar-se confortavelmente
ao sol e banhar-se na riquezas da beleza que os rodeia, observando a
vibração da cor e a abundância com que a natureza recompensou-os por
seu cuidadoso plantio e cultivo. Colhem os deliciosos frutos a seu
alcance. Mas, isso também deve passar e, com a aproximação do
outono, vem a colheita e a estocagem para o inverno, assim como a
comercialização da riqueza daquilo que plantaram. Nesse meio-tempo,
preparam-se para o ciclo minguante. Durante esses períodos, os taurinos
devem construir seus celeiros para o inverno que se aproxima,
preservando cuidadosamente seus bens e distribuindo-os de forma sábia
para enfrentar o frio que virá. Durante o inverno, eles não podem
continuar a produzir ativamente
Touro investindo numa litra de bronze dos
Mercenários da Campânia, na Sicília, 344-336 a.C.
Da coleção de Michael A. Sikora
um novo capital, mas estão internamente concentrados na infertilidade
das árvores que demandam uma poda, no solo que descansa sob o gelo.
No tempo certo eles emergirão novamente com a primavera.
Quando Touro vive sua vida de acordo com as quatro estações,
vive em harmonia com sua natureza. Como Touro é um signo fixo e
nem sempre flui livremente de acordo com as marés das estações, fica
freqüentemente atolado na vida. Ficar impaciente porque a árvore não
estás dando flores no inverno não fará com que o fruto apareça nessa
época do ano. A paciência e o conhecimento interior de que "para tudo
há uma estação" são os maiores dos dons de Touro e a capacidade
taurina de armazenar ou consumir quando necessário é uma habilidade
igualmente valiosa.
Embora as regências planetárias sejam usadas em astrologia para
ligar um planeta a um signo, não são, de forma alguma, esculpidas em
granito, e há muitas figuras mitológicas que podem ser associadas
àquele signo; na verdade, Touro tem mais associações míticas que
qualquer outro signo do zodíaco. O regente de Touro é Vênus por causa
da associação de Vênus com o amor e a fertilidade e a adoração à
Grande Deusa durante o período taurino. Vênus relaciona-se às
habilidades artísticas que tantos taurinos possuem. Os astrólogos
gostam tanto de caracterizar os taurinos como trabalhadores e
materialistas que com freqüência se esquecem de apontar as realizações
artísticas desse signo, especialmente no campo da música, mais
especificamente no canto (Touro rege a garganta e muitas cantoras de
ópera têm o Sol ou um ascendente em Touro). Shakespeare era de
Touro e nenhum escritor, em nenhuma língua, glorificou mais a
natureza do que ele — cada árvore, arbusto, pássaro, animal e padrão
climático da Inglaterra é adoravelmente descrito em suas peças. Como
deusa do amor, Vênus pode incorporar diversos aspectos de
relacionamento. E Gaia, o símbolo da Terra, já foi discutida como um
arquétipo taurino adequado.
Aqui, em Touro, devemos considerar também as duas figuras
femininas no mito de Teseu: Pasífae e Ariadne. Pasífae enlouqueceu de
luxúria; as premências sexuais são características de Touro, assim como
de seu signo opositor, Escorpião. Ariadne segurou o fio que permitiu a
Teseu encontrar em segurança seu caminho no labirinto com a luz de
uma tocha — uma bela imagem, visto que a psicóloga Irene Claremont
de Castillejo nos diz que o homem interior ou animus de muitas
mulheres com freqüência aparece em sonhos como um portador de
tocha178. Realmente, taurinas fortemente sob a influência de Vênus
podem tornar qualquer homem um portador de tocha, pois têm a
capacidade de
178. Castillejo, Irene Claremont de, Knowing Woman, Nova York, Harper Colophon,
1973.
guiar o homem que amam por um labirinto pessoal em que os demônios
são encontrados e vencidos, Esses tipos de Ariadne, acima de todas as
outras mulheres, inspiram os homens, despertando seu herói interior.
Mas, as mulheres que confiam em sua beleza ou em suas relações
íntimas para definir a si mesmas podem terminar num dilema similar ao
de Ariadne, que Teseu abandonou cruelmente na ilha de Naxos quando
não quis mais saber dela. Contudo, Ariadne encontrou sua completude
através do êxtase espiritual e criativo, pois se tornou noiva de Dioniso.
O próprio Dioniso está ligado ao arquétipo taurino e alguns astrólogos
supõem um planeta chamado Transplutão ou Baco (nome latino de
Dioniso), que associam a Touro179. O rei Midas também simboliza
alguns dos aspectos mais extremos de Touro. Era um rei da Frígia,
amante dos prazeres, cuja única ambição na vida era obter ouro.
Quando teve seu desejo realizado, ele se tornou uma maldição. Tudo o
que tocava, incluindo seu alimento, vestimentas e mesmo sua filha, se
transformava em ouro.
O arquétipo do mestre artesão é também essencialmente taurino.
Alguns astrólogos esotéricos ligam Touro ao invisível
(hipoteticamente) planeta Vulcano, que recebeu o nome do habilidoso
ferreiro dos deuses (em grego: Hefesto), esposo de Vênus. Outro
artesão taurino é Dédalo, o talentoso arquiteto que construiu o labirinto
para o rei Minos de Creta — e foi jogado nele, assim como muitos
taurinos são aprisionados em suas possessões ou realizações mundanas.
Os mitos têm um modo de misturar-se e fundir-se uns com os outros —
lembremos que Zeus, em forma de touro, foi o progenitor da dinastia
cretense, e que uma fera com cabeça de touro, o Minotauro, vivia no
labirinto cretense construído por Dédalo.
O próprio Minos pode simbolizar a figura paterna cuja
necessidade de controle e repressão emocional cria o efeito oposto, ou
seja, o caos. Uma fera selvagem, emocionalmente indômita, nasceu na
família de Minos, e isso o deixou tão horrorizado que resolveu trancá-la
no subsolo. Embora Touro seja freqüentemente atraído por sua
polaridade, Escorpião, também se assusta com sua inflamada
instintividade e pode tentar mantê-la escondida, proibindo-a de penetrar
no mundo racional e controlado, típico de Touro. Assim, a fera
permanece presa no subterrâneo em troca de sacrifícios humanos —
que exige e recebe. Aqui podemos certamente observar os extremos da
polaridade Touro/Escorpião quando a disfunção familiar se torna
patológica.
Planetas em Touro operam de maneira muito "terrena". A
natureza dos planetas será harmonizada por sua afinação com os ritmos
179. Hawkins, John Robert, Transpluto, or Should We Call Him Bacchus, the Ruler of
Taurus?, Dallas, Hawkins Enterprising Publications, 1978.
Rei Midas da Frígia, Apolo e Pã, principais personagens da história do toque de
ouro do rei Midas
naturais da terra ou impedidas por esses mesmos ciclos. O Sol pode
concentrar sua atenção nos aspectos físicos da terra fixa de Touro:
estabilidade, segurança, fertilidade e o que quer que seja necessário para
atingir esses objetivos. Essas pessoas também podem ser dotadas de
habilidades criativas e procriadoras. Precisam, porém, ter cuidado para
não banhar a terra com fogo solar em demasia (ou seja, excessiva
intensidade, revolver demais o solo, esperar muito e cedo demais
daquilo em que trabalharam). A Lua e a Terra estão aqui em seu melhor
momento e seus nativos seguem seu próprio ritmo natural de quatro
fases distintas (a Lua a cada mês e a Terra a cada estação), muito
semelhante aos ciclos da natureza. Pessoas com a Lua em Touro
precisam passar algum tempo no jardim, removendo a sujeira de sob as
unhas — ou, na ausência de um jardim, gozar de prazeres suaves,
relaxados, terrenos. Ervas, incenso, massagem, música, comida e vinho
ou uma caminhada pela natureza serão bem-vindos.
Mercúrio em Touro ou na Segunda Casa pode ser bem enraizado,
mecanicamente competente e um tanto cauteloso, embora sua natureza
livre possa ser maculada pelas preocupações mundanas de Touro. A
ligação entre Mercúrio e o regente de Touro, Vênus, pode compensar
pelo excesso de labor, concedendo uma natureza paqueradora e/ou
artística. A própria Vênus em Touro fica livre para lidar com suas
necessidades de prosperidade, sexo e amor de forma bastante liberal, já
que está em seu próprio signo, nutriz e sustentadora. Marte traz um
senso de motivação e aplicação energética à necessidade taurina de
construir e sustentar o futuro, embora a síndrome de terra crestada seja
aqui um perigo ainda mais iminente do que com o Sol.
Ceres em Touro tem a necessidade de estabelecer a segurança
material e ser uma boa provedora. Assim como com os tipos lunares,
essas pessoas prosperam no jardim ou na cozinha. Palas Atená por
vezes parece estar em uma cadeira de rodas quando em Touro. Sua
natureza é mais apta a voar livremente (como Mercúrio) pelos ares,
recebendo informações em uma fração de segundo. Em Touro, precisa
esclarecer cuidadosa, paciente e claramente seus conceitos, de forma
sensata. Na melhor das hipóteses, suas impressionantes idéias e
invenções podem ser aplicadas à própria terra, como quando Atená
produziu a oliveira para os atenienses. Juno em Touro valoriza o
companheirismo e essas pessoas trabalharão com diligência para manter
relacionamentos monogâmicos, tendo dificuldade em abrir mão deles
quando necessário. Vesta em Touro pode ser singularmente
concentrada em desenvolver qualidades pessoais altamente valorizadas
no mercado.
Pessoas com Júpiter em Touro ou na Segunda Casa podem
descobrir que têm o "Toque de Midas" natural, mas devem tomar
cuidado para que sua habilidade não os consuma, como ocorreu com
Midas. Pode haver aqui um conflito entre a terra (Touro) e o fogo
(Sagitário); é preciso cuidar para que a energia vital ou espírito da
pessoa tenha inspiração suficiente para buscar os reinos mais elevados,
e não ficar preso apenas à produção de bens materiais. Dédalo é um
bom exemplo disso, pois foi capaz de construir as ferramentas que lhe
permitiriam escapar de sua prisão material. Saturno em Touro pode
trabalhar duro para obter seus ganhos, mas certamente esses ganhos
ficarão acessíveis com a tendência de Saturno para a administração e a
autoridade sobre o reino terrestre. Quando Quíron está na Segunda
Casa, há com freqüência um profundo conflito sobre o que deve ser
valorizado — e, se o curandeiro ferido for muito forte no mapa natal, é
possível que a pessoa se descubra em uma profissão curativa ou
auxiliadora. Urano empresta o fogo de Prometeu a todas as questões de
dinheiro ou recursos pessoais, mas os nativos com esse posicionamento
também têm probabilidade de ter um histórico empregatício errático ou
de viver de modo incomum ou excitante.
O comportamento de Netuno e Plutão em Touro pode ser mais
difícil de localizar, já que esses planetas exteriores lentos são ligados
principalmente a padrões coletivos de significância cultural em um
certo contexto temporal. Plutão esteve pela última vez em Touro
durante a
época vitoriana (1852-1884) e Netuno durante o mesmo período (1874-
1888). Lembremo-nos de que essa época produziu, em nosso próprio
país, as últimas marteladas nos cravos de ferro que, numa imensa força
de Hefesto, completaram a estrada de ferro transcontinental, permitindo
assim que ocorresse o "destino manifesto". Em um mapa individual,
porém, Netuno e Plutão comportam-se segundo padrões bastante
definidos quando estão na Segunda Casa. Aqueles que têm Netuno na
Segunda Casa são com freqüência "espaçados" no que se refere a
questões financeiras — o dinheiro escorrega por entre seus dedos como
água porque realmente não se importam com ele. Como os tipos
quironianos, podem encontrar suas melhores opções nas profissões de
cura ou auxílio. Plutão na Segunda Casa está em sua localização de
detrimento acidental: esses nativos podem tornar-se milionários, mas,
como Midas, podem ter de pagar um preço moral por sua riqueza,
especialmente se não foram muito honestos ao adquiri-la.
Se Touro é fortemente enfatizado em seu mapa, recomendamos
que você se familiarize com algumas dessas histórias míticas para
melhor compreender as energias com as quais você está trabalhando.
Acima de tudo, lembre-se de honrar os ritmos naturais de seu corpo e
afinar-se com a Lua, pois ela intuitivamente guiará a alma de seu corpo
e as funções naturais da vida, ajudando-o a conscientizar-se e
concentrar-se sempre em seu centro de gravidade.


GÊMEOS, OS Gêmeos
SIGNO: Gêmeos, o 3º Signo Zodiacal
MODO: Mutáveis - ELEMENTO: Ar - REGENTE: Mercúrio
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Castor e Pólux - os Ashvins
(Hindu) - Nissyen e Evnissyen (Celta) - Helena e Clitemnestra
(as gêmeas) - Peter Pan - Hermes (Mercúrio)
A constelação de Gêmeos
é facilmente distinguível, pois
consiste em duas estrelas, lado a
lado, de magnitude
aparentemente igual. Porém, se
olharmos mais de perto, fica
evidente que uma estrela é um
pouco mais brilhante que a
outra. Isso está correto, pois um
dos gêmeos mitológicos
chamados Gemini era filho de
Zeus, enquanto o outro era
apenas mortal. Zeus veio a
Leda, esposa do rei Tindareu de
Esparta, disfarçado de cisne.
Como ela era a mais bela das
mulheres, ele a seduziu às
margens de um rio. Leda deu à
luz dois pares de gêmeos, um
masculino e outro feminino. Castor e Pólux eram os meninos, Helena e
Clitemnestra eram as meninas. Castor e Clitemnestra eram filhos do rei
Tindareu, enquanto Pólux e Helena eram semideuses, filhos de Zeus. Os
Gêmeos, portanto, são mais propriamente parte de uma quaternidade,
um símbolo quádruplo de completude que inclui elementos masculinos
e femininos, humanos e divinos180.
180. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid, vol. I, pp. 206-7.
Castor e Pólux eram inseparáveis e, realmente, sempre são vistos
juntos nos mitos; há pouca diferenciação entre eles. Castor era
renomado por suas proezas de cavalaria e condução de carros; Pólux era
o mais famoso dos lutadores. Os jogos espartanos foram instituídos em
sua honra. Curiosamente, os Gêmeos eram também as divindades
padroeiras dos marinheiros e, sempre que se via o Fogo de Santelmo
com seu brilho lúgubre no alto de um mastro, os marinheiros gregos
acreditavam ter recebido uma visita dos Gêmeos181. Castor e Pólux
tomaram parte de muitas aventuras heróicas na mitologia grega,
notadamente a viagem de Jasão e dos Argonautas (ver Áries).
Castor, o irmão mortal, foi morto durante uma guerra com outros
gêmeos semidivinos, Idas e Linceu. Pólux, lamentoso, rogou a Zeus
que não o deixasse sobreviver a seu irmão. Como filho de Zeus, porém,
Pólux era imortal. Por isso subiu aos céus, onde foi posto entre as
constelações com seu irmão Castor (Pólux, o gêmeo imortal, é a estrela
mais brilhante). Por causa da mortalidade de Castor, ordenou-se que os
Gêmeos passariam metade do tempo no mundo subterrâneo e a outra
metade no céu; isso corresponde, é claro, aos períodos em que a
constelação de Gêmeos era visível (céu) e oculta (mundo
subterrâneo)182.
Os Gêmeos Divinos não são apenas uma característica da
mitologia grega; aparecem em todos os lugares em que se falam línguas
indo-européias. Na Índia, eram chamados Ashvins, o que significa "os
cavaleiros" (uma constelação recebe o nome deles, mas não a mesma
que conhecemos). Os Ashvins eram filhos de Surya, o deus-sol; além
de cavaleiros, eram poderosos curandeiros183. Sua ligação com cavalos
remonta a um tempo anterior à história registrada, pois um dos mais
antigos rituais védicos era o ashvamedha, ou sacrifício do cavalo. Esse
ritual ligava-se ao mito dos gêmeos Ashvin, indicando que os Gêmeos
Divinos eram cultuados já numa data muito primitiva; podem ter sido
também padroeiros do povo comum, pastores de gado e cavalos,
artesãos e comerciantes do antigo mundo indo-europeu184. Essa ligação
com os ofícios de habilidade faz parte do arquétipo de Gêmeos até hoje,
pois este é o signo da versatilidade e destreza por excelência, e na
astrologia médica Gêmeos rege as mãos, instrumentos gêmeos do
talento e da realização manual. Não vemos mais o signo como
relacionado à cavalaria, pois esse arquétipo atualmente é associado ao
signo oposto a Gêmeos, Sagitário. Vale lembrar, porém, que os tipos de
Gêmeos com freqüência sentem afeição por carros esportivos
complicados, assim como pelas habilidades necessárias em mecânica
para cuidar deles. O
181. Gleadow, Rupert, The Zodiac Revealed, ibid, p.62.
182. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., vol. 1, pp. 245-50.
183. Behari, Bepin, Myths and Symbols of Vedic Astrology, ibid.
184. Mallory, J.P., In Search of the Indo-Europeans, ibid., pp. 132-7.
Os Dióscuros (Castor e Pólux)
automóvel é o equivalente moderno do cavalo e em geral relaciona-se à
Terceira Casa de um horóscopo, que é o lar natural de Gêmeos. De fato,
Gêmeos e a Terceira Casa referem-se a todos os tipos de transporte, mas
especialmente a viagens curtas, que os antigos podiam efetuar em
alguns dias a cavalo e que os homens modernos geralmente fazem de
carro.
Os Gêmeos de hoje em dia não mantêm associações fortes com a
cura, que era obviamente importante no mito hindu dos Gêmeos
Divinos, mas a associação ainda estava presente na Grécia. Apolo (o
Sol) e Hermes (Mercúrio, o moderno regente de Gêmeos) eram dois
conhecidos deuses gregos. Nas regências olímpicas, Gêmeos estava
ligado a Apolo, que era o deus da cura (ver Sol)185. Ainda mais
importante é o fato de que Apolo é o irmão de Hermes, e Hermes
carrega o caduceu, um bastão com duas serpentes entrelaçadas, símbolo
moderno da cura. Apolo também possuía muitas habilidades
"científicas", coisa que ainda encontramos atualmente no signo de
Gêmeos. Mais que isso, Apolo era um deus do Sol e, na Índia védica, os
Gêmeos Divinos eram filhos do Sol.
Hoje pensamos em Gêmeos principalmente como o signo do
intelecto e da dualidade. O simbolismo do intelecto deriva-se, é claro,
de seu planeta regente, Mercúrio. A dualidade de Gêmeos relaciona-se
ao fato de que é um signo duplo (ou seja, gêmeos). Por isso representa
com
185. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid, pp. 80-1.
Uma gravura do século XIX mostrando o rapto de Helena por Páris, o príncipe Troiano,
segundo a pintura original
frequência o conflito entre o ego e a sombra numa dada personalidade.
O ego sempre luta para tomar o caminho consciente, seja baseado na
vontade individual ou nas tradições da sociedade como um todo. A
sombra, nosso lado oculto, representa todos os valores que reprimimos
ou nos recusamos a reconhecer como nossos — que podem ser brutais e
violentos, ou espirituais e transcendentes, dependendo do sistema de
valores utilizado para dar forma ao ego consciente. O lado sombrio está
sempre se arrastando para fora da escuridão e entrando na luz na
personalidade do tipo de Gêmeos; é por isso que os consideramos
volúveis, inconsistentes e potencialmente traiçoeiros186.
Embora o mito de Castor e Pólux traga poucas informações sobre
essa dualidade de sombra e "Eu", a manifestação feminina do mito é
muito mais clara. Como notamos, os Gêmeos eram parte de uma
quaternidade quádrupla — possuem um reflexo feminino nas gêmeas
Helena e Clitemnestra. Helena, filha de Zeus e Leda, é bela e passiva —
nunca se afastou do comportamento normal, mesmo quando sua falta de
força interior e de resolução iniciou a Guerra de Tróia. Sua irmã mais
humana, Clitemnestra, possui uma energia mais sombria — assassina
seu esposo, o rei Agamêmnon, quando este volta da Guerra de Tróia.
Porém, se seu temperamento é mais sombrio e violento, sua vontade
também é mais forte. A dualidade das duas irmãs é bastante aparente —
Helena é "divina", mas passiva, Clitemnestra é forte, mas motivada
apenas por suas paixões e desejos. Separadas, podem apenas produzir a
destruição, seja pela ação ou pela falta desta. Apenas quando a vontade
se une com a espiritualidade é que uma ação positiva dirigida pode ter
lugar.
A dualidade geminiana é vista de forma ainda mais clara na
história dos gêmeos Nissyen e Evnissyen do épico galês The
Mabinogion187. Nissyen é o eterno pacificador, enquanto Evnissyen
provoca uma guerra ao mutilar brutalmente os cavalos do rei da Irlanda
(essa cena violenta, tão sugestiva do sacrifício védico de cavalos,
recebeu uma angustiante interpretação moderna na peça de Peter
Shaffer, Equus). Quando a guerra com a Irlanda traz a destruição ao
povo de Gales, Evnissyen, arrependido, traz a vitória aos galeses
sacrificando a si mesmo, saltando no caldeirão do renascimento.
As gêmeas, Helena e Clitemnestra, também podem ser
consideradas a anima ou natureza feminina de seus irmãos gêmeos,
Castor e Pólux. Somos inclinados a associar Gêmeos apenas com os
gêmeos homens e a virtualmente ignorar as mulheres, mas, como já
mencionamos, todos fazem parte do conjunto e, quando as quatro partes
se integram,
186. Greene, Liz, The Astrology of Fate, ibid, pp. 189-96.
187. Gantz, Jeffrey, trad., The Mabinogion, ibid., pp. 66-82.
Gêmeos consegue a completude. Muito provavelmente a referência aos
homens deve-se ao fato de ser Gêmeos um signo masculino, aéreo,
ligado ao arquétipo pensador de Jung. Na arte clássica, os Gêmeos são
com muita freqüência representados como crianças pequenas; a
curiosidade da mente jovem é por vezes estouvada e inoportuna, assim
como o comportamento de meninos adolescentes. Em qualquer dos
casos, a maior parte das referências astrológicas a Gêmeos descreve o
signo como andrógino, que não possui características masculinas nem
femininas em abundância. Realmente, a personalidade e aparência física
de muitos nativos de Gêmeos refletem características jovens,
assexuadas, mesmo quando adultos. Obviamente, há exceções para esse
caso — uma delas é Marilyn Monroe —, mas na maior parte nativos de
Gêmeos são adequadamente descritos como puers e puellas (sic). O
complexo de puer aeternus definido por Jung e Marie Louise von Franz
pode ser traduzido literalmente como "eterna juventude"188. A
manifestação do puer (homem) ou puella (mulher) desse anseio por ser
Peter Pan pode ser notado em alguns signos astrológicos, mas é mais
forte em Gêmeos e em seu planeta regente, Mercúrio (ver Mercúrio).
Isso se deve à natureza incansável, vagabunda, da mente, sempre em
busca de lugares ainda não explorados e de estímulo constante. Para um
nativo de Gêmeos, envelhecer é a morte, assim como é a morte para a
mente interromper suas buscas. E, realmente, Marilyn Monroe, uma de
nossas mais famosas puellas (sic), preferiu a morte à realidade de
envelhecer.
O terceiro signo do zodíaco é o primeiro dos signos humanos (ou
seja, Castor e Pólux). Foi o primeiro dos signos de ar, o reino dos
relacionamentos mentais e sociais. Com freqüência, como ocorria com
Castor e Pólux, há um relacionamento entre irmãos com que o
indivíduo de Gêmeos precisa lidar, e com muita freqüência esse
relacionamento desafia a posição de Gêmeos, em vez de apoiá-la. Seja
o adversário um verdadeiro gêmeo ou simplesmente um irmão, ou
mesmo um sócio, as capacidades de Gêmeos são exercitadas e
estimuladas, como Gêmeos, por ter um oponente. Mas, como já
observamos, a disputa ocorre mental ou intelectualmente para os
geminianos, em oposição ao desafio mais físico ou ativo exigido por
Gêmeos.
Por vezes, o processo de Gêmeos envolve o desafio de ter uma
alma gêmea em outro plano, como Castor e Pólux, já que o que era
mortal morreu. Em outros momentos, envolve a dualidade sombra/luz
tão característica de Gêmeos; para outros, ainda, envolve a dualidade
inata da mente. "Que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita"
é uma frase que descreve uma manifestação de dualidade mental. Outra
188. von Franz, Marie-Louise, Puer Aeternus, Santa Monica, CA, Sigo Press, 1981.
Mercúrio, regente de Gêmeos
manifestação semelhante é a mente que continuamente toca como um
rádio; a pessoa acostuma-se tanto ao ruído de fundo que tem pouca, se é
que tem alguma, consciência do que está sendo realmente transmitido.
Um outro aspecto da dualidade geminiana é a separação entre o
mundo físico (corpo) e o mundo mental (mente), que 6 talvez a
dualidade mais comum experimentada nos primeiros estágios da
consciência humana. As atividades externas são realizadas de forma
automática, enquanto a mente continua sua palração interior,
inteiramente afastada do que está realmente acontecendo do lado de
fora. Obviamente, essas são todas manifestações de um arquétipo de
Gêmeos disfuncional ou aflito. Geminianos mais evoluídos conseguem
integrar sua dualidade de tal forma que são concentrados e voltados
para uma direção em particular. Dessa forma, desafiam a si mesmos a
explorar áreas novas e desconhecidas da mente humana.
Devemos muito do simbolismo de Gêmeos a seu regente
astrológico, Mercúrio (Hermes). Mercúrio é o malandro que com
freqüência leva a melhor até sobre si mesmo. Nossos exemplos
mitológicos de Gêmeos envolvem a interação de duas forças opositoras
— e seja que o duelo consista na luta contra a luz e sombra internas da
pessoa, ou num desejo por um lugar entre as estrelas, com freqüência há
em Gêmeos uma ânsia por algo que não é acessível na forma corporal
ou terrestre. É verdade que as pessoas com um forte fator de Gêmeos
(ou de qualquer dos signos de ar, aliás) têm um relacionamento fraco
com o mundo físico. O desejo de Pólux de renunciar à sua imortalidade
para poder se reunir a seu irmão relembra o centauro Quíron, associado
a Sagitário, o oposto de Gêmeos. Ele também era afligido por uma dor
que não poderia ser curada na vida terrena e suplicava para que sua
imortalidade cessasse para que pudesse deixar o plano terrestre.
Observamos muito geminianos talentosos e dotados cujo destino era
deixar cedo a vida terrena. Marilyn Monroe e Judy Garland atingiram a
imortalidade antes de seu falecimento prematuro, mas se tornaram
ainda mais elevadas ao se libertar do plano físico, onde não mais tinham
de lutar com a dualidade de luz e sombra que afeta tantas estrelas de
Hollywood. Os irmãos Kennedy, e mais notadamente o geminiano John
F. Keneddy, parecem dramatizar o mito Castor/Pólux. A despedida
prematura do presidente Kennedy colocou-o nos céus da lenda
americana como uma estrela brilhante, junto com seu irmão já falecido,
Joseph, e seguido por seu irmão mais jovem, Robert.
Em astrologia médica, Gêmeos rege os braços, mãos, ombros e
pulmões. Braços e mãos parecem apropriados para essas destras
criaturas dotadas em mecânica, mas e quanto aos pulmões? Gêmeos é,
afinal de contas, um signo de ar, e são os pulmões que recebem e
expelem ar fresco para o corpo. A respiração (prana em sânscrito ou
ruach em hebraico) significa, na verdade, espírito, e a capacidade do
corpo de respirar corretamente o mantém vivo. Mas, ainda mais
importante é que a entrada de ar puro e a expulsão de ar viciado é o que
mantém o corpo, a mente e o espírito conectados e fluidos. A
necessidade de Gêmeos por
Cabeça de Mercúrio no papel-moeda italiano de 1974. Da coleção de Michael
A. Sikora
ar extra é com freqüência expressa no vício do fumo, pois ele força a
pessoa a inalar e exalar ritmicamente, mas uma boa rotina de respiração
controlada (ioga) satisfaz essa necessidade de maneira muito mais
saudável.
Planetas em Gêmeos com freqüência se expressarão num
relacionamento segundo o tema da dualidade aqui descrito. A eterna
curiosidade da mente da criança busca atingir novos picos de
estimulação intelectual e exploração. Jacques Cousteau, um Sol em
Gêmeos na Nona Casa (a casa natural de Sagitário), levou a exploração
a novos caminhos no século XX. Muitos geminianos buscam
incansavelmente a vida ideal, experimentando muitos estilos de vida no
processo. O Sol, a Lua ou o ascendente em Gêmeos trarão ao indivíduo
uma duradoura luta para integrar os aspectos duplos ou opostos de sua
natureza. Com freqüência, os fatores opostos serão representados
astrologicamente por dois signos proeminentes em outro lugar do
horóscopo. Por exemplo, um geminiano com a Lua em Touro e
Sagitário em ascensão pode estar sempre em busca de modos para
integrar satisfatoriamente os princípios de Touro e Sagitário, na
tentativa de equilibrá-los.
Em particular, com o Sol em Gêmeos, a força solar concentra-se
nesse aspecto duplo na natureza interior da pessoa, de forma que ambas
as extremidades de um diálogo são estabelecidas, exista ou não um
parceiro externo. Quando a Lua está ali, os nativos ficam satisfeitos em
ler, ter longas conversas com amigos e permitem-se usar novas
tecnologias da informação, como brincar com o controle remoto de 42
canais até perceber que não tem nada na TV e sair, rapidamente mas
sem objetivo, em seus carros; Mercúrio em Gêmeos está em sua
dignidade. As pessoas que possuem essa posição planetária mostram
muitas qualidades no campo da informação, sejam pesquisadores,
escritores, jornalistas, radialistas, palestrantes, professores ou
contadores de histórias
— mesmo se o fazem apenas por hobby. Vênus em Gêmeos, como
afirmam os livros populares sobre astrologia, pode ser paqueradora,
mas também terá charme até a raiz dos cabelos. Marte em Gêmeos
concede grande energia para o processo mental e social e pode com
freqüência ser conhecido por sua capacidade de ter experiências
pioneiras de pensamento. Corridas de carro ou trabalhos que envolvam
transportes em geral também podem ser gratificantes para os que têm
Marte em Gêmeos — não nos esqueçamos dos cavaleiros gêmeos da
Índia.
Ceres e Palas Atená em Gêmeos desenvolvem e nutrem dons
educacionais, dando ambos muita atenção a objetivos intelectuais em
geral. A principal diferença é que, com Ceres em Gêmeos, o indivíduo
pode apreciar o exercício desses dons dando aulas ou tendo um filho,
enquanto com Palas Atená o brilhantismo pode surgir já no início da
vida, resultando numa criança-prodígio. Pessoas com Juno em Gêmeos
buscam criar laços com quem possa lhes trazer estímulo mental e muita
conversa, e sem dúvida apreciam uma ampla variedade de assuntos e
pessoas ao buscar esse processo. Vesta em Gêmeos é maravilhosa para
concentrar e disciplinar a mentalidade de uma pessoa para uma área
particular de especialização. Saturno também faz o mesmo nesse signo
dos gêmeos.
Júpiter ou Saturno em Gêmeos traz a necessidade de comunicação
e circulação de idéias para a esfera social e por vezes legislativa. Quíron
na Terceira Casa é com freqüência o "super multimídia" — demasiado
talentoso ou brilhante e preso num mundo pleno de perspectivas
recorrentes até que consiga focalizar seus talentos. Urano também
brilha de forma bastante luminosa aqui e a força do intelecto pode
precisar ser muito bem domada (meditação ajuda) antes que esses
nativos possam surgir como os grandes escritores e comunicadores que
potencialmente são.
Os sete anos que Urano passou em Gêmeos em sua mais recente
jornada por aquele signo ocorreram de 1942 a 1949, quando nasceu a
primeira onda de bebês do pós-guerra. Esses talentosos futuros
pensadores são os pioneiros da Nova Era. São também os feiticeiros da
era da informação, dotados com computadores e máquinas altamente
sofisticadas. Esses anos viram o nascimento dos computadores e da
televisão, dois instrumentos de comunicação que contribuíram
grandemente para a era da informação e da alta tecnologia. Netuno na
Terceira Casa tem um desejo de informação relacionado ao misticismo
e ao "outro mundo", e pode ter também um talento para música, poesia
ou teatro — mas, assim como todos os planetas exteriores nessa casa,
haverá um problema em concentrar a atenção. Plutão é um voraz coletor
de informação quando está nessa casa. Mas, esses indivíduos devem
tomar cuidado para não investir demasiada energia emocional nos
conceitos
mentais que constroem a partir dessa informação — pois tudo o que é
plutoniano pode acabar por desmoronar, incluindo as suposições
intelectuais. Mesmo assim, há um impulso muito forte para continuar a
coletar dados.
Deve-se notar que os dois planetas mais lentos de nosso sistema
solar, Netuno e Plutão, que se encontram no céu apenas uma vez a cada
duzentos anos, encontraram-se no final do século XIX em Gêmeos.
Nessa época, o avião e o automóvel eram apresentados e aceleravam a
evolução — e certamente a mobilidade — da humanidade de um modo
que não pôde ser igualado desde a invenção da roda. Quando a
dualidade de Gêmeos está unida e concentrada, grandes realizações se
tornam possíveis.


Ártemis (Diana) de Éfeso, a deusa da fertilidade com muitos seios
CÂNCER, o Caranguejo
SIGNO: Câncer, o 4º Signo Zodiacal
MODO: Cardinais - ELEMENTO: Água - REGENTE: Lua
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Khephra (o escaravelho egípcio)
- a Grande Deusa e o (Divino Consorte - Deméter (Ceres)
A história e a mitologia de
Câncer são um quadro de
confusão e contradição.
Ninguém tem certeza absoluta
do que esse signo significava
para os babilônicos, ou mesmo
qual era seu animal simbólico,
mas para os egípcios Câncer era
o escaravelho, um totem sagrado
relacionado à alma. Os egípcios
iniciavam seu ano durante
aquele que atualmente é o mês
de Câncer (julho), e este
simbolizava o ponto de entrada
da alma no corpo. Em astrologia
esotérica, Câncer é também
visto como a porta da alma para
a encarnação189. Como vimos,
porém, os egípcios
compreendiam seus meses em termos da ascensão noturna dos signos:
dessa forma, a constelação de Câncer, para os egípcios, era símbolo do
solstício de inverno, não de verão. O escaravelho empurra sua bola de
esterco pelas dunas e a deixa rolar de volta para
______________________________________________________________________
189. De acordo com o filósofo neoplatônico Porfírio, em seu Gruta das Ninfas (diversas
ed.)
Antes de Câncer ser representado como um caranguejo, era conhecido pelos
egípcios como um escaravelho. Ilustrado por Diane Smirnov
baixo. Da mesma maneira, o sol atinge o ápice de seu movimento
meridional no solstício de inverno e começa a "rolar" de volta em
direção ao verão — em direção ao calor e à produtividade
vivificantes190.
Para os gregos, Câncer era inicialmente representado por uma
tartaruga ou um jabuti. Esse símbolo pode parecer peculiar para nós,
mas, na verdade, há muitas similaridades entre o jabuti e o caranguejo,
o atual símbolo de Câncer. Jabutis, como caranguejos, têm cascas duras
e interiores muito macios. Jabutis, como caranguejos, escondem-se em
suas cascas quando assustados e se movem com um passo vagaroso,
porém constante. Para os gregos, o símbolo do jabuti para o signo de
Câncer estava ligado ao fato de que Mercúrio regia Câncer em seu
esquema dos doze olímpicos. Pouco após seu nascimento, a criança
precoce Hermes (Mercúrio) saiu de uma caverna e viu um jabuti. Como
era uma criança extremamente esperta, usou a casca da tartaruga e
algumas tripas de vaca para construir a primeira lira, um instrumento de
cordas que mais tarde foi associado a Apolo'91.
Em algum ponto da história, talvez durante a era helenística que se
seguiu à morte de Alexandre, o Grande, e que testemunhou uma fusão
de todas as antigas culturas mediterrâneas, Câncer foi associado ao
caranguejo e à Lua. Mas havia pouco sentimento envolvido na regência
lunar naquele tempo; os gregos associavam aquela luz com comércio,
negócios e a enchente e vazante das marés que possibilitavam a viagem
marítima. Assim, o poeta romano Manílio descreve cancerianos
190. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 119-120.
191. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., vol. 1, pp. 63-7.
como mercadores avarentos e de coração frio, ávidos por dinheiro192 —
uma imagem que normalmente não associamos com Câncer, embora até
hoje Câncer seja conhecido por sua capacidade de ganhar um trocado
ou ter algo guardado no colchão para um dia chuvoso.
No período clássico, os gregos mostram Câncer, o caranguejo, nos
Doze Trabalhos de Hércules. Enquanto o herói lutava com uma
gigantesca serpente marinha chamada Hidra, um enorme caranguejo
surgiu do pântano e cravou suas pinças no calcanhar de Hércules. Este
voltou-se, esmagou o caranguejo e continuou sua luta com a Hidra. Sua
arqui-inimiga, a deusa Hera (Juno), colocou o caranguejo entre as
estrelas como recompensa por servir a deusa em sua luta para dominar
Hércules193.
O verdadeiro significado de Câncer, porém, pode ser melhor
compreendido considerando-se sua posição no ano sazonal. Câncer
marca o solstício de verão, o dia mais longo do ano (e, é claro, a noite
mais curta). Pode parecer estranho que se atribua à Lua, símbolo da
Grande Deusa e do eterno feminino, esse momento em que a força solar
está em seu auge. Mas, a idéia principal aqui é que o sol está se
voltando, iniciando seu caminho para o mundo da força noturna ou
humanidade coletiva, que é o yin ou componente feminino da
consciência e da civilização. A força solar ou ego atingiu seu limite e a
individualidade desenfreada deve agora abrir caminho para as
necessidades da humanidade coletiva.
Em tempos arcaicos (particularmente durante a Era de Câncer, de
8000 a 6000 a.C, o tempo que muitos estudiosos identificam como a era
da adoração à Deusa), o solstício de verão era o dia em que o Deus Sol
— ou seu representante terrestre — era ritualmente assassinado,
sacrificado à Grande Mãe. Ele começava sua jornada pelo mundo
subterrâneo, assim como a consciência do ego começa sua jornada em
direção à consciência universal na fase Canceriana da vida humana.
Assim, se diz que Câncer representa o lar e a família de uma pessoa,
pois ao estabelecer essa pequena unidade coletiva nós, como
indivíduos, começamos a permitir que um pouco da consciência do
outro penetre em nossas vidas.
O Sol está em seu momento de maior poder, embora o signo em si
seja regido pela Lua. Dessa forma, os símbolos do Sol e da Lua,
masculino e feminino, estão unidos em um só arquétipo. Podemos
pensar em Câncer como o signo do "casamento místico", a união de
opostos alquímicos. Em seu conhecido livro The Hero With a
Thousand Faces, o mitologista Joseph Campbell representou a jornada
do herói como
192. Gleadow, Rupert, The Zodiac Revealed, ibid., pp. 71-2.
193. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., vol. II, pp. 108-9.
Um tetradracma de Akragas (moderna Agrigento), Sicília, 472-420 a.C. da coleção
de Michael A. Sikora
um círculo194. Os estágios daquela jornada heróica harmonizam-se
bastante bem com o círculo zodiacal e, realmente, o nadir do círculo é
atribuído ao casamento místico, assim como Câncer é o ponto do nadir
do círculo zodiacal. Essa é uma fase em que o herói, após viajar pelo
"outro mundo", que representa as profundezas da mente coletiva,
encontra a princesa de contos de fada, a feiticeira, a noiva mágica, e se
une a ela. No ritual primitivo, o deus-sol era com freqüência o consorte
da Mãe Divina. O sacerdote que representava o papel do deus unia-se
ritualmente à sacerdotisa da Mãe Divina antes de sua morte simbólica.
É por meio da união com o coletivo ou princípio feminino que a
consciência masculina do ego atinge seu limite e começa a ser
absorvida por algo diferente. É também por isso que homens sentem
tanto uma atração quanto um temor de se misturar com o feminino. No
momento da fusão, o ego ou componente masculino da consciência
perde o controle, é "engolido" e, simbolicamente falando, morre para
que a consciência (yang) e o inconsciente (yin) possam se unir.
Não é de espantar, então, que se diga que os cancerianos têm dons
psíquicos, pois são particularmente abertos ao influxo de vastas forças
universais, que se canalizam para os confins da consciência individual
da pessoa, quer o canceriano decida ou não ser um desses canais.
Observamos que há essencialmente quatro aspectos da Grande
Deusa, correspondentes às quatro fases da lua e aos signos Touro,
Câncer,
194. Campbell, Joseph, The Hero with a Thousand Faces, ibid., p. 245.
Virgem c Escorpião. Os primeiros dois aspectos da Deusa — que
encontramos em Câncer e Touro — estão fortemente relacionados,
principalmente, graças à importante relação da Lua com os dois signos.
Em Touro a Lua é exaltada, enquanto em Câncer ela está em sua
dignidade. A lua e suas fases em constante mudança representaram um
importante papel nas celebrações e rituais da época da Deusa. O aspecto
taurino da Deusa trata de fertilidade e abundância da Mãe Terra e do
poder feminino representado pela terra.
Ritos de fertilidade e festivais celebrados durante a Era de Touro
também diziam respeito ao milagre da concepção, à capacidade da
mulher de gerar a vida em seu corpo. Em Câncer, o relacionamento
entre mãe e filho é honrado e celebrado, um relacionamento que se
inicia logo que o ovo é fertilizado. Os pesquisadores afirmam que o
relacionamento estabelecido entre o feto e sua mãe durante seu
desenvolvimento pré-natal de nove meses tem efeitos dramáticos e
duradouros desde o nascimento até a idade adulta. É quando a mãe
estabelece o relacionamento com seu filho e o filho está receptivo para
qualquer informação, emocional e psicologicamente. É quando se
estabelece o cordão umbilical — e ele não é necessariamente cortado
após o nascimento, ao menos no nível psíquico. Na verdade, para
algumas pessoas o cordão umbilical psíquico permanece ligado à mãe
durante a vida, e para aquelas que estão passando pela experiência de
Câncer esse é com freqüência o caso, seja devido à falta de vontade da
mãe de separar-se do filho, seja pela incapacidade do filho de separar-se
da mãe, ou ambos. Exemplos míticos incluem Édipo e Core
(Perséfone). Na história de Deméter e sua filha Core, a deusa da
agricultura e da terra, Ceres, que talvez seja exaltada em Câncer,
condena o mundo a um eterno inverno pela tristeza de perder sua filha.
Outra similaridade entre Touro e Câncer é sua necessidade mútua
de segurança, embora Touro necessite dela em sua forma física e
Câncer no reino emocional. Contudo, se esses signos se põem em
marcha com um relacionamento tão forte nas funções vitais
relacionadas ao nascimento e à criação da criança, não é de se espantar
que exijam um lugar seguro para ficar. Durante a gravidez e os
primeiros meses da vida, especialmente nos tempos antigos, a vida da
mãe e da criança ficava extremamente frágil e delicada e qualquer coisa
que pudesse causar um abalo era considerada perigosa, causa de
insegurança.
A constelação do Caranguejo foi posta nos céus por Hera por
ajudá-la em sua luta entre Hércules e a Hidra. Tanto Hera quanto a
Hidra são aspectos da Grande Mãe pré-helênica, enquanto Hércules é o
arquétipo patriarcal ou herói solar. Assim, nas profundezas da psique de
um canceriano pode haver a necessidade de defender e proteger os
"direitos maternos", ó grande feminino que deu a vida ao caranguejo e
também sua imortalidade estelar. Quando a mãe, a honra da família ou
O ninho estão ameaçados, o canceriano pode responder instintivamente
beliscando o inimigo com suas pinças, como o caranguejo fez com
Hércules. Vemos esse drama representado ao inverso no reino animal,
onde a mãe protege os filhotes furiosamente — mas no reino humano as
mesmas mensagens emocionais ou psíquicas são transmitidas e os tipos
de Câncer com freqüência alimentam a sua posição e a expectativa de
que seus filhotes devolverão o favor e virão protegê-los logo que forem
capazes de fazê-lo.
Uma vez que Câncer é representado pela Grande Mãe, a mãe
verdadeira, terrena, não deixa de ter um papel importante na vida
daqueles que estão fortemente influenciados por esse signo. Com
freqüência há um relacionamento carinhoso e simbiótico que se inicia
no útero e continua até o túmulo. E no indivíduo de Câncer com
aspectos fracos, isso pode ser fonte de problemas psicológicos por toda
a vida. A Grande Mãe, nesses casos, sobrepuja o indivíduo de tal modo
que não há possibilidade de individualidade. Nesse momento, os
nativos de Câncer ficam envolvidos em um dilema de culpa, pois seus
instintos dizem que ele deve honrar a mãe por lhe dar a vida, enquanto
sua necessidade pessoal de ser um indivíduo está tão sufocada que são
incitados à animosidade e à raiva.
Também sabemos que Câncer rege os seios e o útero em
astrologia médica — os dois órgãos biológicos que existem
principalmente para dar um lar seguro e alimentação ao bebê.
Alimentação, para Câncer, é importante durante toda a vida. Esse é um
dos signos que tem mais distúrbios alimentares quando aflito.
Lembramos que Ceres não tomou nenhum alimento, exceto água de
cevada, quando lamentava sua perda; da mesma maneira, sua filha não
comeu nada no mundo subterrâneo até pouco antes de sua saída,
quando ingeriu algumas sementes de romã. Tipos lunares fortes podem
comer demais, desfrutando do círculo pleno e radiante da experiência
lunar, mas podem também usar a comida de modo a fazer mal para si
próprios, compensando a falta de substância emocional em suas vidas.
Bulimia e anorexia, que são relacionadas, com freqüência estão ligadas
a um planeta disfuncional em Câncer ou uma Lua, Ceres ou Plutão malalimentados
— ou qualquer combinação semelhante no horóscopo.
Claro, associamos Câncer principalmente com a mão, mas a
Quarta Casa ou I.C., que é o domicílio de Câncer, representa a família,
as raízes do indivíduo, e, como sustentam muitos livros de astrologia —
o "pai criador" (em oposição ao "dominador"), embora uma polarização
tão estrita nem sempre represente a realidade. De modo geral, o lugar
de Câncer na roda representa laços familiares primitivos e o efeito que
esses laços têm na capacidade da pessoa individualizar-se. E, como um
canceriano recentemente observou, "se você fica comigo, fica com
minha família".
A ligação de Câncer com crianças, nutrição e regência dos seios é mostrada
nesta ilustração de uma mulher acalentando uma criança, do Kunstbücblin de
Jost Amman, publicada por Johann Feyerabend. Frankfurt, 1599
Lembrando que estamos rodeados pela água em Câncer (assim
como o feto), aparecem aqui sentimento, sensibilidade ao ambiente e
forte absorção. Isso, aliado ao fato de que Câncer necessita de um lugar
seguro para estar, responde pela premente necessidade Canceriana de
constantemente buscar um lugar que ofereça a segurança que ele está
buscando. Muitos nativos de Câncer fizeram de sua "verdadeira casa" o
objetivo de sua busca.
No Círculo da Vida (o zodíaco), Câncer marca o primeiro estágio
da experiência no hemisfério ocidental, uma região que define o
relacionamento de uma pessoa com as outras. Sendo Câncer o primeiro
signo de água, é emocionalmente dependente de relacionamentos, e por
causa de sua natureza cardinal não tem vergonha de iniciar um
relacionamento quando ainda não tem um. Como já discutimos, o
primeiro relacionamento de dependência emocional na vida de qualquer
indivíduo inicia-se com a mãe, já que todo o futuro de uma pessoa
depende dela. Por essa razão, muitos nativos de Câncer passarão pela
vida com a necessidade de reiterar o relacionamento mãe/filho. Por
exemplo, no casamento e na parceria, Câncer precisa de alguém para
acalentar ou de alguém que o acalente. Com freqüência, o Câncer sem
filhos busca amigos, parceiros ou projetos para acalentar. Mas, aqui há
mais do que simplesmente o princípio materno. Câncer precisa sentir-se
necessário e, na ausência de um filho encontra substitutos.
A melancolia que muitos livros associam a Câncer provavelmente
tem mais a ver com seu relacionamento com seu regente planetário, a
Lua, do que com qualquer outro fator. Durante seu ciclo de 28 dias, a
lua está constantemente mudando de fase, e muda de signo a cada dois
dias e meio. Com tanto movimento, qualquer um ficaria enjoado. A
outra dificuldade para Câncer é que a água cardinal deve, por natureza,
iniciar o sentimento através de um processo de fundir-se com outros.
Como Câncer é muito eficiente nesse processo de fusão, o resultado
normalmente é uma perda de identidade pessoal. Pode também resultar
em uma situação em que Câncer acaba arrastando as emoções de todas
as outras pessoas, mas totalmente ignorante de quem ou o que está
carregando. Isso também pode resultar em uma imprevisível melancolia
ou em uma total desconexão do verdadeiro objetivo da pessoa. Isso
causa a perda do centro de gravidade — e esse é um lugar bem pouco
seguro para se ficar.
Na seção "Água" (Capítulo Vinte, "Os Elementos"), falamos da
importância de se expressar os sentimentos como um processo natural
de expansão e limpeza. Esse processo é especialmente vital para
Câncer, devido à sua natureza cardinal, já que o contínuo processo de
absorver os sentimentos do ambiente humano demanda também a
expulsão desses sentimentos. E não estamos falando apenas de absorver
o ambiente e separar-se dele em seguida. Câncer tem muito trabalho
para separar-se de qualquer coisa, como atestado por suas pinças.
Também tem dificuldades em ser objetivo sobre aquilo que acaba de
encontrar, pois no I.C., ou raiz do mapa, Câncer está no ponto mais
intenso de subjetividade, centro de seu universo. Então, tudo o que
existe afeta potencialmente Câncer de modos extremos no nível interior
— talvez outra razão para a melancolia. E se houver aflições para
Câncer no mapa, todos esses traços mais negativos de insegurança
aflorarão.
Planetas bem aspectados em Câncer em um horóscopo contribuem
para o estabelecimento de relações estimulantes e acalentadoras pela
vida. Aumentarão as qualidades intuitivas ou psíquicas que um
indivíduo possui e também contribuirão para a necessidade de uma
pessoa de estabelecer uma sólida base de segurança na vida. A Lua
exibirá essas qualidades mais intensamente, já que é o planeta regente
de Câncer e compreende de forma inata as necessidades dele. O Sol em
Câncer combina as habilidades solares de liderança às qualidades
estimulantes de Câncer e tipicamente forma um indivíduo que pode
servir de exemplo para outros. Para que essas pessoas manifestem esse
tipo de liderança, porém, é importante integrar sentimentos absorvidos
no útero e durante os sete primeiros anos de vida. A separação desses
sentimentos subconscientes é freqüentemente difícil, mesmo quando
empreendida conscientemente. Como a Lua é o planeta regente de
Câncer, os que têm a Lua nesse signo incorporarão as qualidades
nutrizes e intuitivas de Câncer muito intensamente, assim como sua
necessidade de segurança. Eles se equilibram com comida, banhos
quentes ou hidromassagem e com a luz da lua (de preferência ao lado
do oceano) ou, quando tudo falha, uma forte dose de paz e quietude
doméstica.
Mercúrio, como observaram os gregos, é um mercador esperto e
bem-sucedido em Câncer. Vênus em Câncer é carinhosa e, se
negativamente aspectada, pode contribuir para um "amor sufocante".
Marte em Câncer é facilmente estimulado em um sentido erótico, mas
seu processo emocional pode ficar "esfumaçado". Com freqüência essa
posição traz uma certa ira contra a mãe ou a vinda dela.
Ceres pode ser exaltada em Câncer; essa posição leva a grande
preocupação com a família e uma conexão excepcionalmente forte entre
mãe e filho. Palas Atená traz a sabedoria e o discernimento para esse
signo de sentimentos, criando uma rara mistura de discernimento e
compaixão — a menos que Palas esteja aflita, caso em que seu escudo
se torna uma sólida armadura. Juno em Câncer, como Ceres, gosta do
papel de mãe; embora provavelmente se interesse mais pelo ritual de
acasalamento que possibilita a geração. Vesta usufruirá da experiência
de Câncer, já que é a guardiã tradicional do fogareiro e do lar.
Júpiter realiza sua rotina típica de expansão em Câncer — seja
através da família, desejando muitos filhos e uma forte experiência
familiar, ou através da comida, que pode apreciar em excesso. Saturno
em Câncer ou na Quarta Casa trará tipicamente um profundo ferimento
de infância — a experiência da maternidade não foi particularmente
amorosa, nutridora, e o sistema familiar com freqüência é
desequilibrado. O árduo processo de curar essas feridas é o que Saturno
ensina em Câncer. Quíron na Quarta Casa aponta também para a
necessidade de curar problemas de família, mas, como a ferida de
Quíron, a dor pode ser tão profunda que a cura deve ocorrer em um
nível não-físico.
Urano na Quarta Casa é, para a maioria das pessoas, uma
localização difícil, já que o fogo prometeano do intelecto e da
transformação interior tende a desestabilizar esse suave útero
canceriano. A maioria dessas pessoas é criada em ambientes caóticos,
sai de casa cedo e criam lares próprios que chegam a ser excêntricos. As
capacidades intuitivas são bastante fortes com essa posição. Netuno na
Quarta Casa com freqüência se relaciona com a mãe real — ela pode ser
uma artista, uma alcoólatra ou uma mística —, mas indica igualmente
alguém que deve buscar a segurança na unidade com o próprio
universo. Plutão age com poder devastador nessa casa: ele pode engolir
a Grande Deusa (Ishtar) no mundo subterrâneo, induzindo o processo
plutoniano de morte e renascimento emocional em uma base regular; ou
pode realmente tornar-se a Mãe Sombria, usando ganchos emocionais e
psicológicos para ganhar um poder silencioso sobre os outros membros
da família.
O trânsito dos planetas exteriores por Câncer coincidiu com
algumas mudanças interessantes na vida doméstica das famílias em
geral. A passagem de sete anos de Urano por Câncer ocorreu de 1949 a
1956. Certamente, a indústria de habitações e o mercado de bens
imóveis (Câncer ou Quarta Casa) nos Estados Unidos (uma nação
Canceriana, "nascida" a 4 de Julho) teve uma explosão extraordinária
nesses anos, especialmente com o processo de automatização, com
aparelhos eletrodomésticos (Urano) que faziam parte de todos os lares
(Câncer) — o sonho americano. Mas, ainda mais interessante é que a
geração nascida enquanto Plutão estava em Câncer (1919 a 1939)
atingiu o auge em número de nascimentos durante a fase de Urano em
Câncer, o que acabou fazendo com que, em muitos casos, o Plutão dos
pais entrasse em contato com o Urano dos filhos. A reação gerada por
essa combinação é altamente volátil e explosiva, resultando em um
grupo de Uranos que apresentou e mesmo forçou seus próprios
conceitos de casamento e cuidados paternos sobre um grupo cuja marca
registrada geracional (Plutão em Câncer) era prender-se à querida vida
em todos os aspectos, especialmente a tradição e os bons e velhos
valores familiares. De fato, o grupo com Urano em Câncer demonstrou
uma anormalidade estatística em relação aos cuidados com os filhos.
Esse grupo optou, quase em massa, por abandonar totalmente esses
cuidados ou postergar seus anos de paternidade para os 35-40 anos,
época em que o relógio biológico está começando a falhar. Nos Estados
Unidos, a estatística mostra que a
idade de ter filhos no século XX fica entre os 25 e os 29 anos195.
Tipicamente, Urano é demasiado livre e independente para tomar a
responsabilidade de cuidar de filhos, mas a forte premência instintiva de
Câncer para procriar acabou apanhando essa geração. O grupo com
Urano em Câncer, ao chegar tarde à paternidade, sujeitou-se a mais
confusão pela necessidade de revolucionar (Urano) o papel de pais
(Câncer). Talvez essa seja uma reação contra o mundo homogêneo da
década de 1950, em que essa geração cresceu, quando as crianças eram
criadas para incorporar os valores-padrão americanos (Câncer), e não
para ter sua própria individualidade (Urano) reconhecida. As
tribulações desse grupo para lidar com a criação dos filhos refletem-se
na recente onda de filmes e programas de TV sobre "yuppies com
bebês" — o Urano da geração de Câncer rindo de si mesmo enquanto
trabalha coletivamente para um estilo novo, mais individualista ou
uraniano de criar os filhos.
E Netuno (o planeta que os astrólogos esotéricos associavam a
Câncer)196 estava no signo do Caranguejo durante a primeira parte do
século XX (1901-1916), quando milhões de imigrantes deixavam para
trás seus amados lares, viajando para a ilha Tartaruga (o nome indígena
para este país e uma ligação simbólica com o habilidoso Mercúrio e seu
jabuti), uma nação Canceriana, que os absorveria em seu receptivo
útero.
195. US Bureau of the Census, Statistical Abstract of the US: 1990, 110°ed.,
Washington DC, 1990.
196. Bailey, Alice, Esoteric Astrology, ibid.



LEÃO, o Leão
SIGNO: Leão, o 5º Signo Zodiacal
MODO: Fixo - ELEMENTO: Fogo - REGENTE: Sol
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Sekhmet (Egípcio) - Hércules -
Atalanta - Lugh (Celta) - Réia - Ishtar (Babilônica)
Assim como Câncer, Leão
tem uma história confusa. A
constelação era conhecida pelos
babilônicos como Grande Cão e
pelos egípcios como Foice; não
se sabe bem como ela acabou se
tornando o Leão. Os egípcios
cultuavam uma deusa com
cabeça de leão chamada
Sekhmet, que representava o
calor escaldante do sol ao meiodia.
Como o sol realmente está
mais brilhante durante o mês de
Leão, Sekhmet pode ter sido seu
arquétipo original197.
Foram também os egípcios
que construíram a Esfinge, que
alguns esotéricos acreditam
representar um leão fundindo-se
com uma deusa. Na roda astrológica, essa fusão está presente na
cúspide de Leão e Virgem, a Deusa da Colheita, e muitos acreditam que
a construção da Esfinge ocorreu no momento da virada entre esses dois
ciclos (c. 10000 a.C.) Rudhyar
197. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid, pp. 120-1; e Gleadow, Rupert, The
Zodiac Revealed, ibid, p. 81.
afirma que a Esfinge, ou a cúspide de Leão e Virgem, representa o
primeiro estágio de iniciação no caminho do discípulo198.
O sol era visto como rei dos planetas, assim como o leão era o rei
dos animais. Por isso, Leão tem a reputação de majestoso e dominante.
Os planetas ficam em volta do Sol (seu centro) e, na astrologia médica,
Leão corresponde ao coração, o órgão central da vida. Os leoninos com
freqüência se encontram ou se colocam no centro dos acontecimentos
de sua vida; muitos de seus relacionamentos dependem de sua força
solar de liderança, direção e luz. Mas, a força solar ou ego ou vontade
dirigida deve fazer compromissos com o coletivo; assim, Leão é visto
como um signo social. Durante a fase de Leão da atividade humana, o
indivíduo deve encontrar seu lugar ou deixar sua marca na sociedade
em geral. Novamente, o significado astrológico do signo está de acordo
com o ciclo sazonal, pois o sol, durante seu mês mais brilhante, está em
posição análoga ao do líder na sociedade.
O Sol é o símbolo visível da força da vida que anima todos os
seres sensíveis, o poder ou energia vital no cerne de nossa existência.
Como vimos, porém, essa força
solar não é, em si, nem boa nem
má; é simplesmente um poder.
Quando tem a permissão de correr
solta, sem direção consciente, leva
ao egoísmo desmedido e à
premência de conquistar ou
dominar. É por isso que se diz que
os ditadores representam o aspecto
negativo de Leão. Domar a força
vital e colocá-la sob o controle
consciente da vontade do
indivíduo é um tema constante na
mitologia e no folclore. A
psicologia junguiana vê dessa
forma a maioria dos mitos sobre
matança de dragões199. Os gregos
clássicos mostraram Leão no
primeiro dos trabalhos de
Hércules, o combate com o Leão
da Neméia. Nessa história,
Hércules representa a vontade
consciente adquirindo controle
sobre as paixões vitais
198. Rudhyar, Dane, Astrological Timing, ibid, pp. 206-8.
199. Neumann, Erich, The Origins and History of Consciousness, ibid.
Uma estátua da deusa Sekhmet no
Templo de Mut em Luxor, Egito.
Fotografia de Diane Smirnov
simbolizadas pelo Leão.
Da mesma maneira, o
herói babilônico
Gilgamesh encontra um
bando de leões brincando
à luz da lua e os mata. A
carta do Tarô "A Força",
associada a Leão, traz
uma figura angelical,
freqüentemente uma
mulher, fechando a boca
de um leão. O significado
atribuído a essa carta é
exatamente o mesmo:
domar a força vital ou
natureza animal por meio
da vontade
conscientemente dirigida.
Esse símbolo deve
derivar do ritual egípcio
de doma de leões, um rito
de passagem que os
iniciados tinham de
enfrentar200.
Observamos (ver Câncer) como o deus-sol encontrava sua morte
ritual no solstício de verão, no período arcaico. Durante uma fase
posterior da Antiguidade, porém, o sacrifício simbólico do sol ocorria
com mais freqüência durante o mês de Leão, pois, embora o sol
brilhasse mais nesse período, o poder da noite estava ficando mais forte.
Os druidas celebravam essa mudança sazonal no Lammastide (2 de
agosto), um funeral para o deus-sol Lugh, assim como um festival da
colheita. A morte do deus-sol num combate ritual é um tema recorrente
na mitologia céltica. Aparece na primeira parte do galês Mabinogion,
em que o herói Pwyll mata Havgan (verão-branco) para que Arawn, rei
do mundo subterrâneo (inverno) possa ser restabelecido como senhor do
ano. Na quarta parte do Mabinogion, o herói-sol Llew Llaw Gyffes,
outro aspecto do deus Lugh, é morto enquanto está equilibrado com um
pé sobre um caldeirão mágico e o outro nas costas de um bode201. No
ano de 1100, o mito encontrou ominosamente a realidade quando o rei
Guilherme II da Inglaterra (chamado Rufus, que significa "o vermelho",
cor simbólica da vitalidade solar) foi assassinado
200. Haich, Elizabeth, Initiation, Palo Alto, CA., Seed Center, 1974.
201. Gantz, Jeffrey, trad., The Mabinogion, ibid., pp. 45-65, 97-117.
Hércules e o Leão da Neméia, do Kunstbüchlin de
Jost Amman, publicada por Johann Feyerabend.
Frankfurt, 1599
com uma seta na New Forest de Hampshire. As circunstâncias que
rodeavam a morte do rei eram tão misteriosas que muitos pesquisadores
concluíram que Rufus era um pagão e estava representando o papel de
vítima consensual num rito de sacrifício humano. A morte de
Guilherme Rufus ocorreu durante Lammas202.
Como símbolo do próprio poder vital, o Sol é um regente
apropriado para Leão. Mas, no esquema dos doze olímpicos
mencionado pelo poeta romano Manílio, "Jove, com a Mãe dos Deuses,
é o senhor de Leão"203. Na maior parte das mitologias, o rei dos deuses
é um arquétipo do princípio de consciência concentrada — de forma
que é apropriado que Jove ou Júpiter reja Leão, assim como a
consciência deve reger o instinto. Mesmo hoje, com freqüência
pensamos nas pessoas de Leão como joviais, que transmitem muita
alegria e companheirismo.
A referência à Mãe dos Deuses é um pouco mais difícil de
compreender. O historiador astrológico Rupert Gleadow achava que o
título devia referir-se à deusa Ártemis, da forma como era cultuada em
Éfeso, uma mãe divina com muitos seios204. Para nós, isso parece
bastante improvável, já que o culto à Ártemis Efesiana era restrito à
costa da Ásia Menor, especialmente porque a deusa Réia, segundo o
mitologista Karl Kerenyi, era chamada "mãe dos deuses"205. A esposa
de Cronos (Saturno), Réia, deu à luz Zeus, Posídon, Hades, Hera,
Deméter e Héstia. Seu nome parece ser o título sob o qual a Grande
Deusa era conhecida
na ilha de Creta,
embora não esteja
claro o motivo pelo
qual ela poderia ser
associada a Leão206.
Talvez valha a pena
notar que outra forma
da Grande Deusa, a
Ishtar babilônica,
tinha o Leão como
um de seus animais
simbólicos e, com
freqüência, é
retratada montada
nas costas de um.
Joseph
202. Bord, Janet & Colin, Earth Rites, Londres, Paladin, 1982, pp. 159-63; e Margaret
Murray, The God of the Witches, Nova York, Oxford University Press, 1970, pp. 162-
71.
203. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid, p. 80.
204. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid., p. 8.
205. Kerenyi, Karl, The Gods of the Greeks, ibid., p. 82.
206. Graves, Robert, The White Goddess, ibid., p. 85.
A deusa Réia
Um desenho do século XIX de Cibele, segundo a estátua original
no Museu Britânico
Campbell afirma que a deusa Cibele, mãe do morto e ressuscitado Átis,
era conhecida como Mãe da Montanha, ou Mãe dos Deuses, e
identificada com Réia. Seus locais de adoração eram montanhas e
cavernas e seus animais eram os leões207.
Outro personagem leonino da mitologia grega é Atalanta, filha de
Iaso. Seu pai, amargamente desapontado por ela ser uma menina,
abandonou-a no alto de uma montanha. Foi criada por uma ursa na
floresta (presumivelmente Ártemis na forma de um de seus muitos
totens animais) e desenvolveu assim habilidades atléticas e de caça
superiores às de qualquer outro mortal na Terra. Ela acompanhou Jasão
no Argo, tomou parte na caçada do javali de Calidonte e era uma
perigosa adversária em qualquer acontecimento esportivo. Não gostava
muito de homens como consortes, embora apreciasse tê-los como
competidores no esporte. Mesmo quando era desafiada pelos melhores
atletas, sempre se igualava a eles ou os superava, especialmente na
caça. Muitos pretendentes pediram sua mão, de forma que ela imaginou
uma competição que sabia poder vencer, prometendo que, se alguém
fosse capaz de vencê-la em uma corrida a pé, ela o tomaria como
esposo. Muitos tentaram e falharam, até que um dia veio Melânio com
um plano para derrotá-la. Colocou três maçãs de ouro ao longo do
percurso da corrida e Atalanta teve de diminuir sua velocidade para
poder apanhá-las, o que trouxe sua derrota. Casou-se com Melânio, teve
um filho e, em uma das versões do mito, ambos foram transformados
em leões por causa de uma afronta feita a Zeus208. Competitiva e
competente nos esportes como Atená e Ártemis, deusas associadas aos
outros signos de fogo (respectivamente, Áries e Sagitário), Atalanta
representa o tipo de Leão ardoroso, independente e muito habilidoso,
para quem o atletismo, os jogos e a aventura são fascinantes.
Muitas de nossas associações mitológicas com Leão referem-se a
reis e rainhas, heróis e heroínas, que dominam os animais selvagens e
representam a intrepidez e a coragem. Dessa forma, a sabedoria em
Leão está ligada, em primeiro lugar, à capacidade da pessoa de levar a
melhor sobre a fera ou inimigo e, em segundo, de proteger sua cria ou
reino desses inimigos. Nos tempos antigos, os reis e líderes tribais
tipicamente atingiam a posição de governantes porque demonstravam
uma força tão poderosa e de tão grande domínio sobre os que os
desafiavam que seus súditos ficavam admirados com suas habilidades
(como no caso de Napoleão, um leonino, cujo nome significa
literalmente "O Leão"). Eram grandes guerreiros e, quando vinham
exércitos inimigos
207. Campbell, Joseph, The Mythic Image, Princeton, NJ, Princeton-Bollingen, 1982,
p. 40.
208. Hamilton, Edith, Mythology, Nova York, New American Library, 1969, p, 177.
Leões em Delos, fotografia de Ariel Guttman
desafiá-los, defendiam o reino mostrando seu poder — ou eram
derrotados e renunciavam à sua posição em favor do novo guerreiro
vitorioso. Mesmo hoje, é comum fazer de nossos heróis militares nossos
líderes; porém, isso felizmente é mais comum nas ditaduras militares do
que em democracias. Assim, o segundo estágio do fogo (Leão) liga-se
ao primeiro (Áries): o guerreiro (Áries) se torna rei (Leão). O rei era o
personagem mais onipotente do lugar e seus casamentos eram
cuidadosamente escolhidos para manter pura a linhagem de seus
descendentes. Os egípcios mantinham estritamente essas práticas e
criaram, além disso, testes contínuos ou iniciações para os príncipes e
princesas reais de forma que, mesmo quando não eram confrontados por
um exército invasor vindo de fora, tinham de passar por testes
periódicos para certificar que os governantes mantinham uma natureza
interior limpa e pura, como instrumentos afinados de Deus. De fato,
acreditava-se que os faraós eram deuses.
Os gregos não eram tão cheios de hubris quanto os egípcios; seus
deuses sempre residiram acima da humanidade, no alto de uma
montanha, e quando se acasalavam ou se misturavam com humanos, era
por vontade do próprio deus. Os gregos tinham seus heróis valentes e
poderosos, como Hércules, cujos doze trabalhos são reminiscentes do
progresso do Sol pelo zodíaco. Um herói deve mostrar seus poderes em
situações aparentemente impossíveis, mas esse guerreiro não era feito
rei. Seus reis eram pessoas que personificavam a sabedoria e a
inteligência política. Nossos "reis" e líderes modernos são indicados ou
eleitos porque têm mais riqueza e assim, aparentemente, o maior poder.
O Sol e Júpiter presidem sobre Leão, mas há também uma estrela
muito brilhante na constelação de Leão que ajuda a dar a esse quinto
Ramsés II oferece flores à deusa Sekhmet
estágio da mandala astrológica muito de seu caráter. Essa estrela é
chamada Regulus, o coração do Leão. Para os antigos, essa estrela era
um dos "vigias do horizonte", pois faz parte de um grupo de quatro
estrelas que subiam nos equinócios e solstícios na Babilônia (as outras
eram Antares, Aldebaran e Fomalhaut). No zodíaco sideral babilônico,
Regulus era a estrela do solstício de verão — a época do ano de máxima
força solar, daí a associação com Leão, o Sol e o fogo fixo. Na
experiência cósmica, Leão é o "domador da fera" ou o "rei da
montanha". Na experiência humana, esses líderes solares fogosos e
vivazes com freqüência despertam temor e inveja. A associação entre
uma pessoa e sua progênie é normalmente representada na astrologia
por Leão ou a Quinta Casa. Como se fossem reis e rainhas criando
perfeitos puro-sangues, Leão mantém olhos vigilantes e protetores
sobre seus filhos. Já viu um Leão protegendo seus filhotes? Quer
estejamos falando de filhos reais, físicos, ou de filhos da mente e do
espírito, as criações de Leão são réplicas de seu "Eu" e, como tal,
merecem um lugar elevado em sua vida. Essa qualidade aparece com
mais força com um Sol ou Lua em Leão; com Leão em ascensão, os
nativos estão numa missão para desenvolver sua natureza real. Por isso,
freqüentemente se encontram em situações de liderança, seja por
escolha ou indicação.
Em Câncer, a figura principal é a mãe; em Leão, é o pai: isso se
deve às respectivas regências da Lua e do Sol. Encontraremos uma forte
ligação com o pai novamente em Capricórnio. Todos esses pais têm
natureza diversa. Em Áries, o pai era uma fonte primordial original e
talvez um competidor, ou mesmo um tirano a ser derrubado. Em Leão,
trata-se dos aspectos do pai que têm uma ligação íntima, pessoal, de
coração, com o filho. Em Capricórnio, o pai representa a conexão pai/
filho exterior, pública, baseada na necessidade de aprovação. Leão e o
Sol são associados a heróis masculinos, solares, que é com freqüência a
forma como o pai é visto pelo filho pequeno. Historicamente, essa
ligação entre pai e filho atingiu um de seus pontos mais baixos durante
a era de Plutão em Leão (1939 — 1957) e especialmente em 1947/48,
quando Saturno e Plutão entraram em conjunção nesse signo. Essa é a
geração que cresceu psicologicamente sem pai. Mesmo quando o pai
não estava trabalhando ou não havia abandonado fisicamente a família,
uma sensação de abandono emocional acometeu essa geração, que na
maioria se tornou "superpais" para seus rebentos. Os tipos leoninos
nessa geração são com freqüência bastante diferentes do Leão familiar,
exuberante, entusiástico, descrito nas colunas de jornal. A vitalidade
interior tem o brilho escuro e misterioso do reino subterrâneo de Plutão
e não o calor do fogo solar. Esses Leões são como sóis subterrâneos,
poderosos e meditativos. Mick Jagger, com muitos planetas (incluindo
Plutão e o Sol) em Leão é um bom exemplo da união do Sol e de Plutão
nesse signo.
Na era de Netuno em Leão (década de 1920), a arte, os filmes e a
música (domínios regidos por Netuno) produziam formas dinâmicas de
entretenimento. O mundo dos investimentos (ações, hipotecas e
commodities são regidos por Leão) que se construíra com base nas
ilusões e fantasias netunianas de riqueza e poder na ganância
repentinamente dissolveu-se em 1929 com o "crash".
Quando o próprio Sol está em Leão, é a definição da
individualidade da pessoa e a paternidade ou as qualidades vivificantes
motivadoras. A Lua, como sempre, concentra-se naquilo que nos faz
sentir tranqüilos ou seguros; assim, a Lua em Leão tira seu sustento dos
dias de sol, preferencialmente quando passados com algum
relacionamento sincero — um amante ou filho. Essas pessoas podem
centrar-se e sentir-se bem-dispostas com esportes competitivos,
criatividade pessoal ou alguma arte performática. Sentem-se também
rejuvenescidas cuidando de si mesmas — comprando roupas, jóias ou
cuidando de suas jubas.
Mercúrio em Leão pode trazer habilidades criativas no campo da
escrita ou da oratória, enquanto Vênus mais freqüentemente inclina sua
criatividade para as artes do desenho. Marte, como vimos, deve servir
ao rei interior para poder se expressar de forma positiva e, em Leão,
Marte é o signo do próprio rei solar. Na melhor das hipóteses, a
consciência concentrada dirige o indivíduo e os objetivos são
facilmente alcançados, mas sem direção própria esses nativos podem
dispersar sua energia perseguindo objetivos ilusórios. Assim, muitas
dessas pessoas podem seguir uma carreira em particular "pelo
dinheiro", mas
Um baralho de Tarô francês do século XIX mostrando a Força
segurando a boca de um leão
seu coração (o Sol) não está ali. Por isso, estão sujeitos a ataques
cardíacos ou mesmo à morte prematura.
Ceres em Leão pode ser realmente o superpai; há uma inclinação
para projetos criativos e trabalhos manuais e, novamente, habilidades
para o drama ou outras artes. Palas Atená possui um talento para a
liderança com uma energia "menina do papai" por trás dele. Juno em
Leão é devotada a idéias românticas, enquanto Vesta traz tanto a
criatividade quanto a procriação.
Júpiter em Leão é o líder arquetípico cujo poder e autoridade se
estendem a todos os aspectos da vida. Júpiter gosta de administrar seu
próprio cosmo, particularmente no signo dos soberanos, em que
prevalece sua luta para permanecer autônomo. Saturno em Leão é
desafiado com a tarefa de sacudir o jugo da subserviência, mas também
por tomar a responsabilidade sobre suas ações. Essas pessoas podem
renegar o coração no processo de aquisição material, e estão sujeitas,
como Marte em Leão, a problemas cardíacos e, principalmente,
amargor e ressentimento. Devem realmente aprender a abrir o coração,
especialmente para si próprios. A posição de Quíron em Leão ou na
Quinta Casa
ajudará a curar o coração, o que se faz especialmente através do
reconhecimento dos relacionamentos pessoais mais próximos.
Um Urano na Quinta Casa remexe os fluidos criativos; pode
produzir um artista supremo ou — aqui, na casa de seu detrimento —
um supremo egomaníaco. Cuidado com crianças incomuns em sua vida
se você tiver Urano aqui no momento do nascimento! Netuno na Quinta
Casa concentra a típica criatividade dessa casa, especialmente em
termos de atuação, pintura ou música. Plutão na Quinta, se afligido,
pode trazer a "falta de pai" geracional, que discutimos anteriormente,
para uma posição importante na vida do indivíduo; pode também
desafiar o nativo a usar sua criatividade de um modo socialmente útil.
Já mencionamos a ligação de Leão com o coração na astrologia
médica e sua relação com o sol como "coração" de nosso sistema solar.
No corpo humano, o coração representa a função vital da vida. No
sistema dos sete chakras, o chakra do coração está localizado
estrategicamente no centro, fornecendo o elo vital entre os três chakras
inferiores que representam a natureza instintiva ou animal e os três
centros superiores que representam a natureza divina. O centro do
coração, ou humano, permite ao indivíduo combinar essas duas
naturezas e encarar o mais difícil dos desafios — o de manter o coração
aberto e afetuoso na contínua novela chamada vida. A força vital, ou
kundalini, flui por esse conduto e, quando está fluindo livremente, cria a
harmonia interna e a energia vital. Na tradição astrológica esotérica,
diz-se que o glifo de Leão (E) representa esse poder kundalini quando
começa a se desenrolar após seu sono na base da espinha (ver
Escorpião). Um dos maiores assassinos da humanidade ainda é a doença
cardíaca, que surge quando os caminhos que levam ao coração foram
obstruídos por alguma razão. Numa sociedade altamente tecnológica,
em que a liderança de um homem é medida por sua riqueza e seu poder,
o preço freqüentemente é o coração humano. Nessa fase de nossa
evolução pessoal e planetária, o coração é o que mais carece de
desenvolvimento e, conforme a Era de Aquário firmemente se enraiza
na consciência do planeta, a função deste signo de polaridade, Leão,
será assegurar que assim seja.


Ísis, freqüentemente associada ao signo de Virgem
VIRGEM, a Virgem
SIGNO: Virgem, o 6º Signo Zodiacal
MODO: Mutável - ELEMENTO: Terra - REGENTE: Mercúrio
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Core (Perséfone) - Deméter
(Ceres) - Astréia - Ísis - Maria - Quíron - Héstia (Vesta) - Ártemis
Virgem, junto com Touro,
tem as mais ricas associações
místicas dentre todos os signos.
Para os gregos e romanos,
Virgem era associada à deusa
Astréia, símbolo da justiça. Ela
reinava sobre a terra durante a
Era Dourada (ver Saturno).
Quando a humanidade declinou
para seu atual estado de
corrupção, ela retirou-se do
mundo, desgostosa, fixando-se
nos céus, onde ainda pode ser
vista segurando a balança da
justiça (Libra), formando assim
uma unidade integral com o
signo seguinte209.
Porém, o mito mais
associado a Virgem sempre foi
o de Deméter e Perséfone, pois Virgem rege a estação da colheita,
quando Perséfone está se preparando para deixar o mundo e voltar à
escuridão. Contamos essa história com mais detalhes no capítulo sobre
209. Gleadow, Rupert, The Zodiac Revealed, ibid, p. 89.
Cabeça de Deméter com seus atributos: feixes de milho, papoulas e cobras.
Ilustrado por Diane Smirnov a partir de uma fotografia do baixo-relevo
original de terracota do Museu das Termas, Roma, Itália
Ceres, e vale a pena mencionar que o glifo de Virgem representa a
deusa da colheita com grãos na mão — só pode ser Deméter (Ceres).
O fato de que Deméter regia Virgem no esquema dos doze olímpicos
prova que os antigos também associavam o signo a esse mito em
particular210. O ciclo das estações sempre foi simbolizado, no mito,
como um drama cósmico envolvendo a terra-mãe e seu filho. Com
muita freqüência, o filho é um menino, e é amante da mãe-terra, além
de seu filho. Como vimos, o consorte da Grande Deusa tem seu
período de fertilidade, seguido pela morte simbólica e a jornada pelo
mundo subterrâneo. O signo de Virgem sempre foi associado a esse
mito, mesmo porque a virada das estações — do verão para os dias
frescos do outono que precedem o inverno — ocorre durante o mês
de Virgem. No mito de Perséfone, porém, ambas as figuras-chave —
mãe e filho — são femininas. Para os egípcios, Virgem era a deusa
Ísis com o filho do Sol, Hórus, no colo. Os cristãos medievais viam
essa mesma constelação como a Virgem Maria carregando o menino
Jesus; e isso está correto, pois a história cristã é simplesmente a
versão mais recente do mito da Grande Deusa e seu filho
moribundo211. Vivemos numa era astrológica permeada
210. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid., pp. 80-1.
211. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 122-3.
desse mito, pois Peixes, sol) mínios aspectos, é o deus moribundo,
enquanto seu signo oposto, Virgem, é a mãe. Quando Michelangelo
esculpiu a Pietá, criou a imagem mítica para todo um ciclo da
história212.
Se examinarmos as associações simbólicas de Virgem, um tema
particular emerge. Virgem trata da transformação da personalidade de
um estado infantil ou virginal para uma individualidade mais sábia e
madura, representada pela fruição da colheita. E, ao considerar o
lugar de Virgem no ciclo sazonal, concluiremos, como Rudhyar, que
essa transformação pessoal deve ocorrer para que possamos nos
reorientar para interesses universais, e não mais pessoais — pois
Virgem é o último signo da metade pessoal do zodíaco, em que
predomina a força do dia213. Essa transformação nos leva a realizar
algum tipo de serviço dedicado aos outros; por isso, Virgem é
freqüentemente chamado signo do serviço. Tanto a transformação
quanto o serviço, simbolicamente falando, devem ocorrer no nível
físico, porque Virgem é, afinal de contas, um signo de terra, e por
isso se acredita que Virgem diz respeito especialmente à saúde e que
tipos de Virgem são com tanta freqüência encontrados entre
enfermeiras, terapeutas, quiropráticos e curandeiros do mundo.
Personificação de Mercúrio, regente de Virgem, do Le grant kalendrier des
bergieres, de Nicolas Le Rouge, Troyes, 1496
212. Greene, Liz, The Astrology of Fate, ibid, pp. 257-65.
213. Rudhyar, Dane, The Pulse of Life, ibid., pp. 65-73.
Mas, muitos textos astrológicos ainda apresentam a imagem
mencionada de Virgem como um potencial não realizado — se é que o
mencionam. Em geral, o tipo de Virgem ainda é representado como
frio, irrequieto e analítico. Por quê?
Tradicionalmente, Virgem é regido pelo planeta Mercúrio. Esse
planeta é excessivamente mental e do reino do ar, sendo o arquétipo da
própria mente racional (ver Capítulo Três, "Mercúrio"). Mercúrio fica à
vontade em domínios puramente intelectuais; ou seja, em signos de
ar. Fica um tanto
desarmonizado com o
prático elemento terra. O
intelecto de Mercúrio
aplicado ao nível "terreno"
da existência humana pode
produzir um excelente
relojoeiro, dentista ou outro
técnico, mas o calor e a
naturalidade da terra são um
pouco sufocados pela visão
cerebral de Mercúrio, e por
isso virginianos são taxados
de frios, analíticos e assim
por diante.
Muitos astrólogos
questionaram essa visão
estreita de Virgem, e com
razão. Alguns chegaram
mesmo a afirmar que
Mercúrio não é um regente
apropriado para esse signo e
sugeriram outras
possibilidades entre os
asteróides ou planetóides —
principalmente Quíron,
Ceres e Vesta214.
Barbara Hand Clow*
sugeriu o centauro Quíron
como regente de Virgem
devido a seus dons de cura
altamente desenvolvidos e
seu
214. Clow, Barbara Hand, Chiron: Rainbow Bridge Between the Inner & Outer
Planets, ibid; e George, Demetra, Asteroid Goddesses, ibid.
*. N. do E.: De Barbara Hand Clow, sugerimos a leitura de A Agenda Pleiadiana —
Conhecimento Cósmico para a Era da Luz e Catastrofobia, ambos lançados pela
Madras Editora.
A Virgem Maria com o Menino Jesus — um
dos símbolos de Virgem. Fotografia de Ariel
Guttman
conhecimento do corpo
humano21*. Embora não
haja um acordo definitivo
sobre quais figuras
pertencem a cada signo,
há uma concordância em
dizer que as quatro deusas
dos asteróides e Quíron
são arquétipos que
expandiram muito os
relacionamentos míticos
entre signos e regentes na
astrologia e, ao ser
adicionados, cumpriram o
papel de peças necessárias
ao quebra-cabeças, até
então faltantes.
Como observamos,
Mercúrio não se encaixa
bem no arquétipo de uma
Deusa Virgem. Mas, o
argumento em favor dele
pode ser visto nas
capacidades analíticas de
Virgem. Como vimos, o
estágio representado por Virgem na seqüência zodiacal diz respeito ao
estágio final ou mais aflorado do desenvolvimento individual antes que
se atinja o primeiro estágio do desenvolvimento coletivo em Libra. Por
isso, o processo de Virgem envolve o rompimento de todo o organismo
em pedaços para que ele possa assimilar e guardar o que é útil para o
estágio seguinte, ou determinar o que não mais pode servir para o
organismo em desenvolvimento e mandar aquilo para Escorpião para
que seja eliminado. Tudo isso demanda discernimento, que é o traço
glorificado de Virgem, e Mercúrio, nosso jovem mentalmente hábil,
tem o equipamento certo para ajudar nesse processo.
Mercúrio, porém, é em si um símbolo complexo. Pois, embora os
gregos e romanos conhecessem essa divindade principalmente como
mensageiro dos deuses, e por isso um arquétipo do intelecto
comunicativo, os alquimistas medievais viam Mercúrio como um
símbolo de transformação espiritual. Para eles, Mercúrio (ou, mais
apropriadamente, Mercurius) era ao mesmo tempo masculino e
feminino, um espírito
215. Clow, Barbara Hand, Chiron: Rainbow Bridge Between the Inner & Outer
Planets, ibid.
Uma cabeça de Ártemis, outra possível
associação para Virgem, do século XIX,
segundo uma cópia romana do original grego
andrógino que simbolizava a vitalidade interior inerente a todas as
coisas viventes e físicas — o espírito vital interior da terra. Por isso
Mercúrio era o agente que transmutava, ou transformava, a realidade
física terrena em algo maior do que ela própria — pois o despertar desse
espírito vital tornava o corpo terreno ou veículo físico uma totalidade,
uma unidade de masculino e feminino, uma síntese dos quatro
elementos216. Esse Mercurius medieval é um símbolo adequado para
Virgem. Este é um signo feminino e o Mercurius alquímico é um ser
andrógino, incluindo tanto o feminino quanto o masculino (e de fato, a
androginia de algum tipo é com freqüência atribuída aos nativos desse
signo). Mercurius é também o espírito que efetua a mudança ou a
transmutação, e Virgem é um signo mutável. A matéria a ser
transmutada é, de acordo com os alquimistas, "chumbo" ou "terra", ou
seja, realidade física ou o corpo humano. O tema está perfeitamente de
acordo com o aspecto mais elevado de Virgem — transmutação do
elemento terrestre
numa unidade, uma época de
colheita do espírito humano
realizada através do corpo.
Por isso, tipos de Virgem, na
melhor das hipóteses,
transformam seu próprio
corpo e mente por intermédio
de dieta, ioga ou outras
técnicas, de forma que
conseguem atingir o tipo de
completude necessária para
realmente ajudar ou servir os
outros. Concentramo-nos no
lado negativo de Virgem por
tempo demais — talvez
porque vivemos atualmente no
final da polaridade virginiana
da era de Peixes. Como
vimos, os autores da Lenda do
Graal — contemporâneos dos
alquimistas — estavam
conscientes do fato de que
nossa civilização tendia para o
aspecto mais negativo e
excessivamente analítico de
sua polaridade virginiana
216. Jung, Carl G., Alchemical Studies (Collected Works, vol. 13), ibid, pp. 191-250.
Ártemis ou Diana
(ver Capítulo Vinte, "Os Elementos", especialmente a seção "Água").
Conforme lutamos para limpar e curar um planeta ameaçado pelos
excessos da civilização que substituiu o espírito pela ciência "pura",
também descobrimos que é necessário redefinir a polaridade virginiana
de nossa história e cultura, para moldarmos um arquétipo de cura em
vez de um arquétipo de lógica dura e fria.
Para os antigos, havia sete planetas (cinco planetas, mais o Sol e a
Lua) que regiam os signos zodiacais, mas, como há doze signos, alguns
tinham de dividir a regência planetária. Essa situação criou uma
mandala zodiacal de "Casas do Dia" e "Casas da Noite", na qual
Gêmeos era a casa do dia de Mercúrio e Virgem sua casa da noite (ver
capítulo Dezenove, "O Zodíaco"). Esses dois signos "estão em
quadratura" na roda, e por isso se diz que agem num comprimento de
onda diferente. A associação de Mercúrio com Gêmeos parece bastante
adequada, já que ambos os signos retratam arquétipos jovens, aéreos,
inclinados à exploração e à pesquisa curiosa. Em Gêmeos, a função de
Mercúrio é obter informação, não importa qual. Já em Virgem, a função
de Mercúrio é fazer algo com essa informação. Na verdade, há dois
processos em andamento em Virgem. Os virginianos muito mentais
lidam com a informação e os dados muito bem e preocupam-se com os
contínuos desafios da mente. Esses são os tipos de Mercúrio. Mas, o
outro tipo de Virgem trata do reino da terra (pois Virgem é um signo de
terra) e esses virginianos estão preocupados principalmente com o
corpo da terra ou seu microcosmo, o corpo humano. É aqui que tanto
Ceres quanto Quíron brilham, e compartilham do amor de Virgem por
cuidar do próprio corpo, assim como do corpo do planeta, a Terra. Um
arquétipo adicional que vale a pena ser considerado aqui é Ártemis,
protetora do parto, dos pequenos animais e amante da natureza, todos
domínios de interesse para Virgem.
Em Virgem, atingimos o terceiro aspecto da Grande Deusa, após
tê-la encontrado em Touro e em seguida em Câncer. Em Touro, ela era
celebrada com uma barriga redonda e grandes seios, como doadora da
vida. Em Câncer, sua ligação com o filho, ou seja, o relacionamento
mãe-filho, era venerado. Aqui em Virgem, no terceiro estágio, Deméter
deve sacrificar sua filha para outro mundo, e assim testemunhamos o
primeiro estágio do corte do elo entre mãe e filho, para que o filho
possa entrar em novos reinos. Na versão da Mãe e do Filho sagrados do
rompimento desse elo tão importante no cristianismo, o filho é
sacrificado ao reino coletivo espiritual de Peixes, onde finalmente se
reúne ao pai. Esse, como vimos, é o arquétipo da polaridade
Virgem/Peixes, a fase final do que a humanidade está vivendo
atualmente. O domínio que entrou no mito de Deméter/Perséfone é
Escorpião, o quarto estágio do poder feminino, quando Core se torna
Perséfone e quando uma mulher é iniciada em seu próprio reino de
poder independente de sua
mãe, no qual pode atingir a condição de anciã. Mas, o mais importante
aqui é que os arquétipos dessa história são importantes tanto para
Virgem quanto para Escorpião, e que os dois signos representam
imagens refletidas um do outro.
O virginiano necessita ir ao mundo subterrâneo e fazer a
transformação necessária em Escorpião, assim como Escorpião precisa
sair do mundo subterrâneo e participar do reino terrestre. O
compartilhamento desses elementos é importante na vida de ambos os
signos. O corpo e o cérebro humanos devem, com freqüência, prepararse
para uma abrupta depleção, mas não podem continuar assim.
Virginianos viciados em trabalho, com freqüência, encontrarão uma
crise que os forçará a alterar a rotina, reinterpretando o mito de
Perséfone por meio de uma crise e retirando-se para as frias e escuras
profundezas de seu mundo subterrâneo pessoal, onde a cura é possível.
Até mesmo os glifos de Virgem e Escorpião são semelhantes, sendo que
o de Virgem é virado para dentro e representa a força yin, enquanto o de
Escorpião é virado para fora e simboliza um aspecto mais yang. Em
qualquer dos casos, a história de Perséfone forçou os regentes de
Virgem e Escorpião (Ceres e Plutão) a um compromisso libriano (o
signo que separa Virgem e Escorpião), que deveria ser justo e correto
para todos os envolvidos.
No corpo humano, Virgem rege os órgãos digestivos e, de acordo
com sua associação com a estação da colheita e a fase final da
experiência individual, é um ponto de virada importante em nosso
esquema de doze partes. Ao tentar digerir o processo vital e os cinco
estágios anteriores de desenvolvimento individual que levaram a
Virgem, os virginianos são constantemente lembrados de que seus
órgãos físicos são sensíveis e vulneráveis e devem ser mantidos na
melhor forma possível. Enquanto outros signos podem ficar tranqüilos
comendo de tudo sem prestar atenção à saúde, os virginianos pagam
caro por isso, principalmente se a Lua, Ceres, Saturno ou Vesta
estiverem em Virgem no momento do nascimento.
Aqueles que têm o Sol em Virgem naturalmente concentram sua
atenção na sintonia fina do corpo, mente ou espírito, resultando em um
poderoso senso de devoção que se esforça para criar um mundo
perfeito, com tudo em seu lugar. Pessoas com a Lua em Virgem podem
achar difícil cuidar de si próprios — estão muito ocupados consertando
tudo e todos que os rodeiam. Precisam apreciar suas próprias
realizações ou, melhor que isso, ser capazes de rir de seus próprios
erros.
Pessoas com Mercúrio em Virgem também vão querer consertar
tudo em torno deles e usar sua capacidade analítica para compreender
como tudo no mundo funciona. Nativos com Vênus em Virgem
certamente se regozijam com seu trabalho, de forma que para eles é
extremamente necessário encontrar trabalho em que realmente tenham
prazer. Também acrescentam o elemento de cor e beleza ao signo do
trabalho manual refinado. Marte em Virgem combina a perseverança
física e a coragem de Marie com o signo que rege a saúde física. Assim,
cuidados com o corpo e realizações atléticas (talvez musculação) serão
atraentes. Além disso, dada a tradicional regência de Marte sobre o
ferro e outros metais, os tipos com Marte em Virgem são, normalmente,
excelentes mecânicos.
Os asteróides Ceres, Palas, Juno e Vesta foram todos sugeridos
como regentes de Virgem; portanto, é provável que eles todos
expressem sua natureza de forma mais eloqüente aqui, mas Ceres e
Vesta parecem encaixar-se no arquétipo de Virgem particularmente
bem. Como já observamos, Virgem é a regência mais provável para
Ceres, dando ao indivíduo dedicação, honestidade e integridade. Aqui,
ela é altamente devotada aos trabalhos que realiza e com o efeito que
esse trabalho tem sobre os outros. Palas Atená muito provavelmente
usaria sua ingenuidade e habilidade de modo aplicado, talvez fiando,
costurando, fazendo estampas, etc, ou trabalharia por um fim social que
estaria entre o glorioso e o obsessivo. Não vamos esquecer que Juno
relaciona-se ao ritual do acasalamento e, em Virgem, ela tentará
melhorar seus relacionamentos. Vesta em Virgem também deve ser
exaltada: a consciência concentrada marca um conduto para que o
espírito e o corpo se encontrem.
A consciência social de Júpiter pode preocupar-se obsessivamente
com a forma e o sentido exato de suas realizações e não com o espírito,
embora seja certo que haverá realizações mundanas, e em abundância.
Saturno em Virgem ou na Sexta Casa tende a ser tradicionalista em
muitas coisas, embora seja certamente produtivo, já que Saturno é um
planeta de terra e Virgem um signo de terra. Quíron foi indicado para a
regência de Virgem e certamente exerce uma influência poderosa
quando está nele ou na Sexta Casa, embora possa formar tanto um
curandeiro quanto um hipocondríaco. O poder rebelde de Urano fica
um tanto abafado na Sexta Casa, embora suas características científicas
ou inventivas permaneçam as mesmas. Netuno é um detrimento
acidental na Sexta Casa: a saúde (física ou emocional) é com freqüência
um problema aqui, embora esses problemas possam produzir um nativo
com um senso de ordem e precisão tão desenvolvido que impede
qualquer relaxamento ou ócio, embora isso também ajude o nativo a
concentrar-se em um objetivo particular.
Uma das maiores conjunções planetárias de nosso tempo ocorreu
em Virgem: a conjunção de Urano e Plutão durante os turbulentos e
revolucionários anos da década de 1960. Esse foi um período
fundamental para a humanidade, pois esses planetas estavam, pela
primeira vez desde a Revolução Industrial, desafiando os sistemas que
haviam sido estabelecidos naquela época. De fato, somos governados
pela conjunção desses dois planetas em Virgem até que ocorra a
próxima conjunção — e isso não acontecerá até o final do século XXI.
A
conjunção em Virgem foi um aviso de que os recursos da terra estavam
sendo rapidamente exauridos e medidas drásticas precisam ser tomadas
para reverter o processo. Sem dar atenção ao aviso, continuamos a
abusar da terra até que Urano fez a primeira quadratura com essa
conjunção em Sagitário no meio da década de 1980, e o mundo foi
novamente lembrado e finalmente começou a escutar. Esse processo é
reminiscente da história de Deméter, a mãe-terra que, em meio à
lamentação por sua perda, recusou-se a deixar verde a terra. Como
Plutão, a sombria figura do subterrâneo, a tecnologia e a ganância
violentaram a mãe-terra e, até que ela seja reabastecida ou justiçada,
poderemos encarar uma crise maior do que suspeitamos.


LIBRA, a Balança
SIGNO: Libra, o 7º Signo Zodiacal
MODO: Cardinais - ELEMENTO: Ar - REGENTE: Vênus
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Hefesto (Vulcano) - Maat
(Egípcio) - Hera (Juno) - Pala Atenas (Minerva) - Páris, o
príncipe troiano - Eros e Psiqué
Libra constitui um certo
enigma, já que parece ter sido
adicionada ao zodíaco em uma
data um tanto tardia. Os
primeiros zodíacos babilônicos,
por exemplo, contêm apenas
onze signos: a constelação a que
chamamos Libra era conhecida
como as pinças do escorpião,
portanto parte de Escorpião, e
não um signo separado. Os
gregos viam esse grupo de
estrelas como a balança trazida
por Astréia, deusa da justiça
(ver Virgem); aqui, ela está
ligada a Virgem, e não a Libra,
mas começando a assumir o
simbolismo que nos é
familiar217.
Mas, se Libra era
desconhecida dos babilônicos, era conhecida dos egípcios. Como
vimos, os egípcios consideravam a ascensão noturna dos signos, de
forma que Libra ascenderia durante o mês de Áries. Essa é a estação da
Páscoa — e, antes que houvesse uma Páscoa, havia os antigos festivais
217. Gleadow, Rupert, The Zodiac Revealed, ibid, p. 100.
de Ano-novo associados ao equinócio de primavera. Assim, os egípcios
conheciam Libra como Chonsu, a Criança Divina que simbolizava o
nascimento do Ano-novo, que trazia o símbolo da lua nova na cabeça e
cujo nome significa "viajante dos
céus noturnos"218. Nossas próprias
associações com Libra, porém, vêm
de sua posição no equinócio de
outono, e não no da primavera.
Sendo os pratos da balança,
Libra é o único símbolo
representado por um instrumento, e
não por uma figura humana ou
animal. Talvez seja por isso que, no
esquema dos doze olímpicos, Libra
fosse atribuída a Hefesto (Vulcano),
o ferreiro ou divino artesão dos
deuses219. Uma análise racional
melhor para a regência de Hefesto
sobre Libra pode residir nas
peculiares circunstâncias de seu
nascimento. As regências olímpicas
foram arranjadas em pares de
opostos masculinos e femininos;
isso liga Hefesto a Atená, a regente
olímpica de Áries. Ambas as
divindades nasceram de um único
genitor. Atená, como já dissemos,
nasceu da cabeça de seu pai Zeus
sem intervenção feminina. Outra
tradição mitológica afirma que
Hefesto nasceu de Hera sem
participação masculina. A filha,
Atená, é apenas do pai, enquanto o
filho, Hefesto, nasceu magicamente
da mãe. Talvez seja por isso que os
astrólogos contemporâneos ligam os
asteróides Palas Atená e Juno
(Hera, mãe de Hefesto) a Libra.
Hefesto era marido de
Afrodite, embora não fosse
exatamente um casamento perfeito.
Mesmo
218. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid, pp. 123-4.
219. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid, pp. 80-1.
Maat, a deusa egípcia da lei,
ilustrada por Diane Smirnov
O deus egípcio Anúbis pesando as almas dos mortos. Ilustrado por Diane
Smirnov
assim, tanto Vulcano quanto Vênus, em uma época ou outra, foram
considerados regentes de Libra — e ambos já foram considerados
regentes de Touro também, pois muitos acreditam que o planeta
Vulcano, ainda não descoberto, é associado a Touro. Como eram
esposos divinos, podemos pensar que Vênus representa a anima de
Touro e Libra, enquanto Vulcano representa o animus. Assim como
com Virgem, houve outros deuses e deusas sugeridos para Libra, já que
esse signo, como Virgem, ainda precisa dividir sua regência.
A balança de Libra tem um significado profundo para os egípcios.
Diziam que, na hora da morte, a deusa Maat colocava a alma humana
em um prato e uma pena no outro. Se o prato se inclinasse, nem que
fosse de leve, a alma deveria reencarnar para perder o peso extra. Como
Libra vem logo antes de Escorpião, o signo associado à morte — que os
egípcios honravam em seus expressivos preparativos para a vida após a
morte —, o objetivo principal na vida era fazer com que os pratos se
equilibrassem ou preparar a alma para sua vida após a morte.
Não é sempre que vemos librianos modernos preocupar-se com o
peso de suas almas. Porém, os constantes atos de equilíbrio em que se
envolvem por causa de seus parceiros podem fazer com que seu peso
diminua. Os pratos de Libra estão constantemente pesando e medindo a
qualidade, a igualdade ou a justiça de seus atuais relacionamentos.
Como
A equilibrada capacidade de Atená de tomar decisões faz dela um arquétipo adequado
para Libra. Atená de elmo numa nota grega de 1978. Da coleção de
Michael A. Sikora
signo do equinócio de outono, Libra representa um momento de
transição no ciclo das estações. Os dias e noites têm igual comprimento,
de forma que as energias do "Eu" (dia) e a consciência do "outro" ou
humanidade coletiva (noite) permanecem equilibradas. A mesma
situação ocorre durante o equinócio de primavera no início do mês de
Áries, mas com uma diferença vital. Durante Áries, a força do dia está
ficando mais forte. Por isso, Áries representa uma individualidade
emergente destacando-se da humanidade coletiva. Em Libra, a força da
noite está aumentando, de forma que o simbolismo aqui mostra o
indivíduo que começa a reconhecer a necessidades dos outros, do
coletivo220. Assim, os pratos de Libra são normalmente menos
inclinados para o "Eu" e mais para os outros. E, embora os pratos
possam parecem um símbolo um tanto impessoal que associamos ao
casamento e ao companheirismo, eles simbolizam o equilíbrio de forças
que ocorre no equinócio.
O próprio glifo de Libra simboliza o equinócio. Algumas pessoas
imaginam que o símbolo (G) representa a viga de uma balança, embora
Cyril Fagan apresente um forte argumento, dizendo que o símbolo teve
origem no ideograma egípcio chamado akhet221. Esse ideograma
mostrava o nascer do sol, e seu significado era o horizonte ou o
ascendente. Em muitas culturas antigas, os equinócios e solstícios eram
determinados com base na observação do nascer do sol. Criaram-se
marcadores para medir com precisão os pontos de virada do ano; por
vezes templos ou complexos religiosos, como Stonehenge, eram
dedicados a esse fim.
Em astrologia médica, Libra rege os rins, o par de balanças no
corpo que regula e equilibra as funções do sistema interno. Como um
sistema de filtragem, os rins mantêm o corpo livre de substâncias
tóxicas
_________________________________________________________
220. Rudhyar, Dane, The Pulse of Life, ibid., pp. 73-9.
221. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., p. 124.
que poderiam causar sérios
problemas ao sistema. Isso não é
diferente da necessidade de Libra
de filtrar as experiências da vida, ou
dos relacionamentos pessoais, que
de outra forma poderiam ter
conseqüências similares.
Em Libra, ficamos
conscientes da necessidade de um
companheiro. Áries está ligado à
Primeira Casa da roda do
horóscopo, e a Primeira Casa,
relacionada a inícios, é com
freqüência chamada a casa do "Eu".
Iniciamos com a consciência de
nossa individualidade. Libra é o
sétimo signo, ligado à Sétima Casa
e, como oposto polar de Áries,
constitui o lugar mais distante do
"Eu" na roda, portanto imerso no
"outro". Essa casa sempre foi
conhecida como a casa do
casamento em astrologia
tradicional. Realmente, a primeira
recognição que nós, como
indivíduos, temos de uma estrutura
maior ou coletiva costuma ser a
recognição de nossa necessidade de relacionamento. Por isso, a
tradicional atribuição de signo do amor a Libra é bem fundamentada e
inteiramente em harmonia com um signo regido por Vênus. Mas essa
consciência do outro tem uma aplicação muito mais ampla, pois o
significado da palavra relacionamento não está restrito a
relacionamentos íntimos, de pessoa para pessoa. A qualquer momento
em que nós, como indivíduos, devemos reconhecer as necessidades dos
outros, ou iniciar qualquer tipo de relacionamento com outras pessoas, o
simbolismo de Libra e o equinócio de outono estão operativos. É por
isso que se diz que tipos de Libra têm dons de diplomacia e que Libra é
o signo da paz. Como conseguimos reconhecer as necessidades dos
outros numa escala verdadeiramente coletiva, tornamo-nos conscientes
da necessidade de criar a harmonia para a humanidade como um todo.
Esse é o simbolismo que reside na raiz do famoso idealismo de Libra
(como mostrado pelos nativos de Libra Mahatma Gandhi e Jimmy
Carter, dois pacifistas dedicados à resolução de conflitos). Embora o
libriano médio possa estar preocupado principalmente com
relacionamentos íntimos ou românticos, há sempre um senso de
finalidade mais elevada que permanece no fundo. Libra planta
Astréia (Justiça) com a balança.
Fotografia de Ariel Guttman
Detalhe de página mostrando o Julgamento de Páris, presumivelmente de Jost Amman,
da casa de impressão de Johann Feyerabend, Frankfurt, 1581
as sementes para uma visão mais ampla da humanidade, uma visão que
atingirá a fruição no próximo signo de ar, Aquário.
A Vênus ou Afrodite de Libra está muito distante da deusa mais
terrena de Touro. Em Touro, ela consentia no prazer sensual mais cru,
em que o erotismo era glorificado. A Afrodite de Libra é muito mais um
arquétipo de beleza estética — uma peça de museu, bela de ser
admirada, amável para flertar, empolgante para provocar e exigindo
elogios, mas quase impossível de ser tocada. E mesmo que Vênus,
como deusa do amor, se encaixe no signo do companheirismo, Libra, os
astrólogos contemporâneos vêm questionando sua regência desse signo,
quase tanto quanto questionam a regência de Mercúrio sobre Virgem.
Em particular, os asteróides Juno e Palas Atená foram sugeridos como
regentes de Libra.
Juno (Hera) presidia a instituição do casamento e era esposa de
Júpiter, o rei dos deuses. O casamento de Zeus e Hera é uma história de
lutas de poder no casamento e, realmente, se formos observar a história
do casamento, raramente ele dizia respeito ao amor. Historicamente, ele
ocorria com mais freqüência como uma situação arranjada por razões
políticas, sociais ou religiosas. O amor é uma adição relativamente
recente ao conceito de casamento, tendo aparecido pela primeira vez na
cultura ocidental durante a Idade Média na forma de romances como
Tristão e Isolda ou Lancelote e Guinevere. E nas classes superiores,
especialmente entre a realeza, o casamento ainda é arranjado. Embora
associemos Vênus, a deusa do amor, a Libra, esta se relaciona mais ao
casamento du que ao amor, como atestado pela própria Vênus em seu
casamento com Vulcano. Mesmo a união Juno-Júpiter, supostamente o
arquétipo do casamento, não retrata um estado muito feliz ou
equilibrado. De fato, uma interpretação moderna do romance de
Tristão e Isolda dá a entender que o verdadeiro romance não ocorre
nunca entre cônjuges!222 Juno, por sua regência sobre a instituição do
casamento e seu poder sobre o céu compartilhado com Júpiter, parece
um símbolo planetário adequado para Libra. Mas a vida de casada de
Juno era cheia de brigas, histórias de infidelidade, acessos de ciúme e
vingança sobre as amantes de seu marido. Com arquétipos como esse
para o casamento, não é de se espantar o estado dessa instituição!
Eros, filho de Afrodite
______________________________________________________________________
222. Johnson, Robert, We, Nova York, Harper and Row, 1983.
Em relação à regência de Falas Atená sobre Libra, sua sabedoria,
lógica, justiça e determinação equilibrada criam um símbolo adequado
para esse signo, especialmente os librianos que têm um excesso de ar e
preferem a lógica fria e isenta às confusões emocionais exigidas pela
maior parte dos relacionamentos. Mas como deusa virgem, Atená
repudiava os relacionamentos, e o lugar de Libra no zodíaco parece
vibrar de acordo com esse tema.
A idéia de Liz Greene de que o príncipe troiano Páris simboliza
Libra é também um interessante conceito a considerar223. Pediu-se a
Páris (como sempre se pede aos librianos) que fizesse um julgamento.
Esse julgamento era de um concurso de beleza em que as participantes
eram Afrodite, Hera e Atená, que reconheceremos como as três regentes
planetárias de Libra. Hera ofereceu a Páris "o mundo"; Atená, a posição
de líder e vitórias de um guerreiro poderoso; mas Afrodite, deusa do
amor e da beleza, ofereceu-lhe um presente em seu domínio e lhe
prometeu a mulher mais bela do mundo. Páris escolheu Afrodite, mas o
presente foi Helena (uma das quádruplas de Gêmeos), uma mulher
casada, e seu rapto deu início à Guerra de Tróia. Na vida de Libra há
com freqüência um conflito semelhante centrado no amor ou na beleza.
Uma correlação interessante aqui é que a cidade de Paris, conhecida por
seu gosto pelo amor e a beleza, sempre atraiu amantes para si e é
fortemente associada ao signo de Libra224.
E, finalmente, há um outro par mitológico que talvez seja o
arquétipo mais adequado para Libra, nosso signo do companheirismo
— Psiqué e Eros. Esta história trata do amor (Eros) em busca de uma
alma (Psiqué) e de uma alma em busca do amor. Um dia espalhou-se a
notícia de que havia uma mulher mais bela que a própria Afrodite.
Claro, Afrodite não suportaria ter uma concorrente (especialmente uma
mortal) e ordenou que se executasse essa mulher. Seu filho, Eros, cuja
função usual era atingir mortais com suas setas mágicas de amor,
recebeu o encargo de assegurar que Psiqué encontraria a morte. Mas,
quando ele a avistou amarrada a uma rocha e vendada, acidentalmente
atingiu a si próprio com uma flecha; bastou um olhar para a bela Psiqué
e ele ficou instantaneamente apaixonado. Desamarrou-a e a levou para
seu castelo no vale. A única coisa que lhe pediu foi que ela
permanecesse vendada quando estivessem juntos, para que ela não
soubesse que estava com o deus do amor. Certo dia, as irmãs dela
vieram visitá-la e, sugerindo que ela era tola por permanecer vendada,
convenceram-na a remover a máscara e olhar para seu esposo, que
poderia muito bem ser um monstro. Entregando-se a esse temor
incômodo, Psiqué desobedeceu ao pedido
223. Greene, Liz, The Astrology of Fate, ibid, pp. 220-8.
224. Campion, Nicholas, The Book of World Horoscopes, Wellingborough, North
Hamptonshire, Aquarian Press, 1988, p. 134.
Psiqué voltando do mundo subterrâneo com a caixa de beleza que
Afrodite lhe ordenara obter de Perséfone
de Eros e ele instantaneamente saiu voando pela janela. Psiqué
lamentou-se, chorou e orou a Afrodite para que seu amor perdido
voltasse. Afrodite acabou acedendo, mas exigiu de Psiqué uma série de
tarefas aparentemente impossíveis, escolhidas propositalmente pela
deusa do amor, que estava certa de que Psiqué não poderia realizá-las.
Mas, com a ajuda do reino animal, Psiqué completou todas as tarefas
perfeitamente. Afrodite não teve escolha senão reunir os amantes e eles
voltaram a seu castelo em glória, numa espécie de "viveram felizes para
sempre".
Psiqué recebida no Olimpo — gravura do século XIX segundo a pintura original
de Caravaggio
O mito é altamente simbólico ao casamento, mesmo em nossa
época. Com estrelas nos olhos encontramos nossos companheiros. Após
algum tempo, ousamos olhar para quem eles realmente são; vem a
desilusão. Seja a separação emocional ou física, de alguma maneira ela
ocorre. A relação passa por testes, provas e desafios (afinal, Saturno é o
regente esotérico de Libra e é exaltado nesse signo) e então descobre se
os laços de união são fortes. Se ela for forte, sobreviverá a esses
desafios e ficará melhor do que nunca. Como Eros e Psiqué no final da
história, estão felizes, reunidos entre iguais, no jogo da união. Os
psicólogos Erich Neumann e Robert Johnson usaram essa história
especificamente para representar a base da psicologia feminina225. É
oferecida aqui como uma história que não se limita apenas a mulheres,
mas que representa a dinâmica do relacionamento em geral. É possível
que o mesmo processo ocorra sem um parceiro. Ousamos olhar sob
nossas próprias máscaras e ver as falhas e imperfeições que
normalmente tentamos desesperadamente esconder. Então damos a nós
mesmos a tarefa de melhorar, o que é aparentemente impossível e muito
trabalhoso, mas permite um relacionamento prolífico e satisfatório com
o "Eu".
Uma vez que Libra representa a parte da roda em que estamos
interessados com o importante relacionamento de casal e o equilíbrio
desse relacionamento com o "Eu", o signo apresenta um difícil desafio.
Libra é conhecido por sua incapacidade de tomar uma decisão porque
_________________________________________________________
225. Neumann, Erich, Amor and Psyche, Princeton, NJ, Princeton-Bollingen, 1973; e
Robert Johnson, She, Nova York, Harper and Row, 1977.
pode ver ambos os lados de qualquer questão e sempre se esforça para
ser justo. A tarefa mais difícil para o libriano é ver as coisas de uma
posição autocentrada, e por isso com freqüência ele se sacrifica tanto
quando se trata de relacionamentos.
Recentemente, o termo "co-dependente" foi integrado nos círculos
psicológicos e centros de tratamento de forma bastante liberal, como
meio de definir o cerne de muitos problemas em nossa sociedade e
nossas estruturas familiares. E certamente, se a qualidade positiva de
Libra é sua capacidade de relacionar-se de forma justa e igualitária, sua
manifestação negativa é a co-dependência.
Observamos que indivíduos de Libra ou da Sétima Casa esforçamse
em prol do equilíbrio, da justiça, da cooperação, da harmonia e da
beleza na vida e especialmente no relacionamento. Felizmente, nem
todos os librianos têm casamentos como os de Juno, Vênus ou Psiqué.
Mas, em um mundo em que conceitos e idéias são importantes, o
libriano pode se manter tão emocionalmente afastado do que se passa
no centro da união que cria o efeito da polaridade — a raiva e explosões
emocionais expressos pelo parceiro, como com Juno, Vulcano e Psiqué.
Cada um desses três respondia a seus relacionamentos disfuncionais de
modos diferentes. Vulcano trabalhou sua raiva em sua oficina e criava
belas obras de arte, das quais uma foi uma rede de ouro que usou para
prender Vênus à cama com seu amante Marte e assim revelar sua
própria vergonha e humilhação para todos os olímpicos; Psiqué
externou-se realizando tarefas servis e trabalhosas como modo de
manter-se concentrada e equilibrada enquanto esperava pelo retorno de
seu amor perdido; a resposta de Juno ao problema de relacionamento
era voltar-se contra as outras mulheres que se permitiam envolver com
um homem casado, revelando assim sua ira contra si mesma por tolerar
essa sina, como uma mulher sem mais controle de seu destino. Portanto,
o essencial em Libra é não falar de modo eloqüente de beleza, harmonia
e equilíbrio como uma visão ideal enquanto está no meio de um
relacionamento cujo centro emocional é um campo de batalha, mas
envolver-se no processo pessoal, aceitando (em vez de projetar) as
partes feias e imperfeitas e tomando a responsabilidade por suas
próprias ações na interação de opostos existente no relacionamento.
Libra está na posição do "pôr-do-sol". O ego individual se dilui
em favor do outro. Na mandala das casas, Libra ocupa a posição diurna
do Sol poente, a hora do dia em que, de acordo com os antigos, o Sol
afastava-se em seu carro solar para "cair" por trás do horizonte. Sua luz
se perde até que o primeiro brilho pré-alvorada do fogo de Áries seja
novamente encontrado. Isso também corresponde à posição de Libra na
roda sazonal. Essa queda do Sol simboliza uma verdade psicológica
que mostra Libra como o menos autocentrado dos signos solares, com
tendência a englobar a energia de seus parceiros em sua fonte de
energia e luz.
Tipos com a Lua em Libra se rejuvenescerão em companhia de
seus parceiros ou pessoas favoritas — conversando, compartilhando,
rindo, discutindo. Decorar ou remodelar pode atraí-los, assim como
alguma forma de exercício leve ao ar livre — especialmente quando
feito com um parceiro, como o tênis. O que é melhor, eles podem tentar
dizer algo pouco educado ou intransigente de vez em quando, apenas
para inclinar a balança de outra forma.
Mercúrio em Libra geralmente é um diplomata na comunicação
verbal e escrita e, provavelmente, adoraria o trabalho de entrevistador.
Vênus em Libra, como já notamos, está em um papel de destaque,
elevando o amor, a beleza e a estética ao estado de arte. Marte em Libra
pode afirmar a energia da pessoa no estágio coletivo através de lutas
por oportunidades iguais, pagamento justo, etc.
Indivíduos com Ceres em Libra tendem a ser habilidosos em
relacionar-se, servir como mediadores e ser igualitários. Como Marte,
podem insistir na igualdade sexual no local de trabalho. Palas Atená,
como notamos, brilha no campo da mediação, diplomacia e estratégia
nesse signo de justiça. Juno em Libra tem dupla força, por ser o
asteróide que preside o casamento num signo relacionado a igualdade e
justiça. Vesta pode insistir em trilhar um caminho espiritual dentro da
relação. Tanto Juno quanto Vesta, nesse signo, buscarão sua "alma
gêmea".
Júpiter em Libra e Saturno em Libra são ambos adequados a
carreiras no sistema legal, mas, sigam ou não essa carreira, esses
indivíduos terão a lei envolvida em suas vidas de modo bastante
profundo. Quíron na Sétima Casa com freqüência mostra indivíduos
que foram feridos em relacionamentos e que buscam a cura pelos
mesmos meios. Com Urano na Sétima, os nativos são compelidos a
buscar relacionamentos não tradicionais: relacionamentos comuns não
têm a chama necessária a esses indivíduos. Netuno busca uma alma
gêmea ou amor espiritual quando está na Sétima Casa. Por vezes essa
busca pode se tornar realidade, mas essas pessoas, mais que outras,
devem tomar cuidado com relacionamentos de co-dependência ou
salvador-vítima. Pessoas com Plutão na Sétima Casa podem parecer
engolir seus parceiros ou ser engolidos por eles, assim como Hades
engoliu Core no fundo da terra. Seu amor é demasiado intenso na
maioria dos casos, embora sua capacidade de comprometer-se seja
também mais altamente desenvolvida do que a da maioria das pessoas.
Uma das épocas mais desafiadoras para a instituição do
casamento na história recente foi no final da década de 1960 e início da
de 1970, quando Urano e Plutão estavam ambos em Libra por um curto
tempo. A taxa de divórcio foi, estatisticamente, a mais alta já
registrada226 e, se as
226. Guttman, Ariel, Astro-Compatibility, ibid, pp. 11-14.
divindades que regem Libra estavam fazendo uma declaração sobre a
desigualdade da instituição do casamento naquele tempo, foram
bastante efetivas. Desde então instituíram-se muitas reformas,
especialmente de 1972 a 1984, quando Plutão estava em Libra. Netuno
entrou em Libra em 1942 e ficou ali até 1956. Essa geração teve um
desafio único no que respeita a relacionamentos. A maioria desses
indivíduos com Netuno em Libra também tem Plutão em Leão e estão
se esforçando para manter a sagrada instituição do casamento e ser
devotados a seus parceiros (Libra), fazendo ao mesmo tempo uma
declaração de auto-afirmação e individualidade (Leão). Essa é uma
geração que idealiza relacionamentos, sente-se vazia sem eles, mas luta
intensamente pela liberdade individual e a auto-afirmação enquanto
envolvida neles — certamente um fenômeno curioso.


Uma deusa cretense das cobras, ilustrada por Diane Smirnov
ESCORPIÃO, o Escorpião
SIGNO: Escorpião, o 8º Signo Zodiacal
MODO: Fixo - ELEMENTO: Água - REGENTE: Plutão
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Marte (Ares) - Nergal
(Babilônia) - Perséfone - A Densa Cretense das Cobras -
Inanna (Suméria) - Orfeu e Eurídice - Juno (Hera) - Shaktu
(Hindu) - Asclépio
Durante o mês de
Escorpião, as folhas caem das
árvores e a terra começa a se
"desligar", para preparar-se para
o longo sono do verão. Nas
antigas religiões da natureza,
essa era a estação em que a
deusa ou deus realmente ia para
o mundo subterrâneo; todas as
coisas ficariam vazias e geladas
até que o solstício de inverno
marcasse o início do processo de
retorno, levando finalmente à
ressurreição na primavera. Os
povos célticos celebravam o
festival do Samhain durante esse
mês; o antigo festival sobrevive
atualmente como Halloween. Na
noite de Samhain, as "portas
entre os mundos" ficam abertas; a ligação entre humanos e elementais
— ou humanos e os espíritos dos mortos — era intensamente
aumentada. Nos países latino-americanos — e mesmo em Los Angeles
e partes do sudoeste dos Estados Unidos —, o primeiro e segundo dias
de Novembro são reverenciados como Dia dos Mortos (Días de los
Muertos). Famílias fazem piquenique, em cemitérios e crianças comem
doces em forma de esqueletos.
Não é de se espantar, então, que Escorpião seja associado à desci
da ao mundo subterrâneo. Para a maioria de nós, isso significa uma
jornada às profundezas de nosso ser — inevitavelmente dolorosa, pois
nos força a enfrentar nossos demônios interiores e complexos
psicológicos. Mas, Escorpião também traz a promessa de ressurreição,
de retorno da luz: assim, Escorpião é visto como um signo de
transformação. E certamente ele sempre foi associado à sabedoria
oculta. Alguns astrólogos representaram Escorpião como um processo
quádruplo — do escorpião irritado ao lagarto introspectivo (a estada no
subterrâneo), da águia arrojada (renascimento) à pomba de asas alvas (o
Espírito Santo). Dane Rudhyar comparou Escorpião à fênix, um pássaro
egípcio mítico que se imolava numa pira funeral e renascia em seguida
de suas próprias cinzas227. A ligação entre Escorpião e o mundo
subterrâneo remonta aos inícios da astrologia. Assim como os outros
signos fixos, ela aparece no épico de Gilgamesh babilônico. Quando
Gilgamesh estava no caminho para Dilmun, o além babilônico, teve de
cruzar montanhas guardadas por "Homens-Escorpião"228. Assim como
na Suméria, o Escorpião era o guardião sombrio no umbral do outro
mundo, e era preciso passar pelos portões da escuridão para chegar ao
mundo da luz. E, se os babilônicos ligavam esse signo ao mortal
escorpião, também o ligavam à águia, como fica claro na visão de
Ezequiel (ver Capítulo Vinte e Um, "Modalidades").
A imagem do escorpião exige alguma consideração, pois foi em
parte por causa dessa criatura um tanto desagradável e medonha que
Escorpião recebeu uma
imagem tão sombria e negativa
na astrologia tradicional.
Embora seja verdade que
alguns nativos desse signo
possuem um temperamento
(ou, ao menos, uma língua) em
que se nota o proverbial ferrão,
o escorpião em si relaciona-se
a essa jornada no mundo
subterrâneo, que é a essência
do mito do Escorpião. No
Egito, onde a ascensão noturna
dos signos era de fundamental
importância, Escorpião
ascendia em maio. Era o mês
em que os quentes
227. Rudhyar, Dane, The Pulse of Life, ibid, pp. 79-85.
228. Sandars, N.K., trad., The Epic of Gilgamesh, ibid, pp. 98-9.
Arqueiro-escorpião de uma pedra
delimitadora, Babilônia, c. 1140 a.C.
ventos do deserto chamados khamseen
começavam a soprar. Um calor
abrasador esturricava a região,
ameaçando as colheitas e as outras
formas de vida; os escorpiões vinham do
deserto e se tornavam uma verdadeira
praga229. Essa imagem do sol escaldante
que destrói a vida é, de fato, a
polaridade negativa ou subterrânea do
sol. Pois, embora o sol traga a vida e a
vitalidade ao mundo, pode também
trazer a destruição.
Esse aspecto destrutivo do sol era
personificado pelos babilônicos como
Nergal, deus da guerra e da peste. Mas,
Nergal era também o planeta Marte — o
que é adequado, já que o Sol e Marte são
ligados por sua natureza ígnea, e Marte
pode energizar as qualidades solares do
horóscopo de uma pessoa, para bem ou
para mal230. Antes que Plutão fosse
descoberto e nomeado regente de
Escorpião, esse signo estava sob o
domínio de Marte, tanto na astrologia
clássica quanto no esquema olímpico.
Pela primeira vez, deparamo-nos com
um signo que mudou de regência — em
que o simbolismo do signo foi
transformado para representar as
energias plutonianas, não mais as
marcianas. É verdade que alguns
astrólogos ainda utilizam a clássica regência de Marte para Escorpião
mas, após a descoberta de Plutão em 1930, a maioria dos astrólogos
notou que as energias arquetípicas representadas por Plutão em nosso
mundo contemporâneo (a bomba atômica, grandes corporações,
psicologia profunda) pareciam encaixar-se simbolicamente no signo de
Escorpião (ver Plutão).
O deus Nergal era conhecido na Babilônia principalmente por ter
usurpado o trono do mundo subterrâneo (ver Marte). O deus da guerra e
da peste arrombou os portões do inferno, destronou a deusa que ali
reinava e autodeclarou-se senhor dos mortos231. O sol escaldante do
meio-dia tornou-se o sol da escuridão, o sol oculto ou sol da meia-noite.
229. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 125.
230. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid, pp. 23, 34, 43-4.
231. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid., p. 23.
Selkhet, a deusa egípcia do
escorpião, uma das divindades
que guiavam os mortos para a
vida após a morte. Ilustrado
por Diane Smirnov
Na história de Hades e Perséfone, Hades surge do inundo
subterrâneo em seu carro negro e rapta Perséfone, fazendo dela sua
noiva para reinar com ele, enquanto na versão babilônica a divindade
inflamada, masculina, desce e toma o governo do mundo subterrâneo da
presença feminina. Na versão grega, o mundo subterrâneo é no início
regido apenas por uma divindade masculina, mas o equilíbrio das
energias masculina e feminina no mundo inferior é restaurado quando
Hades rapta Perséfone. Os gregos compreendiam que o vasto, escuro,
inexplorado e inexplicado reino do inconsciente e do sentimento
primordial pertenciam ao elemento feminino. Outro mito grego conta
como Apolo, o deus-sol, chegou a Delfos e ali se estabeleceu. Mas, o
primeiro residente daquele lugar sagrado era Píton, uma divindade
serpentina, feminina, associada a Gaia, a Mãe Terra. Para exigir aquela
região, Apolo teve de matar Píton. E, embora exigisse um domínio
sobre o oráculo que estabeleceu em Delfos, era na verdade a Píton
feminina assassinada,
Rapto de Perséfone por Hades, gravura do século XIX segundo uma
pintura original
transformada pela morte e que falava por intermédio de uma sacerdotisa
chamada Pitonisa, que pronunciava as revelações divinas. Os elementos
masculino e feminino operam aqui em um estado de equilíbrio. E, como
vimos, Plutão no mapa astrológico é tão feminino quanto masculino.
Uma vez que Perséfone se une a Hades no mundo subterrâneo, suas
energias se fundem.
Como Marte e Plutão estão relacionados no mito de Nergal, não é
de espantar que esses dois planetas dividam a regência de Escorpião, ou
que ambos sejam associados ao mito da jornada subterrânea. Também
vale notar que o Sol e Marte são fortemente relacionados, de modo
simbólico, ao ego consciente, e que é o ego quem sofre destruição e
transformação no subterrâneo psíquico. O escorpiano típico pode ter,
realmente, um desejo de morte, ou assim nos asseguram algumas fontes
tradicionais. Mas, o que esses escorpianos aparentemente obcecados
buscam real ou inconscientemente não é a extinção do corpo físico
tanto quanto a morte e o renascimento da consciência. Eles podem ter
hobbies como corridas de carro ou pára-quedismo, ou podem tentar se
destruir com sexo e drogas, mas no fundo buscam a transformação
interior.
E por meio dessa transformação interior que descobrimos a
sabedoria; Escorpião, conseqüentemente, é um signo de sabedoria. Para
muitos astrólogos, Escorpião é simbolizado pela serpente, tanto quanto
pela águia, pelo lagarto ou escorpião (e com boas razões, pois a
constelação da Serpente está entrelaçada na de Escorpião). A sabedoria
da Serpente é um tipo específico de conhecimento — que inclui os
mistérios profundos, não revelados e ctônicos da vida, da morte e do
sexo. A esse respeito, Escorpião é realmente um signo feminino ou
aquoso, pois essa sabedoria só pode ser obtida através dos sentimentos
(água); não é acessível à lógica. A sabedoria da Serpente é feminina —
o lado escuro, subterrâneo, do feminino.
As serpentes representaram um papel importante na mitologia e
no ritual de muitas culturas, embora que até hoje a simples visão de
uma provoque medo e paralisia entre alguns humanos. As deusas-cobra
tão predominantes em Creta durante a Era de Touro representavam o
aspecto vivificante da Deusa, mas a serpente em si era adorada porque
se dizia que possuía os segredos da vida, da morte e do renascimento232.
O dom da profecia também sempre foi ligado à sabedoria da Serpente,
como em Delfos. Conta-se que Cassandra, que possuía a visão
profética, quando criança foi deixada em meio a serpentes; foram
encontradas lambendo as orelhas da menina. As cobras também eram
veneradas por seu veneno. O veneno da mordida da cobra continha uma
substância
232. Stone, Merlin, When God was a Woman, ibid, pp. 198-223.
que alterava quimicamente as células cerebrais, produzindo um eleito
similar ao que as drogas psicodélicas causam no cérebro — e induzindo
no usuário uma alteração significativa na consciência, incluindo a
capacidade de receber visões nesse estado de transe. Por isso, durante
cerimônias religiosas, o veneno da serpente era usado para induzir o
estado alterado e para trazer visões dos deuses, de forma similar à que
os xamãs entram em transe para conseguir informação visionária a
respeito das curas que realizam. Também se dizia que eles podiam
"entrar no mundo dos mortos" nesse estado, descobrir e reconhecer o
demônio particular (os psicólogos junguianos e Platão preferem o termo
menos judicioso daímon) e voltar. A descoberta ou recognição desse
demônio era o que salvava e curava o indivíduo, semelhantemente ao
modo como a mordida de uma serpente venenosa poderia ser curada
pela ingestão do próprio veneno que infectara o doente. Os escorpianos
têm a capacidade de atingir esses estados próximos ao transe e as
regiões inferiores mais facilmente que a maioria das pessoas. De fato, a
descoberta, recognição e aceitação dos demônios de uma pessoa é uma
jornada de transformação que permite que os demônios anteriores se
tornem totens, ou símbolos, da autorização para o processo de cura do
indivíduo. É por isso que se diz que as serpentes incorporam a sabedoria
e sempre foram representadas no processo de cura. O caduceu, um
bastão com duas serpentes enrodilhadas, continua a ser o símbolo de
médicos e praticantes de cura atualmente.
O processo de Escorpião diz respeito à vida, à morte e ao
renascimento. Esse é um tema constante na vida dos indivíduos de
Escorpião — eles tipicamente experimentam uma experiência de morte
ou próxima da morte, para em seguida renascer e, como a fênix,
reerguer-se das cinzas dos que foram e voar a novas alturas. Esse
processo raramente é vivido de boa vontade. Escorpião é água fixa;
portanto, nem sempre aprecia a mudança. A cobra tem primeiro de
morder esses escorpianos relutantes para que seus reatores atômicos
fiquem prontos para atirar de volta com uma vingança. Os escorpianos,
assim como os xamãs, cirurgiões, psicoterapeutas ou hipnoterapeutas,
podem ajudar os outros a entrar no reino desse mundo inferior no qual a
maior parte de nós é incapaz de ou reluta em entrar sozinhos.
Em Escorpião, atingimos o quarto estágio da Grande Deusa, no
qual, havendo descido ao mundo subterrâneo, ela emerge suprema,
completa e transformada. Diversos arquétipos míticos vêm à mente
para esse aspecto de Escorpião — a jornada de Ishtar ao mundo
subterrâneo em busca de seu amante Tammuz (ver Capítulo Quatro,
"Ceres") e a descida de Orfeu ao mundo subterrâneo para buscar sua
amada noiva, Eurídice. As três histórias têm uma coisa em comum — a
descida envolve um parceiro com quem o viajante está fortemente
ligado. Aqui em Escorpião estamos envolvidos não apenas no processo
de transformação
Gravura do séc. XIX mostrando Orfeu e Eurídice
que vem de sua jornada "para baixo", mas também com a fusão com o
outro, que nunca acontece tão intensamente quanto em Escorpião ou
sua casa natural, a Oitava.
No primeiro signo de água, Câncer, observamos a ligação entre
mãe e filho. No segundo signo de água, Escorpião, trata-se do processo
de separação. Contudo, se Escorpião está tão relacionado à fusão, como
pode essa separação ser igualmente significativa? Em Câncer, o
indivíduo ficava preso ou submetido à mãe ou à unidade familiar. Em
Escorpião, a pessoa rompe com essa interdependência, como quando
Perséfone é separada de sua mãe, Deméter, para se misturar como igual
à sua metade masculina, Hades. Esse é um tema fundamental na vida
dos escorpianos, que lidam com profundas ligações emocionais e com a
necessidade de manter algum controle pessoal — de forma que os
escorpianos não serão controlados pelo parceiro do mesmo modo como
eram controlados pela família na fase anterior, Canceriana, do processo
do signo de água. Na vida da maioria dos escorpianos, particularmente
quando o Sol ou a Lua estão nesse signo, um dos pais exerceu um
controle tão sério e deliberado sobre o indivíduo que a maior busca de
sua vida é libertar-se. Há com freqüência ciúmes dos pais e até raiva
quando o filho encontra um parceiro, similar à reação de Deméter
quando Perséfone foi forçada a ficar com Hades. E com freqüência há
ataques de ciúme entre Escorpião e o parceiro, como as brigas entre
Juno (um asteróide que se diz ser fortemente associado a Escorpião) e
seu marido, Júpiter. Há um sentido apaixonado de compromisso que
beira a necessidade obsessiva, como com Orfeu, que estava tão
obcecado por sua necessidade de ter Eurídice a seu lado que viajou duas
vezes ao mundo subterrâneo para suplicar pela volta dela (Eurídice teve
sua vida brutalmente interrompida quando, na juventude, foi mordida
por uma cobra venenosa). Esse tipo de novela com freqüência preenche
a vida de um escorpiano, especialmente quando os planetas em
Escorpião estão em aspecto aflito. Realmente, a transformação dessas
energias turbulentas é importantíssima no ciclo evolucionário de
Escorpião.
Os processos de separação e regeneração tão associados ao signo
de Escorpião refletem também sua regência sobre o corpo. Em
astrologia médica, ambos os órgãos sexuais (procriação, regeneração) e
os eliminativos (cólon, bexiga) são regidos por Escorpião. Pessoas que
têm planetas em Escorpião (especialmente as envolvidas em Quadrado
T
fixo) com freqüência têm
problemas para eliminar o
antigo lixo emocional de sua
vida, o que pode ter sérios
efeitos também na capacidade
eliminatória do corpo.
Sempre que um planeta
aparece em Escorpião ou na
Oitava Casa, podemos pensar
nele como "reciclado". O
legado psíquico ou
psicológico daquele planeta
não mais se adapta às
necessidades do padrão
evolucionário atual do
indivíduo. Esses indivíduos,
como Hércules, devem lutar
com a Hidra (um trabalho por
vezes associado a Escorpião,
embora tenha sido também
ligado a Câncer) e cauterizar
o problema pela raiz, assim
como Hércules
Personificação de Ofíoco (Serpentarius)
do Astronomicon de Higino, Veneza,
1482
cauterizou as muitas cabeças da Hidra. Como Escorpião é um signo
fixo e de água, os planetas que aparecem ali com muita probabilidade
estabeleceram padrões emocionais e psicológicos para gerações na
árvore genealógica do indivíduo, e cabe a esse indivíduo acabar com
esse padrão transformando essas energias em um plano superior de
consciência. Essa é também a dor da separação sentida por muitos
escorpianos. Sejam eles confortados por seu antigo ambiente ou não, há
uma ligação, e a quebra dessas ligações é um processo doloroso. A luta
com as profundidades emocionais e os excessos é encontrada em
Escorpião mais do que em qualquer outro signo.
Na extremidade de Escorpião há uma constelação chamada
Ofíoco, representada como um gigante lutando com uma serpente. O
portador da serpente é Asclépio, o curandeiro, honrado aluno de
Quíron233. Como essa constelação estava ligeiramente fora do eclíptico
quando o zodíaco que utilizamos atualmente se formou, ela não foi
incluída como um signo em nossa mandala astrológica (de fato, Ofíoco
fica "acima" de Escorpião). Mas, por causa da precessão dos
equinócios, hoje o Sol passa mais tempo nessa constelação do que o faz
em Escorpião. Por isso, antes que possamos finalmente sair de
Escorpião e entrar na luz de Sagitário, devemos lutar com essa serpente,
um processo a que a maioria dos escorpianos está acostumada e com o
qual cada um lida de um jeito diferente. Asclépio era conhecido por
suas extraordinárias capacidades de cura; dizia-se que era capaz de
trazer os mortos de volta à vida234. Tal é o progresso evolucionário em
Escorpião desde os tempos antigos até os modernos — do escorpião
mortal ao ser humano que ganha controle sobre os segredos da vida e da
morte possuídos pela serpente, por combate direto com ela.
Há também uma ligação íntima entre Escorpião e a misteriosa
força vital chamada kundalini (o Poder da Serpente) em sânscrito235. O
kundalini é a força vital e animadora dentro de nós; é visto como uma
energia essencialmente sexual. Fica na base da espinha; os astrólogos
esotéricos gostam de dizer que o próprio glifo de Escorpião (H)
representa esse Poder da Serpente, adormecido, enrodilhado e pronto
para despertar. Despertado pela meditação, o kundalini viaja por um
canal na coluna espinal. Quando atinge o chamado Terceiro Olho no
centro da testa, toda dualidade (polaridade masculina e feminina) é
extinta e cria-se um campo unificado de consciência. O novo centro de
consciência apenas pode tomar forma após a "morte" da antiga
personalidade ligada ao ego, personalidade essa baseada na dualidade.
Essa
233. Chartrand, Mark R., Skyguide, Nova York, Golden Press, 1982, p. 170.
234. Hamilton, Edith, Mythology, ibid., pp.279-81.
235. Behari, Bepin, The Vedic Astrologer's Handbook, ed. Kenneth Johnson, Salt Lake
City, Passage Press, 1992.
é outra faceta da morte que Escorpião inconsciente e obssessivamente
busca. Esse poder da serpente é associado, na índia, com o conceito do
shakti, a polaridade feminina de Deus; em quase todas as culturas, a
Mãe Divina é a fonte da Sabedoria da Serpente. Embora estejamos
acostumados a pensar na polaridade feminina ou yin como passiva, o
shakti é na verdade uma força ativa. E como é também uma força
sexual, com freqüência é mal utilizada. Tradicionalmente, um
desequilíbrio do kundalini produz todos os tipos de problemas sexuais e
desvios de comportamento — conceitos normalmente associados aos
aspectos não desenvolvidos ou afligidos de Escorpião236.
O Sol em Escorpião nos pede que nos separemos de alguns dos
sentimentos e padrões subconscientes que adquirimos no início da vida.
Esse processo é similar ao vivido em Câncer — mas, em Escorpião, o
ato de separação tipicamente ocorre através de experiências que
envolvam nossos parceiros íntimos, como foi o caso com Orfeu. Por
intermédio dessas parcerias, o escorpiano também terá muitos
problemas em lidar com o poder. Tipos com a Lua em Escorpião
tendem a passar dias sozinhos, em atividades secretas, atrás de negócios
secretos. Paradoxalmente, porém, essas pessoas podem ser
rejuvenescidas por atividades que podem parecer "pesadas" a outras
pessoas — uma sessão com um analista, um hipnoterapeuta, um
astrólogo ou acupunturista faz maravilhas para eles.
Mercúrio em Escorpião implica
uma capacidade de esquadrinhar
os aspectos profundos,
sombrios, ocultos da
consciência humana, assim
como uma mente que pode
esquadrinhar os segredos de
outras pessoas e não conhece
limites. Vênus em Escorpião
pode ser às vezes sexualmente
promíscua, porque essas pessoas
estão à busca do despertar do
kundalini através do
relacionamento. Marte em
Escorpião (como Nergal) deve
realmente aprender a controlar
suas paixões e, como Vênus,
interessa-se pela exploração
sexual; esses indivíduos podem
também se tornar excelentes
curandeiros.
236. Garrison, Omar, Tantra: The Yoga of Sex, Nova York, Avon, 1973.
Asclépio com um bastão na mão esquerda,
um ramo de louro na mão direita e um
pássaro pousado no antebraço. Moeda de
bronze de Reghium, Itália, 270-203 a.C. Da
coleção de Michael A. Sikora
Ceres em Escorpião nos relembra Deméter buscando Core; ela é
excelente nos processos de lamentação e em aconselhar os envolvidos
em suas próprias perdas. Esse posicionamento também é bom para
transformar o pesar em canais produtivos. Aqui, Ceres é ao mesmo
tempo curandeira e guerreira. Por causa de sua associação com as
deusas-serpente arcaicas, Palas Atená adquire importância especial em
Escorpião ou na Oitava Casa. Suas habilidades de cura e a Sabedoria da
Serpente a respeito de nascimento, vida, morte e a vida após a morte
serão bastante aumentadas. Juno, assim como Vênus, busca uma
profunda união sexual com um parceiro e tem a necessidade de
encontrar uma alma gêmea. Pessoas com Vesta na Oitava Casa ou em
Escorpião podem viajar ao mundo subterrâneo para juntar suas próprias
peças escondidas, trabalhando como curandeiros, conselheiros ou
terapeutas com o fogo do kundalini como principal força motivadora
em sua vida.
Os que têm Júpiter em associação com Plutão ou sua casa ou
signo de regência acabarão representando papéis principais em um
momento ou outro. Ganharão dinheiro, mas podem ter de optar entre
ficar ricos honestamente ou chegar ao topo por quaisquer meios
disponíveis. O chefe da Máfia, o magnata corporativo, o inacessível
bilionário são todos expressões arquetípicas de uma união Júpiter-
Plutão. O crescimento da alma deve estar também numa altura
constante para esses indivíduos. Saturno em Escorpião, na Oitava Casa
ou em aspecto próximo a Plutão é, na melhor das hipóteses, difícil e
opressivo. Mesmo assim, essas estão entre as melhores posições, pois
essas pessoas possuem a perseverança, a força de vontade,
determinação e uma energia para combater todos os demônios
psicológicos e traumas emocionais ou físicos infligidos sobre eles em
suas vidas anteriores (ou passadas). Saturno e Plutão se juntaram pela
última vez em 1946-48 em Leão, um signo associado ao pai. Muitos
teóricos esotéricos suspeitam que a quantidade de pessoas nascidas
durante essa conjunção reencarnou diretamente dos campos de batalha
ou campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. Possuindo
lembranças pronunciadas e perturbadoras dos horrores da guerra,
combinadas com o desafio de ficar em pé e encarar o inimigo
diretamente, essa geração passou por outra guerra — Vietnã — tanto
em casa como no estrangeiro. A conseqüência desse horror foi que, pela
primeira vez, soldados tiveram de enfrentar intensa terapia para
remover os demônios psíquicos e psicológicos que os assolaram como
resultado dessas lembranças. Também aprenderam a confrontar sua
própria mortalidade e seu processo de envelhecimento. Aprender a
aceitar a velhice é uma das exigências de Saturno; aceitá-la dignamente
e entrar no domínio de Hades de boa vontade é o verdadeiro teste da
coragem saturnina.
Em Escorpião ou na Oitava Casa, Quíron é realmente o xamã ou
homem da medicina. Essa posição nos força a encarar o senhor do
mundo
subterrâneo em um certo nível: seja por meio de envolvimento nas artes
curativas, por intermédio da experiência da doença ou de nossa própria
morte iminente, a perda de outro ou, o que é mais comum, sendo
forçado a enfrentar nosso próprio mundo subterrâneo pessoal na forma
de nossos complexos psicológicos interiores. Com um Urano na Oitava
Casa, esses mesmos complexos interiores estão sempre borbulhando no
consciente; a premência uraniana por libertação empurra todos os
demônios para a luz para que possamos matá-los. Os que têm essa
posição podem ter também algumas noções bastante liberais ou
incomuns sobre expressão sexual. Netuno na Oitava é com freqüência
um certo paradoxo: essas pessoas podem ser poderosamente dotadas de
consciência psíquica, mas temerosas de aceitar o presente. Sonhos e um
interesse geral no inconsciente podem muito bem tornar-se conscientes
para esses indivíduos. Plutão em sua própria casa pode ser o mestre
manipulador, mas pode também mostrar um indivíduo que se
especialize em transformação. Esses nativos vão buscar laços
duradouros e intensos, similares aos de Hades e Perséfone. Essas
pessoas são sempre astutos psicólogos, detetives e pesquisadores
"naturais".
Como vimos, Escorpião representa a descida do consciente a seu
mundo subterrâneo pessoal. Ali, nas profundezas de nossa lama, nossa
antiga ego-consciência morre para que possamos renascer. O processo
psicológico de morte e renascimento encontra sua metáfora na vida
espiritual, meditativa, onde a transformação da personalidade e a morte
da consciência do ego são conseguidas pelo controle da energia sexual
chamada kundalini. Por isso, Escorpião é um dos mais profundos e
complexos signos. Quem quiser questionar isso pode observar esta
época em que vivemos (1984-1996), um tempo em que o objetivo
individual e coletivo da humanidade e do próprio planeta é a
transformação. Esse é o ciclo pelo qual passamos a cada 250 anos
quando o planeta Plutão, que é o mais distante do Sol, faz sua passagem
pelo signo que rege, Escorpião, no qual ele sem dúvida tem o impacto
mais dramático. Durante sua passagem por Escorpião, Plutão na
verdade cruza o caminho orbital de Netuno, de forma que está mais
próximo de nós que seu vizinho, tão perto quanto possível da Terra e do
Sol. Nesses períodos — por exemplo, durante o ministério de Cristo, a
Renascença italiana e nas vésperas da Revolução Americana —, o
mundo vive uma época de transformação acelerada.


SAGITÁRIO, o Centauro
SIGNO: Sagitário, o 9º Signo Zodiacal
MODO: Mutáveis - ELEMENTO: Fogo - REGENTE: Júpiter
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Quíron, o Centauro -
Ártemis (Diana) - Héstia (Vesta)
Para os egípcios, Sagitário
era um signo de guerra, pois a
lua cheia nesse signo (junho)
marcava a época em que os
exércitos imperiais começavam
a marchar. Para nós, porém,
Sagitário é um signo de filosofia,
e não de guerra, o que condiz
com sua posição no ciclo anual.
Durante o mês de Sagitário, o
mundo está trancado nas
profundezas do inverno. A
paisagem está silenciosa,
enterrada sob a neve. A
atividade está em nível mínimo.
Entre povos indígenas
americanos, essa é a época de
contar histórias, de reflexão
filosófica. Por isso, não é de
espantar que Sagitário seja um
signo de sabedoria e preeminentemente o signo do filósofo. Embora os
dias sejam igualmente curtos durante Capricórnio, há uma diferença
significativa entre os dois signos. Em Capricórnio, o Sol passou pelo
ponto do solstício e os dias estão ficando mais longos, mas em Sagitário
o poder da noite, da humanidade coletiva, é o que está
crescendo. Assim, é adequado que Sagitário represente O estágio em
que as preocupações pessoais ou individuais estão num nível mínimo e
as preocupações universais tornam-se as principais. Isso ocorre porque
se diz que os sagitarianos se perdem em conceitos filosóficos obscuros,
negligenciando as realidades cotidianas enquanto vagueiam com a
cabeça nas nuvens.
Há um correlato astronômico para essa universalidade: o centro da
galáxia situa-se nos graus finais de Sagitário, ou seja, a partir de nosso
ponto de observação na Terra, o centro da Via Láctea parece estar
próximo do fim desse signo. Assim, os dias mais escuros do ano, logo
antes do ponto de virada do solstício de inverno, estão ligados em uma
moldura mais ampla de referência, com preocupações e conceitos tão
vastos que apenas podem ser simbolizados pela galáxia como um todo.
Está claro, portanto, como Sagitário adquiriu seu simbolismo
filosófico. Mas, essa universalidade também se reflete no mito.
Sagitário está ligado a Quíron, o Centauro (Ver Capítulo Quinze,
"Quíron"). Os centauros eram uma raça de seres meio-humanos e meiocavalos
— sua mente e suas mãos tinham a clareza e a destreza da raça
humana, enquanto seu corpo inferior, em forma de cavalo, o ligava à
terra e ao mundo do instinto. Quíron, o rei dos centauros, era filósofo,
professor e curandeiro. Ferido no pé por uma das setas envenenadas de
Hércules, não podia curar a si próprio. Mas, sendo imortal, também não
podia simplesmente morrer. Quíron escolheu morrer, mas por uma
finalidade mais elevada — seu sacrifício possibilitou que Prometeu, o
grande iluminador, retornasse ao serviço da humanidade; como
recompensa, Quíron foi posto nos céus como a constelação de
Sagitário237. Aqui novamente, como no calendário sazonal,
encontramos o tema do filósofo que sacrifica as preocupações pessoais
para o bem de todos. Diferentemente dos outros centauros, que eram
guiados principalmente por seus instintos animais e paixões, Quíron
transcendeu seu eu primordial e apoiou-se principalmente em sua
natureza divina. Como co-regente de Sagitário, ele representa o estágio
em que nos conscientizamos dos três aspectos do "Eu": a natureza
animal dirigindo-nos de baixo, a natureza humana (espírito aprisionado
num corpo) e a natureza divina.
A seta de Sagitário está sempre apontada para cima, para o divino,
como o olhar daquele que está preocupado com mundos ou galáxias
distantes — nosso lar nas estrelas. Muitos sagitarianos estão bastante
conscientes dessas três naturezas dentro de si, cada uma com sua voz
distinta, e com freqüência sentem dificuldade em aceitar as três
naturezas como parte de um "Eu" que deve ser integrado e mantido em
equilíbrio.
237. Bulfinch, Thomas, Bulfinch's Mythology, Nova York, Avenel, 1978, pp. 127-8.
A consciência desses três as
pectos da natureza interior de
uma pessoa, assim como a
transmissão de energia do
animal ao espiritual, é o que
torna os seres humanos
únicos entre as criaturas do
mundo. Aqui, em Sagitário,
essa consciência é testada até
os limites — pois quando
uma pessoa está envolvida
em mover energia dos
chakras inferiores aos
superiores, enquanto ao
mesmo tempo continua a
receber estímulo excessivo
dos chakras inferiores, há um
grande processo alquímico
ocorrendo. O centauro típico mal poderia ser visto como símbolo desse
processo, mas Quíron não era um centauro típico.
É significativo que o ferimento de Quíron tenha sido na coxa ou
no pé, afetando assim sua mobilidade. Como Gêmeos, Sagitário (que
rege a coxa na astrologia médica) necessita da máxima liberdade para
perambular. Quando essa liberdade é restrita ou obstruída, Sagitário
pode sentir-se realmente ferido. Quíron vivia numa caverna próxima à
terra, compartilhando da beleza e da sabedoria natural da terra. Os
sagitarianos com bastante terra em seu mapa provavelmente terão fortes
relações com Quíron. Podem também relacionar-se fortemente ao
aspecto de curandeiro ferido desse signo, pois a consciência de espírito
preso em um corpo é para eles um tema importante; a importância de
lembrar que eles são espíritos em um corpo, e não corpos buscando um
espírito, tem o maior dos interesses.
De sua caverna, Quíron compartilhava seu conhecimento dos
fenômenos celestiais, medicina, ervas, disciplinas espirituais, música e
matemática. Isso não é diferente do Quíron moderno que se retira
freqüentemente para as montanhas, fica energizado pela terra e as
estrelas e anseia por compartilhar sua sabedoria recém-adquirida com os
outros. Essa pessoa sem dúvida tem uma cura ou uma prática
astrológica atarefadas, e sua busca por mais conhecimento é igualada
apenas pela necessidade de compartilhar o que já foi aprendido. Assim,
o aspecto de Sagitário que se relaciona ao sábio professor, filósofo e
curandeiro parece apontar fortemente para a associação de Quíron com
o signo e sua casa astrológica natural, a Nona.
Um centauro de um sarcófago egípcio,
século II d.C.
Podemos também considerar Quíron o meio-irmão de Júpiter, pois
ambos eram filhos de Saturno. Júpiter é o planeta que agora associamos
a Sagitário. O deus Júpiter não tem ligação particular com a alta
filosofia — esse aspecto de Sagitário é melhor compreendido com
referência ao mito de Quíron e à posição do mês no ano sazonal. Mas há
uma forte ligação entre Júpiter e Sagitário e uma dessas ligações é
melhor descrita com referência à palavra jovial. Jove era outro nome de
Júpiter; pessoas que têm temperamento otimista e entusiasta são, de
muitos modos, similares a esse rei dos deuses. Todas as coisas
abundantes e expansivas relacionam-se a Júpiter (assim como autoindulgência,
autojustiça e pomposidade excessivas quando o planeta
está aflito). Um infatigável bom humor é outro aspecto do arquétipo de
Júpiter, muito importante no que toca a Sagitário. O sagitariano típico
(se essa criatura existe) em geral é conhecido por possuir esse
temperamento despreocupado, fundindo a filosofia tolerante com a boa
natureza terrestre. Como Júpiter foi bem-sucedido em se tornar rei do
monte Olimpo enganando seu pai Saturno e usurpando seu trono, ele
representa o aspecto destemido e influente de Sagitário, ou o herói
(similar a Áries e a Leão, os dois signos de fogo anteriores) que se torna
governante natural. Esse é um arquétipo adequado para sagitarianos que
parecem soberanos em sua sabedoria, mesmo se for fingimento.
Mas, outras correlações entre Júpiter e Sagitário também ficarão
aparentes. Sabe-se bem que Júpiter passa mais tempo atrás de casos
amorosos do que no governo do monte Olimpo. Uma questão que
sempre surge com Sagitário é o problema da fidelidade. Eles são
comprometidos com seu amante atual — essa não é a questão. Mas,
quanto tempo eles podem se manter nesse compromisso já é outra
questão. "Até que a morte nos separe" não é exatamente um credo para
os sagitarianos (a menos que a carta traga forte simbolismo de Juno ou
Câncer) e, quando postos contra a parede para dizer essas palavras, eles
normalmente estremecem. Como os geminianos, seus opostos polares,
os sagitarianos estão sempre à procura. E, em sua busca por Deus, o
significado da vida e a resposta a cada questão já proferida, os
sagitarianos pulam muros e cercas e arrombam portas; em outras
palavras, eles sempre precisam de um alçapão de escape e estão sempre
em busca da próxima montanha a escalar ou da próxima aventura,
particularmente se envolver o ar livre.
Sagitário sempre foi considerado um signo de sorte, seja no jogo
(que o signo rege) ou simplesmente na vida. É verdade que há um
aspecto de Sagitário que tem a velha e simples boa sorte, e com ela a fé
de que tudo irá pelo melhor. O otimismo e o conhecimento interior que
o sagitariano possui (alguns diriam que anjos da guarda o acompanham
em cada aventura) podem derivar do fato de que Júpiter é seu regente, e
Júpiter sempre podia endireitar tudo, não importava o problema em que
Gravura do século XIX mostrando Diana, segundo a estátua em tamanho natural de
Jean-Antoine Houdon na Coleção Frick, Nova York
a pessoa estivesse envolvida, se ele a julgasse merecedora de seus
esforços. E, na maior parte do tempo, um olhar para cima e uma oração
a Júpiter bastavam para realizar o desejo do receptor.
A atribuição olímpica de Sagitário é tão importante quanto
reveladora. Manílio escreve:
A parte humana da caçadora Diana rege, mas a do cavalo é
regida por Vesta...238
Com freqüência, pensamos em Diana/Ártemis como uma deusa da
Lua, embora isso não seja muito exato. No final do período clássico ela
tinha associações lunares, embora tenha estado sempre ligada a uma
fase em particular do ciclo lunar — a lua nova, simbolizada pela ninfa
ou donzela (ver capítulo Seis, "Lua"). Ártemis afastou-se de qualquer
envolvimento romântico com homens ou deuses, preferindo a liberdade
para correr solta pelas montanhas da Arcádia, e até hoje se diz que
Sagitarianas notoriamente têm "medo de homem" quando se trata
238. Manílio, citado em Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid., p. 80.
de compromisso em relações humanas e que elas dão um valor
realmente alto à liberdade pessoal. Porém, Ártemis não poderia ser vista
como uma virgem fria, meio mal-humorada, pois seu desejo de
permanecer afastada do jogo sexual não se baseava num afastamento
negativo. Mais que isso, sua liberdade era a liberdade da própria
natureza, pois originalmente Ártemis era a Senhora dos Animais
Selvagens, uma deusa da caça239. Seu local de moradia era nas florestas
no alto das montanhas; seu totem era o urso. Sagitário é chamado
Arqueiro, o que é peculiar se pensarmos no signo apenas em relação a
Quíron, o centauro, que não está particularmente ligado à arte do arco e
flecha. Eles pertencem mais apropriadamente a Ártemis, assim como as
tradições de que esse signo é atlético, amante da liberdade, incansável e
inclinado ao ar livre. Ártemis, a deusa da caça, protegia animais de ser
caçados mais freqüentemente do que os caçava. A irmã gêmea de
Apolo, regente olímpica de Gêmeos, era também a protetora das
crianças pequenas e da natureza em geral. Ártemis hoje em dia sem
dúvida faria campanha para salvar as baleias, os oceanos e as florestas
tropicais. Ela representa o lado de Sagitário que conseguiu a
completude e que expressa suas preocupações compassivas por aqueles
que não podem falar por si. A sagitariana Jane Fonda demonstrou
repetidamente esse aspecto de Ártemis em sua carreira.
Héstia ou Vesta era a guardiã da chama sagrada ou fogo espiritual,
e assim se relaciona às paixões internas e ao senso de devoção da
pessoa. Vesta representa um tipo diferente de consciência espiritual.
Como mencionado anteriormente, o simbolismo do centauro em
Sagitário reflete o aspecto do culto que se relaciona a um tipo celeste de
divindade — por isso a seta e o olhar apontam para cima, além desta
dimensão terrestre. Júpiter residia no alto do monte Olimpo e, para
fazer contato com ele, a atenção da pessoa também tinha de estar
concentrada em cima. Vesta é um símbolo do fogo divino interior e por
isso simboliza a compreensão de que a própria divindade está no
interior. Erigiram-se templos a ela em toda a Grécia; seus devotos,
cansados da batalha, buscavam seu consolo e eram renovados apenas
por entrar em contato com sua energia. Esse aspecto de Sagitário é
refletido no padre ou na freira, conselheiro ou amigo, que, como agente
ou representante direto da energia do Deus/Deusa, está sempre ali com
o calor e constante radiância interna que nos consola e inspira durante
os tempos difíceis.
Talvez, a combinação mais verdadeira para Sagitário seja Quíron/
Ártemis; de fato, há algo distintamente selvagem em alguns
sagitarianos. Com freqüência parecem prontos a sair correndo,
principalmente em situações sociais. Sentem-se desconfortáveis em
meio a multidões e estão
239. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid, vol. I, pp. 83-6.
em casa quando estão ao ar livre. Seu amor pela liberdade pessoal e
proverbial e têm uma sexualidade positivamente feroz, mais
característica de animais selvagens do que de filósofos cultos. Como
Quíron e Ártemis, o verdadeiro sagitariano tem um pé no mundo
primitivo da natureza. Ele deve viajar mentalmente aos cumes do
Olimpo, onde Júpiter reina supremo, mas a verdadeira sabedoria
sagitariana está enraizada na terra. Isso não significa que os sagitarianos
são práticos; longe disso. Têm a ingenuidade dos bichos selvagens e
podem parecer meio deslocados no "mundo real". Mas, sua ligação com
a natureza impede sua filosofia de tornar-se demasiado abstrata e torna
sua sabedoria tão essencialmente humana.
Diana e o veado, do Kunstbüchlin de Jost Amman, publicada por Johann Feyerabend.
Frankfurt, 1599
Quando o Sol está em Sagitário, o conceito da jornada do herói
para compreender a vida e a existência (ou seja, para conhecer Deus
intimamente) mantém o fogo aceso. A Lua em Sagitário, por outro lado,
necessita encarar a vida com um toque bastante leve. Essas pessoas
sentem-se bem andando, ou apenas divagando, mas provavelmente
sentem-se melhor ainda ao viajar, explorar novos países — ou, se isso é
impossível, ao menos uma nova parte da cidade (especialmente com
seus cães). Em suma, a Lua em Sagitário tem uma forte dose de
Ártemis em sua natureza; por causa de sua ligação com esse signo,
podemos mesmo considerar Sagitário uma exaltação para a Lua,
especialmente quando é nova.
Mercúrio em Sagitário pode se perder em grandes visões e deixar
de lado os detalhes, mas essa posição sustenta a busca por um objetivo
de vida e dá o combustível para essa busca. Pode-se dizer dessas
pessoas que viajar está em seu sangue, assim como um monte de
informação sobre o mundo. Vênus em Sagitário vem sendo acusada de
ser muito amorosa nos estágios iniciais do romance, mas fugir quando é
necessário compromisso, embora isso nem sempre seja verdade. O que
mais excita a paixão de Vênus nesse signo é um "companheiro de
viagem" — alguém com quem esses nativos possam escalar novas
montanhas e mapear novos territórios. Marte em Sagitário dispende
uma porção de energia e desenvolvimento pessoal em atividades
filosóficas, especialmente ao ar livre. Essas pessoas também se sentem
atraídas por atividades que demandem pouca supervisão ou regras.
Ceres alimenta as visões, objetivos, ideais, sonhos e crenças da
pessoa. Ela pode tornar-se filha do universo, professora e visionária.
Como Júpiter era pai de Atená, Palas em Sagitário exerce pressão sobre
a defesa da pessoa contra o sistema patriarcal e sua relação com o pai.
Juno no signo de seu esposo Júpiter nos lembra de seu volátil
relacionamento; esses indivíduos precisam olhar profundamente para
aquilo em que estão entrando antes de se comprometer em um
relacionamento sério. Podemos considerar que Vesta, como a Lua, é
exaltada em Sagitário, ou ao menos está muito bem localizada ali. Um
indivíduo com essa posição pode trabalhar para criar a compreensão
entre diferentes pontos de vista filosóficos e religiosos, assim como
estar altamente concentrado em seu próprio desenvolvimento espiritual
(Mahatma Gandhi tinha essa localização). Mas existe o perigo de que a
devoção a uma causa política ou social possa tornar-se tão poderosa que
chegue a sugerir o fanatismo.
Júpiter em seu próprio signo em geral tem os ganhos de um
político ou advogado e pode mostrar o tipo de celebridade ou fama pela
qual alguém influencia as massas (exemplo: George Bush). Saturno em
Sagitário ou na Nona Casa liga Júpiter a seu pai, e é favorável para
investir nos negócios e no mundo financeiro, mas também é verdade
que a
Cabeça de Zeus (Júpiter) numa moeda de bronze de Ptolomeu IV, rei do Egito, 221-
204 a.C. Da coleção de Michael A. Sikora
tensão entre os dois pode resultar em um conflito entre seguir um
caminho material ou espiritual. Outro conflito que pode surgir dessa
combinação (Júpiter na casa ou signo de Saturno ou Saturno na casa ou
signo de Júpiter, etc.) é fazer o oposto do que o pai quer. Além disso,
quando o espírito prático e mundano de Saturno está centrado em um
senso jupiteriano de finalidade social ou espiritual, o resultado
geralmente é o sucesso. Isso pode produzir um advogado ou um
banqueiro.
Quíron, como Júpiter, era filho de Saturno, embora Quíron possa
ser considerado o irmão sombrio, "animal", de Júpiter. Quíron na Nona
casa favorece essa grande síntese de conhecimento que é o maior dom
de Júpiter, pois acrescenta uma sabedoria terrena às especulações mais
cerebrais de Júpiter. Isso pode produzir o curandeiro ou médico. Urano
na Nona Casa pode conceder a habilidade de pôr para funcionar até os
projetos mais malucos, pois o senso de finalidade da pessoa está
centrado na originalidade uraniana. Aqui podemos encontrar o ativista
social ou político, o líder (ou o seguidor) de um culto, o inovador ou o
inventor. Mas o lado problemático de Sagitário — sua arrogância e
absolutismo — muito provavelmente surgirá com esses contatos.
Antigamente, Júpiter regia Peixes, um signo agora dado a Netuno.
Por isso, a posição de Netuno na Nona Casa ou quaisquer aspectos
entre Júpiter e Netuno são potencialmente de enorme importância.
Netuno canaliza o senso de finalidade social da Nona Casa em
objetivos idealistas; essa posição é comum entre trabalhadores sociais,
clérigos,
psicoterapeutas e outros membros de profissões de ajuda. Há um forte
impulso espiritual nesses indivíduos para fazer o que acham que
"agradará a Deus" ou ajudará a trazer a salvação para suas próprias
almas. Plutão na Nona Casa concede poder e determinação — e talvez
obsessão — para a própria busca espiritual. Muitos desses nativos
crescem em famílias que encampam rígidos sistemas de crença. Outros
são criados em famílias sem nenhum sistema de crença. De qualquer
modo, são compelidos a buscar respostas espirituais que funcionem
para eles como indivíduos e, por causa do poder de Plutão, podem
também influenciar as massas em suas crenças (exemplo: Joseph
Campbell).
Os períodos em que Netuno e Urano passaram por Sagitário
acabaram se justapondo — de 1970 até 1988, um ou ambos os planetas
exteriores estavam nesse signo magnânimo. Cultos religiosos e gurus
prosperaram durante esses anos de forma inédita na história recente, e
foi um tempo acelerado para a viagem aérea, quando nenhuma distância
era grande demais para se viajar em busca de um ideal. De fato, a
pirataria aérea, um infeliz subproduto do tempo, atingiu seu ápice
também durante essa época, tornando a viagem a longa distância muito
mais arriscada. Plutão entrará em Sagitário na virada do milênio,
quando, esperamos, as barreiras raciais, religiosas e políticas não mais
continuarão a nos separar.


CAPRICÓRNIO, a Cabra-Peixe
SIGNO: Capricórnio, o 10º Signo Zodiacal
MODO: Cardinais - ELEMENTO: Terra - REGENTE: Saturno
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Héstia (Vesta) - Éa (Babilônico) -
Amaltéia - Réia - Pã - A Casa de Atreu
De todos os quatro pontos
principais de virada no ano, o
solstício de inverno deve ser o
mais significativo. Ali, no
momento da maior escuridão no
hemisfério norte, o sol "se volta"
novamente. Após atingir seu
maior desvio para o sul no
horizonte oriental, pode-se
observar que ele nasce um
pouco mais para o norte
conforme os dias começam
lentamente a ficar mais longos.
No antigo drama mitológico da
descida do deus ou deusa ao
mundo subterrâneo, o retorno à
humanidade iniciou-se. Na
jornada da inconsciência
individual, o ponto de maior
contato com a consciência universal foi atingido, a sabedoria coletiva
foi assimilada e o indivíduo inicia um retorno simbólico como um ser
transformado: o "eu" tornou-se o "Eu". É por isso que todos os deuses
que representam o "eu" elevado — incluindo Cristo — têm seus
aniversários celebrados no solstício de inverno.
Esse ponto decisivo tem sido celebrado desde, ao menos, 3000
a.C. A tumba megalítica de Newgrange, na Irlanda, tem uma pequena
janela
de pedra através da qual nasce o sol do solstício de inverno, iluminando
o interior da tumba240. Nos túmulos megalíticos, os ossos eram
tipicamente pintados com ocre vermelho, cor que simboliza a vida e a
vitalidade, ou seja, a esperança de renascimento.
Mas, como o momento de renascimento espiritual foi associado à
cabra? O signo tem uma história mítica longa e complicada.
Originalmente não era a cabra, mas a "Cabra-Peixe", uma imagem
particular que atualmente foi quase esquecida. Na antiga Babilônia, o
deus Ea era representado como um homem encapotado em uma pele de
peixe. Ele regia as "águas sob a terra", o poder vital que mantinha os
rios Tigre e Eufrates correndo e assim dava a vida à terra. Éa surgiu das
águas do Golfo Pérsico e ensinou a ciência ao povo da Suméria. Além
de estar envolto em uma pele de peixe, era chamado "o antílope do
oceano subterrâneo"241. Não mais sabemos o significado dessa peculiar
atribuição, mas as cabras em geral e os antílopes em particular são com
freqüência representados na arte mesopotâmica alimentando as folhas
da Árvore da Vida242. Originalmente, portanto, Capricórnio era Éa, o
pai da civilização, o homempeixe
que era também,
simbolicamente, o antílope.
A influência
mesopotâmica sobre os
egípcios resultou na fusão
dessa imagem com outra.
Quando a lua estava cheia em
Capricórnio (junho-julho), as
águas do Nilo começavam a
subir. A pesca voltava a ser
abundante, sendo uma fonte
necessária de alimento para os
camponeses egípcios. Assim,
as águas corriam de "sob a
terra" para trazer o alimento
vivificante (peixe) sempre que
a lua estava cheia no signo da
cabra243. Novamente, o peixe e
a cabra
240. Krupp, E.C., Echoes of the Ancient Skies, Nova York, Plume-Meridian, 1983, pp.
122-5.
241. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid, pp. 166; e Gleadow, Rupert, The
Zodiac Revealed, ibid., pp. 126-7.
242. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid., p. 62.
243. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 112.
Uma cabra com cabeça de peixe, figura do
zodíaco de um sarcófago de Tebas, Egito
Capricórnio, de uma ilustração medieval do zodíaco
estão ligados à fonte da alimentação humana que pode ser simbolizada
por águas subterrâneas, a Arvore da Vida ou o renascimento do "Eu".
Os gregos também conheciam Capricórnio como a cabra e uma
fonte de alimentação, embora atribuíssem um significado um pouco
diferente a esse signo. Para eles, Capricórnio era freqüentemente
associado a Amaltéia, a ninfa-cabra que amamentou o pequeno Zeus
(Júpiter) quando sua mãe Réia o escondeu na ilha de Creta para salvá-lo
da ira de seu pai Cronos (Saturno). Como recompensa por seu serviço
ao futuro rei dos deuses, Amaltéia foi posta nos céus como a
constelação de Capricórnio244.
Meio cabra e meio ninfa, Amaltéia era irmã do deus Pã, e portanto
parte da família de sátiros, que são meio humanos e meio bodes. O
excêntrico britânico Aleister Crowley escolheu Pã, e não o tradicional
Diabo, para representar Capricórnio em sua versão do Tarô. Pã também
é representado como o Diabo no Tarô Mítico de Liz Greene245. Eis aí
uma associação que, para nós, pode parecer um tanto deslocada em
relação à interpretação usual de Capricórnio. Pã e seus colegas sátiros
eram devotados à lascívia e à licenciosidade sexual; de fato, o termo
satiríase denota um distúrbio de personalidade em que o doente
(homem) é seriamente viciado em promiscuidade sexual. Nossa imagem
de Capricórnio é muito mais severa e austera que isso tudo, de acordo
com seu regente, Saturno. Mas, o próprio Saturno tinha uma conotação
244. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., p. 113.
245. Crowley, Aleister, The Book of Thoth, Nova York, Lancer, s.d., pp. 105-7; e Juliet
Sharman-Burke e Liz Greene, Mythic Tarot, Nova York, Simon & Schuster, Fireside,
1988.
extremamente sexual entre os antigos. Em Roma, o mês de Capricórnio
era a época da Saturnália, o festival desse deus. Nesse período, todos os
costumes sociais e sexuais eram deixados de lado; dominavam a
licenciosidade e a permissividade246. O ritual pagão do solstício de
inverno que marcava o início do retorno do Sol e era celebrado como
Saturnália era por sua vez celebrado pelos cristãos como o Natal, outro
retorno do Filho. O Natal original, com freqüência, durava semanas; as
pessoas paravam de trabalhar, havia celebrações e festas, trocavam-se
presentes e a paz reinava. A maioria dos estudiosos religiosos e
historiadores acha que o nascimento de Cristo é celebrado nessa época
devido ao antigo
costume de honrar o solstício
de inverno, e não porque haja
algum indício de que seu
nascimento realmente ocorreu
nessa data — especialmente
porque os primeiros teólogos
cristãos localizavam o
nascimento de Cristo na
primavera.
A divindade primitiva
Pã era sexualmente obsessiva
e muitos astrólogos sabem
que os capricornianos
normalmente têm uma
persona selvagemente sexual
e primitiva espreitando
naquele exterior frio e
reservado. A maior parte dos
nativos desse signo não fica
tão distantes da mundanidade
dos sátiros — embora
mantenham isso bem
escondido. A lenda grega
conta do mergulho de Pã no
Nilo para escapar à ira do
gigante Tifão. Enquanto
estava no ar, sua cabeça, que
ficou acima do nível da água,
tornou-se uma cabeça de bode
e sua metade inferior tornouse
a de um
246. Frazer, Sir James George, The Illustrated Golden Bough, Garden City, Nova
York, Doubleday, 1978, pp. 189-91.
A deusa Réia,
também associada a Capricórnio
peixe; assim nasceu o
bode-peixe. Essa versão
da história de
Capricórnio mantém a
imagem do deus-peixe,
embora na constelação
verdadeira o bode
pareça estar morrendo,
enquanto a parte peixe
está vibrante e viva247.
Uma vez que
celebramos o
aniversário de Cristo no
solstício de inverno
enquanto o Sol está em
Capricórnio, é adequado
que o símbolo da cabra
esteja fundido ao do
peixe, um símbolo que
representaria os dois
mil anos do
cristianismo. Como os
bodes são considerados
símbolos de licenciosidade e liberdade sexual, como Pã, estamos
simbolicamente lidando com o desvanecimento dessa sexualidade (a
cabra moribunda) ao nos mover para a Era de Peixes (o peixe vibrante),
era caracterizada por seu controle da sexualidade.
Em Capricórnio, encontramos o simbolismo do afastamento
invernal, da sexualidade latente, do renascimento espiritual e um
poderoso senso de finalidade, tudo combinado. Nesse contexto, é
interessante notar que o regente olímpico do signo era Vesta (Héstia)
que, de fato, incorpora todas essas qualidades248.
Vesta era, em muitos aspectos, uma deusa ascética, incorporando
o estado reflexivo de afastamento que associamos ao inverno. Suas
sacerdotisas, as virgens Vestais, faziam voto de eterno celibato. Mas,
como vimos (no capítulo Doze, "Vesta"), alguns estudiosos presumem
que as virgens Vestais eram originalmente prostitutas do templo do
Oriente Próximo, e portanto há boas razões para associar Vesta à
sexualidade249. Ela era a guardiã do fogareiro, o fogo central que nunca
podia se extinguir, e que pode ser visto como uma metáfora para o
"fogo interior", o
_________________________________________________________
247. Capt, E. Raymond, The Glory of the Stars, Thousand Oaks, CA, Artisan Sales,
1976, pp. 6-8.
248. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid, pp. 80-1.
249. George, Demetra, Asteroid Goddesses, ibid., pp. 117-23.
Um sátiro, ilustrado por Gustave Doré
mesmo fogo interior e força sexual, ou kundalini, que encontramos em
Escorpião. Por meio do controle desse fogo interior, os estados iogues
de consciência são atingidos. Por extensão, esse fogo também pode ser
uma metáfora do "Eu", a personalidade transcendente simbolicamente
nascida no solstício de inverno.
Os arquétipos míticos de Capricórnio são, portanto, diversos,
incluindo Vesta, Pã, Amaltéia e Saturno. Vesta e Saturno representam
um tipo rigidamente controlado, cujo comportamento deve ser
impecável, enquanto Pã e Amaltéia, as cabras e sátiros, representam a
liberdade e o abandono sexual do signo. Vimos, porém, que na
Antiguidade o simbolismo de Saturno e Vesta não era restrito, como
durante a era helenística (c. 300 a.C. A 300 d.C). Assim, um nativo de
Capricórnio deve certamente ter uma mistura desses elementos, guiado
pela paixão e desejo selvagem de um sátiro, mas vivendo em uma época
em que esses desejos devem ser discretos e cuidadosamente dosados
para evitar punições ou humilhação pública.
O controle ou, mais precisamente, o autocontrole é na verdade o
tema de Capricórnio. Quando chegamos a esse estágio final da terra na
mandala astrológica, espera-se que tenhamos adquirido algum controle
sobre esse reino terrestre, o que inclui os apetites físicos. De
Capricórnio espera-se um comportamento e uma força moral dignos do
estágio final da terra.
A imagem de Saturno na astrologia é com freqüência muito pouco
atrativa, e por isso Capricórnio é associado à obstinação, obstrução e
rigidez. Sua reputação (como a de Virgem, o signo de terra anterior) é
de frieza, afastamento, perfeccionismo e materialismo. A necessidade
de estar no controle pode se dever também à sua regência por Saturno.
Um relacionamento combativo com o pai ocorre naqueles que têm
fortes temas capricornianos ou saturninos em seu mapa astrológico. Em
Áries, um signo de fogo, havia também uma necessidade de lutar contra
um pai aterrorizante e tirânico, embora em Áries a busca seja pessoal,
enquanto em Capricórnio é social ou política. Em Leão, outro signo de
fogo, encontramos o segundo relacionamento importante com o pai, um
pai mais de acordo com o simbolismo do deus-sol; aqui havia uma
conexão (ou falta de uma) criativa, terrena, com o pai. Em Capricórnio,
o arquétipo do pai é um pouco diferente. Representa a ligação com o
pai da terra, ou a influência e a orientação que o pai dá ao filho para
que esse faça seu caminho no mundo, dando-lhe auto-estima e
autoconfiança e, finalmente, repassando o "reino" ou regência ao filho.
É aqui que Capricórnio encontra seu desafio. Urano foi derrubado por
Saturno e este, temeroso, engolia seus próprios filhos. Como os arianos,
os capricornianos podem ser engolidos por um pai tirânico, que pode
representar também valores como sociedade, Igreja ou o sistema
familiar. Enquanto os arianos lutam para se libertar da influência do
pai, como
Jasão ou Luke Skywalker (ver Capítulo Vinte e Dois, Áries), e assim se
tornam individualistas, os capricornianos são muito mais facilmente
consumidos pelo sistema de valores de outras pessoas. No devido
tempo eles podem perpetuar o ciclo, tornando-se exageradamente
protetores de seu próprio governo e por isso podem engolir seus
próprios filhos no processo. "O pecado dos pais transmitido aos filhos"
parece refletir esse legado genético e psicológico de Capricórnio.
Outra representação mitológica desse tipo de sistema familiar, em
que os pecados do pai são pagos pelos filho, pode ser encontrada na
história da Casa de Atreu. Os detalhes da história estão cuidadosamente
registrados em diversos bons textos250. Em resumo, a história se inicia
com um pai atrevido o bastante para cozinhar seu filho e servi-lo como
um festim para os deuses. Esse tipo de ultraje, concluíram os deuses,
devia ser punido severamente. Trazendo o filho de volta à vida, os
deuses o pouparam da maldição que se seguiria, e que se seguiu,
atingindo o resto da linhagem por diversas gerações, sem poupar
ninguém. O resultado foi matricídio, parricídio, infidelidade,
derramamento de sangue, insanidade e, por fim, resolução. As futuras
gerações pagaram caro, inconscientemente, pelos pecados de seu
antepassado; mas, como na lei do carma (domínio de Saturno), tudo o
que vai, volta, até que a dívida seja paga.
Essa ferida parece afligir a maioria dos capricornianos — a ferida
de não conseguir o que precisavam de seus pais. Por sua vez,
preocupam-se tanto com seus próprios filhos que, no processo, fazem
de tudo para controlá-los e perdem-nos do mesmo jeito. Os filhos de
Capricórnio podem ser projetos, trabalho, empregados e mesmo
parceiros — mas o ponto principal é que sua necessidade de manter o
controle em todos os momentos com freqüência afastará suas
associações. Claro, há outro tipo de paternidade representada em
Capricórnio — aquela dada por Amaltéia e Réia. O amor de Réia por
seus filhos era tão grande, combinado com o ultraje e os atos violentos
infligidos sobre eles por seu pai, que ela entrou em ação, salvando Zeus
do destino que tiveram seus irmãos mais velhos. Ao assumir o risco de
confiar Zeus à ninfa-cabra Amaltéia, Réia conseguiu trazer seus filhos
de volta. Réia representa o genitor que, embora eclipsado e por vezes
enfraquecido diante de um parceiro dominante, sacrifica tudo o que é
possível pelo bem dos filhos. Amaltéia, a mãe de criação, cuidou de
Zeus amorosamente até que fosse hora de devolvê-lo à sua família.
Héstia também representou um papel nessa dinâmica familiar.
Como primeira filha de Réia e Cronos, Héstia também foi a primeira a
250. Especialmente em três peças de Esquilo: Agamêmnon, Coéforas e As Eumênides.
Sófocles e Eurípides escreveram cada um uma Electra sobre o mesmo tema.
ser engolida e portanto a última a emergir da sombra de Cronos. A
representação que Jean Shinoda Bolen faz da infância de Héstia sugere
que uma pessoa com esse arquétipo enfatizado pode nunca superar
totalmente a solidão que ela experimentou no início da vida251. Mas, é
com freqüência esse tipo de solidão que inspira uma pessoa a buscar a
luz interior, em vez de mergulhar em relacionamentos externos.
Vemos assim que Capricórnio e seu relacionamento com a família
têm uma impressionante similaridade com Câncer, seu oposto polar; os
astrólogos sempre afirmaram que os pais do indivíduo podem ser
encontrados na Quarta e na Décima Casas da roda astrológica (casas
correspondentes a Câncer e a Capricórnio). A principal diferença é que
Câncer, um signo de água, trata do laço emocional com a família,
enquanto Capricórnio, o signo de terra, representa uma imagem mais
pública que envolve o indivíduo e a família (ou sociedade).
O Sol em Capricórnio representa a luz brilhando no alto da
montanha, vigiando as ações da humanidade, assim como os deuses
Urano, Saturno e finalmente Júpiter fizeram de suas respectivas
montanhas. As lições que esses deuses aprenderam por ocupar posições
tão elevadas certamente indicam que o poder absoluto corrompe
absolutamente, mas, ao se empenhar por isso e atingir as posições mais
importantes na vida, Capricórnio cumpre seu destino solar. Diz-se que a
Lua está em detrimento aqui, mas isso não quer dizer que os indivíduos
com a Lua em Capricórnio não são sensíveis. São muito sensíveis. O
detrimento apontado pelos antigos provavelmente se relaciona mais ao
fato de que a natureza endurecida e cristalizada de Capricórnio carece
do acalento e da sensibilidade exigidos pela Lua em seu processo
vivificante. A maior parte das pessoas com a Lua em Capricórnio não se
sente bem acalentada — têm de aprender a acalentar a si próprias.
Noites calmas no calor e segurança de seu próprio lar farão maravilhas
por eles, assim como para o tipo oposto, que tem a Lua em Câncer.
Acima de tudo, eles precisam criar situações em que possam esquecer
um pouco sua mania de controle e apenas existir. Na melhor das
hipóteses, a pessoa pode se tornar uma Amaltéia ou Réia, o genitor que
se sacrifica e faz qualquer coisa por seus filhos.
Mercúrio em Capricórnio concede uma mente crítica e científica,
que pode estar interessada na natureza das coisas. Vênus em
Capricórnio é leal acima de tudo e o senso de dever e responsabilidade
funde-se com a natureza amorosa. Marte é exaltado aqui, mesmo sendo
um lugar aparentemente improvável para o deus da guerra, exceto
porque o governo político está sempre relacionado ao militarismo; por
isso Marte, um planeta energético, está bem no ambicioso Capricórnio.
251. Bolen, Jean Shinoda, Godesses in Everywoman, ibid., pp. 107-31.
Antílope (imagem antigamente associada a Capricórnio) de um afresco em Cnossos,
Creta, ilustrado por Diane Smirnov
Em Capricórnio, Ceres torna-se a organizadora por excelência;
uma pessoa com essa localização planetária passa a ser a figura de mãe
(ou o pai acalentador, se for homem) que todos procuram para pedir
conselhos. A prudência e a produtividade são favorecidas. Palas Atená
em Capricórnio, como em Sagitário, é a verdadeira "defensora da
pátria", das regras e regulamentos da sociedade; a relação com o pai
também é forte aqui. Juno em Capricórnio, como Vênus, é leal aos seus
compromissos em relacionamentos; enquanto Juno nesse signo pode
esperar eternamente até encontrar o parceiro certo, pode também
permanecer eternamente mesmo depois que não haja mais nenhuma
base para relacionar-se. Vesta em Capricórnio provavelmente limitará
ou restringirá a expressão sexual, mas é igualmente provável que
represente uma genuína Saturnália, entregando-se completamente ao
desejo. Provavelmente haverá limites e definições restritos sobre
quando é apropriado agir dessa forma, em contraste com o
comportamento típico, mais reservado, do indivíduo. Na melhor das
hipóteses, a associação de Vesta com esse signo relaciona-se à
disciplina, dedicação a uma causa e infatigabilidade com que essas
pessoas realizam suas tarefas (pessoas com Vesta em Capricórnio, por
exemplo, apenas iriam ver um médico se estivessem realmente
doentes!)
Júpiter em Capricórnio une novamente o pai e o filho, dessa vez
numa situação em que o filho (ou filha) usualmente supera o pai e acaba
por derrubá-lo de alguma forma, assim como Júpiter fez com Saturno.
Se os conflitos pai/filho não forem resolvidos, essa posição pode fazer
com que os filhos se desliguem dos pais de maneira dramática (como
Júpiter atirando Saturno no Tártaro). Quando resolutos, podem ser uma
excelente combinação de prudência, espírito prático e paciência
(Capricórnio) aplicada à exuberância, visão de longo alcance e
generosidade de Júpiter. Saturno em Capricórnio é uma dupla praga e
parece duplicar as responsabilidades de Saturno. Leis, tradições e
respeito pelo passado são preocupações primordiais aqui; podemos
dizer que Saturno, em seu próprio signo, é capaz de honrar em demasia
essas tradições. Assim, podemos encontrar pessoas com essa
localização em posição de respeito, liderança, autoridade e domínio
sobre os outros. E, é claro, com tal posição vem o teste definitivo do
poder, o tipo que muitos de nossos líderes políticos e religiosos estão
encarando hoje com uma abundância de planetas exteriores em
Capricórnio.
Quíron na Décima Casa obriga o nativo a manifestar algo do
espírito de Quíron em seu relacionamento com o mundo exterior:
professores (especialmente de Ensino Médio), curandeiros e
reformadores políticos com freqüência apresentam essa localização.
Urano na Décima Casa, em Capricórnio ou em aspecto com Saturno é
complicado e por vezes paradoxal, pois novamente encontramos uma
combinação de pai e filho opostos um ao outro; aparentemente, aqueles
que tentam reconciliar esses opostos ao longo da vida precisam lutar
muito. Urano rejeita habitualmente a regência alheia e Capricórnio é o
signo da lei. Mas Saturno e Urano eram também progenitores
prolíficos, de forma que os aspectos procriativos dessa combinação
também podem ser profundos. Isso pode nem sempre implicar a criação
de filhos biológicos; essas pessoas tendem a dar origem a idéias,
conceitos, invenções, serviços e tecnologias que adiantam o curso da
civilização. Eles devem se lembrar de não ficar presas, como Saturno e
Urano, aos antigos modos e métodos, recusando-se a mudar quando os
tempos assim o exigem. Quando as pessoas de Saturno/Urano se
recusam a mudar (o que é comum), podem acabar caindo no proverbial
abismo enquanto o resto do mundo segue viagem sem eles. A cada
quarenta e cinco anos, mais ou menos, esses planetas reúnem-se para
uma conjunção ou encontro, um período em que os sistemas políticos e
antigos líderes mundiais podem sofrer castração ou destronamento pelo
povo, como no mito, e novas ordens mundiais tomam forma.
Netuno na Décima Casa, em Capricórnio ou em aspecto com
Saturno é normalmente considerada uma posição difícil, pois a relação
de Saturno com Netuno é muito complexa e difícil de harmonizar.
Ambos esses deuses (ou planetas) podem experimentar sentimentos
similares de rejeição, medo, culpa, abandono e desespero por si sós, e,
quando combinados, esses sentimentos normalmente se multiplicam. O
principal conflito entre esses dois deuses existe porque Saturno é um
deus da terra e domina o mundo físico, material, racional, e Netuno é
um deus do mar cujo domínio do inconsciente, mítico e etérico constitui
um reino que Saturno não é capaz de alcançar. Quando uma pessoa tem
esses dois signos ou planetas em algum tipo de aspecto vitalício, um ou
outro provavelmente dominará o indivíduo, especialmente se estiverem
em conjunção no momento do nascimento. Então, quando ocorrer a
próxima conjunção (normalmente no final dos trinta), o outro arquétipo
emergirá, muito provavelmente dominará e acabará por se harmonizar.
Nesse período, o indivíduo tem uma capacidade maior de integrar as
duas energias, já que as conjunções planetárias sempre exigem que um
compromisso seja firmado. Plutão na Décima Casa ocorre com
freqüência nos mapas de homens de negócio ou políticos extremamente
bem-sucedidos, embora a necessidade de poder possa tornar-se tão forte
com essa posição que chegue a afogar completamente o nativo
(exemplo: Richard Nixon).
De 1984 a 1998, Saturno, Urano e Netuno transitaram pelo signo
da cabra e, por um curto período (1988 a 1990), os três estavam ali ao
mesmo tempo. Não é de espantar que o mundo esteja passando por um
colapso de tradições políticas que duraram por décadas. As estruturas
políticas, econômicas e sociais estão se dissolvendo ou sendo
reformadas. Os líderes dessas instituições estão sendo testados em sua
força moral. "O poder absoluto corrompe absolutamente?" pode ser a
questão definitiva da época.
Em Capricórnio, a roda solar é girada pela quarta e última vez.
Atingimos uma certa mestria em Capricórnio — e, se isso envolve seja
uma mestria interior, espiritualmente dirigida, ou um domínio exterior,
notoriamente dirigido sobre os outros, atingimos o pico da montanha (e
o pico literal da roda, astrologicamente), e nesse ponto devemos voltar
ainda mais nossa atenção às necessidades do coletivo, um processo
exemplificado nos últimos dois signos, Aquário e Peixes.


Carregadores de água de um afresco em Cnossos, Creta, ilustrado por Diane Smirnov
AQUÁRIO, o Carregador de Água
SIGNO: Aquário, o 11º Signo Zodiacal
MODO: Fixo - ELEMENTO: Ar - REGENTE: Urano
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Saturno - Juno - Osíris, Ísis e
Hapi (Egípcios) - Gilgamesh e Utnapishtim (Sumérios) -
Ganimedes - Hebe - Prometeu - Pandora
O Nilo começa a se encher
em julho, no mês de Leão. Essa
é a época do ano em que
Aquário ascenderá no pôr-dosol
— ou, para dizer de outro
modo, quando a Lua estará
cheia em Aquário. Portanto, não
se deve surpreender que esse
signo fosse originalmente
associado à cheia do Nilo252.
Em sentido simbólico, os
egípcios pensavam no Nilo
como o deus Osíris fecundando
a deusa Ísis, que simbolizava a
terra egípcia. O mito de Osíris
trata da morte, do
desmembramento e da
ressurreição final desse deus.
Um dos mais sagrados
santuários do antigo Egito fica no Templo de Elefantina, venerado
como o início simbólico (embora não verdadeiro) do Nilo. Ali era
guardada uma relíquia especialmente sagrada, o osso da canela do deus
Osíris. Ali perto, na ilha de Philae, havia um baixo-relevo que
representava Hapi, o deus do Nilo, derramando a água da vida de dois
252. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 114-15.
vasos. A imagem de Aquário mostra o carregador de água derramando
as águas da vida; e a canela é associada a esse signo em astrologia
médica253. Para os antigos egípcios, portanto, Aquário representava o
poder espiritual vital que renova e fertiliza todas as coisas.
O signo tinha também poderosas associações entre os babilônicos.
Como vimos, os quatro signos fixos do zodíaco aparecem
repetidamente no mito babilônico, especialmente no épico de
Gilgamesh e no
Livro de Ezequiel em hebraico,
composto na Babilônia durante o
cativeiro. Enquanto os outros três
signos fixos são representados
por animais, Aquário adquire
uma distinção particular, já que é
representado por um ser humano.
No épico de Gilgamesh, esse ser
humano tem um nome e uma
história.
Gilgamesh perdeu seu
melhor amigo, Enkidu, seu
companheiro de armas. Tentando
devolver Enkidu à vida,
Gilgamesh saiu em busca da erva
da imortalidade. A Deusa enviara
um touro contra ele (Touro) e,
durante sua demanda, venceu um
bando de leões (Leão) e
atravessou o portão onde três
homens-escorpião montavam
guarda (Escorpião). Esses são os
primeiros três signos da cruz fixa
que Gilgamesh teve de dominar
antes de poder chegar ao outro
mundo onde vivia o imortal
Utnapishtim, que podemos
reconhecer como Aquário.
Utnapishtim anteriormente fora
mortal, mas apenas ele ouvira as
vozes divinas avisando da
destruição do mundo.
Utnapishtim construiu um barco e
salvou-se assim da inundação que
assolou o mundo. Utnapishtim é a
forma
253. Lamy, Lucy, Egyptian Mysteries, Nova York, Crossroad, 1981, p. 5.
Osíris
Suméria ou babilônica de
Noé e a história da
inundação em que representa
esse papel principal é o
protótipo da história do
Dilúvio em Gênesis. Por
causa de sua obediência à
vontade divina, Utnapishtim
recebeu a vida eterna e a
guarda da erva da
imortalidade.
O épico conta como
Gilgamesh ganhou a erva da
imortalidade e a perdeu
novamente — pois, afinal de
contas, a humanidade ainda
não ganhou a
imortalidade254. Mas,
novamente encontramos
uma figura mítica associada
tanto ao dilúvio quanto à
renovação ou imortalidade.
Utnapishtim, Hapi e Osíris
incorporam todos o mesmo
arquétipo.
Os gregos contavam
uma história bastante
diferente. Associavam
Aquário a Ganimedes, o
belo rapaz troiano que atraiu
a atenção de Zeus (Júpiter).
O rei dos deuses desceu do
Olimpo em forma de águia e levou Ganimedes para torná-lo o copeiro
dos deuses255 (a outra copeira era Hebe, a donzela filha de Hera, que
incorporava muitos dos atributos de sua mãe). Os deuses viviam de
néctar e ambrosia e presumivelmente era a ambrosia que Ganimedes
derramava de seu copo. Ambrosia é equivalente ao sânscrito amrita,
que significa "a bebida da imortalidade". Essa era a mesma substância
mágica que vimos em poder de Utnapishtim. O significado de Aquário
está ligado ao conceito de uma substância divina que alimenta toda a
vida. Essa substância é descrita variadamente como as águas da vida,
uma erva ou uma bebida vivificantes.
_________________________________________________________
254. Sandars, N.K., trad., The Epic of Gilgamesh, ibid., pp. 97-107.
255. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., vol. 1, pp. 115-18.
Ganimedes
Rei Seti I oferece vinho diante de Osíris. Atrás de Osíris estão Ísis e Hórus
Uma interpretação atual diz que Aquário rege a eletricidade e
que o glifo desse signo (K) deve ser compreendido como ondas
elétricas, e não como água. Em nosso mundo científico, concebemos
a substância vivificante como uma quantidade vital, elétrica, de
energia cósmica, não mais como uma beberagem mágica. E também
vemos os aspectos tecnológicos altamente avançados de nosso mundo
como inebriantes — talvez até demais. Além disso, sem os avanços
científicos aquarianos que foram prenunciados desde os dias da
descoberta de seu planeta regente, Urano, o mundo ainda estaria meio
adormecido. Estando entre o segundo e o terceiro milênio da era
cristã,* já percebemos como estender a vida (transplantes de coração,
fígado e rins), como criar vida em laboratório (bebês de proveta) e
como destruir a vida em questão de segundos (energia atômica).
Certamente, a imortalidade de proveta não pode estar muito distante
nesta época em que o homem brinca de ser Deus.
Embora Aquário sempre tenha sido associado com as águas da
vida, a verdadeira interpretação do signo mudou muito ao longo dos
séculos — o que não surpreende, tanto que a regência também
mudou. O regente olímpico do signo era Juno, a deusa do casamento
— um
* N. do E.: Lembramos que a edição original desta obra foi publicada em 1993, daí
referências a essa época.
significador que pode parecer estranho para nós atualmente, já que
normalmente pensamos que os aquarianos fogem do casamento porque
este limita sua liberdade256. Vale lembrar, porém, que as regências
olímpicas eram arranjadas em pares de opostos, e que Leão, o signo
oposto a Aquário, era regido por Júpiter, o esposo de Juno. Também é
apropriado que, conforme nos aproximamos da Era de Aquário, os
princípios de liberdade e igualdade sejam honrados acima de tudo. A
associação de Juno com Aquário sugere que a humanidade não seja
libertada de suas trevas até que o homem e a mulher estejam unidos
como iguais, no casamento e nos assuntos mundanos.
Na astrologia moderna, o planeta recém-descoberto (1781) Urano
rege Aquário. Se examinarmos Urano de perto no mito, descobriremos
que seu comportamento não se encaixa absolutamente na imagem que
fazemos desse iluminado signo. Também não encontraremos muita
correlação com o antigo regente, Saturno. Porém, descobriremos dois
deuses com incríveis capacidades vivificantes e procriativas, os deuses
das primeira e segunda gerações que deram origem a todas as gerações
subseqüentes. O problema surgiu quando eles não puderam retirar-se de
boa vontade e deixar que seus filhos tomassem a frente. Seguraram-se
firmemente em suas posições de poder, pois sem essa posição se
sentiam inúteis, inadequados. Isso relembra o tremendo potencial
criativo inerente a Aquário (ideologistas, inventores, artistas) e também
sua fixidez. Esses futuros pensadores e visionários que podem nos
empurrar para a frente tão rapidamente podem também ter grande
dificuldade em desistir de antigas idéias, opiniões ou posições, mesmo
quando já é hora de se retirarem. Podem permanecer rigidamente presos
a um modo de pensar para sempre, e é, provavelmente, por isso que se
diz que seu planeta regente, Urano, que despedaça conceitos velhos e
desusados, cria um terremoto em nossa vida quando está em um trânsito
importante.
Na astrologia clássica, porém, Saturno regia esse signo; textos
astrológicos muito antigos descrevem os aquarianos em termos
saturninos257. Essa imagem também nos parece estranha, pois
atualmente vemos o comportamento aquariano como oposto a tudo o
que é tradicional ou saturnino. Ocasionalmente, porém, ainda podemos
encontrar aquarianos cautelosos, conservadores e melancólicos, ou
quietos, pensativos e profundos. Ronald Reagan certamente incorpora o
lado cauteloso e conservador do aquariano saturnino em sua filosofia,
mas demonstra o lado carismático de Aquário em sua personalidade.
Por outro lado, o aquariano Abraham Lincoln deve ser visto como
saturnino em sua aparência, melancolia e na profundidade de seu
pensamento.
256. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid, pp. 80-1.
257. Lilly, William, An Introduction to Astrology, ibid.
Pandora, antes de deixar o monte Olimpo
Suas idéias, porém, encaixam-se mais propriamente em nossa imagem
atual de Aquário como o profeta, o reformador social e o livrepensador.
Essas qualidades são características de Prometeu, o divino
rebelde do Olimpo que "roubou o fogo dos deuses" (ver Urano).
Essas imagens mutáveis de Aquário ilustram um ponto
importante. Podemos pensar nos arquétipos do inconsciente coletivo
como imutáveis; mas não o são. Mesmo as grandes imagens
adormecidas na mente de toda a humanidade estão sujeitas a mudanças.
Elas mudam gradualmente ao longo dos séculos; mas, como o deus do
mar Proteu, que podia mudar de forma à vontade, eles têm uma
flexibilidade que os permite responder às necessidades da humanidade
em um dado momento. Durante os últimos duzentos anos, a mente
coletiva formulou uma nova imagem de Aquário para que se encaixasse
na era astrológica vindoura. Se o signo agora representa a liberdade, a
união da ciência e da magia e o poder da individualidade equipada para
o serviço de um todo maior, essas são as qualidades de que nós,
coletivamente, mais necessitamos.
Assim, como notamos em Urano, Prometeu talvez seja o arquétipo
mais adequado para esse signo. Devemos lembrar que Quíron deu sua
vida para que Prometeu pudesse ser libertado de seu tormento. Aqui
vemos uma associação entre Sagitário ou Virgem (Quíron) e Aquário
(Prometeu). Ambas as figuras míticas devotaram grandes serviços à
humanidade, ambos sofreram e desejaram libertar-se de seu próprio
sofrimento mundano. Há um aspecto desses três signos associado à
liberdade, especialmente ao tipo de liberdade que vem da
transcendência da vida corporal e terrena. A principal diferença é que
Sagitário, o signo do fogo, busca a liberdade física através de amplos
espaços vazios para perambular, enquanto Virgem, um signo da terra e
outro lar de Quíron, busca a libertação espiritual das exigências físicas
como um todo — a transmutação do corpo (terra). Aquário, o signo do
ar, busca a liberdade de pensamento e, se não consegue obtê-la, sente-se
acorrentado, assim como Prometeu.
Pandora é outro arquétipo adequado para Aquário; no Tarô
Mítico, Pandora é representada na carta A Estrela, a associação do Tarô
com o Aquário astrológico258. Pandora também se relaciona a Prometeu.
A ação de Prometeu de roubar o fogo e entregá-lo aos mortais foi o que
irritou Zeus. Como conseqüência Zeus mandou que o deus-ferreiro,
Hefesto, criasse Pandora e sua caixa. Dizendo-lhe para não abrir a
caixa, Zeus teve a certeza de que ela ignoraria a ordem e assim soltaria
todos os males que ali havia sobre a humanidade. Ter
258. Sharman-Burke, Juliet e Liz Greene, Mythic Tarot, ibid., pp. 69-71.
aberto a caixa deixou Pandora em apuros e esse ato de curiosidade pode
parecer mais com Gêmeos do que com Aquário. Mas há uma diferença
entre a incansável curiosidade da mente jovem em Gêmeos e a
curiosidade aquariana que fez com que Pandora abrisse a caixa. A caixa
selada é um lugar de escuridão, medo ou ignorância. Assim, sua
abertura representa a iluminação e o conhecimento. Quando Pandora
abriu a caixa, saíram de lá todos os males e a pestilência do mundo
infligidos pelos deuses sobre a humanidade. A única coisa que sobrou
na caixa foi a esperança. A esperança, bem como o conhecimento e a
iluminação da humanidade, é o que acabará por espantar a escuridão, o
medo e a ignorância, e é o principal ingrediente na cura ou
transmutação de todos os males, sejam infligidos pelos deuses ou obra
do homem.
Os signos do ar, como já observamos (ver Capítulo Vinte, "Os
Elementos", seção "Ar"; Capítulo Vinte e Quatro, "Gêmeos"; e Capítulo
Vinte e Oito, "Libra"), têm dificuldades em manter uma boa relação
com o corpo. O corpo refere-se ao corpo físico e à vida na Terra em
geral. O ígneo olhar sagitariano sempre foi dirigido para cima, para
algum lugar distante, enquanto em Capricórnio atingimos o alto da
montanha (o capricorniano Martin Luther King: "Estive no alto da
montanha!") Em Aquário, o deus ou deusa está derramando o cântaro
sobre a terra, indicando que o conhecimento existe no plano celeste e
deve ser transmitido aos terrestres. Esse é o comprimento de onda de
muitos aquarianos; os que não travaram contato apropriado com suas
informações, ou que acham, assim como Lincoln, que as deram de
presente a um mundo que ainda não estava preparado para recebê-las,
se vêem em um lugar solitário e isolado e, portanto, fora de harmonia
com a "vida na Terra". Prometeu descobriu o quão solitário se pode
estar no alto da montanha.
Aquário, na mandala astrológica, mantém uma importante relação
com Leão. São opostos polares e dependem um do outro para muitas
funções-chave. Em Leão, observamos que a terra era um símbolo
primordial; em Aquário, é a circulação do sangue. Se nosso sistema
circulatório está funcionando mal, não estamos recebendo sangue
suficiente no coração; assim, nossos sinais vitais enfraquecem e
podemos até morrer. Coágulos sanguíneos são uma manifestação da
energia aquariana disfuncional. A circulação também inclui a
sobrevivência das células cerebrais para receber novas informações.
Quando a estimulação do cérebro está obstruída, ocorre a estagnação
mental. Dessa forma, tumores cerebrais, coágulos, endurecimento das
artérias e ataques cardíacos são todos relacionados a essa polaridade
Leão/Aquário. Quando um indivíduo pára de pensar, ele pára de
crescer. E para os aquarianos não basta apenas receber informações. O
cântaro está virado para baixo — ele deve retransmitir essa informação
para os outros para que eles não tenham de viver na escuridão.
Em Aquário, em que
princípios universais — e não
pessoais — são enfatizados, o
temperamento inflamado, ígneo,
do Sol está em detrimento, pois
ele encontra pouca satisfação em
um signo em que todos são
considerados iguais. Pessoas
com a Lua em Aquário não têm
problemas em apenas existir —
isso é natural para eles. Essas
pessoas gostam de travessuras e
precisam manifestar toda a
irresponsabilidade quanto
possível no processo.
Dependendo de seu
temperamento, podem preferir
as florestas ou a grande tela
verde do computador, mas
precisam dessa absorção infantil
do jogo.
Mercúrio em Aquário pode
ser brilhante. Esse tipo de gênio
destaca-se entre os amiguinhos
por seus prodigiosos dons, assim
como Hermes ao inventar a lira.
Vênus em Aquário ama de um
modo que, para muitos, é demasiado cerebral e desprendido; mas essas
pessoas genuinamente sabem como encontrar sua alegria nos
relacionamentos de um modo bastante único. Marte em Aquário pode
ser brilhante tanto física quanto mentalmente, pois todo o sistema da
pessoa está cheio de criatividade uraniana. Pessoas com essa posição
serão provavelmente bastante individualistas, do tipo que é contra o
sistema apenas pelo gosto de ser do contra.
Com Ceres em Aquário, não há exatamente uma ligação maternal
em nível emocional. Uma separação prematura dos pais provavelmente
produzirá um pensador ou um agente independente que será brilhante
em sua área. Palas Atená, assim como Mercúrio, pode ser brilhante
nesse signo e pode sofrer o mesmo isolamento em suas relações íntimas
com outros, mas será vista como líder. E, se Hermes inventou a lira,
Atená dava presentes práticos, como a oliveira. Juno recebeu a regência
sobre Aquário no sistema olímpico e essa é uma posição que poderia
pressionar a igualdade em todos os tipos de relação humana. Vesta
poderia produzir um genuíno visionário com uma natureza sexual
irregular, mas altamente carismática.
A carta A Estrela de um baralho de Tarô
francês do século XIX
Júpiter em Aquário pode produzir o reformador social, pois a
visão ampla do deus-céu alcança mais longe que o normal nesse signo.
Mesmo o mais conservador dos mortais deve, com essa posição, ter
uma mente mais aberta que a maioria. Saturno está no signo de sua
antiga regência em Aquário; essa posição sempre foi associada a
liderança, seja política ou outra, mas esses líderes têm uma espécie de
melancolia nascida de seu isolamento no cume da montanha.
Quando Quíron está na Décima Primeira Casa ou combinado com
Urano ou Aquário, forma-se um posicionamento poderoso e mítico,
com influência direta em nossa capacidade de atravessar a ponte entre
Saturno e os planetas exteriores e liberar as energias uranianas. De 1952
até 1989 esses dois planetas estavam em oposição, o que implica toda
uma geração para a qual a busca prometeana — a libertação do Eu — é
de enorme importância. Quando Urano está em Aquário ou na Décima
Primeira Casa, está em sua casa natural. O idealismo futurista, a
inventividade e o iconoclasmo desse planeta estão no auge aqui. Tanto
o príncipe Charles quanto seu filho, o príncipe William, os futuros reis
da Inglaterra, têm esse posicionamento. O príncipe Charles já foi vítima
do fogo dos conservadores por causa de alguns de seus conceitos nada
tradicionais e muito pessoais. Netuno na Décima Primeira Casa, assim
como Urano, certamente dará origem ao idealismo social, embora o
netuniano possa ter trabalho para trazer sua visão para um nível prático,
mundano. Plutão na Décima-Primeira casa pode emprestar seu poder
obsessivo tanto a ideologias quanto a grupos na vida do nativo; essas
pessoas precisarão identificar-se com elas próprias e não com seus
amigos e filosofias.
Diz-se que os aquarianos estão à frente de seu tempo, e por isso
levemente fora de sincronia com o mundo que os rodeia. A Revolução
Industrial, um período na história que se seguiu à descoberta do planeta
regente de Aquário, Urano, em 1781, introduziu a chamada Idade das
Luzes — ou, ao menos, a Era da Tecnologia. Desde aquele tempo, os
astrólogos afirmam que estamos entrando na cúspide da era de Aquário.
E, embora ainda não estejamos plenamente nela, certamente estamos na
transição. Já que uma era astrológica leva 2100 anos para se completar,
a cúspide pode durar cerca de duzentos anos, e nessa cúspide ou
período entre duas eras temos vivido desde o final do século XIX. No
mundo de hoje, muitas idéias e invenções aquarianas (notadamente as
dos aquarianos Thomas Edison e Nikola Tesla*) vieram à luz, tendo
como efeito geral fazer o mundo parecer fácil de compreender. As
tecnologias aquarianas produziram tanta informação sobre nosso mundo
(chamamos à nossa época Era da Informação), e outros mundos,
* N. do E.: Sugerimos a leitura de As Fantásticas Invenções de Nikola Tesla, de David
Hatcher Childres e Nikola Tesla, Madras Editora.
que não mais precisamos viver com medo do inimigo ou do
desconhecido. Mesmo assim, muitos ainda o fazem. Enquanto os líderes
mundiais estiverem preocupados em fazer guerras, enquanto nações
ainda viverem na pobreza, na ignorância e sem abrigo, enquanto as
pessoas ainda tiverem medo umas das outras, enquanto indivíduos e
nações que têm abundância estiverem acumulando os recursos da terra
sem compartilhá-los com os necessitados e enquanto existirem ainda
preconceitos raciais e religiosos, ainda não estaremos vivendo na era de
Aquário. Mas os conceitos de Aquário têm ficado mais fortes conforme
cada nova década se desdobra, e a humanidade está vagarosamente
dando a grande virada que expulsará a fome e a doença, criará a paz e a
liberdade e dissolverá as fronteiras políticas e raciais, de forma que
poderemos realmente ver que cada indivíduo é parte de um todo, tão
importante quanto qualquer outra.
Urano entra em seu próprio signo em 1995, onde ficará por sete
anos. Netuno se seguirá, entrando em Aquário em 1997, por catorze
anos. Baseado nas elevadas vibrações de Urano e Netuno nesse signo
humanitário, voltado para o futuro, os primeiros anos do terceiro
milênio devem ser bastante significativos em termos de atingir uma
nova espiral de realização evolucionária para a humanidade.


Sereia tocando harpa, do Kimstbüchlin de
Jost Amman, publicada por Johann
Feyerabend. Frankfurt, 1599
PEIXES, os Peixes
SIGNO: Peixes, o 12º Signo Zodiacal
MODO: Mutáveis - ELEMENTO: Água - REGENTE: Netuno
OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Júpiter - Vênus - Cassandra -
As Lorelei, as Sereias - Cristo (Dioniso) - Odisseu - Penélope -
Percival
Peixes é um dos primeiros
signos registrados, pois os dois
peixes aparecem na tampa de
um esquife egípcio datado de
2300 a.C. A enchente do Nilo
atingia seu auge quando a lua
estava cheia em peixes — o
Egito tornava-se um verdadeiro
oceano259.
O oceano sempre foi a
nota simbólica de Peixes. Hoje
atribuímos a regência do signo a
Netuno, que era o deus do mar.
Antes da descoberta desse
planeta (1846), Júpiter regia
Peixes. Mas, se voltarmos no
tempo, até as regências
olímpicas comuns na época de
Platão, Netuno (Posídon)
aparece novamente como regente do signo260. E, finalmente, na
astrologia esotérica Vênus é quem rege o signo dos peixes, onde é
tradicionalmente exaltada.
259. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 115-6.
260. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid., pp. 80-1.
Afresco de golfinhos do palácio de Knossos, Creta. Fotografia de Ariel
Guttman
Netuno era um deus raivoso e vingativo na ocasião. Temos a
tendência de ignorar esse aspecto violento do oceano e a associar o
signo de Peixes aos aspectos profundos e sonhadores do mar, e não a
suas tempestades, mas qualquer marinheiro que tenha passado um bom
tempo no mar pode dizer que o oceano contém uma força poderosa que
não deve ser encarada de maneira leviana e que deve ser respeitada.
Como Carl Jung apontou, o oceano sempre simbolizou a mente grupai
ou, em seus termos, o inconsciente coletivo261. A posição de Netuno em
um mapa mostra tipicamente a área da vida em que temos mais
probabilidade de entrar em contato com essas imagens e arquétipos
primordiais do inconsciente coletivo.
Artistas e místicos são capazes de chegar a esse profundo oceano
de imagens e sonhos; afinal de contas, é exatamente nessas profundezas
que eles reúnem as visões, poemas, pinturas ou sinfonias que nos
fascinam e deleitam. Não é de se espantar, portanto, que a sabedoria
astrológica tradicional descreva os piscianos como sonhadores, místicos
e artísticos, pois todos esses indivíduos nasceram com ao menos um pé
nas águas da mente coletiva. Um bom exemplo é o visionário pisciano
______________________________________________________________________
261. Jung, Carl G., The Portable Jung, Carl G., ed. Joseph Campbell, Harmondsworth e
Nova York, Penguin, 1980, p. 330.
Edgar Cayce, que era capaz de entrar em contato com um estrato
extremamente profundo do inconsciente coletivo enquanto dormia.
Netuno era conhecido por atirar nuvens de tempestade e redes
complicadas sobre suas vítimas para confundi-las temporariamente,
cegá-las e fazê-las perder o caminho. Isso, junto com a necessidade
individual de Peixes de esfregar a água salgada de seus olhos, pode
contribuir para uma visão ou senso de direção fraco no plano físico para
esses nativos. Mas, vimos muitos piscianos afinados com sua visão
interior e por isso guiados a produzir as obras de arte e realizações mais
magníficas da humanidade (Michelangelo, Antonio Vivaldi, Albert
Einstein).
Porém, nem todos os piscianos são inspirados a tais níveis pelo
oceano cósmico dentro deles; em vez disso, muitos são levados a vícios
sérios porque ficam "perdidos no mar". O consciente coletivo é o oposto
polar da consciência individual; na personalidade pisciana, portanto, o
ego individual pode ser bem fraco, enquanto o manancial de imagens
universais é excepcionalmente forte. Conseqüentemente, o pisciano é
facilmente influenciado e pode chegar a acreditar — ouvindo os
amigos, pais ou professores — que seu ponto de vista intuitivo da
realidade é um tanto inapropriado ou simplesmente errado. Considere
Cassandra que, tendo recebido o dom da visão e da profecia, irritou
Apolo e foi amaldiçoada para que ninguém prestasse atenção em seus
avisos proféticos. Assim, ela "via" perigos iminentes, mas não tinha a
capacidade ou a assistência para divulgá-los. Muitos piscianos "vêem"
coisas que os outros simplesmente não são capazes de ver. Portanto, o
pisciano balança entre dois mundos — o reino terrestre que parece estar
correto
Uma nereida (ninfa do mar) e um golfinho
de acordo com todas as outras pessoas — e o reino cósmico, de que os
piscianos estão bem conscientes.
Esse dilema é personificado no símbolo astrológico de Peixes,
dois peixes nadando em direções opostas, mas unidos por um cordão. O
Astrólogo Robert Hand observou que na realidade esses peixes não
estão nadando em direções opostas, como sempre se acreditou262.
Astronomicamente, há um peixe do leste e um peixe do oeste. O peixe
do leste nada para cima, afastando-se da eclíptica, em direção ao céu,
enquanto o peixe do oeste nada ao longo do plano da eclíptica. Assim,
podemos concluir que um dos peixes está em busca da iluminação
espiritual, enquanto o outro se preocupa com assuntos do plano
material. Esse constitui o principal conflito e uma das áreas
"tempestuosas" de Peixes, que está consciente de ambas as direções,
mas levemente mais confortável no reino celeste do que no físico.
Claro, há muitos piscianos que podem se render à definição de realidade
do grupo e que dirão que apenas a realidade física é "real" ou que neste
mundo apenas o dinheiro realmente importa. O triste é que esses
indivíduos, afastados de sua herança criativa e cósmica, são
precisamente os piscianos que terminam bebendo sozinhos diante da
televisão, assistindo a filmes de ficção científica às 3 da manhã para
preencher sua necessidade desesperada de fantasia. Identificar-se com
um pólo ou outro é apenas meio caminho andado para Peixes. O
objetivo final é ter ambos os peixes saudáveis, energéticos e em contato
com seu processo, nadando alegremente em círculos como golfinhos —
outro símbolo pisciano apropriado, já que esses mamíferos vivem no
oceano. No esquema médico, Peixes governa os pés — um exemplo do
peixe ocidental que nada paralelo ao plano material e mantém Peixes
em um estado saudável de equilíbrio.
Se a mente coletiva suporta perigos mortais, também contém
tesouros exaltados. O Hino da Pérola gnóstico (c. 200 d.C.) conta a
história de um buscador espiritual que deve mergulhar no oceano para
recuperar uma pérola de grande preço. O poema simboliza
adequadamente a sabedoria e a criatividade que podem ser encontradas
através do contato com o inconsciente coletivo263. Mas, a mitologia
também traz diversas histórias de indivíduos — normalmente homens,
que têm uma fraca relação com o inconsciente, graças à nossa ênfase
cultural no intelecto — que são seduzidos pelas imagens coletivas. As
Lorelei, por exemplo, eram belas donzelas que ficavam nas pedras do
rio Reno, cantando canções mágicas. Mas, todos os homens que
prestavam atenção nesses cantos eram encantados e arrastados para a
morte nas águas
262. Hand, Robert, "The Age and Constellation of Pisces", Essays on Astrology,
Rockport, MA, Pars Research, 1982.
263. Jonas, Hans, The Gnostic Religion, Boston, Beacon Press, 1963, pp. 112-29.
A Crucificação, versão cristã do filho morto da Grande Mãe. Por Albrecht
Dürer, da casa de impressão de Hieronymus Hölzel (mais tarde
Friedrich Peypus), Nurembergue, 1517
escuras264. A história das sereias que tentaram Ulisses e seus homens é
exatamente a mesma e a mitologia eslava nos conta de uma criatura
bela, mas mortal, chamada rusalka, com a mesma função das
germânicas Lorelei ou das sereias gregas265. Na vida comum, essa
sedução pelo inconsciente normalmente toma a forma de abuso de
álcool e drogas, outra tempestade interna associada a Peixes e sua casa
natural, a Décima Segunda.
A Era de Peixes é aquela em que vivemos agora. As opiniões
variam sobre a data exata em que ela começou e quando terminará,
embora quase todos concordem que estamos muito próximos do fim do
ciclo e que esse início reside em algum local próximo ao início da era
cristã. Robert Hand sugere 111 a.C, o ano em que o ponto vernal atingiu
a primeira estrela em Peixes, a Alfa Piscium, como um início
astronômico apropriado da Era de Peixes, enquanto Dane Rudhyar
sugere 100 a.C.266 e os sideralistas, como Cyril Fagan, Donald Bradley
e a maior parte dos astrólogos hindus preferem uma data próxima a 200
d.C. ou mesmo mais tarde267. Embora seja difícil discutir com o
conhecimento científico dos sideralistas, Hand e Rudhyar estão mais de
acordo com o simbolismo da era. Nos tempos cristãos primitivos, o
símbolo de Cristo era o peixe. Os primeiros cristãos usavam o peixe
como símbolo identificador, que ainda é usado hoje para simbolizar o
cristianismo fundamentalista. E, certamente, de um ponto de vista
mítico, podemos olhar Jesus como um arquétipo pisciano268. Um tratado
astrológico traz um argumento convincente em favor do nascimento de
Jesus ter ocorrido durante o mês de Peixes, em uma época em que
muitos outros planetas estavam nessa constelação269. Por todo o antigo
Mediterrâneo, o eterno ciclo das estações era visto em termos da Mãe
Deusa e seu filho ou amante. Esse filho ou consorte da Divina Mãe
incorporava o poder do crescimento, a energia da própria terra. Falamos
de diversas fases desse mito ao longo de nosso estudo do zodíaco, pois
o ciclo do ano em si representa o nascimento, o crescimento, a morte e a
ressurreição dessa figura mítica, o filho da Grande Mãe, o deus da
colheita cujos nomes foram muitos — Dioniso, John Barleycorn, Cristo.
264. Walker, Barbara G., The Woman's Encyclopedia of Myths and Secrets, ibid., p. 549.
265. Mercatante, Anthony S., The Facts on File Encyclopedia od World Mythology and
Legend, Nova York, Facts on File, 1988, pp. 564-5.
266. Hand, Robert, Essays on Astrology, ibid.; e Rudhyar, Dane, Astrological Timing, ibid.
267. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid.; e Frawley, David, The Astrology of the Seers,
ibid.
268. Greene, Liz, The Astrology of Fate, ibid., pp. 257-66.
269. Jacobs, Donald, "The Chart of Jesus", reproduzido em Green, Jeff, Pluto: The
Evolutionary Journey of the Soul, ibid., p. 181.
Assim como a terra
passa por seu ciclo de
primavera, verão, outono,
inverno e primavera
novamente, também o Deus
(e a vida humana) passa por
nascimento, crescimento,
sacrifício, descida ao mundo
subterrâneo e renascimento.
Qualquer que seja a
realidade histórica da
história cristã, sua estrutura
está de acordo com o mito
do filho morto da Deusa; é
apropriado que Virgem, o
signo da Grande Mãe, forme
a polaridade oposta a Peixes,
signo do Filho Divino. Os
cristãos medievais consideraram a constelação de Virgem como a
Virgem Maria e a estrela Spica como o menino Jesus em seu colo.
Como já observamos antes (ver Virgem), a Pietà de Michelangelo é
mais do que uma representação artística de um único momento no épico
cristão: é uma imagem da Mãe Divina lamentando seu filho, o Deus da
Colheita assassinado, como representado na história através da qual
esse mito eterno foi compreendido pelos ocidentais nos últimos dois mil
anos. Não é de se espantar que Carl Jung tenha sugerido divinizar Maria
e assim substituir a Trindade por uma Quaternidade que equilibraria o
Pai e o Filho masculinos com uma Mãe e um Espírito Santo
femininos270. A psicologia de Jung sempre fez bastante sentido mítico.
Se o amor e a compaixão universais são as pedras angulares da
mensagem de Cristo (apesar do que intérpretes como Paulo e Agostinho
possam ter lido nela), então essa mensagem está de acordo com o signo
de Peixes. E pode ser aí que Vênus, a deusa do amor pessoal e divino,
entre no quadro como planeta regente de Peixes, de acordo com os
teóricos esotéricos, e também, de acordo com a astrologia tradicional
ocidental e hindu, o planeta exaltado nesse signo. A culpa sofrida pela
humanidade por sua incapacidade de compreender a mensagem até que
fosse tarde demais se tornou um subproduto um tanto infeliz dessa Era
de Peixes e parece afligir a personalidade individual de Peixes. A
verdadeira fusão com o inconsciente coletivo exige a entrega do ego
pessoal. Após se tornar um só com todos os viventes, que resposta
______________________________________________________________________
270. Jung, Carl G., "Answer to Job" in The Portable Jung, ibid., pp. 639-50.
Dioniso em uma cópia moderna de um
tetradracma de Naxos, Sicília,
461-430 a.C. Da coleção de Michael A. Sikora
poderíamos ter para o universo que nos rodeia, exceto a compaixão? Os
piscianos não apenas são os maiores alcoólatras; mas também são os
maiores conselheiros, artistas, músicos e místicos. Dane Rudhyar
escreve que, na fase pisciana da consciência, a alma deve "encarar o
desconhecido com a simples fé"271. Não é de se espantar, então, que
mais de metade da Era de Peixes seja conhecida como Era da Fé. A fé
absoluta ou a confiança no universo é o maior desafio que os indivíduos
de Peixes encaram. É também sua maior força.
Talvez não houvesse um teste maior de fé do que o exposto na
história de Odisseu e sua esposa Penélope. Odisseu, cuja história é
narrada de forma eloqüente na Odisséia de Homero, é um arquétipo
adequado para todos os signos mutáveis. O mais "mercurial" de todos
os heróis gregos, resolvia problemas com a mente, e não com a força
bruta; sua agilidade mental é uma traço genuinamente geminiano. Sua
esposa, Penélope, personifica a contenção silenciosa de Virgem —
disse a seus diversos pretendentes que escolheria um novo esposo
quando terminasse de tecer uma mortalha para seu marido. Quando
chegava a noite, ela passava a desfazer o que fizera durante o dia.
Assim, com infinita paciência, esperou pela volta de Odisseu. Nesse
meio tempo, o herói navegava por águas inexploradas, um aventureiro
filosófico no modo sagitariano. Mas Sagitário se preocupa pouco com
destinos;
Odisseu incorpora um
aspecto pisciano em sua
ânsia de voltar para casa.
Nesse último estágio da
mandala astrológica, a alma,
um Odisseu errante, deseja
apenas voltar a seu local de
origem. Odisseu sempre
tenta manter o olhar em seu
objetivo, mas está perdido
em um mar de confusão e
embaraço mental, povoado
por atrasos e desafios.
Odisseu lutou na
Guerra de Tróia por dez
anos, deixando o filho e a
esposa em casa, na ilha de
Ítaca. Cansado da batalha e
ansioso por descansar,
Odisseu zarpou após a
271. Rudhyar, Dane, The Pulse of Life, ibid., p. 108.
Zeus em seu trono, segurando o cetro e com
uma águia pousada em sua mão estendida.
Tetradracma de Alexandre, o Grande, 336-323
a.C. Da coleção de Michael A. Sikora
guerra, encontrando uma
aventura após outra,
navegando por mares
tempestuosos e
inexplorados. O herói
incorrera na ira de
Posídon e o deus dos
oceanos não deixou de
atirar tempestades e
ventos destruidores em
seu caminho a cada
volta. Como resultado,
Odisseu foi atirado em
diversas costas e, como
Gulliver, encontrou
todos os tipos
imagináveis de criaturas.
De comedores de lótus a
gigantes, de ciclopes a
canibais, de sereias a
bruxas que transformavam homens em porcos, a jornada de Odisseu
através das águas turbulentas o manteve em um mundo semelhante ao
astral, de forma que o fim sempre parecia cada vez mais longe, em vez
de cada vez mais próximo. Esse é um mundo que os piscianos
encontram com freqüência, conforme lutam com estranhas criaturas,
sejam reais ou imaginárias, em seus próprios mares astrais confusos e
caóticos. Odisseu, assim como Hércules, estava destinado a encontrar
muitos labores, sendo que a principal diferença era que Hércules usava
apenas a força muscular para obter a vitória, enquanto para Odisseu era
apenas com sua força de fé interior, com um coração puro e intenções
sinceras que ele poderia atingir seu objetivo. Por isso ele foi
recompensado, pois Atená observou seu dilema e fez com que
conseguisse chegar em casa. Sua esposa Penélope, cuja lealdade fora
tão severamente testada, permanecera firme em sua fé de que ele
voltaria. Após vinte anos sem notícias de seu marido, qualquer um
certamente teria desistido de esperar. Mas sua fé era forte, mesmo
diante do exército de pretendentes à porta, que tiravam vantagem da
situação dela e de sua riqueza, sem ninguém para protegê-la exceto seu
filho Telêmaco. Como os piscianos (ou virginianos) que sofrem, vítimas
de forças externas, mas não parecem ter poder real para se livrar desses
parasitas, Penélope meramente existia, esperando e rezando para livrarse
do mal e para que seu marido voltasse para casa um dia. Ambos os
testes de fé foram recompensados e, com a ajuda dos deuses, Odisseu e
Penélope foram reunidos.
Posídon em uma moeda de bronze de Siracusa,
Sicília, no reinado de Hierón II, 275-215 a.C.
Da coleção de Michael A. Sikora
Planetas em Peixes no mapa astrológico atestam a necessidade de
nadar através do oceano mutável — e alguns planetas estão mais
confortáveis nesses reinos aquosos do que em outros. Em Peixes, a
força vital do Sol é dirigida e expressa em um contexto mais universal.
A personalidade de Peixes é com tanta freqüência diluída por sua fusão
com o mundo que o rodeia que seu ego pode assemelhar-se a uma frágil
jangada à deriva num mar vasto. A Lua em Peixes, como nos outros
signos de água, tem grande apoio por estar realmente perto do oceano.
Essas pessoas também costumam sentir-se aquecidas e acalentadas com
filmes, massagens, prazeres sensoriais em geral e contemplação mística
em particular.
Mercúrio, o planeta associado à lógica e à clareza mental, com
freqüência está completamente perdido em Peixes, com dificuldades
para lidar com fatos e figuras, mas excelente em poesia, música e
formas não-lineares de comunicação. Como notamos, Vênus é exaltada
em Peixes; aqui, a deusa do amor nada no oceano do amor e compaixão
universais. É também desesperadamente romântica e um problema aqui
é a tendência a se vitimar pelo amor. Marte pode ter alguma dificuldade
inicial para se acostumar com a água, mas essa posição ou um aspecto
Marte-Netuno pode contribuir para o nascimento de excelentes atletas
aquáticos, atores de teatro e (especialmente) dançarinos.
Ceres em Peixes é a enfermeira arquetípica. Essa posição
planetária pode encorajar muita devoção ao serviço compassivo e
desprendido e, se o indivíduo não tomar cuidado, poderá ficar atolado
nessa contínua ajuda aos necessitados. Em Peixes, os dons de Palas
Atená tendem para o artístico e sua sabedoria pode tomar a forma de
visões. Juno em Peixes pode ter piedade de um parceiro ou casar-se por
um laço espiritual, e não por atração física. Vesta em Peixes ou com
Netuno sugere o místico ou iogue em sua forma concentrada, enquanto
um aspecto Vesta-Netuno ou Vesta em Peixes não concentrados
sugerem a falta de limites e qualidades livres tipicamente associadas a
indivíduos altamente sensíveis ou traumatizados.
Júpiter era o antigo regente de Peixes e ainda tem afinidades com
esse signo. Aqui seu ponto de vista amplo e humanitário se aplica ao
serviço desprendido de Peixes de um modo que beneficia a todos. Os
que têm Saturno em Peixes ou na Décima Segunda Casa terão
provavelmente que trabalhar duro para manter-se em pé no mundo, já
que a total ineficácia de uma figura paterna pode não ter lhes dado
bases muito sólidas, auto-estima ou orientação. Como essas pessoas
trabalharam duro para resolver suas próprias dificuldades, podem ser
curandeiros realmente maravilhosos, conselheiros espirituais ou guias
para outras pessoas. Quíron na Décima Segunda Casa ou em aspecto
com Netuno pode produzir um místico dotado, embora também possa
fazer com que o nativo seja um tanto "cabeça-de-vento".
Uma ilustração pisciana de Diane Smirnov segundo o Afresco dos Pescadores,
Akotiri, Santorini
Urano na Décima Segunda Casa ativa o inconsciente: essas
pessoas podem combater seus demônios cármicos com uma verdadeira
força prometeana e, assim como Prometeu, podem se ver acorrentadas
ou aprisionadas por causa de suas visões. Anseiam por iluminação com
a energia inflamada do fogo roubado ou, se a posição for fraca ou muito
afligida, esses indivíduos podem mergulhar em complexos e vícios com
a mesma determinação ígnea. Netuno na Décima Segunda Casa pode
também mostrar problemas com diversos tipos de vício quando está
fraco, mas sua força pode produzir também os maiores místicos e
filantropos, os apóstolos da compaixão (exemplos: o Papa João Paulo II
e Dorothy Day). Plutão na Décima Segunda Casa age com incansável
energia para colocar os nativos frente a frente com seus complexos.
Essas pessoas podem tentar fugir de seus problemas mais profundos,
mas Plutão forçará esses problemas a aflorar novamente. Complexos de
poder estão profundamente embebidos na psique desses indivíduos.
Os gregos nos contam que o mundo foi criado do caos. Depois de
nosso mundo e antes dele, o Universo permanece em um estado de
caos. A esse caos, que reside logo além de nossa realidade definida,
podemos relacionar o pisciano. Mas a palavra grega "caos" não
significa literalmente confusão, que é o modo como estamos
acostumados a definir o termo. Seu antigo significado era mais
precisamente "o Vazio" — e isso pode ser compreendido no sentido
espiritual, como é compreendido no Tibete. Como símbolo do Vazio ou
do oceano cósmico, Peixes é o último dos doze signos e se diz que
contém cada um dos doze dentro de si. Como um cristal multifacetado,
o pisciano vive em uma figura geométrica de doze lados que o rodeia.
Assim, a cada vez que precisa realizar alguma ação, todas as doze
janelas devem ser consideradas. Se Libra está perdido em um processo
de indecisão com dois lados, pobre Peixes, perdido em doze! Porém, o
dom de Peixes não é a capacidade de ver claramente de um ponto de
vista racional, mas antes olhar para dentro e responder com o coração,
um dom baseado na crença em um poder maior que torna as coisas
certas. E não importa o quão descontrolada a humanidade pareça estar,
esse tema subliminar do ressurgimento do salvador manteve as coisas
funcionando pelos últimos dois mil anos — a Era de Peixes.
Finalmente, consideremos Percival, o buscador do Graal, que
encontramos entre os quatro elementos. Seu nome significa "o tolo
puro", o que descreve com bastante exatidão o estado de unidade
mística em que a alma realmente se mostra nua diante de Deus. Peixes
também representa o oceano primordial, e era essa consciência oceânica
unitiva que Percival buscava ao procurar o Graal — tornar-se um só
com o grande pulso cósmico. Esperemos que, ao final da Era de Peixes,
o Graal possa ser inteiramente reconstituído.


Divindades e Heróis Gregos e seus Nomes Romanos
GREGO ROMANO
Afrodite ....................................................... Vênus
Ares ............................................................. Marte
Ártemis ........................................................ Diana
Atená ........................................................... Minerva
Cronos ......................................................... Saturno
Deméter ....................................................... Ceres
Dioniso ........................................................ Baco
Eros ............................................................ Cupido
Hades ........................................................... Plutão
Hefesto ........................................................ Vulcano
Hera ............................................................. Juno
Héracles ....................................................... Hércules
Hermes ........................................................ Mercúrio
Héstia ........................................................... Vesta
Odisseu ........................................................ Ulisses
Ouranus ....................................................... Urano
Perséfone (Core) .......................................... Prosérpina
Posídon ........................................................ Netuno
Zeus ............................................................. Júpiter
Localização dos Lugares Sagrados dos Deuses e Deusas
SOL/APOLO VÊNUS/AFRODITE
Rodes — Hélios Chipre
Delos — Local de nascimento de Apolo TERRA/GAIA
Delfos — Santuário de Apolo Delfos
Divindades e Heróis
Greco-Romanos e Locais Sagrados
LUA/ÁRTEMIS:
Arcádia
Éfeso
MERCÚRIO/HERMES:
Monte Cileno
JUNO/HERA:
Samos
Argos
JÚPITER/ZEUS:
Monte Olimpo
Dodona
CERES/DEMÉTER:
Elêusis
PALAS ATENÁ:
Lago Tritão, Líbia — local de
nascimento Atenas
QUÍRON:
Monte Pélion
NETUNO/POSÍDON :
Sounion
VULCANO/HEFESTO:
Lemnos
Mt. Olimpo
Dodona
Mt. Pélion
GRÉCIA
Delfos
Mt. Cilene
Arcádia
Olímpia Argos
Elêusis
Atenas
Sounion
MAR
EGEU
Lemnos
Delos
ÁSIA
MENOR
Samos Éfeso
MAR
MEDITERRÂNEO
Rodes
MAR
MEDITERRÂNEO
ÁSIA
MENOR
Chipre
Lago
Tritão
LÍBIA EGITO
A
Acteão: 133, 181. acupunturistas:
184.
Adler, Alfred: 216.
Adónis: 37, 69, 72, 73, 74.
Afrodite: 28, 60, 69, 73, 77, 78, 81,
82, 83, 121, 123, 150, 153, 160,
174, 219, 222, 232, 234, 258,
326, 367, 369, 392, 395, 396,
397, 398, 445 (ver também
Vênus).
Agamenon: 159, 311, 408.
Agostinho, Santo: 437.
água (elemento): 87, 88, 91, 109,
120, 121, 122, 174, 212, 237,
238, 239, 240, 245, 250, 253,
255, 256, 257, 258.
Ahura Mazda: 193.
Ajax: 159.
Akhet: 364.
Akenaton: 36.
Alce Negro: 187.
Aldebaran: 293, 342.
Alexandre, o Grande: 99, 262, 263,
322, 438.
Alpha Piscium: 436.
alquimia: 13, 41, 43, 60, 111.
Amaltéia: 403, 405, 408, 409, 410.
Amazona, ou Amazonas: 131, 284,
285.
ambrosia: 46, 99, 122, 130, 419
(ver também amrita).
América: 13, 115, 193 (ver também
Estados Unidos).
Amon-Rá: 280.
amrita: 99, 100, 122, 419 (ver
também ambrosia).
Anatólia: 78.
Andrews, Lynn: 155.
anima: 284, 311, 336, 363.
anima mundi: 65, 272.
animus: 15, 300, 363.
anorexia: 326.
Anquises: 66.
Antares: 342.
Antigo Testamento: 41, 65, 148.
Anu, caminho de: 227, 228.
Apolo: 39, 41, 43, 44, 48, 49, 54,
56, 60, 68, 82, 91, 141, 158,
182, 235, 264, 288, 309, 380.
Apolodoro: 181.
Apolônio de Rodes: 181, 182.
Apuleio, Lúcio: 84, 85, 88.
Aquário: 45, 71, 78, 80, 82, 105,
130, 138, 151, 194, 196, 208,
228, 232, 235, 236, 253, 254,
263, 270, 272, 273, 274, 345,
366, 413, 416, 417, 418, 419,
420, 421, 423, 424, 425, 426,
427, 428, 429.
Aquiles: 181, 184.
ar (elemento): 21, 59, 75, 148, 218,
236, 237, 238, 239, 240, 242,
245, 250, 252, 253, 254, 255,
259, 260, 261, 262, 265, 268,
270, 274, 306, 312, 314, 315,
352, 360, 366, 368, 372, 394,
396, 397, 398, 406, 416, 423,
424.
Aradia: 86, 87.
Arawn: 337.
Arcádia: 54, 122, 396, 446.
Ares: 69, 106, 107, 108, 111, 112,
115, 150, 232, 235, 264, 281,
288, 376, 445 (ver também
Marte).
Argo: 283, 340.
Ariadne: 206, 207, 292, 297, 298,
300, 301.
Arianrhod: 88.
Aries: 47, 48, 49, 59, 71, 82, 107,
109, 231, 232, 235, 243, .244,
245, 266, 268, 269, 278, 279,
280, 281, 282, 283, 284, 285,
286, 287, 288, 289, 290, 291,
292, 293, 308, 340, 341, 343,
361, 362, 364, 365, 371, 394,
408, 409.
Aristóteles: 237, 250.
Arqueiro, O: 378, 396.
Ártemis: 39, 88, 93, 133, 232, 235,
320, 338, 340, 348, 353, 354,
355, 390, 395, 396, 398, 445,
446 (ver também Diana).
Arvore da Vida: 405.
Asclépio: 13, 160, 180, 182, 184.
Asgard: 160, 161.
ashvamedha: 308.
Ashvins: 306, 308.
Ásia: 76, 297, 338.
Ásia Menor: 338.
Astecas: 188.
Astréia: 348, 349, 361, 365.
Atalanta: 334, 340.
Atamas: 282.
Atena: 15, 107, 118, 119, 126, 127,
128, 129, 130, 131, 132, 133,
134, 141, 142, 154, 155, 165,
174, 176, 194, 232, 235, 252,
253, 278, 280, 284, 285, 286,
287, 288, 289, 291, 292, 303,
316, 329, 340, 344, 357, 362,
364, 366, 368, 372, 387, 398,
411, 425, 439, 440, 445, 446
(ver também Palas Atena).
Atenas: 121, 128, 129, 130, 131,
360, 446.
Atlas: 28, 296.
Atreu, Casa de: 403, 409.
Átis: 340.
Atwood, Margaret: 81.
Aureliano, imperador: 43.
Aurora Dourada, Ordem da: 214.
B
Babilônia: 21, 28, 34, 52, 174, 279,
342, 376, 378, 379, 404, 418;
babilônicos: 28, 41, 46, 52, 79,
108, 157, 227, 228, 262, 279,
321, 335, 361, 378, 379, 418.
Bach, Eleanor: 118, 119, 151.
Baco: 205, 292, 301, 445 (ver
também Transplutão).
Bálcãs: 264, 295.
Barleycorn: 436.
Beatles: 259.
Berlim, Muro de: 270.
Bloom, Molly: 223.
Bly, Robert: 44, 45, 110, 111, 158,
174, 176, 186.
Bolen, Jean Shinoda: 67, 73, 128,
130, 144, 219, 223, 410, 411.
Bosippa: 447
Botticelli, Sandro: 64.
Bradley, Donald: 436.
Bradshaw, John: 209, 243.
Branca de Neve: 71, 450
Briareu: 140.
Brimos: 122, 123.
Bryant, Anita: 86, 285, 286.
bucrania: 295.
Budha (não Buda): 53.
budismo: 21, 251.
bulimia: 326.
Bush, George: 398.
C
Cabala: 14, 79, 148, 240;
Cabalistas : 150, 168, 241.
Cabeça de Dragão: 99, 100 (ver
também Nodo Norte). cabrapeixe:
403, 404.
Caduceu: 13, 55, 56, 60, 182, 309,
382.
Calisto: 159.
Campbell, Joseph: 19, 47, 151, 228,
229, 266, 267, 286, 295, 324,
325, 340, 341, 400, 433.
Câncer: 53, 84, 92, 104, 123, 125,
164, 185, 232, 233, 235, 255,
256, 260, 266, 267, 268, 269,
294, 320, 321, 322, 323, 324,
325, 326, 327, 328, 329, 330,
331, 332, 333, 335, 337, 343,
355, 383, 385, 386, 394, 410.
Caos: 43, 45, 52, 64, 158.
Capricórnio: 84, 104, 111, 151,
173, 176, 200, 213, 232, 246,
249, 266, 268, 269, 343, 391,
398, 403, 405, 406, 407, 408,
409, 410, 411, 412, 413, 414,
415, 424.
cardinais, signos: 265, 266. carma:
88, 102, 170, 409.
Carter, Jimmy: 365.
casa da noite: 234, 235, 355.
casa do dia: 234, 235, 355.
casamento místico: 44, 267, 323,
324.
Cassandra: 381, 430, 433.
Castillejo, Irene de: 300, 301.
Castor: 254, 306, 307, 308, 309,
311, 312, 314.
Cáucaso: 195, 283.
Cauda de Dragão: 99, 100, 101 (ver
também Nodo Sul).
Cayce, Edgar: 433.
Celeus: 120.
Celtas: 86, 88, 238; Céltica: 237,
257, 337.
centauro: 181, 183, 188, 195, 283,
314, 353, 393, 396.
Centauro, O: 390, 392.
Ceos: 28.
Ceres: 73, 84, 92, 95, 116, 117,
118, 119, 123, 124, 125, 154,
173, 217, 232, 235, 246, 287,
288, 291, 303, 305, 316, 318,
320, 325, 326, 329, 332, 333,
344, 346, 348, 350, 352, 355,
356, 357, 359, 360, 372, 374,
382, 387, 389, 398, 401, 411,
414, 425, 428, 440, 443, 445,
446 (ver também Deméter).
Cernunnos Deus Cornífero: 79, 80.
César, Júlio: 150.
ch'i: 242.
chakra: 345; ou chakras: 345, 393.
Chandra: 53.
Cherokee: 46.
chien: 80.
China: 130.
Chipre: 63, 64, 72, 445.
Chonsu: 362.
Cibele: 339, 340.
Cíclades: 39.
Ciclopes: 78, 193, 439.
Ciniras: 72, 73.
Clitemnestra: 306, 307, 311.
Clow, Barbara Hand: 178, 180,
188, 353.
Cnossos: 128, 294, 297, 411, 416.
Coal Black Smith, The: 86.
Cogul: 205.
Cólquida: 282, 283, 284.
cometas: 33, 180, 189.
condutor de almas: 60. Coré: 119,
120, 121, 122, 123, 124, 221,
325, 348, 356, 372, 387, 445
(ver também Perséfone).
Coroa Boreal: 207.
Cos: 184.
Cósmico, Homem: 246, 247.
Cósmico, Oceano: 99, 433, 442.
Cousteau: 315.
Creta: 47, 128, 206, 264, 294, 295,
297, 301, 338, 381, 405, 411,
416, 432.
Criança Divina: 122, 176, 205, 362.
cristianismo: 64, 76, 85, 150, 168,
170, 205, 256, 262, 280, 355,
407, 436; ou cristãos: 80, 91,
153, 350, 406, 436, 437. Cristo:
99, 123, 189, 238, 239, 257,
263, 388, 403, 406, 407, 430,
436, 437.
Crius: 28.
Cronos: 28, 63, 75, 77, 84, 124,
127, 138, 149, 160, 165, 168,
170, 173, 175, 176, 181, 186,
187, 192, 193, 216, 219, 338,
405, 409, 410, 445 (ver também
Saturno).
Crowley, Aleister: 404, 405.
Cunningham, Donna: 90, 91.
D
Dafne: 48.
daimon: 382.
Dama da Roda de Prata: 88 (ver
também Arianrhod).
Darwin, Charles: 81.
Dass, Ram: 192.
Data (Jornada nas Estrelas): 59.
Davi, rei: 45.
Dédalo: 47, 48, 292, 301, 303.
Delfos: 39, 40, 43, 48, 132, 141,
264, 380, 381, 445.
DeLorean, John: 223.
Delos: 39, 341, 445.
Deméter: 92, 93, 116, 118, 119,
120, 121, 122, 123, 131, 168,
201, 204, 205, 217, 224, 232,
320, 325, 338, 348, 349, 350,
355, 358, 383, 384, 387, 445,
446 (ver também Ceres).
Demofonte: 120, 122, 123.
Deus Cornífero: 80, 87.
deus da colheita: 176, 229, 436,
437.
deus do sol: 39, 47, 309.
Deus Pesaroso: 205.
Deusa Cobra: 129.
Dia dos Mortos (Días de los
Muertos): 377.
Diabo: 153, 405.
Diana: 86, 87, 88, 89, 93, 94, 149,
232, 320, 354, 390, 395, 397,
445 (ver também Artemis).
Dilmun: 378.
Diomedes: 107.
Dione: 28.
Dioniso: 122, 123, 149, 154, 184,
204, 205, 206, 207, 208, 222,
292, 301, 430, 436, 437, 445.
Dobyns, Zipporah: 119, 138, 139,
150, 151.
Dodona: 165, 446.
doshas: 262.
doze olímpicos: 119, 149, 234, 322,
338, 350, 362.
Doze Portões de Jerusalém: 230.
druidas: 337.
Du Maurier, George: 214.
Dylan: 88.
E
Éa, Caminho de: 227, 403, 404.
eclipses: 34, 97, 98, 104, 105.
eclíptica: 98, 227, 228, 434.
Édipo: 325.
Edison, Thomas: 426.
Éfeso: 320, 338, 446.
Egeu: 78, 99, 137.
egípcios: 28, 44, 52, 57, 279, 280,
294, 321, 335, 341, 350, 361,
362, 363, 391, 404, 417, 418.
ego: 14, 48, 83, 91, 206, 212, 231,
242, 245, 257, 266, 267, 281,
286, 289, 311, 323, 324, 336,
371, 381, 386, 388, 433, 437,
440.
Einstein, Albert: 433.
Eleusianos, Mistérios: 120.
Elêusis: 119, 120, 121, 122, 123,
125, 204, 446.
Enkidu: 418.
Enuma Elish: 157.
Épico de Gilgamesh: 296, 378, 418.
Epidauro: 184.
Epimeteu: 194.
equinócio de outono: 229, 266, 362,
364, 365.
equinócio de primavera: 281, 282,
293, 362, 364.
equinócios: 87, 229, 265, 269, 342,
364, 385.
Equus: 311.
Era da Intuição: 17.
Era da Tecnologia: 78, 426.
Era de Aquário: 78, 80, 196, 345,
421, 426, 427.
Era de Câncer: 294, 323.
Era de Peixes: 79, 209, 354, 407,
436, 437, 438, 442.
Era de Touro: 293, 294, 295, 300,
325, 381.
Ereshkigal: 13, 108, 220, 221.
Erictônio: 133.
Eris: 107.
Eros: 71, 360, 367, 368, 369, 370,
445.
escaravelho: 320, 321, 322.
Escorpião: 13, 14, 47, 82, 83, 92,
103, 104, 105, 109, 124, 125,
128, 145, 151, 154, 180, 184,
216, 217, 221, 232, 235, 256,
259, 260, 263, 270, 272, 273,
274, 283, 293, 297, 300, 301,
325, 345, 353, 355, 356, 361,
363, 376, 377, 378, 379, 381,
382, 383, 384, 385, 386, 387,
388, 389, 390, 408, 418.
Esfinge: 335, 336.
Espanha: 81.
Esparta: 64, 307.
Espírito Santo: 378, 437.
estações: 39, 63, 94, 95, 219, 231,
232, 265, 277, 295, 300, 350,
364, 436.
Estados Unidos: 95, 104, 105, 111,
113, 130, 151, 192, 208, 215,
222, 249, 330, 331, 377 (ver
também América).
Estrela: A, carta de Tarô: 423, 425.
Estrela da Manhã: 73, 74, 220.
Estrela da Noite: 74, 220.
Eu: 14, 15, 30, 37, 39, 44, 47, 69,
71, 82, 85, 111, 123, 153, 229,
232, 241, 242, 244, 245, 255,
275, 287, 289, 306, 311, 319,
333, 342, 347, 360, 364, 365.
Eu Superior: 251.
Eufrates: 404.
Eurídice: 222, 376, 382, 383, 384.
Eurimedonte: 28, 194.
Eurínome: 64, 65, 144.
Europa: 46, 64, 65, 76, 78, 80, 128,
205, 215, 264, 270, 292, 296,
297, 298.
Eva (de Adão e Eva): 45, 46.
Evnissyen: 306, 311.
Ezequiel: 270, 378, 418.
F
Faetonte: 46, 47.
Fagan, Cyril: 281, 292, 295, 323,
334, 351, 363, 364, 365, 378,
404, 405, 416, 430, 436, 437.
faraó: 36, 44, 341.
Febe: 28.
Fenícia: 297.
Ficino, Marsílio: 30, 31, 166, 172,
173.
Filira: 179, 181.
Físis: 246, 247.
fixo, signo: 65, 104, 261, 270, 271,
272, 273, 274, 300, 385, 418.
fogo (elemento): 21, 49, 57, 113,
148, 236, 292, 348, 403.
Foice, A: 63, 75, 124, 168, 173,
176, 193, 335.
Fomalhaut: 342.
Fonda, Jane: 396.
Força, A, carta do Tarô: 337, 344.
Força da Noite: 230, 231, 232, 281,
364.
Força do Dia: 230, 231, 232, 281,
364.
França: 44, 62, 81, 151, 239.
Franco: 215, 289.
Freud, Sigmund: 192, 216. Freyja:
29.
Frigia: 301, 302.
Frixo: 278, 282, 286.
Fúrias: 193, 218.
G
Gaia: 34, 49, 58, 63, 75, 77, 78, 79,
80, 81, 82, 83, 84, 127, 141,
168, 193, 196, 264, 300, 380,
445.
Gaia, Hipótese: 78, 80, 84.
Galieno: 121.
Galileu: 91.
Gandhi, Mahatma: 192, 266, 365,
398.
Ganimedes: 416, 419.
Garfunkel, Art: 260.
Garland, Judy: 314.
Gauquelin, Michel e/ou Françoise:
17, 18, 34, 35, 112, 113, 172,
173, 226, 229.
Gêmeos: 55, 71, 113, 192, 213,
228, 232, 235, 253, 254, 255,
259, 275, 276, 277, 286, 306,
307, 308, 309, 311, 312, 313,
314, 315, 316, 317, 318, 319,
355, 368, 393, 396, 424.
Gêmeos Divinos: 308, 309.
Gênesis: 79, 419.
George, Demetra: 118, 119, 128,
130, 138, 139, 150, 151, 154,
155, 353, 406.
Gemini: 307.
Gilgamesh: 230, 231, 296, 298,
337, 378, 379, 416, 418, 419.
Gimbutas, Marija: 64, 65, 78, 86,
92, 128, 129, 204, 205, 264,
265, 294, 295.
Glass Menagerie, The: 255.
Gleadow, Rupert: 138, 139, 150,
160, 234, 235, 278, 281, 308,
309, 322, 334, 338, 339, 348,
351, 360, 363, 394, 405, 406,
420, 430.
gnósticos: 30, 34, 168, 241, 246;
gnosticismo: 79, 240.
Golfo Pérsico: 404.
Górgona: 128, 220.
Grã-Bretanha: 151.
Grande Cão: 335.
Grande Deusa: 64, 78, 80, 86, 87,
138, 264, 294, 295, 297, 298,
300, 320, 323, 325, 330, 338,
340, 350, 351, 355, 382.
Grande Mãe: 39, 76, 80, 96, 204,
264, 323, 325, 326, 435, 436,
437.
Grande Ursa: 296.
Graves, Robert: 42, 64, 69, 84, 86,
87, 106, 128, 129, 141, 182,
183, 204, 205, 265, 282, 299,
306, 309, 322, 323, 339, 397,
418.
Green, Jeff: 218, 219, 437.
Greene, Liz: 19, 56, 170, 171, 196,
199, 218, 219, 220, 221, 284,
285, 310, 350, 368, 369, 404,
422, 437.
grega (língua): 130, 139, 168, 228,
230, 262, 263, 364, 380, 406,
442.
gregos: 21, 22, 28, 29, 30, 42, 47,
53, 57, 63, 78, 88, 99, 106, 108,
128, 129, 131, 138, 148, 149,
150, 151, 159, 161, 165, 168,
216, 262, 264, 282, 298, 308,
309, 322, 323, 329, 336, 341,
349, 353, 361, 380, 405, 419,
438, 442, 445.
Guerra de Tróia: 210, 311, 368,
438.
Guerra nas Estrelas: 284.
Guinevere: 366.
gunas: 262, 265, 270, 274.
Gwydion: 88.
Gyffes, Llew Llaw: 88, 337.
H
Hades: 13, 22, 60, 93, 107, 108,
120, 122, 160, 168, 183, 203,
216, 217, 218, 219, 222, 223,
224, 384, 387, 388, 445.
Halloween: 377.
Hand, Robert: 435, 437.
Hapi: 416, 417, 419.
Harrisson. Jane Ellen: 138, 139,
265.
Havgan: 337.
Hebat: 46.
Hebe: 46, 48, 141, 143, 416, 419.
Hécate: 88, 93, 122.
Héfestos: 66, 127, 133, 140, 143,
144, 160, 235, 287, 292, 301,
304, 360, 362, 363, 423, 445,
446 (ver também Vulcano).
Helena (de Tróia): 306, 307, 310,
311, 368.
helenística, era: 16, 322, 408.
Hélios: 37, 38, 39, 41, 47, 194, 445.
Hendrix, Jimmy: 244.
Hera: 22, 39, 66, 106, 118, 133,
137, 138, 139, 140, 141, 142,
143, 144, 168, 204, 217, 232,
235, 264, 323, 325, 338, 360,
362, 366, 368, 376, 419, 445,
446 (ver também Juno).
Hércules: 46, 47, 48, 159, 182, 183,
222, 230, 323, 325, 326, 334,
337, 341, 384, 385, 392, 439,
445; ou Héracles: 445.
Hermafrodita: 60, 68.
Hermes: 13, 22,52,53,54,55,56, 57,
58, 60, 61, 120, 182, 218, 222,
232, 288, 306, 309, 314, 322,
425, 445, 446 (ver também
Mercúrio).
Hermes-Toth: 53.
Hero With a Thousand Faces, The:
47, 228, 266, 323, 325.
Hesíodo: 62, 63, 169, 172, 173,
181, 192.
Héstia: 118, 140, 146, 148, 149,
150, 151, 154, 168, 232, 338,
348, 390, 396, 403, 407, 409,
410, 445 (ver também Vesta).
Híades: 204.
Hidra: 323, 325, 384, 385.
hinduísmo mercenário: 251, 263.
Hino da Pérola: 434.
Hinos Homéricos: 54, 56, 75, 116,
122, 126, 146.
hititas: 46, 78.
Hitler. Adolf: 15, 289.
Homem Selvagem 187, 189, 196,
199, 204, 206.
Homero: 106, 137, 159, 174, 175,
222, 438.
Hopi: 81, 82, 222.
Hórus: 350, 420.
Hussein, Saddam: 105.
I
I Ching: 80, 263.
Iaso: 340.
Ícaro: 47, 48.
Idade da Razão: 17.
Idade das Luzes: 426.
Idade de Ouro: 78, 167, 170, 171,
173, 174, 176.
Idade do Bronze: 173.
Idade Média: 13, 139, 165, 257,
366 (ver também Medieval).
Idas: 308.
Ilha Tartaruga: 331.
Ilíada: 106, 159.
Império Romano: 22, 78, 85, 150.
Inanna: 219, 221, 376.
Índia: 20, 32, 41, 53, 54, 68, 86, 99,
109, 237, 263, 265, 308, 309,
316, 386.
Índio americano: 82, 187, 266.
Indo-europeus: 78, 98, 138, 264.
Indra: 41.
Inglaterra: 294, 300, 338, 426.
invocação: 14, 85.
ioga: 60, 242, 248, 315, 354.
Iraque: 105, 270.
Irlanda: 237, 311, 403.
Irlanda, rei da: 311.
Ishtar: 28, 73, 74, 93, 219, 220,
221, 292, 296, 298, 330, 334,
340, 382.
Ísis: 15, 76, 348, 350, 416, 417,
420.
Islã: 91.
Isolda: 284, 366, 367.
Ítaca: 438.
Itália: 119, 128, 149, 173, 350, 386.
J
Jagger, Mick: 343.
Japão: 46.
Jasão: 13, 182, 278, 283, 284, 286,
287, 289, 308, 340, 409.
Javé: 41, 168.
Jesus: 168, 239, 436, 437.
Jesus, Menino: 350, 352, 437.
João (bíblico): 263, 272.
jogos espartanos: 308.
Johnson, Lyndon: 104.
Johnson, Robert: 366.
Jornada nas Estrelas: 59, 254.
Joseph, Tony: 180, 181.
Jove: 165, 338, 394 (ver também
Júpiter e Zeus).
Joyce, James: 223.
judaísmo: 170, 262.
judeus: 41, 150.
Jung, Carl: 19, 20, 29, 33, 45, 61,
110, 192, 216, 223, 238, 239,
240, 246, 247, 249, 250, 256,
257, 262, 263, 273, 312, 355,
432, 433, 436, 437.
junguianos: 14, 16, 19, 55, 79, 382.
Juno: 22, 66, 68, 71, 74, 105, 106,
117, 118, 119, 136, 137, 138,
139, 140, 141, 142, 143, 144,
145, 146, 151, 232, 235, 303,
305, 316, 318, 323, 329, 332,
344, 346, 357, 359, 360, 362,
366, 367, 371, 372, 374, 375,
376, 384, 387, 389, 394, 398,
401, 411, 414, 416, 420, 421,
425, 428, 440, 443, 445, 446
(ver também Hera).
Júpiter: 15, 28, 29, 34, 44, 47, 51,
52, 54, 73, 77, 103, 104, 106,
108, 113, 117, 118, 119, 129,
134, 137, 139, 140, 141, 142,
143, 145, 146, 149, 153, 156,
157, 158, 159, 160, 161, 162,
164, 165, 166, 168, 170, 180,
194, 196, 197, 198, 211, 212,
217, 224, 232, 234, 235, 236,
243, 280, 285, 289, 291, 303,
305, 316, 318, 330, 332, 338,
342, 344, 346, 357, 359, 366,
367, 372, 374, 384, 387, 389,
390, 394, 395, 396, 397, 398,
399, 401, 402, 405, 410, 412,
414, 419, 421, 426, 428, 430,
431, 440, 443, 445, 446.
K
kapha: 262.
Kartikeya: 109, 111.
Kennedy, John E: 104, 314.
Kerenyi, Karl: 54, 55, 65, 67,
69, 338, 339.
Ketu (Nodo Norte): 100, 101.
khamseen: 379.
Khephra: 320.
King, Martin Luther: 424.
Kowal, Charles: 179.
Krishnamurti: 192.
Kubler-Ross, Elisabeth: 125, 190.
kundalini: 60, 150, 151, 153, 154,
182, 242, 345, 385, 386, 387,
388, 408.
Kuwait: 105, 270.
L
Lakota: 147, 187.
Lammas, Lammastide: 337.
Lancelote: 366.
Lantero, Erminie: 180, 181.
latim (língua): 28, 165, 229, 265.
Leão: 39, 43, 44, 45, 48, 72, 82,
105, 151, 161, 162, 184, 232,
235, 239, 243, 244, 245, 263,
270, 272, 273, 274, 334, 335,
336, 337, 338, 340, 341, 342,
343, 344, 345, 346, 347, 373,
387, 394, 408, 417, 418, 421,
424.
Leda: 307, 311.
Lei de Bode: 117.
Leland, Charles: 86, 87.
Lemmos: 68, 446.
Lenda do Graal: 252, 257, 354.
Leonard, Linda Schierse: 130, 131.
Leto: 39.
Leviatã: 41.
Líbia: 127, 128, 446.
Libra: 12, 48, 49, 66, 68, 69, 82,
118, 138, 139, 145, 176, 231,
232, 235, 253, 254, 259, 260,
261, 266, 268, 269, 280, 349,
353, 360, 361, 362, 363, 364,
365, 366, 367, 368, 370, 371,
372, 373, 374, 375, 424, 442.
Linceu: 308.
Lincoln, Abraham: 186, 208, 272,
421, 424.
Loki: 195.
Lorelei: 430, 434, 436.
Los Angeles: 64, 377.
Lovelock, James: 78, 79.
Lua: 15, 21, 28, 29, 33, 37, 39, 44,
46, 49,53, 54, 56, 58, 59, 64, 68,
78, 80, 84, 85, 86, 87, 88, 90,
91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98,99,
100, 101, 103, 104, 122, 123,
130, 137, 145, 198, 211, 212,
223, 224, 227, 228, 234, 235,
236, 243, 253, 255, 273, 277,
280, 287, 288, 291, 292, 294,
295, 302, 304, 305, 315, 318,
320, 322, 323, 325, 326, 328,
329, 332, 333, 337, 342, 343,
346, 355, 356, 359, 362, 372,
374, 384, 386, 389, 391, 395,
398, 401.
Lucas (bíblico): 263, 272.
Lúcifer: 86.
Lugh, Samildanach: 88, 334, 337,
Luís XIV: 44.
Luna: 44, 86.
M
Maat: 360, 362, 363.
Mabinogion: 88, 89, 310, 336. 337.
Madre Teresa: 155.
Mãe da Montanha: 340.
Mãe dos Deuses: 338, 340.
Mãe Sombria: 122, 330.
Mãe Terra: 63, 75, 78, 79, 80, 81,
120, 123, 124, 168, 193, 194,
196, 204, 206, 264, 325, 380.
Máfia: 215, 387.
Mágico de Oz: 239.
maia: 54.
maias calendário: 188.
maias: 188.
Mandala: 20, 48, 82, 83, 109, 167,
234, 235, 236, 248, 254, 261,
262, 264, 265, 342, 355, 371,
385, 408, 424, 438.
Manílio: 323, 338, 394, 395.
Mar Negro: 283.
Marco Antônio: 150.
Marcos (bíblico): 263, 272.
Marduk: 28, 41, 52, 157, 158.
Maria (Mãe de Jesus): 76, 79, 93,
348, 350, 352, 437.
Marte: 15, 28, 29, 34, 45, 47, 66,
68, 69, 73, 79, 101, 105, 107,
108, 109, 110, 111, 112, 113,
115, 117, 118, 134, 142, 143,
145, 150, 153, 160, 162, 180,
217, 218, 223, 224, 232, 234,
235, 236, 243, 278, 281, 284,
285, 286, 287, 288, 289, 290,
291, 292, 296, 303, 305, 316,
318, 329, 332, 343, 345, 346,
357, 359, 371, 372, 374, 376,
379, 381, 386, 389, 390, 398,
401, 410, 414, 425, 428, 440,
443, 445 (ver também Ares).
Mateus, (bíblico): 263, 272.
McLaine, Shirley: 155.
Medéia: 283.
Medieval: 22, 43, 44, 60, 64, 79,
88,98, 106, 238, 256, 272, 354,
405 (ver também Idade Média).
Medusa: 126, 128, 165, 220, 221.
megalítica: 403, 404.
Melânio: 340.
mênades: 204, 205.
Menelau: 159.
Mentor: 174, 176.
MERCÚRIO 232, 235
Mercúrio: 13, 14, 15, 22, 28, 29,
50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57,
58, 59, 60, 61, 68, 118, 127,
161, 218, 234, 236, 253, 276,
280, 288, 291, 302, 303, 305,
306, 309, 312, 313, 314, 315,
318, 319, 322, 329, 331, 332,
343, 346, 348, 351, 352, 353,
354, 355, 356, 359, 360, 366,
372, 374, 386, 389, 398, 401,
410, 414, 425, 428, 440, 443,
445, 446 (ver também Hermes).
Mercurius: 60, 354.
merovíngios: 44.
Mesopotâmia: 219.
Metamorfoses: 181, 276.
Metaneira: 120, 121.
Métis: 28, 127, 128, 287.
micênico: 78.
Michelangelo: 351, 433, 437.
Midas: 292, 301, 302, 303, 304.
Minerva: 126, 129, 232, 360, 445
(ver também Palas Atena).
minóica: 128, 264, 294.
Minos 47, 292, 297, 301, 449
Minotauro: 206, 292, 297, 298.
Mito do Graal: 189, 256.
Mohini: 100.
Moiras (Parcas): 219.
Moisés: 148.
Monroe, Marilyn: 206, 312, 314.
Monte Cilene: 54, 446.
Monte Ida: 77.
Monte Olimpo: 22, 60, 68, 107,
140, 144, 160, 203, 217, 394,
396, 422, 446.
Monte Pélion: 181, 182, 446.
Monte Sinai: 148.
Mulher Selvagem: 196.
Mundo, O, carta do Tarô: 65, 272.
muro de Berlim 270.
Musas: 73.
Mussolini: 215, 289.
mutável, signo: 256, 261, 274, 275,
276, 277, 354, 438.
N
Nabu: 52 (ver também Nebo).
Nações Unidas: 105.
Napoleão: 341.
Narciso: 246.
Nascimento de Vênus: 12, 64.
Natal: 165, 406.
naturopatas: 184.
Naxos: 206, 207, 301, 437.
Nebo: 52, 53.
néctar: 46, 100, 130, 419.
Neith: 128.
Neméia, Leão da: 337.
neolítico: 80, 86, 87, 94, 165, 295.
neoplatônicos: 16, 30.
Nergal: 47, 79, 108, 109, 290, 376,
379, 381, 386.
Netuno: 12, 32, 33, 49, 68, 72, 101,
117, 122, 160, 184, 189, 196,
200, 201, 202, 203, 204, 205,
206, 207, 208, 209, 210, 211,
212, 213, 214, 217, 218, 232,
235, 236, 268, 289, 291, 297,
303, 304, 305, 316, 317, 318,
330, 331, 332, 343, 345, 346,
357, 359, 372, 373, 374, 388,
389, 399, 400, 401, 412, 413,
414, 426, 427, 428, 430, 431,
432, 433, 440, 441, 443, 444,
445, 446 (ver também
Poseidon).
Neumann, Erich: 41, 337, 370, 371.
New Forest: 338.
Newgrange: 403.
Nilo, Rio: 280, 404, 406, 417, 431.
Nissyen: 306, 311.
Nixon, Richard: 223, 413.
Nodo Norte (Rahu): 102, 103, 104.
Nodo Sul: 102, 103, 104.
Nodos 96, 98, 99, 101, 102, 103,
104, 105, 291, 305, 318, 332,
346, 359, 374, 389, 401, 414,
428, 443 (ver Nodos Lunares).
Nodos Lunares: 32, 96, 98, 102.
Noé: 419.
Nolle, Richard: 185, 191.
norueguês: 29, 41, 160, 161.
Nova Era: 33, 213, 316.
O
O'Hara, Scarlet: 115.
oceanos: 78, 81, 201, 203, 211,
396, 439.
Odin: 29, 160, 161.
Odisséia: 64, 174, 176, 210, 239,
438.
Odisseu: 159, 174, 210, 212, 430,
438, 439, 445.
Ofião: 64, 65.
Ofíoco: 180, 184, 384, 385.
Olímpia: 244.
Olimpo: 22, 46, 48, 54, 60, 68, 71,
107, 130, 139, 140, 144, 146,
149, 160, 183, 194, 203, 207,
217, 370, 394, 396, 397, 419,
422, 423, 446 (ver também
Monte Olimpo).
Oráculo de Delfos: 39, 43.
Orestes: 129.
Orfeu: 107, 214, 222, 376, 382,
383, 384, 386.
órfico: 122.
Oriente Próximo: 41, 46, 153, 263,
407.
Ortígia: 39.
Osíris: 416, 417, 418, 419, 420.
Ouranos: 75, 77, 78, 191, 192, 193,
196, 264 (ver também Urano).
Ouroboros: 41, 65.
Ovídio: 181, 276.
OVNIs: 33.
P
Pã: 302, 403, 405, 406, 407, 408.
paganismo: 22.
Pai-Céu: 193, 194.
Pais da Igreja: 139, 150.
Palas Atena: 117, 118, 119, 126,
127, 128, 129, 130, 131, 133,
134, 135, 141, 142, 154, 155,
165, 174, 176, 232, 235, 252,
253, 280, 285, 287, 288, 291,
292, 303, 305, 316, 318, 329,
332, 344, 346, 357, 359, 362,
366, 368, 372, 374, 387, 389,
398, 401, 411, 414, 425, 428,
440, 443, 446.
paleolítico: 87.
Palmer, Daniel: 184, 190.
Pandora: 416, 422, 423, 424.
Papa João Paulo II: 442.
Papai Noel: 165.
Paris (cidade na França): 62, 226,
368.
Páris (príncipe troiano): 133, 134,
310, 360, 366, 368.
Páscoa: 280, 362.
Pasífae: 292, 297, 298, 300.
Pedra Filosofal: 247.
Peixes: 12, 21, 59, 64, 66, 74, 79,
113, 123, 161, 168, 207, 208,
209, 212, 232, 236, 256, 259,
260, 261, 275, 276, 277, 285,
290, 351, 354, 355, 399, 407,
413, 430, 431, 432, 433, 434,
436, 437, 438, 440, 442, 443,
444.
pelasgos: 64.
Pélias: 283, 284.
Penélope: 430, 438, 439.
Percival: 13, 238, 257, 430, 442.
Perera, Sylvia Brinton: 220, 221.
Perséfone: 13, 73, 92, 93, 116, 121,
122, 123, 124, 131, 154, 160,
204, 208, 217, 218, 219, 221,
223, 224, 325, 348, 349, 350,
355, 356, 369, 376, 380, 381,
383, 384, 388, 445 (ver também
Coré).
Peter Pan: 56, 306, 312.
Philae: 417.
Pietà: 437.
Píton: 39, 141, 158, 380, 381.
Pitonisa: 39, 381.
pitta: 262.
Platão: 29, 30, 382, 431.
Plêiades: 54, 109, 293, 295, 296.
Plutão: 13, 14, 22, 23, 32, 33, 47,
72, 73, 79, 104, 105, 109, 111,
118, 120, 124, 125, 128, 145,
153, 154, 170, 179, 189, 200,
207, 210, 213, 214, 215, 216,
217, 218, 219, 220, 221, 222,
223, 224, 235, 236, 270, 273,
274, 289, 290, 291, 303, 304,
305, 316, 317, 318, 326, 330,
332, 333, 343, 345, 346, 356,
357, 358, 359, 372, 373, 374,
376, 379, 381, 387, 388, 389,
390, 400, 401, 413, 414, 426,
428, 442, 443, 445 (ver também
Hades).
Pólux: 254, 306, 307, 308, 309,
311, 312, 314.
Posídon: 122, 129, 168, 203, 204,
209, 210, 211, 212, 216, 232,
297, 338, 431, 439, 445, 446
(ver também Netuno).
prana: 59, 255, 314.
Príncipe Charles: 426.
Príncipe William: 426.
Prometeu: 150, 159, 183, 184, 186,
187, 189, 191, 194, 195, 196,
197, 198, 208, 222, 303, 392,
416, 423, 424, 441.
Proteu: 64, 423.
Ptolomeu: 235, 262, 399;
Ptolomaico: 43.
puella aeterna: 55.
puer aeternus: 55, 312, 313.
Pulse of Life, The: 230, 231, 266,
267, 280, 350, 365, 379, 439.
Pwyll: 337.
Q
Quíron: 13, 14, 15, 32, 33, 34, 159,
178, 179, 180, 181, 182, 183,
184, 185, 186, 187, 188, 189,
190, 195, 198, 222, 235, 236,
268, 283, 289, 291, 303, 305,
314, 316, 318, 330, 332, 345,
346, 348, 352, 353, 355, 357,
359, 372, 374, 385, 388, 389,
390, 392, 393, 394, 396, 397,
399, 401, 402, 412, 414, 423,
426, 428, 440, 443, 446.
quiroprático: 184, 352.
R
Rá: 36.
Rahu (Nodo Norte): 100, 101.
rajas: 262, 265.
Ram Dass: 192.
Reagan, Ronald: 103, 104, 421.
reencarnação: 219.
Regulus: 342.
Rei do Graal: 252.
Rei Guilherme II da Inglaterra: 338.
Rei pescador: 189.
Réia: 77, 138, 146, 149, 168, 181,
187, 264, 334, 338, 340, 403,
405, 406, 409, 410.
Remo: 108.
Renascença: 165, 173, 388.
Renault, Mary: 298, 299.
Reno, rio: 434.
Revelações, Livro das: 65.
Revolução Americana: 388.
Revolução Industrial: 78, 196, 357,
426.
Rig Veda: 99, 193.
rishis: 109.
Roda de Samsara: 246.
Rodes: 38, 39, 181, 182, 445.
Roma: 21, 22, 69, 76, 79, 108, 111,
136, 139, 149, 150, 350, 406;
Romanos: 22, 28, 30, 47, 57,
88, 108, 129, 149, 150, 171,
173, 349, 353, 444, 445.
Rômulo: 108.
Roosevelt, Franklin: 289.
rta: 193.
ruach: 314.
Rudhyar, Dane: 19, 20, 74, 78, 92,
151, 230, 231, 251, 266, 267,
280, 281, 286, 336, 337, 350,
351, 365, 378, 379, 436, 437,
438, 439.
rusalka: 436.
S
Sábado: 29, 168.
Sabedoria da Serpente: 13, 14, 221,
381, 386, 387.
Sagitário: 71, 82, 88, 113, 151, 159,
160, 161, 165, 170, 179, 180,
192, 228, 231, 232, 235, 243,
244, 245, 275, 276, 277, 303,
308, 314, 315, 340, 358, 385,
390, 391, 392, 393, 394, 395,
396, 398, 399, 400, 401, 402,
411, 423, 438.
Samhain: 377.
Samos: 137, 446.
sânscrito: 122, 193, 263, 270, 314,
419.
Santelmo, Fogo de: 308.
Santo Graal: 88, 239.
Sátiro: 405, 406, 407, 408, 450
sattva: 262, 274.
Saturnália: 173, 406, 411.
Saturno: 15, 28, 29, 34, 35, 56, 63,
72, 75, 78, 82, 84, 94, 105, 111,
124, 145, 146, 149, 153, 165,
166, 167, 168, 169, 170, 171,
172, 173, 174, 175, 176, 177,
180, 181, 186, 187, 188, 189,
191, 192, 193, 196, 198, 199,
200, 209, 211, 212, 217, 234,
235, 236, 246, 268, 289, 291,
303, 305, 316, 318, 330, 332,
338, 343, 344, 346, 349, 356,
357, 359, 370, 372, 374, 387,
389, 394, 398, 399, 401, 403,
405, 408, 409, 410, 412, 413,
414, 415, 416, 421, 426, 428,
440, 443, 445 (ver também
Cronos).
Saturnus: 173, 174 (ver também
Saturno).
Saul, rei: 45.
saxões: 86.
Schweitzer, Albert: 192.
Sedgwick, Philip: 180.
Segunda Guerra Mundial: 387.
Sekhmet: 334, 335, 336, 342.
Selene: 88.
Sêmele: 123, 204, 207, 222.
semitas: 41.
Senhor das Florestas: 80, 87.
Senhor dos Anéis, O: 160. Senhora
das Aguas: 128.
Senhora das Cobras: 128.
Senhora dos Animais Selvagens:
396.
sereias, as: 430, 436, 439.
Serpente Midgard: 41.
Seymour, Percy: 18.
Shaffer, Peter: 311.
Shakespeare, William: 27, 37, 50,
62, 84, 107, 136, 157, 191, 202,
214, 300.
Shakti: 386.
Shamash: 43, 44.
Shekinah: 148, 150.
Shiva: 109, 111, 200.
Sibéria: 187.
Sicília: 47, 108, 221, 299, 324, 437,
439.
Simon, Paul: 260.
sincronicidade: 19, 33, 229.
Skywalker, Luke: 278, 284, 409.
Smirna: 72, 73.
Sol: 14, 15, 20, 21, 22, 28, 29, 33,
36, 37, 38, 39, 41, 43, 44, 45,
46, 47, 48, 49, 51, 52, 54, 56,
57, 58, 59, 68, 73, 74, 82, 83,
84, 85, 86, 88, 90, 93, 94, 96,
97, 98, 99, 100, 101, 102, 104,
105, 108, 109, 111, 118, 124,
125, 145, 151, 158, 160, 170,
180, 192, 198, 194, 211, 217,
223, 227, 228, 229, 230, 234,
235, 236, 242, 243, 244, 245,
250, 253, 257, 258, 266, 267,
269, 276, 277, 279, 280, 285,
287, 288, 291, 299, 300, 302,
303, 305, 308, 309, 315, 318,
322, 323, 324, 329, 332, 334,
335, 336, 337, 338, 341, 342,
343, 344, 345, 346, 347, 350,
355, 356, 359, 364, 371, 374,
379, 380, 381, 384, 385, 386,
388, 389, 391, 398, 401, 403,
404, 406, 407, 408, 410, 414,
417, 425, 428, 440, 443, 445.
Sol Invictus: 43.
solstício de inverno: 173, 176, 229,
266, 268, 321, 322, 377, 392,
403, 404, 406, 407, 408.
solstício de verão: 266, 323, 337,
342.
solstícios: 87, 229, 265, 269, 342,
364.
Spica: 437.
Spock, Sr.: 254.
Stalin, Joseph: 289.
Stein, Zane: 180, 181.
Steinem, Gloria: 285.
Stonehenge: 96, 97, 294, 364.
Streiber, Whitley: 33.
sumário: 73, 416.
Surya: 308.
Svarbhanu: 100.
Svengali: 214.
T
tamas: 262, 270, 272.
Tammuz: 73, 219, 220, 382.
Tana: 86 (ver também Diana).
Tantra: 387; tântrica: 60.
taoística: 242.
Tarô: 19, 61, 65, 93, 238, 251, 252,
261, 272, 337, 344, 405, 423,
425.
Tártaro: 160, 168, 170, 171, 172,
193, 196, 412.
Tebas: 52, 204, 404.
Téia: 28.
Telêmaco: 174, 439.
telesterion: 119.
Têmis: 28, 63.
Tennessee: 255.
Teogonia: 63.
Teosofia: 81.
terceiro olho: 210, 385.
Terra: 1, 26, 30, 33, 34, 36, 37, 39,
41, 47, 49, 57, 58, 60, 63, 73,
75, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83,
84, 91, 94, 95, 96, 105, 117,
120, 123, 124, 129, 148, 160,
168, 192, 193, 194, 196, 200,
201, 204, 205, 206, 213, 232,
241, 245, 246, 260, 264, 268,
269, 291, 300, 302, 305, 306,
318, 325, 332, 340, 346, 355,
359, 374, 380, 388, 389, 392,
401, 414, 424, 428, 443, 445.
terra (elemento): 21, 242, 246, 248.
Tesla, Nikola: 249, 250, 352, 426.
Teseu: 128, 206, 222, 292, 297,
298, 300, 301.
Tétis: 28, 140, 144.
Thatcher, Margareth: 131.
Thor: 29, 41.
Tiamat: 41, 52, 157.
Tibete: 20, 442.
Tifão: 41, 141, 406.
Tigre: 404.
Tindareu: 307.
Tirésias: 133, 142.
Titã: 28, 37, 75, 133, 168, 183, 189,
193, 194, 296; Titanesa: 28, 39,
127, 193.
Tiw: 29.
Toth: 52, 53, 57, 61.
Touro: 12, 21, 47, 54, 68, 69, 80,
82, 83, 84, 87, 92, 103, 104,
105, 151, 179, 181, 190, 194,
232, 235, 246, 249, 250, 261,
263, 270, 272, 274, 292, 293,
294, 295, 296, 297, 298, 299,
300, 301, 302, 303, 304, 305,
306, 315, 325, 349, 355, 363,
366, 381, 418.
Trácia: 107.
Transplutão: 301.
Trilby: 214.
Triptolemo: 120, 121, 122, 123.
Tristão: 284, 366, 367.
Tristão e Isolda: 284, 366, 367.
Tritão, lago: 127, 128, 446.
Tritogenéia: 126.
Tróia: 159, 210, 311, 368, 438.
troiano: 133, 310, 360, 368, 419.
trovador: 64.
U
Ulisses: 13, 436, 445 (ver também
Odisseu).
Ultima Ceia: 238, 257.
União Soviética: 124, 125, 264.
Updike, John: 186.
Urano: 32, 33, 45, 56, 63, 75, 78,
80, 81, 82, 84, 104, 117, 133,
150, 168, 170, 173, 176, 177,
180, 184, 186, 187, 189, 191,
192, 193, 194, 196, 197, 198,
199, 200, 201, 208, 213, 217,
218, 235, 236, 253, 268, 273,
274, 280, 285, 289, 291, 303,
305, 316, 318, 330, 331, 332,
345, 346, 357, 358, 359, 372,
373, 374, 388, 389, 399, 400,
401, 408, 410, 412, 413, 414,
416, 420, 421, 423, 426, 427,
428, 429, 441, 443, 445.
Utnapishtim: 416, 418, 419.
V
Vader, Darth: 284.
Vallee, Jacques: 33.
Varuna: 168, 191, 193, 194.
vata: 262.
Veda: 99, 193.
Velha Europa: 205, 264.
Velo de Ouro: 13, 282, 283, 284,
290.
Veneza: 22, 100, 101, 180, 272,
384.
Vênus: 12, 15, 28, 29, 34, 37, 62,
63, 64, 65, 66, 68, 69, 70, 71,
72, 73, 74, 100, 105, 113, 115,
145, 160, 176, 193, 206, 207,
212, 220, 224, 232, 234, 235,
236, 284, 287, 288, 291, 292,
295, 296, 298, 300, 301, 302,
303, 305, 306, 316, 318, 329,
332, 343, 346, 356, 359, 360,
363, 365, 366, 367, 371, 372,
374, 375, 386, 387, 389, 398,
401, 410, 411, 414, 425, 428,
430, 431, 437, 440, 443, 445
(ver também Afrodite).
Versailles: 151.
Vesta: 117, 118, 119, 140, 146,
147, 148, 149, 150, 151, 153,
154, 155, 212, 232, 235, 289,
291, 303, 305, 316, 318, 329,
332, 344, 346, 348, 356, 357,
359, 372, 374, 387, 389, 390,
395, 396, 398, 401, 403, 407,
408, 411, 414, 415, 425, 428,
440, 443, 445.
vestais, virgens: 150, 151, 407.
Via Láctea: 392.
Vietnã: 387.
viking: 98, 195.
Virgem: 12, 55, 60, 72, 76, 79, 84,
88, 92, 118, 123, 125, 130, 154,
180, 192, 201, 228, 232, 246,
248, 249, 275, 276, 277, 325,
336, 348, 349, 350, 351, 352,
353, 354, 355, 356, 357, 358,
359, 360, 361, 363, 366, 408,
423, 437, 438.
Vishnu: 100.
Vivaldi, Antônio: 433.
von Franz, Marie Louise: 239, 257,
312, 313.
Vritra: 41.
Vulcano (planeta): 301, 363.
Vulcano: 66, 68, 72, 143, 292, 360,
362, 363, 367, 371, 445, 446
(ver também Héfestos).
W
Whitmont: 54, 130, 242, 243.
Woden: 29.
Wolff, Toni: 131.
X
xamanismo: 187.
Y
yang: 43, 61, 230, 240, 243, 244,
249, 262, 265, 324, 356.
Yeats, William Butler: 176.
yin: 43, 61, 90, 231, 240, 244, 249,
262, 265, 323, 324, 356, 386.
Z
Zaratustra: 193.
Zeus: 28, 39, 41, 52, 54, 77, 104,
106, 107, 118, 120, 123, 126,
127, 129, 131, 137, 138, 139,
140, 141, 142, 144, 157, 158,
159, 160, 161, 162, 163, 165,
168, 170, 182, 183, 194, 195,
198, 203, 204, 216, 217, 218,
219, 224, 232, 235, 252, 264,
280, 282, 284, 285, 287, 288,
296, 297, 301, 307, 308, 311,
338, 340, 362, 366, 399, 405,
409, 419, 423, 438, 445, 446
(ver também Júpiter).
Zoroastro: 193.

Ariel Guttman é uma estudiosa de
Astrologia desde 1974. Em 1980, fundou
uma empresa de consultoria astrológica,
a Astro Originais, que realiza seminários
astrológicos, consultoria pessoal e
empresarial, além de palestras.
Durante vários anos, esteve
envolvida com pesquisas sobre
asteróides e, ao incluí-las em seu
trabalho astrológico, percebeu um
interesse crescente nos aspectos
"femininos" da Astrologia.
A astróloga e autora proferiu
palestras em diversas organizações e
conferências astrológicas nos Estados
Unidos e na Europa. Além de Astrologia
e Mitologia — Seus Arquétipos e a
Linhagem dos Símbolos, Ariel Guttman
escreveu Astro-Compatibility e é coautora
de The Astro*Carto*Graphy
Book of Maps.
Kenneth Johnson é formado em
Estudos Religiosos, com ênfase em
Estudos da Mitologia, pela Universidade
Fullerton, da Califórnia. Seu interesse
reflete-se em seus escritos e em sua
prática astrológica. Johnson teve o
primeiro contato com a Astrologia em
uma viagem à Europa em 1973. Estudou
em Amsterdã e em Londres antes de
retornar aos Estados Unidos, seu país de
origem, e desenvolver uma prática que
se concentra em temas arquetípicos e
mitologias pessoais.
Além dos interesses astrológicos o
autor é, também, libretista de teatro
musical e membro de uma associação de
dramaturgos.
Juntos, Ariel Guttman e Kenneth
Johnson, apresentam este trabalho a
respeito da Astrologia e da natureza
mítica que a envolve. Esperamos que seu
estudo seja bastante proveitoso.
• Astrologia e Mitologia — Seus Arquétipos e a
Linguagem dos Símbolos traz uma fascinante
abordagem da prática astrológica, por meio dos
arquétipos da mitologia grega, baseada nas
teorias junguianas.
De acordo com Jung, os deuses gregos e todos os mitos
que os cercam simbolizam o inconsciente coletivo, ou
seja, os fatores motivacionais profundos que são
compartilhados por toda a humanidade. Uma vez que
os planetas recebem os nomes desses deuses, carregam
em si a influência da simbologia que tais arquétipos
possuem. Para Jung, essas realidades simbólicas
interagem com os acontecimentos de nossas vidas por
meio de um processo chamado sincronicidade — esta
seria a razão física para os instrumentos mágicos
da Astrologia.
Astrologia e Mitologia — Seus Arquétipos e a
Linguagem dos Símbolos mostra um trabalho bem
fundamentado em que questões básicas como "qual o
significado dos signos", "o que são os elementos" ou
"qual a função do diagrama", são respondidas de
forma clara e objetiva.

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